Horizon Forbidden West é o mais novo lançamento da Guerrilla, estúdio veterano conhecido por produzir a franquia Killzone. Assim como Aloy, protagonista da aventura, o game também carregava consigo uma missão importantíssima: aumentar o respeito e a admiração dos fãs em relação ao estúdio. Fico muito feliz em te dizer que sim, ele cumpriu a missão. Confira o que achei do Oeste Proibido abaixo:
A missão de Aloy em Horizon Forbidden West
O jogo se passa meses após o primeiro. Por que isso é importante? Por ser uma continuação direta, é extremamente recomendável que você jogue o primeiro título antes. Apesar de não ser algo obrigatório, ter vivenciado a primeira aventura de Aloy torna essa nova jornada ainda mais especial e facilita a compreensão das motivações de cada personagem e os conflitos que acontecem na Terra “futurista”.
Nesta sequência, a Terra ainda está ameaçada e Aloy passa a buscar um backup de GAIA com a finalidade de consertar os problemas do mundo. Contudo, o backup encontrado era a versão original do programa, fazendo com que a heroína vague pelo mundo atrás das subfunções de GAIA.
Neste meio tempo, Aloy também se envolve em diversos problemas políticos oriundos dos conflitos tribais e, bom, o jogo brilha muito mais nesse sentido. Não que a trama sci-fi considerada a principal seja ruim, longe disso, mas o empenho que a Guerrilla colocou nas tribos e em suas “agendas” deixam um gosto de quero mais. Essas tribos trazem mais vida ao game, algo bastante criticado no primeiro, e torna possível a inserção de debates interessantes como o conflito entre Teologia e Tecnologia e até trechos sobre socialismo e capitalismo.
Apesar da roupagem futurista, muitas tribos adotaram uma crença mais “primitiva”, reforçando a importância da fé em “Deuses”. E é nesse debate sobre divindade que a figura de Aloy ganha força. A “Salvadora” não gosta da atenção que recebe e passa a sofrer da famosa “síndrome de impostora”, mas, apesar das dúvidas, ela faz o que precisa ser feito. O fardo de ser “Elizabeth” é enorme e isso custa caro pra nossa ruiva atiradora.
Um ponto negativo pra mim é que em meio a tanta coisa acontecendo, a evolução de Aloy como personagem (“pessoa”) acaba ficando em segundo plano. Calma, ela aprende coisas novas e adquire novos gadgets, até aprende a domar máquinas voadoras, mas, no final da jornada ela ainda é a mesma pessoa do início. Parece que salvar o mundo e passar por experiências traumáticas duas vezes não causa nenhum efeito nela.
Horizon: Wild Hunt
Tinha que fazer esse “trocadilho”, mas, o motivo é bem positivo. Após o conteúdo secundário do primeiro jogo ter sido extremamente criticado, a Guerrilla ouviu bem os feedbacks e entregou um tratamento fantástico. Todos os personagens secundários de Horizon Forbidden West, sem exceção, possuem uma caracterização impecável. Isso ajuda demais a trazer um senso maior de imersão na aventura. O único problema que eu encontrei é que a maior parte desses personagens meio que existem para servir a “divindade” Aloy. São raros os momentos onde vemos um pouco de agenda própria por parte deles.
As missões secundárias e as tarefas também ganharam um UP absurdo de qualidade. A maior parte delas possuem uma história interessante e oferecem recompensas que fazem valer o tempo investido. A variedade desses conteúdos secundários também impressiona, ajudando a expandir a longevidade do título.
Os Caldeirões retornam, assim como os gigantescos Pescoções, servindo para remover a névoa do mapa. Os Acampamentos Rebeldes ganharam uma nova roupagem e história própria, apresentando uma questline eletrizante atrelada a um personagem importante do grupo de Aloy. O estúdio também pensou num minigame chamado A Batalha das Máquinas, trazendo um jogo similar ao Xadrez para o universo de Horizon.
Temos até atividades focadas na resolução de Puzzles. Chamadas de Ruínas Esquecidas, esses conteúdos secundários são meio que uma carta de amor para Tomb Raider. No geral, a qualidade do conteúdo fora da estrutura principal subiu muito, mas, tenho algumas ressalvas. No começo tudo impressiona, mas, o jogo acaba caindo na armadilha de mundo aberto e as atividades se tornam um tanto quanto repetitivas. Destaque para os Caldeirões onde quase não existe diferenciação do level design. Sinto que esses conteúdos poderiam ser mais amarrados no componente principal do game.
Do jeito que foi aplicado, muitas das atividades continuam passando a sensação de que foram criadas apenas para concender experiência ou pontos de habilidade. Graças a isso, o interesse em completar essas atividades alternativas acaba caindo aos poucos na medida em que você avança na aventura.
Domando o Oeste Proibido
Grandes responsabilidades, grandes poderes. A visita de Aloy ao Oeste Proibido acaba proporcionando diversos gadgets fantásticos que enriquecem e muito a jogabilidade. O Lança-gancho, meu favorito, traz mais verticalidade no combate, aumentando a mobilidade e facilitando a construção de combos formidáveis. Aloy também recebe melhorias para a Lança, permitindo que ela incendeie “algas” explosivas abrindo passagens nas paredes. A Máscara de Mergulho também foi implementada, fazendo com que a personagem respire embaixo d’gua e explore ruínas no mar.
Todos os dispositivos inéditos foram muito bem pensados e aplicados ao jogo, evoluindo a exploração e a jogabilidade. O “problema” aqui é que todos esses usos já foram vistos em outras obras, portanto, o impacto não chega a ser tão grande já que se tratam de mecânicas que já conhecemos. Apesar de não ser original, não dá pra negar que a Guerrilla colocou muito empenho para evoluir a experiência Horizon. Como mencionei num tweet, a exploração aquática do jogo é muito agradável e visualmente impressionante, algo difícil de ser conquistado pelos estúdios.
Falando especificamente sobre o combate, ele continua frenético e extremamente satisfatório. Remover peça por peça de uma máquina antes de abate-la traz uma sensação indescritível. Durante as minhas 37 horas no Oeste Proibido, joguei na Dificuldade Normal e achei a mesma bem balanceada. Você não vai se estressar, mas, seus erros serão facilmente cobrados pelas máquinas maiores.
O combate corpo a corpo recebeu melhorias extremamente necessárias, incluindo uma árvore inteira de habilidade (Guerreiro). Isto faz com que a Lança se torne uma das melhores armas do jogo. O problema é a câmera e a falta de opção lock-on. É bem difícil depender de ataques físicos em lutas contra múltiplas máquinas. Portanto, seu uso acaba sendo mais frequente em conflitos contra humanos ou batalhas 1×1 contra máquinas.
Descobrindo o “Proibido”
A exploração em Forbidden West funciona exatamente igual ao New Dawn. Andamos pelo mapa com o uso de montarias e nos deparamos com diversas atividades ou colecionáveis que explicam um pouco mais sobre o mundo do game. O problema aqui é a repetição. No começo, explorar o mapa é impressionante graças a sua parte técnica afiadíssima. Os visuais são fantásticos e a jogabilidade é bem fluída. Contudo, após algumas horas, a “exploração” se torna maçante.
Não há muito o que se explorar visto que o mundo do game guarda poucos segredos. Fica tudo marcado no mapa. Mas, esse não é o menor dos problemas. A grande questão é a falta da recompensa pela curiosidade. Em outros jogos, como Breath of the Wild, você faz descobertas interessantes em cada trecho que você “tropeça”. Aqui, essas descobertas não são tão interessantes e tampouco valiosas.
No primeiro jogo, concluí minha aventura pensando que o título poderia dar uma repaginada em seu sistema de equipamentos e loot. Essa nova aventura de Aloy só reforçou essa mesma sensação. Apesar da inserção de novas armas, a frequência de equipamentos é bem baixa. Durante minhas 37 horas de jogo, passei quase 10 horas com as mesmas armas. Só próximo do final do game que um leque mais interessante de opções ficou disponível.
Uma adição interessante é a possibilidade de Aloy escalar quase todas as paredes, reforçando a verticalidade que mencionei acima. Um probleminha bem particular que tive com isso é a visibilidade ruim. Como a maior parte do mapa é composta por cores bem vibrantes, tive dificuldade em enxergar pontos de escalada. Felizmente o jogo oferece uma opção de acessibilidade para destacar esses pontos. Falando em Acessibilidade, a equipe fez um trabalho engenhoso com a finalidade de tornar o jogo o mais inclusivo possível.
Por fim, o colecionável mais interessante e que faz a exploração valer um pouco a pena são os Panoramas. Ao usar o foco em torres específicas, nós vemos uma imagem de uma construção antiga e precisamos achar ela no mundo do jogo. É uma excelente maneira encontrada pela equipe para conectar os locais reais com os lugares fictícios de Horizon. São Francisco e Las Vegas são duas das cidades que visitamos.
O Poder da Decima
As expressões faciais e a modelagem geral dos personagens de Horizon Forbidden West estão num nível alienígena. Faz tempo que não vejo algo assim, mesmo na categoria dos AAAs. A colaboração do estúdio com Kojima certamente valeu a pena! As cutscenes belíssimas são acompanhadas por um excelente trabalho na atuação de voz que contou com a participação de grandes nomes. A dublagem em nosso idioma também está num nível ótimo, captando bem as emoções de cada personagem e cena.
Como joguei a versão de PlayStation 5, a transição entre cutscene e gameplay é instantânea, fazendo com que o ritmo de jogo não se quebre. Outra coisa praticamente instantâneo é o tempo de carregamento. A viagem rápida e o renascimento de Aloy ao ser abatida leva apenas dois segundos de carregamento. Uma coisa específica do PS5 que deixa a desejar é o uso do DualSense. Ele só é acionado em trechos específicos, de forma maravilhosa, contudo, no geral o recurso surge pouco na aventura o que acaba sendo uma pena.
A trilha sonora e os efeitos sonoros em geral estão numa qualidade bem acima do padrão. Podemos ouvir perfeitamente os sons dos animais, das ondas na praia e até mesmo do vento, trazendo um senso de imersão surreal para uma aventura como essa. As músicas nas cidades também refletem com maestria a identidade do povo que vive em cada assentamento.
Por fim, mas, não menos importante: o jogo está bem “liso”. Durante minhas 37 horas, só tive dois problemas. No primeiro caso, os frames começaram a cair muito de maneira abrupta, me obrigando a reiniciar o console para resolver o problema. No segundo caso, o áudio do jogo acabou bugando e parou de sair, me obrigando a fechar o game para corrigir o problema. Certamente os próximos patches irão tornar a experiência ainda melhor.
Horizon Forbidden West: Obrigatório para um dono de PlayStation
A nova aventura de Aloy certamente colocou a Guerrilla Games num patamar mais alto, bem ao lado de seus estúdios-irmãos Naughty Dog e Santa Monica. Graças a humildade da equipe em escutar as queixas dos fãs em relação ao primeiro título, a equipe conseguiu construir um jogo quase perfeito que automaticamente se tornou uma das principais aventuras do selo PlayStation Studios. Mal posso esperar para ver a conclusão dessa história daqui alguns anos!
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PS: Este review foi feito graças a um código de PlayStation 5 cedido pela PlayStation Brasil.
2 Comentários
Bem abordado os tópicos e sem spoilers para a galera, excelente review. parabéns.
Excelente análise apontando os pontos positivos e negativo de forma direta sem rodeios. Parabéns