Você já se imaginou jogando um Call of Duty medieval onde as armas são magias de elementos diferentes? Parece loucura, não é? Bom, a Ascendant Studios resolveu colocar a ideia à prova logo no primeiro projeto do estúdio. E assim surgiu Immortals of Aveum, novo projeto que leva o selo EA Originals.
Dirigido e roteirizado por Brett Robins, co-criador de Dead Space, neste review objetivo você vai descobrir se vale a pena investir seu tempo e dinheiro em Immortals of Aveum.
A história
O jogo é protagonizado por Jak, um jovem marginalizado que faz parte de uma gangue e rouba a população com o intuito de sobreviver. Os minutos iniciais do jogo também apresenta Luna, melhor amiga de Jak e líder do bando. Sendo a mais responsável, Luna pretende abandonar o grupo e se unir ao Exército da Luz para lutar na Guerraeterna.
Seren, região que serve como o lar do protagonista, logo é atacada e a gangue é dizimada. É a partir desse ponto que os problemas do jogo começam. A direção das cutscenes não funciona bem e os momentos dramáticos não possuem impacto.
A trama envolve recrutamento forçado, uma guerra impiedosa e desnecessária, povos marginalizados e mesmo assim os jogadores dificilmente vão se importar com a narrativa. Apesar de ter boas expressões faciais, um lip sync de excelente qualidade e atores reconhecidos, o roteiro e diálogos não são de boa qualidade. Tentando não se levar a sério, temos “piadas” sem graça sendo atiradas nas conversas à todo momento e os personagens secundários são bem esquecíveis. Outro problema é que o comportamento de Jak permanece praticamente inalterado mesmo com diversas tragédias acontecendo em sua vida. O protagonista é completamente esquecível, o que é grave para um jogo que posiciona a narrativa como um dos pontos principais.
A lore é expandida através de diários que são coletados pelos cenários. Contudo, como o jogador dificilmente vai se conectar com a história e os personagens, arrisco a dizer que esses colecionáveis vão acabar passando batido. Ao todo levei 15 horas para concluir a campanha de Immortals of Aveum jogando na dificuldade mais alta.
O Combate de Immortals of Aveum
Como eu mencionei lá em cima, Immortals of Aveum de certa forma é um Call of Duty com foco na magia. As “armas” são braceletes chamados de Selos com 3 tipos diferentes – Caos, Força e Vida. De grosso modo, as magias de Caos possuem um disparo similar à espingardas, os feitiços de Força se assemelham a fuzis de assalto e de precisão, já as magias de Vida lembram submetralhadoras, com uma cadência de disparo mais alta.
Os Selos variam o modo de disparo mas a variedade quase inexiste. Além dos disparos comuns, temos magias de Fúria. Essas habilidades especiais consomem Mana e são excelentes para cuidar de bordas de inimigos ou quebrar barreiras mágicas de maneira mais veloz.
Falando nesses escudos, tanto nosso personagem quanto os adversários podem invocar escudos que geralmente estão atrelados ao tipo de magia equipada. O inimigo está com um escudo de Força? Você precisa atirar nele usando feitiços de Força para quebrar a barreira. Nossa barreira também muda de efeito conforme ao tipo de magia equipada. O Escudo de Vida pode recuperar HP ao ser atacado. O Escudo de Força ao quebrar gera uma lentidão em área, já o Escudo do Caos ao ser quebrado causa dano nos inimigos ao redor.
Saber quando usar cada um é parte do charme do game, afinal, o jogador precisa avaliar a situação rapidamente e tomar a decisão que julgar ser a melhor. Eu joguei Immortals of Aveum na dificuldade mais alta, a Imortal, e cravo facilmente que o Escudo é obrigatório caso você queira concluir a campanha do game. A pegadinha é que quando estamos com um Escudo ativo, nossa velocidade de movimento é reduzida drasticamente. Esse detalhe concede um ar estratégico ao combate.
Pensando em atenuar a dificuldade, temos uma quantidade abundante de Cristais de Vida e de Mana, o que torna a jornada um pouco mais acessível. Podemos aumentar a quantidade de Cristais carregados na Forja. Além da falta de variedade dos feitiços, temos uma repetição excessiva de inimigos e cenários, fazendo com que o jogo se torne cansativo rapidamente. A baixa quantidade de chefes também decepciona, além do design inexpressivo dos mesmos.
A progressão
Não é só no combate que Immortals of Aveum entrega sua superficialidade. O sistema de equipamentos e melhoria do jogo é bem básico. Podemos equipar os Selos, Totens, Anéis e uma Braçadeira. Apesar desses itens terem status como aumento de recuo e aumento de dano, a variedade de atributos é baixíssima, tornando difícil o processo de construir builds.
O game também não incentiva tanto a experimentação. Os recursos são relativamente escassos no começo e no meio do jogo, principalmente o Ouro, tornando inviável a fabricação de novas armas. A frequência de novos equipamentos obtidos – via baús e chefes, também não é das melhores.
No quesito habilidades, a progressão acontece de maneira similar aos RPGs tradicionais. Obtemos pontos de experiência e ascendemos, ganhando um ponto de habilidade que pode ser atribuído em uma das árvores. Mesmo mudando de nível em um ritmo bom, o game falha em entregar uma sensação de progresso ao jogador. Em nenhum momento senti que estava evoluindo de fato.
Explorando Aveum
Os mapas do jogo seguem uma estrutura de semi-mundo aberto. Boa parte da exploração consiste em acertar botões com o tipo de magia correto, destruir caixotes, abrir baús lendários e concluir Tempesvéus (templos).
Os puzzles raramente variam. Como mencionei acima, iremos atirar em botões com o tipo de magia correspondente ou lançar laser em olhos para abrir as portas. Como o sistema de equipamentos é falho, os jogadores acabam com pouco incentivo para explorar.
A verticalidade excessiva acaba atrapalhando por conta da falta de um recurso básico – o personagem não escala/se pendura nas superfícies se chegar perto delas. Isso me deixou bem frustrado. Para facilitar um pouco a locomoção temos Linhas Ley, que servem como “trilhos” para outras áreas e pontos abundantes de viagem rápida. Os Templovéus consistem em desafios repetitivos que envolvem derrotar hordas, chefes secundários chamado de Os Seis ou concluir trechos de plataforma usando os totens.
Os totens servem como ferramentas do jogador. O Totem Azul consiste num chicote/arpéu, o Verde são “gosmas” que causam lentidão nos obstáculos giratórios e o Vermelho permite o lançamento dos lasers mencionados acima. Em suma, não tem nenhum mecanismo inovador ou atividade secundária que apresente algum conteúdo de valor.
A parte técnica
Ao longo das minhas 16 horas com Immortals of Aveum eu quase não tive problemas técnicos. Apenas tive quedas de frames durante batalhas frenéticas mas elas não chegaram a incomodar tanto.
Aliado a isso, temos uma trilha sonora que passa despercebida, falhando em proporcionar um maior senso de imersão a quem joga. Como contraponto, temos um excelente trabalho feito no lip sync (um dos melhores que já vi) e com a iluminação do jogo.
Os loadings são ultravelozes e o game chega a flertar com algumas funcionalidades do DualSense, como os gatilhos adaptáveis. As expressões faciais também estão ótimas, sendo superiores às de outros títulos de calibre AAA, indicando um tremendo empenho da Ascendant Studios com os mocaps.
Um ponto particular mas importantíssimo é que inicialmente eu tive motion sickness ao jogar Immortals of Aveum. Felizmente o game conta com diversas opções que resolveram permanentemente o problema pra mim!
Immortals of Aveum: aguarde promoção
Immortals of Aveum diverte mas certamente não vale a pena pelo atual preço cobrado por ele. A versão padrão de PS5 custa inacreditáveis R$359,00, algo completamente desconexo da realidade do mercado e do jogo em si. Apesar da roupagem AAA, o título é um AA do selo EA Originals, logo, sua precificação não faz sentido.
Se você gosta de shooters e jogos de ação, vai se divertir aqui mas recomendo aguardar uma promoção agressiva!
Immortals of Aveum aposta num conceito interessante mas acaba derrapando na execução.
- Narrativa e Lore
- Gameplay
- Conteúdo Secundário
- Direção de Arte
- Som (Trilha Sonora e Efeitos)
- Desempenho