O que é preciso para que um jogo independente de plataforma 2D consiga se destacar em pleno 2025? Considerando o quão bem esse gênero já foi desbravado por inúmeros estúdios independentes talentosíssimos, acredito que não é exagero nenhum dizer que é preciso de muito para galgar o mínimo de espaço diante de verdadeiros titãs. De Super Meat Boy à FEZ, de Limbo à Celeste, de Yooka-Laylee and the Impossible Lair à Kaze And The Wild Masks… inúmeros são os exemplos de jogos fantásticos do gênero. Agora, será que MainFrames têm o suficiente para entrar nesse rol tão disputado?
Antes de responder essa pergunta, acho importante explicar que tipo de jogo de plataforma 2D MainFrames é. Com uma interessante direção de arte pixel art, que mistura gráficos 2D estilo 16-bits com filtros, elementos e estéticas que remetem à monitores CRT um pouco mais antigos, MainFrames apresenta um jogo de plataforma com uma pegada levemente hardcore, onde o mundo que existe dentro de um computador ganha vida por meio da personificação de elementos como mensagens de email, pastas de arquivo e ícones de salvamento.

Em outras palavras, isso significa que você controlará Disquete, uma pequena versão de um meio de armazenamento obsoleto que, por algum motivo, está viajando por dentro do sistema de um computador. Durante essa sua jornada, você visitará sete mundos distintos enquanto pula de janela em janela (literalmente), procura segredos e lida com trechos de plataforma extremamente desafiadores.
Um mundo de janelas e sistemas
Em termos de gameplay, MainFrames se assemelha muito a jogos como Super Meat Boy, já que o set principal de habilidades de Disquete é muito baseado em mecânicas de plataforma pura. Isso significa que você tem à sua disposição mecânicas de pulo bastante “analógicas”, o que te permite ter um controle aéreo muito grande da personagem. Embora sutil, a possibilidade de segurar o botão de pulo para ir mais longe, ou modificar a trajetória de pulo ainda no ar possibilitam um nível de expressão bastante elevado.

Contudo, o que realmente diferencia MainFrames de outros títulos de plataforma 2D já lançados é justamente o modo como o jogo interpreta mecanicamente essa sua ideia de se passar dentro de um computador. Para começo de conversa, todos os trechos de plataforma de MainFrames só existem dentro de “janelas” de computador. Imagine a tela de um sistema operacional mais antigo, onde vemos diversas pequenas janelas abertas. São essas janelas que formam cada uma das fases do jogo.
Nas primeiras fases, isso funciona mais como um elemento estético, que ajuda a separar os pedaços de plataforma dos buracos nos quais você pode cair e morrer. Porém, conforme o jogo avança, MainFrames passa a apresentar mecânicas novas, onde determinadas janelas podem trazer elementos, inimigos ou mecânicas diferentes. Em determinado mundo, por exemplo, você pode utilizar um pequeno “mouse” para mover as telas com o seu analógico direito. Em outro, algumas janelas podem modificar a orientação do seu personagem, fazendo que você possa andar nas paredes ou no teto.

Super Disquete Girl
Por meio dessa mistura entre mecânicas precisas de plataforma e um mundo criado a partir de telas de computador que oferecem diferentes efeitos, MainFrames apresenta um jogo de plataforma simples, mas bastante desafiador. Como eu disse anteriormente, o jogo apresenta sete mundos pelos quais é possível progredir linearmente. Contudo, embora exista um caminho crítico único, MainFrames oferece diversas fases paralelas opcionais que são capazes de desafiar até mesmo os jogadores mais veteranos.
Zerar o jogo não é tão difícil assim, até porque MainFrames oferece aquele reinício instantâneo típico de jogos como Super Meat Boy. Bateu num obstáculo? Caiu em um buraco? No mesmo segundo, você já é transportado para o início da fase e pode tentar de novo. Sendo um pouco persistente e se focando no caminho crítico, é possível terminar o jogo em poucas horas. Terminar todas as fases secundárias é outra história.

Nessas fases paralelas, você geralmente precisa resgatar algum personagem que está preso em determinado ponto do cenário. O grande desafio está em como cada personagem diferente apresenta uma mecânica de movimentação única, que está atrelada aos controles de Disquete. Isso inclui coisas como personagens que andam por um trilho conforme você se movimenta, ou ainda um personagem que fica girando ao seu redor. Isso cria alguns desafios extremamente complexos, que prometem adicionar algumas horas a mais na campanha daqueles que se atreverem a completar o jogo como um todo.
Pane no sistema, alguém me desconfigurou
Embora tudo o que eu tenha falado de MainFrames até agora soe muito positivo, infelizmente o jogo não está livre de alguns probleminhas. O principal deles está relacionado a alguns bugs que encontrei durante a minha partida, que incluíam coisas como música que começava a loopar infinitamente, travamentos e quedas de framerate em fases específicas, além de elementos interativos da fase que paravam de funcionar por algum motivo.

Esses problemas foram bastante pontuais, e foram resolvidos ao fechar e abrir o jogo. Além disso, a desenvolvedora Assoupi já nos comunicou antecipadamente que está ciente desses bugs, e já está trabalhando em patches para corrigir esses pequenos problemas, que devem ficar disponíveis já durante o lançamento do jogo. De qualquer forma, é importante estar ciente de que é possível encontrar algumas pequenas arestas em MainFrames – mas nada que estrague o jogo como um todo.
Ademais, vale ressaltar outro ponto menos interessante da experiência de MainFrames: sua narrativa. Durante as aventuras de Disquete, você encontrará diversos personagens que falarão a respeito do estado do mundo e dos seus objetivos. Contudo, se eu te disser que entendi a narrativa do jogo, estaria mentindo. No geral, achei a história um pouco confusa e mal explicada. Considerando o foco em gameplay que o jogo tem, isso não é um grande problema, mas acaba sendo um detalhe que não acrescenta muito à experiência final.

Review de MainFrames – um bom passatempo entre jogos maiores
No final das contas, a melhor coisa de MainFrames é o seu gameplay. Embora não muito longo, sua campanha é bastante proveitosa, e pode trazer durar muito mais caso você se desafie a completar todas as fases extras. Visualmente, o jogo apresenta uma estética muito bacana, que só peca um pouco pela falta de variedade. Nesse sentido, todos os mundos do jogo são bastante parecidos, com as telas de computador formando cenários similares, mas com fundos de background diferentes.
Mesmo assim, considerando o seu preço mais acessível, MainFrames consegue ser uma opção interessante para quando você procura um jogo um pouco menor e mais despretensioso, perfeito para ajudar você a “limpar o palato” entre dois jogos grandiosos. É uma aventura de plataforma 2D divertida e proveitosa, que oferece um gameplay sólido e interessante. Embora ele não chegue ao mesmo nível de outros marcos do gênero de plataforma, MainFrames é uma opção suficientemente interessante no ano de 2025, principalmente se você for fã do gênero.
PS: A análise foi feita em um Nintendo Switch através de uma cópia cedida pela The Arcade Crew.
Com sua proposta interessante e visuais agradáveis, MainFrames é um jogo de plataforma 2D bastante competente. Embora tenha uma campanha curta, ele oferece um desafio bastante elevado, principalmente caso você queira desbravar todo o seu conteúdo secundário.
Pontos Positivos
- Controles responsivos
- Level design interessante
- Desafio na medida certa
Pontos Negativos
- História confusa
- Visuais pouco variados
- Alguns bugs
- Narrativa
- Gameplay
- Desafio
- Visuais
- Trilha Sonora
- Desempenho