Metroid Prime 4 Beyond foi, desde o seu primeiro anúncio há oito anos, um jogo circundado por muitas expectativas. Sequência de uma série que não via um novo jogo mainline desde 2007, Metroid Prime 4 não só teve um desenvolvimento longo, como também teve o projeto inteiramente rebootado em 2019, momento no qual o projeto saiu da Bandai Namco e retornou às mãos da Retro Studios — empresa responsável pelo desenvolvimento da trilogia original. Após uma espera tão longa e conturbada, as expectativas dos fãs não poderiam ser maiores.
Neste sentido, fica claro que fãs certamente esperavam um jogo que desse continuidade aos principais preceitos da série original, um Metroidvania 3D que trouxesse um mundo interconectado que convidasse à exploração, com uma ambientação solitária e alienígena, além, é claro, de uma série de poderes interessantes a serem desbloqueados durante a aventura. As expectativas eram, no final das contas, de que recebêssemos um “novo Metroid Prime”.

Essas expectativas, contudo, foram desafiadas quando a Nintendo começou a mostrar o material de marketing do jogo. Nele, vemos a destemida caçadora de aventuras Samus pilotando uma moto em um ambiente aberto e expansivo — algo nunca visto na série. Chegando os previews, vieram também as informações de que Samus não estaria sozinha nessa aventura; ela na verdade seria acompanhada por personagens da Federação Galáctica, incluindo o já infame Miles Mackenzie, um engenheiro falador que foi imediatamente criticado por muitos jornalistas. As expectativas eram outras.
Todavia, a análise de um jogo como Metroid Prime 4 Beyond (ou qualquer outro, na realidade), não deve ser feita com base em expectativas. Afinal, não dá pra fazer uma análise em cima do que eu gostaria que o jogo fosse. É preciso, na realidade, analisar aquilo que o jogo tem a oferecer.
Nesse sentido, quando está em seu ponto mais alto, Metroid Prime 4 Beyond oferece uma construção de mundo absurdamente impactante, com cenários belíssimos que não deixam nada a oferecer a qualquer jogo foto-realista do mercado, além de mecânicas de exploração extremamente divertidas. No seu ponto mais baixo, por outro lado, Metroid Prime 4 apresenta um mundo aberto que não chega a ser ruim, mas que não acrescenta muito à experiência final, e personagens que têm momentos interessantes, mas que caem em alguns clichês meio pobres. O resultado final é uma experiência que tenta ideias novas que não funcionam em sua plenitude, mas que ainda é totalmente digno do nome Metroid Prime.

Um novo capítulo
Embora seja o quarto título numerado da franquia Metroid Prime, Metroid Prime 4 Beyond é um jogo que pode ser perfeitamente jogado por alguém que nunca tenha experimentado qualquer jogo da série, já que inicia uma narrativa inteiramente nova, que se passa no planeta alienígena de Viewros. Tudo começa quando Samus é chamada à uma base da Federação Galáctica, que está sendo atacada por piratas espaciais liderados pelo caçador de recompensas Sylux — rival de longa data de Samus. Durante o conflito, um artefato misterioso é ativado, que teleporta Samus e outros membros da Federação para o misterioso planeta Viewros.
Neste planeta inteiramente inédito para a série, Samus precisa encontrar uma maneira de escapar e retornar à sua nave, mas isso envolve um enorme mistério relacionado aos antigos habitantes de Viewros, que após seu desaparecimento deixaram para trás ruínas altamente tecnológicas, além de estranhos poderes psíquicos que Samus precisa dominar para conseguir desbravar os diferentes ambientes do planeta.

Em termos de estrutura de jogo, Metroid Prime 4 Beyond traz uma mescla inusitada entre as diferentes áreas que tínhamos nos jogos mais recentes da série, como Metroid Prime 3, e algo que quase remete a um jogo clássico da série The Legend of Zelda. Em outras palavras, dessa vez nós temos uma área aberta expansiva que interconecta as diferentes áreas do jogo, quase como Hyrule Field funcionada em Ocarina of Time. Com o objetivo inicial de encontrar cinco chaves diferentes, você precisa explorar as diferentes áreas em momentos específicos, de modo a encontrar os poderes que abrirão caminho para cada uma das chaves.
Durante essa jornada, você vai poder escanear inúmeros inimigos, relíquias, computadores e outros dispositivos, com o objetivo de descobrir mais sobre os mistérios do planeta. Nesse ponto, vale destacar o trabalho primoroso de localização feito em Metroid Prime 4 Beyond. O jogo está inteiramente adaptado para a nossa língua, e eu não consigo apontar nenhum defeito ao trabalho de tradução. Logs de criaturas com informações detalhadas e arquivos que falam do passado do mundo de Viewros estão todos em nossa língua, e servem de interessante material a respeito do lore do mundo do jogo.

Muito de Prime, um pouco de outras coisas
Embora tenham chamado a atenção negativamente durante previews, eu não tive qualquer problema com a presença ou a personalidade dos membros da Federação Galáctica. De um lado, nós temos personagens que são, na verdade, até divertidos, e desempenham um papel interessante e importante em alguns momentos da narrativa. Além disso, vale ressaltar que a companhia desses personagens é limitada a momentos bastante específicos. Na maior parte do tempo, Samus explora sozinha as enormes e impressionantes instalações do planeta.
Este ponto, inclusive, é onde está o ápice de Metroid Prime 4 Beyond. Cada uma das áreas do jogo possuem visuais e ambientações inteiramente únicas, que são construídas com uma maestria que poucos jogos conseguem. A Forja Voltáica, com sua tempestade ininterrupta e o Cinturão de Gelo, com revelações muito importantes para a trama do jogo, são apenas algumas das várias áreas que te fazem ficar absurdamente emergido no mundo de Viewros. Algumas das áreas chegam quase a ser assustadoras (embora o jogo não seja de terror), de tão bem-feita que é sua ambientação.

Além disso, cada uma das áreas do jogo contam uma narrativa própria, com um arco específico de história que é trabalhado tanto em um nível narrativo, quanto em um nível de gameplay e level design. Entrar em uma área abandonada, quase que um “lugar fantasma”, explorar o local inóspito e eventualmente “acordar” aquele ambiente, ativando seus sistemas e revelando seus segredos, foi sem sombra de dúvidas uma das melhores experiências que eu tive com videogames em 2025.
A grande questão é que, Metroid Prime 4 Beyond também tenta algumas ideias novas, em específico, a inclusão de uma área aberta, que foi feita especificamente para ser atravessada pela moto VI-O-LA. Já digo de antemão: eu não acho esse mundo aberto nem os segmentos de moto necessariamente ruins. Existem mecânicas interessantes e segredos a serem encontrados, e essa parte funciona como um bom “limpador de palato” entre uma área e outra. Contudo, a presença desse mundo aberto poderia ter sido melhor explorada, já que não há tanto assim o que fazer nesse cenário. É um elemento novo, uma tentativa de algo que a série nunca teve antes, mas que no final das contas não traz algo nem de bom, nem de ruim.

Um showcase, em todos os sentidos
Se tratando de direção de arte e trilha sonora, Metroid Prime 4 Beyond é, sem sombra de dúvidas, um dos jogos mais impressionantes da Nintendo. Visualmente, cada cenário do planeta Viewros apresenta visuais e ambientações absurdas de impressionante, com gráficos de ponta, que não deixam barato para outros AAA da indústria. As animações dos personagens são muito bem trabalhadas e a trilha sonora consegue encapsular cada ambiente, mostrando que tudo foi feito com muito carinho e cuidado.
Comparando tudo o que o jogo tem a oferecer, é preciso ser dito que os visuais do deserto de Viewros são, de fato, os menos interessantes, porém todos os outros cenários compensam essa lacuna com maestria. Além disso, vale ressaltar também que a performance do jogo é imaculada. Metroid Prime 4 Beyond apresenta diferentes modos gráficos tanto no modo portátil, quanto na TV, com opções para 4K com 60fps, ou 1080p a 120fps. Ambas as opções funcionam absurdamente bem, com imagens cristalinas e sem quaisquer quedas na taxa de quadros.

Além disso, Metroid Prime 4 Beyond também serve de showcase para outras funções específicas do Nintendo Switch 2. O HD Humble 2 do controle, por exemplo, é utilizado magistralmente para representar as diferentes texturas do chão quando você está utilizando a morfosfera, ou ainda as diferentes intensidades dos tiros disparados por Samus. Os controles de mouse do Switch 2 também podem ser utilizados, e funcionam surpreendentemente bem. Basta você encostar o controle em uma superfície e, pronto, você já está controlando a câmera com essa opção.
Por falar em controles, Metroid Prime 4 Beyond também apresenta opções com giroscópios, que imitam a experiência que tínhamos ao jogar o título no Wii, por exemplo. Surpreendentemente, todos esses modos de jogo funcionam muito bem. Optar por um ou outro é mais uma questão de preferência.

Com poderes familiares vêm grandes chefões
Apesar de alguns aspectos “novos” que podem não funcionar tão bem, Metroid Prime 4 Beyond ainda é, acima de tudo, um jogo da série Metroid Prime. O que eu quero dizer com isso, é que os fãs de longa data certamente ficarão bastante familiarizados com o arsenal de poderes que a Samus desbloqueia ao longo da aventura. Mísseis, tiros elementais e upgrades de locomoção para a morfosfera são apenas alguns dos vários upgrades que você desbloqueará ao longo da aventura.
A grande diferença aqui está na temática. Metroid Prime 4 Beyond explora um lado mais místico do universo de sci-fi de Metroid, que encapsula não apenas a narrativa do jogo, mas também boa parte dos poderes de Samus. Com isso, vemos alguns poderes inéditos, como a possibilidade de mover determinados aparatos com telecinese, ou ainda habilidades que permitem criar plataformas e ganchos psíquicos no ar. Não obstante, boa parte dos poderes ainda remete ao que vimos em jogos anteriores da série (o que não é necessariamente algo negativo, já que estamos há quase duas décadas sem um Metroid Prime novo).

Como um bom Metroidvania, é de se esperar que os poderes de Samus sejam explorados de maneiras distintas durante a exploração. Tiros elementais diferentes abrem portas específicas, poderes de travessia permitem sobrepujar obstáculos no seu caminho, esse tipo de coisa. Porém, os poderes também são amplamente utilizados no combate do jogo, que é, à primeira vista, bastante simples, mas que brilha de verdade durante os épicos e variados chefes que aparecem pelo caminho de Samus.
Com designs muito únicos e desafios bastante divertidos, os vários chefes que você encontra em Viewros compõem alguns dos melhores momentos do jogo. São criaturas gigantescas, com pontos fracos variados e padrões que exigem não apenas o seu reflexo, mas também a utilização inteligente de todo o arsenal de habilidades de Samus. Alguns desses chefes facilmente figuraram alto se fizéssemos um ranking englobando toda a série.

Review de Metroid Prime 4 Beyond — Primoroso, apesar de alguns deslizes
No final das contas, Metroid Prime 4 Beyond é um jogo que explora algumas ideias novas que podem não funcionar em sua plenitude, mas que nem por isso deixam de entregar uma “experiência Metroid Prime”. A presença da moto, com sua exploração e combate veicular oferece alguns momentos interessantes e serve para quebrar um pouco o ritmo entre uma área e outra, mas há um potencial no mundo aberto de Metroid Prime 4 Beyond que não foi explorado em sua totalidade.
A presença dos personagens da Federação que acompanham Samus, por outro lado, pareceu-me bem-vinda. Alguns desses personagens desempenham um papel interessante na trama ao trazer mais humanidade à aventura de Samus, e suas personalidades são divertidas e complementam-se de maneira positiva. Em alguns momentos, contudo, eles caem em alguns clichês que são um pouco pobres, durante os quais eles acabam caindo em um certo estereótipo militar desinteressante, mas isso se dá em um momento bastante pontual e curto da campanha do jogo que dura cerca de 12 horas (ou mais, caso você almeje os 100%).

Para além desses pequenos pontos mais baixos, Metroid Prime 4 Beyond entrega uma experiência grandiosa, épica e absurdamente impressionante quando analisamos seus aspectos técnicos, sua direção de arte e sua trilha sonora. Quando está em seus pontos mais altos, Metroid Prime 4 Beyond pode ser facilmente colocado como um dos melhores jogos desse primeiro ano do Nintendo Switch 2. Caso você seja um fã de longa data, ou caso queira experimentar pela primeira vez o formato 3D das aventuras de Samus, esse é um jogo que eu indico muito, já que seus pontos positivos ofuscam facilmente seus pequenos problemas.
PS: A análise foi feita em um Nintendo Switch 2 através de uma cópia cedida pela Nintendo.
Metroid Prime 4 Beyond inicia um novo capítulo nas aventuras 3D de Samus ao trazer ideias novas como a inclusão de uma moto e companheiros de aventura. Embora nem todas essas ideias funcionem perfeitamente, o jogo ainda entrega uma experiência digna do legado da série Metroid Prime, e impressiona com sua ambientação imersiva e aspectos técnicos que surpreendem no Nintendo Switch 2.
Pontos positivos
- Visuais e trilha estonteantes
- Performance surpreendente
- Chefes excelentes
- Ótima localização
Pontos negativos
- Mapa aberto deixa a desejar
- Personagens caem em alguns clichês
- Preço incompatível com nossa realidade
- Narrativa
- Jogabilidade
- Conteúdo
- Visuais
- Trilha Sonora
- Desempenho
