Neste review de Neva, o mais novo jogo contemplativo do pedaço, irei te contar tudo sobre o novo game publicado pela Devolver. E, não me leve a mal na definição de jogo contemplativo. Diferente de títulos como One Last Breath, Gris e Planet of Lana, ele de fato busca a participação ativa do jogador.
Desenvolvido pela Nomada Studio, o mesmo time responsável pelo já mencionado Gris, Neva foi comandado por Conrad Roset, o co-fundador da empresa.
Em uma indústria cada vez mais voraz por geração de receita e lucro líquido, projetos como Neva são raríssimos e são fundamentais para nos lembrar que sim, jogos também podem ser arte, perpassando a ideia de um produto comercial.
Neste meu review de Neva, eu vou te contar como foi a minha experiência com o jogo e, claro, te ajudar a decidir se vale ou não dedicar tempo e dinheiro nele.
A corrupção
Logo no início de nossa jornada, Neva já mostra que é um jogo com uma carga emocional elevada. Nossa protagonista, chamada de Alba, é acompanhada por uma loba gigante e, de repente, pássaros começam a cair do céu.
Em instantes, uma onda violenta de seres obscuros, que lembram a corrupção, colocam um fim na vida da loba gigante e nossa protagonista escapa por um triz.
Um detalhe curioso é que esses seres sombrios me lembraram MUITO do No-Face, o vilão de A Viagem do Chihiro. E as semelhanças de Neva com o Studio Ghibli não param por aí. É impossível não pensar na Princesa Mononoke ao ver a protagonista de Neva ao lado da loba.
Ao acordar, descobrimos que temos uma companheira de aventura: Neva, uma filhote da loba. Apesar de não ter diálogos, a história do jogo é fácil de ser compreendida, o que reforça a incrível habilidade de storytelling da Nomada Studio.
Usando apenas a trilha sonora e a direção de arte, a equipe consegue deixar a narrativa explícita e evocar várias emoções em quem joga. Contemplação, pavor, alegria, esperança, medo, raiva… Jogar Neva é como comer uma salada de frutas onde cada fruta é uma emoção diferente.
Para alguns jogadores, a curta duração de 3 horas pode ser um ponto negativo, mas, ao meu ver, é exatamente o oposto. O game tem uma duração perfeita para evitar que ele se torne chato ou repetitivo.
É como se os desenvolvedores da Nomada Studio fossem aprendizes de Tchekov. Não temos nenhum tipo de excesso no game. Tudo tem e cumpre um propósito.
Uma evolução enorme
Um “problema” desses jogos contemplativos é que, por muitas vezes, eles acabam sendo passivos demais. O jogador só anda pra frente ou pra trás e passa por alguns trechos simples de plataforma.
Com a finalidade de apimentar essa fórmula, a Nomada Studio adicionou um combate surpreendentemente robusto em Neva. A protagonista usa uma espada para derrotar as criaturas da Corrupção.
E, nada medida que as estações do ano passam, Neva vai envelhecendo, tornando-se mais corpulenta e aprendendo habilidades novas. Essa evolução com o passar dos capítulos adiciona variedade na jogabilidade e level design, impedindo que o jogador se sinta entediado com o game.
O jogo não conta com uma quantidade acentuada de puzzles, porém, temos vários trechos de plataforma que exigem uma certa coordenação e, surpreendentemente, ótimas batalhas contra chefes.
Eu senti que a movimentação da personagem acabou ficando um pouco mais pesada do que deveria, contudo, o combate funciona muito bem e cada golpe tem impacto, tornando o loop bem prazeroso. Por conta desse “excesso” de peso na movimentação, alguns trechos de plataforma acabam frustrando um pouo, mas nada que seja impossível de manejar.
Apesar de Neva ser extremamente linear, o estúdio conseguiu esconder bem isso através do level design. Em muitos capítulos, precisamos ativar totens para prosseguir e, até que isso seja possível, visitamos vários cenários com formatações e paisagens diferentes.
Para um jogo contemplativo, fiquei positivamente surpreso com a quantidade de trechos de combate no título e, mais ainda, com a responsividade do mesmo. O estúdio é tão genial que eles conseguiram centralizar bem a relação da protagonista com a filhote da loba.
É fantástico ver como elas interagem uma com a outra e, mesmo com a duração curta, o jogo consegue estabelecer uma grande conexão emocional com o jogador. Em poucos minutos, você já vai estar se importando com a loba e estará tentando proteger ela à todo custo.
Arte jogável
Como eu mencionei lá em cima, Neva cumpre um papel importantíssimo: lembrar às pessoas de que jogos podem ser produtos artísticos. A direção de arte está sublime, se apoiando no uso extensivo da palheta de cores que tornou Gris muito charmoso.
Um pequeno detalhe é que em certos cenários do game, a visibilidade fica muito prejudicada, fazendo com que o jogador perca a personagem de vista.
Por falar em personagem, temos animações maravilhosas que ajudam a dar vida à flora do game e até a construir um senso de identidade nos inimigos gerados pela Corrupção.
O refinamento técnico do jogo não para por aí. A música, comandada por Berlinist, toca na alma de quem joga. Com tons ora melancólicos, ora alegres, ora raivosos, os jogadores se tornam refém da orquestra que dita o ritmo e os sentimentos de cada cena. Fazia bastante tempo que uma trilha sonora de um game não me encantava tanto.
E o nível de qualidade dos efeitos sonoros não fica devendo em nada. Podemos ouvir o barulho das folhas quando a protagonista pisa no chão, o barulho de sapos e de pássaros cantando… todo o trabalho sonoro foi feito com maestria!
Um fator surpreendente foi o excelente uso do DualSense, ajudando a aumentar a imersão na trama. Em várias partes, podemos sentir o desespero da protagonista e de Neva, tornando-se um plus interessante.
Por fim, para finalizar esse review de Neva, vale mencionar que não tive nenhuma queda de frame, bug ou glitch ao longo das minhas 3 horas com o jogo. Tudo funcionou perfeitamente bem.
Review de Neva: Vale a pena!
Neva não tem a história mais emocionante dessa categoria que eu chamo de jogos contemplativos, contudo, o jogo certamente tem uma das melhores roupagens técnicas do grupo. Outro fator importante é que o game é o que mais busca o engajamento de quem joga, entregando um sistema de combate robusto.
Neva é aquele tipo de aventura ideal para se consumir entre grandes AAA. É um projeto com alma e identidade que serve para nos lembrar que não é só de propostas comerciais que a indústria sobrevive.
Se você procura por uma bela jornada emocionante, com uma duração agradável e um alto nível de qualidade, não tem erro, Neva vai te encantar!
Neva representa uma evolução gigantesca para o Nomada Studio que, após emocionar o mundo com Gris, vai conquistar o coração do mundo inteiro com essa nova aventura.
Pontos Positivos
- História que emociona
- Ótimas lutas contra chefes
- Direção de arte sublime
- Trilha sonora fantástica
Pontos Negativos
- Movimentação da personagem poderia ser mais leve
- Alguns cenários ficaram com a visibilidade péssima
- Narrativa
- Jogabilidade
- Visuais
- Desempenho
- Som