De maneira geral, eu gosto muito da franquia Persona, mas preciso destacar o fato de ter um carinho todo especial pelo Persona 3, especificamente. Isso acontece, pois ele não foi apenas o primeiro jogo da série que eu joguei, mas foi também um jogo que eu joguei pela primeira vez em um momento que me pareceu muito a “época certa” pra esse tipo de jogo.
Ligar o PlayStation 2 e jogar Persona 3 pela primeira vez na adolescência foi uma experiência ímpar, já que muitos dos temas e dilemas presentes no jogo se refletiam de uma maneira ou de outra nas vivências do meu dia-a-dia.
Essa experiência foi tão marcante para mim, que eu acabei jogando todas as versões de Persona 3 lançadas ao longo dos anos. Ainda no PlayStation 2, rejoguei o título em sua versão Persona 3 FES, que contava com novo conteúdo, além de um epílogo extra, contando uma história inédita protagonizada por Aigis.
Quase uma década depois, experimentei o Persona 3 Portable de PSP, que permitia jogar com uma protagonista feminina, trazendo uma perspectiva diferente sobre a aventura. Finalmente, ano passado testei o remake Persona 3 Reload, quando ele foi lançado inicialmente para as plataformas da atual geração.

Agora, pouco mais de um ano após o seu lançamento inicial, eis que a Atlus traz Persona 3 Reload também à mais recente plataforma da Nintendo, o Nintendo Switch 2. Trazendo todo o conteúdo base presente no remake original, esse é um port bastante competente de um jogo que é imprescindível para todo e qualquer fã de JRPGs.
Aqui, pretendo me focar nas características desse remake, além, é claro, das particularidades específicas da versão de Switch 2. Mas, claro, caso queira ler uma segunda opinião a respeito da versão de PlayStation 5, você pode conferir o nosso review clicando aqui. Será que a versão de Switch 2 faz juz à esse jogo tão incrível? Bora conferir!

Baby, baby, baby, baby, baby…
Foi com Persona 3 que a Atlus estabeleceu a “estrutura moderna” da série Persona. Isso significa que temos aqui uma história protagonizada por um jovem estudante de colegial Japonês, que vê sua vida sendo dividida entre dois momentos distintos quando ele descobre existir um mundo oculto, repleto de criaturas das sombras.
Em Persona 3 Reload, isso acontece quando o protagonista controlado pelo jogador descobre existir a Hora Sombria, um período de tempo misterioso que existe à meia noite, mas que só pode ser experienciado por algumas pessoas que possuem talentos especiais.
Quando eu joguei Persona 3 pela primeira vez, essa ideia de jogar um JRPG protagonizado por um adolescente normal era muito nova e interessante e, consequentemente, os temas e acontecimentos da trama me marcaram muito.
Surpreendentemente, mesmo quase 20 anos depois, a trama de Persona 3 Reload continua impactante em todos os sentidos, e é facilmente um dos melhores aspectos do jogo — principalmente quando você começa a conhecer os diversos personagens do seu time, que trazem cada um os seus dramas e seus arcos de crescimento próprios.

Conforme você se envolve nessa trama repleta de reviravoltas e temas bastante complexos, o jogador passa a dividir o seu tempo em dois momentos bastante distintos. Durante o dia, você deve continuar com a sua vida normal de estudante, frequentando a escola, fazendo amizades e utilizando suas tardes para desempenhar atividades variadas dentro e fora da escola. Durante a noite, por outro lado, você deve se juntar a um grupo chamado S.E.E.S. para explorar o Tártaro, uma misteriosa e gigantesca torre que aparece apenas durante a Hora Sombria.
Em termos de mecânicas, isso reflete em uma experiência composta por momentos extremamente diferentes, mas que se complementam de maneira surpreendente. Isso ocorre devido às mecânicas e temáticas dos titulares Personas.
Dentro do universo do jogo, Personas são criaturas que representam a psiquê e personalidade de cada uma das personagens. São, também, uma das suas principais armas para enfrentar as criaturas que você encontra no Tártaro. A grande sacada está em como os Personas compõem não apenas o combate, mas também os elementos sociais presentes em Persona 3 Reload.

Uma história em dois mundos
Uma analogia interessante que pode ser feita aqui é fazer um paralelo com outras séries de “captura e coleção de monstros”, como Pokémon ou Digimon. Enquanto cada personagem da sua party possui um Persona único, que reflete sua personalidade única, e traz golpes elementais específicos, o protagonista pode carregar múltiplos Personas, trazendo esse elemento de colecionismo ao jogo.
Desbloquear novos Personas, treiná-los e evoluí-los em combate e combiná-los para criar criaturas ainda mais poderosas são atividades engajantes e divertidas que compõem boa parte do período que você gastará explorando Tártaro.
Fora das dungeons, o jogo segue uma progressão que envolve elementos mais narrativos, além de mecânicas muito típicas de jogos do gênero Dating Sim. Isso significa que você passará os seus dias não apenas vivendo o dia-a-dia escolar, mas também poderá escolher como gastar o seu tempo livre junto com amigos e potenciais parceiras românticas. A grande sacada de Persona 3 Reload está em como esses elementos de Dating Sim retroalimentam os segmentos de combate e exploração.

Isso acontece através de uma estrutura envolvendo a temática de tarô. Basicamente, todos os Personas existentes no jogo estão relacionados a uma carta específica do tarô, como os Loucos, os Enamorados, ou a Torre, dentre várias outras.
Cada uma dessas cartas está relacionada, também, à um personagem específico com o qual você pode se relacionar. Ao passar tempo com essa pessoa, e fortalecer o seu vínculo com o indivíduo relacionado a determinada carta de tarô, você é recompensado com níveis específicos, que refletem em experiência bônus para todas as criaturas daquela determinada categoria.
Executar outras atividades variadas também é muito importante para o seu progresso, já que você pode ser recompensado com pontos extras em três atributos sociais diferentes: coragem, charme e intelecto.
Conforme você fica mais confiante ou inteligente, novas atividades são desbloqueadas, bem como novas opções de vínculos sociais. Graças à esses sistemas, Persona 3 Reload cria um looping de gameplay extremamente viciante e recompensador, onde você sempre está almejando aumentar um novo vínculo social, ou um novo atributo — tudo para tornar as suas criaturas ainda mais poderosas e, consequentemente, tornar a exploração e combate ainda mais fáceis e divertidos.

Um combate com sensibilidades modernas
Por falar no combate de Persona 3 Reload, esse foi um dos aspectos que mais recebeu melhorias neste remake. No caso, o combate do Persona 3 original já tinha algumas das características mais icônicas e interessantes do combate da série Persona, que está relacionado à forma como personagens e inimigos possuem fraquezas e resistências específicas, que podem (e devem!) ser utilizadas durante os combates para desferir golpes especiais que, na maior parte das vezes, são fortes o suficiente para limpar grupos inteiros de inimigos.
Apesar desse sistema superinteressante, o Persona 3 original de PS2 possuía algumas características bastante limitantes. Nele, você só podia controlar diretamente o protagonista, enquanto os demais membros da sua party eram controlados pela CPU, o que tornava o combate um tanto quanto dependente de sorte.
No Persona 3 Reload, isso (e vários outros detalhes) foram modificados da água para o vinho! Agora, você não apenas pode controlar diretamente todos os membros do seu time, como diversas amenidades e mecânicas complementares introduzidas inicialmente no Persona 5 foram incorporadas nessa nova versão do jogo.

Menus extremamente ágeis, com atalhos para as principais ações do combate, mecânicas que permitem passar o turno e explorar de maneira mais eficientes as fraquezas de todos os inimigos, além de golpes poderosos inéditos, que podem ser utilizado em momentos-chave durante o combate são apenas algumas das várias melhorias existentes nesse remake.
Em outras palavras, se você amou Persona 5 ou Persona 5 Royal, Persona 3 Reload torna-se uma grande pedida, já que traz os melhores elementos daqueles títulos, com um setting e narrativas bastante próprias.
As melhorias não são limitadas ao combate, apenas. Explorar o Tártaro continua sendo uma experiência muito única, já que o jogo mantém os elementos procedurais do jogo original, que fazem com que a maior parte dos andares da torre sejam compostos por mapas gerados aleatoriamente.
Todavia, toda a exploração torna-se mais interessante com novos elementos e múltiplas melhorias de qualidade de vida, que incluem novos tipos de recompensas, salas secretas com chefes inéditos ultra poderosos, além de atalhos e funções que transformam uma parte que poderia ser mais “monótona” em segmento divertido e bastante desafiadores.

Apresentação fenomenal, apesar de alguns pesares
Não dá pra terminar esse review ou nem mesmo falar a respeito das melhorias de Persona 3 Reload sem destacar sua apresentação fenomenal e a nova direção de arte que foi criada para esse remake.
Com gráficos num estilo Cel shading bastante agradável, que emulam muito bem uma estética “anime” a qual o jogo remete a todo momento, Persona 3 Reload é um título extremamente bonito, que é elevado por uma direção de arte e estilos únicos. A Hora Sombria, por exemplo, com seus matizes de verde, trazem uma vibe incomparável.
Tudo isso é elevado por uma das melhores trilhas sonoras de toda a franquia. Shoji Meguro fez história em cada um dos jogos da série Persona com os quais trabalhou, e no caso de Persona 3, ele o fez ao misturar elementos de pop Japonês junto com hip hop. O resultado é uma trilha marcante e muito única, que consegue elevar os mais variados segmentos da jogatina.
Da exploração ao combate, dos momentos leves e bem-humorados aos segmentos tensos da história, tudo é pontuado com uma trilha perfeita, que foi brilhantemente remasterizada nesse remake, incluindo novos remixes e algumas músicas inéditas que não deixam nada a desejar quando comparadas às trilhas originais.

Embora eu não tenha medido palavras para elogiar a direção de arte e trilha sonora desse remake, eu preciso fazer algumas pequenas ressalvas em relação a detalhes técnicos presentes na versão do Nintendo Switch 2, especificamente. De modo geral, esse é sim um port extremamente competente, que apresenta um jogo muito bonito e vasto em sua plenitude, mas que também chega ao console híbrido da Nintendo com algumas limitações técnicas em relação a versão disponível em outros consoles.
Para começar, o jogo todo roda a 30 frames por segundos, não mais a 60 como em outras plataformas, e apresenta uma resolução interna de 1080p, escalável quando conectado na TV. Por não ser um jogo que envolve muita ação, os 30 frames não atrapalham diretamente no gameplay, mas ainda é uma limitação estranha, considerando o estilo gráfico de Persona 3 Reload, e o fato de o Switch 2 estar recebendo excelente ports de outros títulos muito mais pesados, como Cyberpunk 2077, Hogwarts Legacy e Star Wars Outlaws.
Durante a demo do jogo, diversos jogadores relataram alguns problemas técnicos adicionais, que incluíam stuttering em determinados momentos, porém me pareceu que essas questões foram todas resolvidas na build final do jogo. São detalhes simples, que não atrapalham, necessariamente, mas que poderiam ter sido melhor trabalhados neste port.

Review de Persona 3 Reload — imprescindível para todo fã de JRPG
Considerando todo o pacote que Persona 3 Reload oferece no Nintendo Switch 2, eu diria que essa é uma versão extremamente válida do jogo, que merece ser jogada por todos os fãs de JRPGs. Apesar de suas pequenas limitações técnicas, o jogo em sua totalidade é uma experiência extremamente divertida, valiosa e, acima de tudo, marcante, devido a sua narrativa, mecânicas e temáticas únicas.
Além disso, vale ressaltar o louvável trabalho de localização feito aqui. Pela primeira vez, um jogo principal da série Persona está disponível com legendas em português e, de modo geral, a tradução é extremamente competente, já que adapta de maneira interessante termos, gírias e outros elementos da trama.
Acho que um último defeito deste pacote, que eu não tinha mencionado até então, está ligado justamente às práticas de negócio da Atlus/SEGA. Lançado a preço cheio no Nintendo Switch 2, mesmo sendo um port de um remake, Persona 3 Reload apresenta uma série de DLCs extras, todos pagos separadamente, além de um capítulo adicional chamado Episódio Aigis -A Resposta-, que também é vendido separadamente.
Se você quiser jogar o pacote completão de Persona 3 Reload, você terá que desembolsar R$ 444,50 na versão Premium, mais o valor do DLC da Aigis, que deve custar cerca de 200 reais (no momento em que escrevo esse review, não saiu o preço do pacote ainda na eShop BR).

Mesmo que seja uma pena que esse conteúdo extra não tenha sido incluído no port de Nintendo Switch 2, isso não muda o fato de o jogo base ser um dos melhores JRPGs já feitos, que merece ser jogado por todo fã de JRPG e, mais ainda, por todo e qualquer fã da série Persona. Não é qualquer jogo que consegue nos marcar na adolescência, e ainda trazer os mesmos sentimentos ao ser reexperienciado em uma nova versão quase 20 anos depois. Persona 3 Reload é bom nesse nível, e gastar outras dezenas de horas nele foi tão fantástico quanto na primeira vez.
PS: A análise foi feita em um Nintendo Switch 2 através de uma cópia cedida pela SEGA.
Embora a versão de Nintendo Switch 2 de Persona 3 Reload possua algumas limitações técnicas quando comparado a outras plataformas, esse ainda é um port super competente de um dos melhores JRPGs que eu já joguei na vida. Com uma história profunda e impactante, personagens carismáticos e um sistema de combate engajante e divertido, Persona 3 Reload é imprescindível para fãs do gênero.
Pontos positivos
- Narrativa impactante e profunda
- Mistura excepcional de diferentes gêneros
- Combate profundo e divertido
- Visuais e trilha espetaculares
- Ótima localização
Pontos negativos
- Limitações de performance
- Conteúdos extras poderiam estar incluído no pacote
- Narrativa
- Mecânicas
- Conteúdo
- Performance
- Visuais
- Trilha Sonora