É engraçado pensar a respeito da nossa infância, sobre como nós conseguíamos dar uma longevidade sem igual às brincadeiras mais singelas. Pega-pega e esconde-esconde, por exemplo, eram brincadeiras super simples, com regras extremamente básicas. Mesmo assim, isso nunca nos impedia de gastar horas e horas trocando os papéis entre quem pegava ou quem escondia.
Com gráficos low-poly extremamente charmosos, Pizza Possum é o equivalente dos videogames a esse tipo de brincadeira de infância. Oferecendo um gameplay que mistura elementos de pega-pega e esconde-esconde, ele entrega uma diversão simples e descompromissada, embora a questão da longevidade acabe ficando mais por conta do jogador.
O troll do mundo animal
Tudo começa com uma premissa muito básica, quase que uma piada que é utilizada como um estopim para o caos. Em Pizza Possum, você controla um gambazinho simpático, que acaba de acordar ao sentir o cheiro de uma deliciosa pizza, recém cozinhada pela líder dos cães. O seu objetivo então é um só: alcançar essa pizza, encher sua pança e roubar a coroa para si.
Como você pode imaginar, alcançar esse objetivo não é tão fácil assim, já que existem diversos obstáculos entre o nosso protagonista e sua tão sonhada pizza. Para começo de conversa, a líder dos cães e sua pizza estão posicionadas na parte mais alta da ilha, cercada por seus leais súditos. Para alcançá-la, você precisará atravessar praias, portos, vinhedos, cemitérios e outras localidades, evadindo-se dos cães policiais enquanto você tenta comer para ganhar pontos e desbloquear os portões que dividem cada uma das regiões.
Tudo isso é feito com um sistema de controles extremamente simples, no qual você basicamente só utiliza o analógico esquerdo para controlar o gambá e um botão de ação que permite utilizar o item que você está equipado naquele momento. Embora o mapa seja todo construído com uma certa verticalidade em mente (você está sempre “subindo” a ilha), para escalar caixas e subir nas coisas, basta andar na direção do lugar desejado. Desde que o obstáculo não seja muito alto, o gambá conseguirá escalar e tocar o terror.
Arcade com ‘A’ maiúsculo
Seguindo uma linha bastante única quando comparado com a maior parte dos jogos modernos, a progressão em Pizza Possum acontece a partir de uma estrutura típica dos jogos arcade. Isso significa que todo o progresso do jogo é feito a partir de pontos. Espalhadas por toda parte da ilha, você vai encontrar todo tipo de alimento. Pães, bolos, salgados, doces e mini pizzas são apenas algumas das iguarias que nosso gambá pode encontrar. Encostar nesses quitutes é tudo o que você precisa para comê-los, e sempre que o fizer, você ganhará pontos.
Dentro de cada região, esses pontos são utilizados para preencher uma barrinha que libera uma chave. Com a chave em mãos, basta encostar em um portão para desbloquear uma nova região. Faça isso um número suficiente de vezes, e você eventualmente alcançará a líder dos cães. Porém, essa não é a única utilização desses pontos.
Fazendo juz a sua abordagem arcade, sempre que você for capturado pelos cães, sua pontuação atual será zerada. Contudo, não pense que esses pontos são perdidos para sempre. Pizza Possum oferece um sistema de progressão permanente, que leva em conta tudo o que acontece entre suas partidas. Sempre que você perder, seus pontos serão adicionados a essa barra persistente, que permitirá desbloquear novos itens para te ajudar em suas jornadas.
Não há obstáculos para um gambá faminto
Embora possua controles muito simples, são esses itens que adicionam uma variedade maior às partidas. De início, nosso gambá possui poucas ferramentas para evadir os cães: basicamente, sempre que você for visto, você pode tentar correr e se esconder em arbustos. As coisas mudam um pouco quando você consegue encontrar uma das várias caixas de itens que ficam espalhadas pela ilha.
Esses itens podem ser separados em itens passivos e ativos. A primeira categoria engloba itens que oferecem bônus instantâneos, como a xícara de café que aumenta sua velocidade base e a máscara de ladrão que melhora o seu nível de stealth. Os itens ativos, por sua vez, ficam no seu inventário até que você os use ou pegue outro item ativo. Alguns exemplos desses itens são poções que te dão super velocidade, barricadas que podem ser utilizadas para bloquear o caminho dos guardas, ou ainda bombas de fumaça que podem atordoar todos ao seu redor.
Aprender o melhor momento de utilizar esses itens é fundamental para avançar no jogo, principalmente quando você considera o quão diferente são seus efeitos. A barricada, por exemplo, funciona melhor em cenários mais apertados, com corredores que podem ser bloqueados. A bomba de fumaça, por sua vez, é ótima para lidar com múltiplos inimigos ao mesmo tempo.
Um é bom, dois é melhor ainda
O caos gerado por essa combinação de itens é divertido quando você está jogando sozinho, mas se torna algo realmente interessante quando você consegue experimentar o melhor que o jogo tem a oferecer: o seu modo co-op. Embora limitada à modalidade local, a brincadeira de pega-pega e esconde-esconde de Pizza Possum ganha uma camada totalmente nova quando você traz um amigo.
Seguindo um esquema de câmera que lembra um pouco alguns jogos da série LEGO, o modo co-op de Pizza Possum mantém os dois jogadores na mesma tela enquanto eles estão próximos. Ao se separar, a tela é dividida ao meio, permitindo a cada jogador explorar uma região diferente da ilha. Existe um fator de risco-e-recompensa extra nesse modo co-op. Poder explorar locais diferentes permite encontrar mais comida e ganhar pontos mais rapidamente, porém, se um dos jogadores for pego, o outro precisa ir até ele para libertá-lo. É nessas situações que o jogo realmente brilha, já que você pode combinar estratégias nas quais cada jogador utiliza um item diferente, ou ainda explorar diferentes caminhos e testar abordagens únicas.
Algo não está cheirando bem, e não é o gambá
Por mais divertido que todo esse caos seja, o jogo possui algumas limitações irritantes — muitas delas, uma consequência da abordagem arcade do jogo. Como eu mencionei anteriormente, os itens ficam dispostos em caixas espalhadas pela ilha. Cada vez que você pega uma caixa, você é recompensado com algum item aleatório, que substitui o item que você está utilizando no momento. Isso pode criar algumas situações indesejadas, nas quais você perde um item em um momento crucial.
Outro problema de Pizza Possum está em seu sistema inconsistente de checkpoints. Espalhadas pela ilha, existem algumas pequenas tocas que servem como um save temporário. Na teoria, se você for pego, ao invés de retornar ao início da ilha, você renascerá na última toca que você ativou, e o progresso que você fez naquela partida continuará intacto. Contudo, isso nem sempre acontece. Diversas vezes, eu perdi progresso e retornei a checkpoints de duas regiões anteriores. Entendo que a abordagem arcade do jogo resulte em repetição, mas esse tipo de repetição acaba sendo só frustrante.
Falando nisso, a longevidade de Pizza Possum também é uma questão a se considerar. A partir do momento em que você passa a conhecer melhor o mapa do jogo e suas mecânicas, chegar ao final da ilha pode ser uma questão de minutos. Para estender o gameplay, o jogo oferece um desafio extra: termine 3 vezes sem ser capturado para ver o final verdadeiro. Na minha opinião, uma maneira um pouco artificial de inflar a duração do jogo.
Review de Pizza Possum — para ser jogado com amigos
Por mais que meus comentários sobre a abordagem arcade e duração de Pizza Possum possam soar negativos, acho importante considerar o fato de que são bastante compatíveis com a premissa e, principalmente, o preço do jogo. No momento em que escrevo essa análise, o título está custando apenas R$ 23,50 na eShop BR, um preço bastante justo quando você considera a qualidade do game.
Em termos de gráficos e performance, não tenho o que pontuar sobre Pizza Possum. É um jogo com um estilo artístico charmoso, uma trilha sonora que combina muito com a ‘bagunça’ oferecida pelo seu gameplay. O título também está todo localizado em português do Brasil, o que contribui ainda mais com a maior qualidade do título: a de ser jogado com amigos ou família.
De modo análogo a uma brincadeira de pega-pega ou esconde-esconde, fica a critério dos jogadores encontrar diversão na repetição oferecida por Pizza Possum. Por outro lado, esse é um excelente “party game”, já que oferece uma simplicidade de controles que permite que qualquer pessoa pegue o jogo e se divirta. É, sem sombra de dúvidas, uma porta de entrada ótima para crianças. Só não espere um adulto gastando horas e horas jogando sozinho.
PS: O review de Pizza Possum foi feito em um Switch através de uma cópia cedida pela Raw Fury
Pizza Possum é um jogo arcade charmoso, que oferece um gameplay simples e acessível. Embora possa ficar repetitivo rapidamente quando jogado sozinho, ganha uma vida extra quando encarado como "party game".
- Jogabilidade
- Fator replay
- Direção de arte
- Som (Música e Efeitos)
- Desempenho