Dentro da indústria dos games, é sempre louvável quando vemos jogos que fazem algo de muito único e diferente. Contudo, geralmente esses títulos acabam relegados mais ao âmbito independente. Nesse contexto, o trabalho realizado pela Hazelight Stufios fica ainda mais surpreendente, ainda mais quando se leva em consideração o fato de a empresa ter desenvolvido seus últimos títulos com financiamento da EA, uma das publicadoras mais conservadoras e avessas a riscos da indústria.
Para quem não se recorda do histórico da Hazelight, essa é a empresa capitaneada por Joseph Fares, icônico desenvolvedor que ficou famoso por gritar “F*ck the Oscars” durante a transmissão de uma The Game Award. Atendendo a um nicho de jogos muito específico, mas pouco atendido, o estúdio de Fares desenvolveu títulos focados na experiência co-op de tela dividida, como A Way Out e o premiado It Takes Two.
Seu mais recente jogo, Split Fiction, segue uma premissa similar e, na época de seu lançamento original, em março de 2025, recebeu inúmeros elogios em nosso review aqui no RepúblicaDG. Agora, cerca de três meses após seu lançamento inicial, Split Fiction chega ao Nintendo Switch 2 junto com os demais títulos de lançamento do console. E eu já preciso adiantar desde agora: se você está procurando algum outro jogo para jogar após gastar algumas dezenas de horas em Mario Kart World, Split Fiction é facilmente uma das melhores opções disponíveis no console.

Entre a razão e a emoção
A premissa básica de Split Fiction é focada em duas protagonistas com personalidades quase que opostas. De um lado, temos a estóica e centrada Mio, uma escritora de ficção científica que parece enxergar o mundo todo com um certo grau de ceticismo. Do outro lado, temos a esperançosa e sonhadora Zoe, uma escritora de fantasia que vê tudo com um olhar de ingenuidade e otimismo. As duas acabam indo parar juntas em uma aventura bizarra em um mundo de realidade virtual que mistura as obras escritas por ambas as personagens.
Tudo começa quando as duas autoras decidem vender suas obras a uma empresa chamada Editora Rader. Mais do que publicar seus livros, o objetivo dessa empresa é transformar as obras de diversos escritores em mundos de realidade virtual que podem ser quase que literalmente vividos por meio de uma tecnologia que coloca o usuário em um tipo de hiper-sono. O grande problema, contudo, é que Mio e Zoe acabam indo parar em um mesmo universo, que parece estar colapsando ao tentar misturar os mundos escritos pelas duas escritoras em uma única coisa coesa. O objetivo de ambas as protagonistas é encontrar uma maneira de escapar dessa realidade virtual, mas, como você pode imaginar, existe mais em jogo do que apenas isso.

Durante as cerca de 15 horas de campanha de Split Fiction, as personalidades e alguns elementos do passado de Mio e Zoe são explorados, bem como as verdadeiras intenções da Editora Rader e seu CEO, que passa a assumir um papel de antagonista durante a trama. Todavia, eu diria que a parte mais fraca de Split Fiction é, justamente, sua narrativa. Não quero dizer com isso que a história de Split Fiction seja ruim, necessariamente, porém é uma história que serve mais como um pano de fundo do que qualquer coisa.
Alguns elementos ligados à trama até se destacam. No final das contas, Mio e Zoe tornam-se protagonistas bastante gostáveis, e o trabalho de dublagem original e captura de movimentos ajuda a entregar o momento-a-momento da jogatina. Além disso, os altos e baixos da trama ajudam a pontuar e ditar o ritmo da aventura. Dito isto, eu não acho que qualquer pessoa que jogue Split Fiction ficará pensando e remoendo sua narrativa por muito tempo. Ela faz o seu papel, e é isso.

Qual é o gênero do jogo mesmo?
O gameplay, por outro lado, ah, esse sim é o aspecto no qual Split Fiction mais se sobressai — ao ponto de elevá-lo ao mesmo patamar de alguns dos melhores lançamentos disponíveis atualmente no Nintendo Switch 2. Seguindo um pouco da base que foi criada em It Takes Two, mas elevando a experiência a outro patamar, Split Fiction apresenta uma campanha que não se prende a um único estilo de gameplay, ou mesmo um único gênero de videogames. Do mesmo modo como Split Fiction mistura as temáticas de ficção científica e fantasia, ele também mistura os mais diversos gêneros do mundo dos games.
É claro, existe uma base única que serve para unificar o jogo em uma campanha coesa. Isso significa que, em boa parte da trama, Split Fiction joga como um jogo de ação e aventura em terceira pessoa, no qual duas pessoas diferentes jogarão com cada um dos personagens. Vale ressaltar aqui, inclusive, que é impossível jogar Split Fiction sozinho. Esse jogo exige dois jogadores a todo momento, seja localmente ou pela internet, nas modalidades online. Mais pra frente, detalharei um pouquinho mais essas opções.

Voltando ao gameplay em si, embora Split Fiction tenha essa base em terceira pessoa, cada segmento da campanha apresenta mecânicas e ideias únicas, o que faz com que o jogo seja um dos mais criativos da indústria dos games. Em um momento, ele pode jogar como um jogo de ação, com combate frenético onde Mio desfere ataques corpo-a-corpo com uma espada e Zoe utiliza um laço para agarrar e lançar inimigos e objetos. Num momento seguinte, temos trechos de plataforma e puzzle, onde cada uma das personagens precisa abrir o caminho para a outra. A variação é sempre surpreendente.
Em muitos momentos, Split Fiction esse seu gameplay variado para criar segmentos hilários, ou repletos de ação. Volta e meia, fica claro que trechos inteiros do jogo foram criados como homenagens a grandes títulos clássicos da indústria dos games. No instante seguinte, cenas extremamente inusitadas são apresentadas com o intuito de fazer o jogador (e seu parceiro de jogatina) gargalharem alto com o absurdo da situação. Tons, temas e gameplay se variam a todo instante, tornando a campanha uma divertida montanha-russa jogável.

Um port bom o suficiente
Toda essa variedade incrível é apresentada com uma direção de arte fantástica. Os cenários sci-fi não deixam nada a desejar a grandes clássicos da ficção científica, como filmes como Blade Runner, ou ainda jogos como Cyberpunk 2077. Os cenários de fantasia, por sua vez, hora remetem aos clássicos absolutos do cinema como O Senhor dos Anéis, outrora a jogos marcantes como Fable e Dragon Age. Há um senso de escala constante, que ajuda a impressionar ao incluir também set pieces repletas de ação em ambientes gigantescos.
Em termos técnicos, essa versão do Nintendo Switch 2 apresenta paridade de conteúdo com as versões de PS5, Xbox Series e PC, porém, alguns compromissos foram necessários para que o jogo rodasse no aparelho da Nintendo. Em outras palavras, isso significa que a versão do Switch 2 roda a 30 frames por segundo, com uma resolução dinâmica que utiliza-se do DLSS para entregar uma qualidade maior na TV. Visualmente, alguns momentos mais frenéticos podem apresentar alguns pequenos artefatos aqui e ali, mas nada que comprometa a experiência como um todo.

Quando consideramos as qualidades técnicas de outros lançamentos do Switch 2, como Cyberpunk 2077, Hogwarts Legacy e Yakuza 0, é uma pena que a versão de Switch 2 de Split Fiction não seja um pouco melhor tecnicamente. Todavia, esse é um daqueles casos em que eu diria que vale muito a pena ignorar essas leves limitações em prol de poder desfrutar de um jogo absolutamente fantástico.
Por falar nisso, Split Fiction possui diversas opções de co-op, e todas funcionam fantasticamente bem. Você pode jogar em um único console, no modo local. Você pode utilizar o GameShare para compartilhar o jogo com alguém usando um Switch 1 localmente. Você pode, inclusive, utilizar a função de cross-play para jogar com pessoas de outras plataformas. Na maior parte do tempo, eu joguei com um amigo que estava utilizando a versão de PC, e tanto gameplay quanto o online funcionaram perfeitamente bem durante toda a campanha.

Review de Split Fiction — Imperdível!
Quando comparada às versões disponíveis em outras plataformas, a versão de Nintendo Switch 2 de Split Fiction infelizmente apresenta algumas leves limitações técnicas. Todavia, apesar desses pequenos detalhes, a fantástica experiência co-op do jogo é apresentada em sua integridade, e pode ser desfrutada de maneiras diversas, seja com amigos localmente ou até mesmo com pessoas que joguem em outra plataforma.
De verdade, essa é uma campanha que merece ser jogada pela maior quantidade de jogadores. Caso você não tenha outra plataforma, vale sim muito a pena adquirir esse jogo no Nintendo Switch 2 — ou, ainda, você pode utilizar o Friend’s Pass que está disponível na eShop para jogar com um amigo que possua o jogo em outra plataforma. Em qualquer um dos casos, essa é uma experiência imperdível, que todos aqueles que gostam de videogame precisam experienciar. Afinal, uma experiência em co-op com o formato e qualidades de Split Fiction é tão única quanto rara, e merecem ser apreciadas pela maior quantidade de pessoas possível.
PS: A análise foi feita em um Nintendo Switch 2 através de uma cópia cedida pela Electronic Arts.
Embora apresente algumas limitações técnicas quando comparada às versões de outras plataformas, a variada e divertida aventura co-op de Split Fiction entrega uma experiência ímpar no Nintendo Switch 2. Divertido, variado e único como nenhum jogo, esse é um dos destaques na plataforma.
The Good
- Variedade de gameplay surpreendente
- Divertido e engraçado
- Visualmente impressionante
- Inúmeras opções para co-op
Pontos negativos
- Narrativa simples
- Algumas limitações técnicas
- Narrativa
- Gameplay
- Conteúdo
- Visuais
- Trilha Sonora
- Performance