Quando eu era mais novo, detestava qualquer coisa que envolvesse sci-fi. Idolatrava períodos mais antigos, como a Idade Média, e o espaço nunca conseguia me encantar. Tentei dar uma chance à Stargate, Star Trek e nada.. Até que um belo dia, eu conheci Star Wars.
Acredito que o primeiro contato de muitos brasileiros na minha faixa etária com a franquia foi através do desenho animado de Guerra dos Clones. Foi a partir desse ponto que comecei a me encantar pelo universo, consumindo todas as séries e filmes.
No campo dos games, KOTOR, Force Unleashed e até o MMORPG me encantaram. O tempo passou e a Respawn fez o que seria o jogo dos sonhos pros fãs de Force Unleashed: foi aí que surgiu Star Wars Jedi: Fallen Order. Apesar de ser um ótimo jogo, o projeto contou com alguns defeitos que o impediram de se tornar uma obra magnífica. Agora, menos de 4 anos desde o lançamento do anterior, Star Wars Jedi: Survivor chegou com uma missão: aprimorar tudo que vimos no anterior. Será que ele cumpre isso? Vem comigo em mais um review!
A próxima geração Jedi
Apesar do jogo contar com um pequeno resumo da história anterior, ele é péssimo e não consegue detalhar os ocorridos do jogo passado. Portanto, deixo aqui a minha recomendação para jogá-lo antes de se aventurar nesse. Embora não considere isso obrigatório, você vai aproveitar melhor a narrativa.
Os anos passaram e Cal se tornou um Jedi experiente após treinar com Cere. E, numa decisão excelente por parte dos devs, todas as habilidades que conquistamos no game anterior foram mantidas, inclusive as de BD-1. Isso evita que o início do jogo seja engessado e com um ritmo lento.
Graças ao seu treinamento, Cal agora está mais confiante e resoluto do que ele quer e precisa fazer. Com a confiança, nosso protagonista também ganhou um certo ar de arrogância, lembrando muito Anakin antes dele se corromper. O objetivo primário aqui continua o mesmo: lutar contra o Império e reestabelecer a Ordem Jedi.
Star Wars Jedi: Survivor conta com 6 capítulos ao todo e APENAS a história dura entre 15 a 20 horas, a depender da dificuldade em que você jogue. Apesar da introdução do jogo ser bem frenética, senti uma falta de ritmo no começo e no meio da aventura. A narrativa falha em fazer com que o jogador se importe com o que Cal está fazendo, fora a péssima dosagem entre história x seções de plataforma.
Contudo, a partir do final do capítulo 4, o jogo cresce demais em sua narrativa, apresentando vilões marcantes e que são até melhor desenvolvidos que Palpatine. Inclusive, o título conta com um trecho que pra mim é um dos melhores de tudo que já foi feito dentro da franquia. Para situar os jogadores dentro do universo construído pela Respawn, temos setpieces incríveis que parecem ter saído diretamente dos filmes. Os personagens, tanto principais, quanto secundários são muito bem trabalhados, seja através de diálogos ou dos Ecos de Força. Até a relação de Cal com BD-1 é melhorada. E essa melhora não é apenas no que diz respeito às personalidades. A caracterização também ficou impecável e temos novos ajudantes que deixam isso evidente.
Para facilitar o entendimento da história, Star Wars Jedi: Survivor conta com localização completa em PT-BR e a dublagem está magnífica! Seguindo uma estrutura mais próxima de mundo aberto, o game tem missões secundárias que surgem como “Rumores”, fornecendo mais informações sobre personagens e o mundo do jogo.
Uma coisa que a Respawn faz muito bem e isso me agradou muito é que eles apresentaram mundos abertos mas que possuem trechos lineares que são possíveis graças a campanha. É como se eles criassem “estágios” dentro de cada planeta, estrutura que o jogo anterior implementou. A diferença aqui é que as missões principais estão maiores, onde cada uma dura entre 90 a 120 minutos. Inclusive, alguns trechos da campanha são fortemente scriptados e isso me fez pensar bastante em Ratchet and Clank: Rift Apart. É a mesma vibe de trecho guiado com mil e uma coisas absurdas acontecendo na tela. Isso fez com que eu desejasse que um filme da franquia saia o mais rápido possível! Em suma, o estúdio fez um trabalho impecável para garantir que o jogador tenha um ótimo contato com o universo e que sinta vontade de mergulhar no mesmo.
O caminho da Força
Por se tratar de uma sequência, é natural esperar uma evolução de diversos sistemas, principalmente o combate e isso acontece em quase todos os campos de Survivor.
A confiança de Cal é refletida em seu manejo do sabre, fazendo com que ele se torne implacável nos embates, gerando desmembramentos dos adversários e finalizações brutais. Agora temos 5 posturas diferentes, que fazem uma certa mímica às armas em RPGs:
• Postura Padrão, lembrando uma espada reta. Essa é focada em equilíbrio de ataque, defesa e velocidade.
• Sabres Duplos, focado em quem gosta de agilidade e movimentação constante.
• Empunhadura Dupla, focada em combate contra grupos de inimigos.
• Blaster, permitindo que o jogador ataque inimigos à distância. Os ataques dessa postura lembram sabres retos/esgrimas.
• Guarda, com ataques pesados/lentos que causam uma quantia absurda de dano. Lembra muito as Espadas Longas de Dark Souls.
Podemos aprimorar cada Postura através da Árvore de Habilidades que agora conta com 3 ramos principais (Sobrevivência, Força e Sabre) e 4 subramos dentro da árvore Sabre. Por falar em Força, as habilidades inéditas do protagonista foram muito bem incorporadas ao combate, permitindo que Cal faça inimigos levitarem, flutuarem, combaterem entre si, além das já conhecidas mecânicas de empurrar ou puxar. Isso gera um combate extremamente prazeroso e recheado de opções, unindo estilos de combate diferente com muita verticalidade e habilidades da Força.
O mecanismo de Aparar continua fundamental para a sobrevivência e bem responsivo. Uma coisa que me incomodou um pouco é que só temos a permissão de usar duas posturas de Sabre simultaneamente, podendo trocá-las nos Pontos de Meditação. Isso acaba fazendo com que o jogador não explore tanto as opções de combate e permaneça com duas “fixas” na jornada inteira.
Para ficar por dentro de tantas opções, podemos treinar no Vazio ao meditar nos pontos, permitindo que os jogadores criem o mais próximo de build que o jogo tem. Em alguns trechos da campanha, o combate é amplificado com o auxílio de aliados específicos, gerando execuções em dupla no melhor estilo Marvel’s Guardians of the Galaxy. Infelizmente só podemos usar dois aliados em combate e em trechos bem específicos e curtos. A equipe poderia trabalhar melhor esse detalhe numa eventual sequência. Outro ponto negativo é que o combate contra grupos de inimigos é uma bagunça, até se você estiver usando a postura destinada a isso. A câmera não funciona tão bem quanto deveria, fazendo com que o jogador fique aberto para ataques pelas costas por ser difícil acompanhar tantos alvos de maneira simultânea.
Seguindo tendências
Fugindo da linearidade, pra nossa infelicidade, os planetas de Star Wars Jedi: Survivor estão bem maiores. Esse pensamento de inflar o mapa acabou custando caro: temos planetas muito semelhantes entre si e a variedade de cenários acabou ficando menor do que o do game anterior.
Para explorar, podemos usar montarias que deveriam ser um pouco mais velozes do que são, mas isso não é a pior parte. Lotada de trechos de plataformas, a exploração não é incentivada nem um pouco pelo jogo. A maioria esmagadora das recompensas são cosméticas, tornando a busca completamente trivial. É claro que vez ou outra encontramos upgrades pra BD-1, aumento da barra de HP e Força, mas esses itens são bem escassos. Como conteúdo secundário, temos:
• Os Caçadores de Recompensas retornam. Agora temos um NPC aliado atrelado a eles que concede recompensas em troca dos Discos de Recompensa
• As Sementes de Jardinagem estão de volta, agora num jardim muito maior.
• Chefes lendários, uma das atividades mais divertidas na minha opinião.
• Câmaras Jedi, catacumbas cheias de puzzle irritantes envolvendo uma substância negra e pedras.
• Rasgos da Força, seções de arena ou de plataformas bem criativas e desafiadoras
• Peixes que servem para povoar o aquário da Cantina
O conteúdo secundário é bem vasto e boa parte é de qualidade, o problema são as recompensas dessas atividades. A maioria esmagadora concede apenas itens cosméticos e, bom, estamos falando de um jogo singleplayer, logo, essas recompensas acabam sendo inúteis. Em suma, essas atividades só vão ser feitas por dois tipos de jogadores: o fã de Star Wars e os caçadores de troféus.
Por falar em cosméticos, a personalização está muito mais robusta nesse jogo, permitindo que os jogadores customizem o Blaster, o Sabre, BD-1, os trajes de Cal e sua barba e cabelo. O estúdio fez leves incrementos no mapa, um dos pontos mais criticados no jogo anterior. Contudo, por ser dividido em níveis, a interface ainda continua confusa e precisa de melhorias. Ao menos agora temos viagem rápida entre os Pontos de Meditação de um planeta e conseguimos adicionar Marcadores no mapa. O level design continua primoroso e muito inspirado em Metroid, onde desbloqueamos atalhos a todo momento pra facilitar a vida de quem joga. O estúdio tornou tudo muito intuitivo, fazendo com que o jogador consiga se guiar tranquilamente sem a necessidade de abrir o mapa constantemente!
O maior defeito de Star Wars Jedi: Survivor
O que mais me incomodou durante a minha experiência com o jogo foi a quantidade excessiva de trechos de plataforma. Em muitos momentos me senti jogando um Crash Bandicoot temático onde ele se torna um usuário da Força e não um game de Star Wars. Não que esses trechos estejam ruins, muito pelo contrário.
Eles seguem o DNA da Respawn e amplificam tudo que vimos em Titanfall 2. Incorporados completamente com as técnicas da força de Cal e com habilidades de BD-1, as mecânicas de travessia estão muito divertidas, dinâmicas e responsivas. Contudo, como falei, o problema é a quantidade delas. Até a metade do jogo, a cada passo dado precisamos escalar algo, correr na parede, escalar, escalar, escalar e só depois de 5-6 minutos de plataformas, abrimos um atalho com gancho que encurta o caminho pra 3-4 segundos. Isso chega a ser ilógico e faz com que todo o processo seja uma grande perca de tempo.
O estúdio não soube dosar bem os capítulos iniciais com trechos de história e combate, fazendo com que a experiência não seja tão prazerosa quanto deveria. Por identificarem o projeto como um jogo de ação e aventura, a ideia central foi fazer com que as ferramentas de travessia se tornassem divertidas e parte do loop do jogo. Mas erraram a mão feio nesse loop.
Uma bela galáxia
Visualmente falando, temos incrementos perceptíveis no que tange a iluminação e texturas. As cores estão mais vibrantes, dando um charme a mais aos planetas visitados e aos inimigos. A fauna e a flora ajudam a ampliar a palheta de cores com o ar exótico que Star Wars apresenta.
Porém, nem tudo são flores. Mesmo após diversos patches de correção, alguns problemas técnicos persistem. Temos quedas de frames bem perceptíveis em cutscenes, crashes que deletam o progresso até o último save feito, bugs como inimigos entrando na parede ou BD-1 não escaneando objetos.. O jogo ainda precisa de um polimento especial, mas está chegando perto do estado de perfeição no PS5.
Review de Star Wars Jedi: Survivor – Vale a Pena!
A Respawn continua seu legado dentro da franquia Star Wars Jedi com louvor, aprimorando todas as estruturas do jogo anterior. Apesar de nem tudo ser perfeito, o estúdio fez um trabalho excelente na ambientação, entregando uma experiência dos sonhos para todo e qualquer fã desse universo. Diversos indícios foram deixados indicando um terceiro jogo, logo, tudo indica que ainda vamos retornar para essa galáxia não tão distante!
PS: Este review foi feito com um código de PlayStation 5 cedido pela EA Brasil.
A Respawn continua seu legado dentro da franquia Star Wars Jedi com louvor, aprimorando todas as estruturas do jogo anterior. Apesar de nem tudo ser perfeito, o estúdio fez um trabalho excelente na ambientação, entregando uma experiência dos sonhos para todo e qualquer fã desse universo.
- Narrativa e Lore
- Combate
- Conteúdo Secundário e Exploração
- Direção de Arte
- Som (Trilha e Efeitos Sonoros)
- Desempenho
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