Escrever esse texto gera um turbilhão de sentimentos. Se você falasse ao Ruan de 20 anos atrás que um dia ele teria essa oportunidade, ele daria risada.
Só em uma galáxia tão tão distante isso seria possível na mente dele. Neste review de Star Wars Outlaws, irei falar pra você se vale a pena viver a épica jornada de Kay e Nix.
Star Wars vive!
Vou ser direto ao ponto: todos os aspectos narrativos de Star Wars Outlaws são fantásticos.
Os personagens principais e secundários são excelentes e ganham um merecido desenvolvimento ao longo da jornada.
A campanha é bem dosada, tem uma escala épica e nunca gera cansaço. Os diálogos são autênticos e causam a sensação de estar vendo um filme novo (só que bom) da franquia.
O respeito ao material original é visto em cada pixel e, sim, por conta do período em que o jogo se passa, contamos com a presença de vários personagens icônicos da franquia.
O envolvimento da LucasFilm na narrativa e design é notável. Temos uma nova facção, cenários e, claro, criaturas. Por falar em criatura, a raça de Nix, os Merqaal, foi projetada especialmente para o game.
A relação de Kay e Nix é fantástica e graças a ela temos vários momentos emotivos e fofos, entregando com sucesso um aspecto de irmandade. Outro destaque é ND-5, um droide com uma história fantástica e que enriquece a trama.
Após o lançamento tenebroso de The Acolyte, Star Wars vive um mal momento e Outlaws consegue trazer um fôlego de ar fresco, deixando claro que a IP tem um potencial inimaginável para contar boas histórias.
Em Outlaws, o nível de imersão é altíssimo. Temos até diálogos em huttes. Visitar Tattooine no jogo é uma experiência inesquecível. E por falar em diálogos, a expertise da Ubisoft Brasil com dublagens brilha e temos mais um trabalho excelente neste departamento.
A campanha de Star Wars Outlaws dura cerca de 15 a 20 horas, um tempo satisfatório.
Minhas duas únicas ressalvas vão para o desenvolvimento da relação do grupo e para a motivação do antagonista principal do jogo. O estúdio priorizou a relação de Kay com personagens específicos, como Nix e ND-05, deixando outros de lado.
Já a motivação do antagonista só é abordada no “apagar das luzes” da campanha e acaba ficando com um ar superficial. Em suma, a jornada até o final é excelente, mas a conclusão deixou um pouco a desejar e ficou com um aspecto de que foi apressada.
Aqui jaz o meme dos Stormtroopers
Logo no começo da minha jornada com Star Wars Outlaws, eu fiquei surpreso. O nível de dificuldade do game no Normal é bem acentuado e Kay morre com pouquíssimos disparos inimigos.
Os stormtroopers foram imortalizados pelos memes incessantes de que eles não acertam tiros mas em Outlaws, a história é outra.
O jogo não esconde que é mais puxado para a furtividade, afinal, Kay é uma ladra. Lutar contra vários inimigos em campo aberto é certeza de morte. Para atenuar a dificuldade, temos Nix!
Kay e Nix, uma dupla fantástica
Nix é completamente integrado na jogabilidade de Star Wars Outlaws. Ele é capaz de roubar ou acionar granadas inimigas, pegar armas do chão e trazer até Kay, abrir portas e escotilhas, detonar barris explosivos… Ele é praticamente um segundo personagem jogável.
Os conflitos do jogo lembram muito Uncharted e possuem um leve ar de Gears of War. Precisamos ficar atrás das coberturas, caso contrário, a morte vem e rápido!
Caso você prefira jogar com foco na furtividade, Nix tem um amplo leque de habilidades úteis. Ele é capaz de distrair os inimigos ou cegá-los, tornando-os vulneráveis para ataques finalizadores. Um aspecto curioso é que a IA inimiga é bem burrinha para detectar o personagem e rende dezenas de momentos engraçados.
Kay, o terror da Galáxia
O gunplay está prazeroso e os inimigos respondem bem ao dano. A experiência ainda é elevada pelo DualSense.
Um ponto negativo do combate é sua repetitividade.
A Massive é conhecida por The Division, um looter shooter e, por algum motivo desconhecido, Star Wars Outlaws é um jogo de ação sem elementos de RPG.
Em virtude disso, a variedade no combate se dá através dos diferentes tipos de disparo do Blaster e das armas que pegamos no chão.
O Blaster tem disparos que lembram um fuzil semiautomático, uma metralhadora e até uma espécie de lança-foguetes. Sem munição, os jogadores só precisam se atentar ao superaquecimento.
Nas horas iniciais, ele até que empolga, mas após 20-25 horas derrotando os mesmos inimigos com a “mesma” arma, as rachaduras do combate se tornam mais evidentes!
Kay até tem uma habilidade especial, a Descarga de Adrenalina, que permite que ela marque alguns inimigos e execute-os quando o medidor encher, mas, novamente, não é nada criativo.
Design de quests é um pesadelo!
Além do combate, os tipos de disparo do Blaster também são usados em puzzles ambientais que não variam e com pouca originalidade. Atirar em uma estação de energia com um disparo elétrico… já vimos isso centenas de vezes!
Aliado aos puzzles ambientais insossos, temos os minigames de usar um Grampo para abrir portas e o de hackers terminais. O do grampo consiste num mini game de ritmo e o outro lembra uma espécie de Sudoku.
Os minigames são bem divertidos no começo mas depois se tornam extremamente irritantes. Existem várias missões onde precisamos completar esses minigames 5-6 vezes em menos de 10 minutos. Isso acaba com o ritmo do game. Um ponto positivo é que os dois possuem recursos de acessibilidade que diminuem a dificuldade.
Várias das missões do jogo foram mal desenvolvidas e possuem um design irritante. Por exemplo, você coleta uma pista e o jogo te pede pra procurar informações numa área específica. E é isso. Quase nunca temos dicas, só a redoma amarela indicando que o objetivo está dentro daquela área.
Aí o jogador acaba tendo que percorrer a zona toda atrás de algum NPC ou objeto interativo. Elas poderiam e deveriam ser bem mais intuitivas!
Falando sobre ritmo, senti que o jogo força a furtividade até demais em boa parte da campanha. Seria mais prazeroso ter mais maneiras de concluir as missões. No começo do jogo temos até um lampejo disso, onde podemos subornar um guarda, mas o resto da campanha é bem linear.
Uma bola fora da Massive
A progressão de Star Wars Outlaws é péssima. Desbloqueamos disparos diferentes para o Blaster, temos conjuntos de equipamentos com efeitos passivos diferentes, amuletos equipáveis e aprendemos habilidades através dos Especialistas.
Os Especialistas são NPCs especiais com uma missão própria que demandam que Kay faça uma série de desafios. Ao concluir esses desafios, desbloqueamos uma carta de habilidade.
Como o combate é extremamente repetitivo, não existe uma sensação de escala e evolução, algo que a Massive implementou muito bem em The Division.
Star Wars Outlaws teria sido muito melhor se contasse com sistemas mais puxados para o RPG.
Fúria sobre propulsores
Um dos charmes do jogo é explorar o mundo com o Speeder e a Trailblazer, a nave usada pela tripulação de Kay.
A jogabilidade dos dois veículos são bem responsivas, especialmente a da Trailblazer. O combate e o manuseio da nave me lembraram bastante um Everspace 2 mas com sistemas mais básicos.
As famosas dogfights, disputas entre jatos, são divertidas mas elas se repetem sempre e são puramente opcionais. Na verdade, toda a gameplay no espaço tem um forte ar de easteregg, já que a campanha só nos coloca lá em um breve momento.
Até o Speeder acabou sendo mal aproveitado em relação à integração na história. O veículo ganha um destaque maior em Akiva mas esse momento é super breve.
O estúdio tinha a faca e o queijo para entregar set pieces emocionantes envolvendo os veículos, mas isso não acontece em Outlaws.
Um ponto forte do uso dos veículos é a parte sonora. O “realismo” e fidelidade ao material fonte impressionam. Ouvir os sons da nave saindo do DualSense chega arrepia se você for um fã da saga!
Um deleite para os fãs
Se você é fã de Star Wars, prepare-se para ficar bem feliz. Outlaws conta com várias localizações icônicas da franquia e, graças aos visuais da atual geração, boa parte delas são de tirar o fôlego!
As cidades principais do jogo são cheias de vida. Temos pessoas trabalhando, soldados imperiais patrulhando, fliperamas, gente fofocando, mesas de sabbac, terminais de apostas e muito mais!
Quando não está em cima de seu speeder, a movimentação de Kay lembra bastante a de Nathan e Indiana Jones. Ela é ágil, capaz de se esquivar de balas dando cambalhotas e usar um gancho para pular entre plataformas.
Infelizmente, a exploração de Star Wars Outlaws recompensa muito mal o jogador. Os “puzzles” para abrir tesouros lembram muito os de Assassin’s Creed Valhalla.
Abrir casas trancadas, procurar passagens secretas, escalar montanhas… Pra no final pegar uma skin para a moto.
Por não ser um RPG, o loot do jogo é bem precário. E a Massive não seguiu a receita do menos é mais. Com exceção do segundo planeta, os outros três são bem maiores do que deveriam e estão repletos de baús e pontos de interesse inúteis.
Parece que existe algum tipo de contrato obrigatório na Ubisoft para inflar a duração dos jogos com um conteúdo secundário genérico e que não respeita o tempo do jogador.
Graças ao seu sistema de sindicatos e reputação, temos um mecanismo de Contratos onde realizamos tarefas específicas para cada facção e no final temos uma escolha de honrar ou quebrar o acordo. Quase não existe variedade nessas atividades e os objetivos (e localização) são sempre os mesmos.
Por falar no sistema de Sindicatos, a ideia é excelente, pena que a execução acabou ficando genérica. Ao chegar na reputação máxima com uma das facções, recebemos um pack de equipamentos e algumas regalias, como poder pegar os itens do território da facção.
Caso a gente fique com a reputação mais baixa, o Sindicato coloca um grupo de elite para ficar perseguindo Kay. Em termos de qualidade, as missões de Especialistas estão EXCELENTES e acompanham a qualidade da campanha, algumas missões de facção também são boas, mas todo o resto do conteúdo segue aquela fórmula batida de jogos de mundo aberto da década passada.
O problema em Outlaws é que as “Ubitower” não existem nele. Os pontos de interesse só são marcados ao chegar bem perto deles, tornando tudo pior.
Como o jogo recompensa muito mal o jogador, não existe incentivo para perambular pelo mundo do jogo. Você vai gastar 30-40 minutos pra pegar skins e itens de valor que podem ser trocados pro créditos no mercador.
Em relação a todo o conteúdo secundário, minha maior e mais feliz surpresa foi o Sabbac. Eu gostei tanto do minigame que acabei indo atrás de todas as cartas da coleção.
Além de pegar tesouros, apostar em corridas ilegais e jogar fliperamas, também podemos disputar corridas de speeder. Mas até isso acabou se esbarrando na superficialidade.
Ao rodar pelo mundo, podemos encontrar, de modo aleatório, NPCs que nos chamam para uma corrida. É um 1v1 com checkpoints até a linha de chegada.
O estúdio poderia ter se aprofundado mais e criado um campeonato ou coisa do tipo. No fim, essa palavra é perfeita para descrever o conteúdo secundário de Star Wars Outlaws – superficial.
A Força não esteve presente
Antes de me adentrar na parte técnica, preciso deixar claro que joguei 36 horas de Star Wars Outlaws na versão 1.000.002. Peguei 47 dos 49 troféus (tirando a platina).
Eu tive vários crashes ao longo das 36 horas e uma quantidade preocupante de bugs de progressão que me fizeram ter que reiniciar o jogo e, em alguns casos, até o save.
Também tive um bug onde uma das minhas missões de especialista foi concluída mas o jogo não registrou como tal, me impedindo de fazer uma missão secundária relacionada a um dos troféus de prata do jogo.
Só que a situação é delicada justamente por ter a oportunidade de jogar antecipadamente. A versão do jogo em que eu joguei vai ser completamente diferente da sua que está lendo pois até lá um ou mais patches de correção já terão sido implementados.
Ao abrir o jogo, fiquei surpreso com a quantidade de opções de acessibilidade. O estúdio realmente se esforçou para tornar a experiência o mais acessível possível. Contudo, eles poderiam ter dado mais opções em relação aos marcadores das missões como mencionei mais acima.
Dentro dos visuais, Star Wars Outlaws brilha muito ao transportar localizações conhecidas da franquia para o jogo. Visitar Tatooine é uma experiência incrível, assim como batalhar no espaço.
As construções e cenários são cheios de detalhes e possuem um aspecto realista. O mesmo não pode ser dito da vegetação e das expressões faciais.
A Snowdrop ainda não foi otimizada para tal e temos expressões terríveis nas cutscenes in-game, assim como uma vegetação com um forte aspecto de serrilhado quando aceleramos com o speeder.
Outro problema referente a isso é que as vegetações mais lembram pedras. Se você bater em certos arbustos com o Speeder, Kay voa longe.
E sim, as explosões dos barris continuam daquele jeito no trailer que viralizou. Esse é um aspecto curioso, visto que as explosões das naves abatidas está bem feita.
Um aspecto louvável da Ubisoft é que eles costumam dublar todos os seus jogos e em Star Wars Outlaws não poderia ser diferente. A qualidade está altíssima e as vozes em PT-BR combinaram muito bem com os personagens. Uma surpresa é que o lip sync segura bem a onda, mesmo em PT-BR.
Como eu mencionei lá em cima, um dos pontos mais fortes de Star Wars Outlaws é o som. A trilha sonora e os efeitos sonoros estão perfeitos, proporcionando uma imersão absurda. Em muitas partes da campanha, me peguei pensando em cenas dos filmes por conta da trilha sonora do game!
Para quem gosta das sopas de letrinhas, Star Wars Outlaws tem 3 modos de vídeo: os tradicionais qualidade e desempenho e um meio termo que foca em 40 FPS. Eu joguei a maior parte do tempo nesse modo “meio termo” e a experiência foi bem satisfatória.
Para os fãs mais fervorosos da franquia, existe a opção de jogar com a proporção 21:9, garantindo aquela “faixa filme” que virou uma marca registrada da saga. Eu confesso que não me habituei a jogar com ela por cortar elementos da tela.
As cutscenes pré-renderizadas estão belíssimas e um punhado delas vai arrancar bons sorrisos dos fãs de Star Wars.
O mesmo não pode ser dito das animações de finalização que carecem de um polimento maior e um leque mais amplo de golpes. Em muitas vezes, finalizei um inimigo e Kay deu um golpe no vento.
Review de Star Wars Outlaws – Vale a pena?
Star Wars Outlaws entrega uma boa aventura dentro de uma das principais IPs da história. Com uma narrativa de ritmo excelente e personagens marcantes, os fãs da saga certamente vão se deliciar com o jogo.
Todavia, mesmo com o sentimento final positivo, fica o pensamento de que o jogo poderia ter sido muito melhor. Ter alguns planetas mais abertos não trouxe nada ao jogo, pelo contrário, só ajudou a reforçar os seus problemas.
Uma aventura mais linear, nos moldes de Guardiões da Galáxia, teria sido melhor. Contudo, mesmo com essa sensação, considero o jogo obrigatório pra todo e qualquer fã de Star Wars.
Caso você não seja um fã da franquia, vale a pena dar uma chance ao jogo futuramente a um preço descontado.
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Star Wars Outlaws apresenta uma das melhores histórias da franquia, porém, o brilho da campanha é diminuído por um mundo aberto belíssimo, mas sem conteúdo de valor.
Pontos Positivos
- Campanha excelente
- Vários eastereggs fantásticos
- Nix
- Toda a parte sonora é excelente
Pontos Negativos
- Bugs de progressão
- Exploração não recompensa bem o jogador
- Algumas missões foram mal formuladas
- A Trailblazer não foi bem aproveitada
- História
- Jogabilidade
- Conteúdo Secundário
- Desempenho
- Visuais
- Som