A revolução francesa é um dos momentos mais emblemáticos da história da humanidade. Forte símbolo de resistência e que marcou a história da França, o momento acabou inspirando diversas obras no campo dos filmes, séries, livros, peças e músicas. Surpreendentemente, pouquíssimos jogos de grande porte ousaram retratar o evento. O exemplar mais conhecido é Assassin’s Creed Unity que acabou sendo bombeardo por críticas negativas na época do seu lançamento.
É diante deste contexto que temos Steelrising, nova aventura do estúdio francês Spiders, que reconta os eventos da Revolução Francesa mesclando realismo com elementos steampunk. Será que vale a pena você dar uma chance a esse soulslike inusitado ou é melhor se ater aos livros de história? É isso que você vai descobrir neste review!
Steelrising e o Rei Louco
Como eu mencionei acima, Steelrising apresenta elementos steampunk, isto é, quando um evento do passado é recontado com a presença de tecnologias futurísticas. No caso do game, a população de Paris foi dizimada pelo exército automata do Rei Luís XVI. O rei está perdido em seu luto após a morte de seus filhos. A Rainha Maria Antonieta, preocupada com o povo e interessada em descobrir as circustâncias da morte de seu filho, decide elencar Aegis para descobrir mais informações e colocar um fim no exército implacável do Rei.
É diante deste contexto que embarcamos em uma aventura épica cheia de personagens históricos como o Marquês de La Fayette. Outros membros proeminentes da corte, como o prefeito Jean Sylvain Bailly e Antoine Lavoiseir também marcam presença. A narrativa mescla a todo momento trechos reais da história com porções fícticias. Felizmente este casamento entre o que realmente aconteceu e o faz-de-conta da Spiders funciona muito bem e aumenta o nível de interesse pelo componente narrativo do game.
A cada andança e visita por locais históricos de Paris, nosso apetite pelo mistério de Steelrising aumenta. Um aspecto negativo, mas compreensível, é que as expressões faciais são terríveis e muitos trechos apresentam uma falha de sincronia labial, o que gera um tremendo impacto negativo nas cutscenes e o peso das cenas é removido.
Aegis, a dançarina letal
Steelrising é protagonizado por Aegis, uma robô dançarina que acaba sendo transformada na segurança pessoal da Rainha. Logo no começo da aventura podemos personalizar Aegis, selecionando o material usado em seu corpo e seu penteado. As opções de personalização são bem limitadas e ficam aquém de boa parte dos RPGs. Outro ponto que pode ser selecionado é a classe inicial da personagem. Inicialmente podemos escolher entre 4 opções: Soldado, Segurança, Alquimista e Dançarino.
Como é o de costume em jogos deste tipo, a classe inicial altera apenas o equipamento inicial da personagem e levemente os status. Após a primeira hora de jogo temos uma liberdade surprendente de opções no que tange o combate, podendo experimentar e definir nosso estilo de jogo. As opções de armamentos me surpreenderam e cada uma delas altera drasticamente o gameplay. Temos lanças, sabres, maças.. Ao todo são 9 tipos principais de armas e 40 subtipos, permitindo um elevado grau de personalização no que tange o combate. Por exemplo, minha lança predileta tem como ataque especial uma bala de canhão. Ou seja, ela me permite lutar a curtas e médias distâncias. Já uma outra lança que mantenho equipada como opção B se transforma em um escudo e bloqueia todos os ataques dos inimigos por alguns segundos.
A progressão de Aegis funciona de maneira idêntica aos outros soulslike. Derrotamos inimigos, ganhamos um recurso que se assemelha as almas e mudamos de nível nas estátuas. Os atributos também seguem o padrão já conhecido: Força, Estamina e por aí vai. Além dos atributos, podemos melhorar o Burette que nada mais é do que os frascos de poções. Podemos amplificar a quantidade de poções e a porção de cura recebida por uso. Graças a sua natureza robótica, Aegis também possuí espaço de Módulos que basicamente funcionam como componentes especiais que adicionam efeitos passivos nas ações da personagem. Um módulo aumenta o HP, outro aumenta a quantidade de dano causado pelos ataques carregados e por aí vai.
Um recurso interessante do jogo é que os chefes principais concedem ferramentas que alteram drasticamente as mecânicas de travessia do jogo. Aprendemos a dar dash no ar, se pendurar em locais altos como postes e até a quebrar paredes. Isto acaba concedendo um leve ar de metroidvania ao jogo, afinal, nas primeiras visitas à certos locais não iremos conseguir acessar vários itens que demandam a obtenção prévia dessas ferramentas. Caso você esteja se perguntando, a viagem rápida também se faz presente através de uma carruagem automatizada iradíssima que é desbloqueada após algumas horas de jogatina!
No geral, a sensação que eu tive com o combate do jogo é que ele não reinventa a roda, contudo, ele também pouco faz para aprimorar a roda existente. O estúdio até aplicou ideias interessantíssimas e o leque de opções no combate é vasto mas a equipe acaba se esbarrando na falta de orçamento, entregando um combate que não tem aquele loop viciante que costumamos ver em títulos do gênero. A responsividade nas lutas também é um problema e os embates acabam não sendo tão agéis quanto deveriam ser.
A Paris de Steelrising
Por ter sido criado por um estúdio de casa, a ambientação de Steelrising é impecável. Por ora estamos andando por um palácio belíssimo com ótimas peças arquitetônicas, de repente, a história nos coloca nos arredores do palácio em uma floresta sombria e do nada saímos em um vilarejo destruído e sem nenhum sinal de vida.
As localizações variam bastante e estão extremamente fiéis a Paris na época da revolução industrial. Graças as novas tecnologias e a evolução da equipe, o jogo é asseguradamente o mais bonito já criado pela Spiders e o trabalho realizado na trilha sonora e na iluminação são dignos de destaque.
Surpreendentemente, o título também apresenta conteúdos secundários que foram projetados com a finalidade de extender sua duração. Essas missões secundárias concedem boas recompensas e boa parte delas são apresentadas de maneira idêntica ao que vimos em Bloodborne. Isto é, chegamos na porta de uma casa e conversamos com um NPC que apresenta uma demanda específica. Certos personagens importantes no enredo principal também realizam solicitações para Aegis, o que ajuda a esclarecer mais detalhes sobre o mundo e as motivações de cada pessoa.
O review é focado na versão de PlayStation 5 e felizmente fico feliz em relatar que não tive nenhum problema técnico com o game. Sem bugs, crashes ou qualquer coisa do tipo. Todavia, senti que o DualSense acabou sendo mal aproveitado no jogo e poderia ser melhor incorporado. Como recebemos uma chave antecipada, também não sabemos se o recurso Game Help será usado no jogo.
Vale destacar que o game apresenta um Modo Assistência permitindo que o jogador personalize extensivamente a dificuldade através da alteração de certos elementos como dano causado e dano recebido, contudo, ao ativar esse Modo alguns troféus são bloqueados.
Steelrising: Vale a Pena?
Steelrising é, indiscutivelmente, o melhor jogo já criado pela Spiders. Mesclando o que o estúdio faz de melhor, com uma roupagem souslike e um setting histórico maravilhoso, o game é uma ótima pedida para os fãs do gênero. Apesar do grande passado na direção certa, a equipe infelizmente se esbarra no orçamento limitado e acaba não conseguindo atingir o polimento necessário para tornar o projeto um jogo imperdível. Ele é bom mas poderia ser excelente! Em virtude disso e da falta de legendas em nosso idioma, recomendo aguardar uma promoção. O jogo está sendo vendido por R$249,90 na PS Store.
PS: Este review foi feito graças a um código do jogo para PS5 cedido pela publisher Nacon.