O luto é uma experiência única, poderosa e transformadora. Seus efeitos são profundos e podem atravessar mídias, gerações e realidades. É com esta proposta que temos o lançamento de Tales of Kenzera: ZAU, metroidvania da Surgent Studios publicado pela EA que promete ser uma excelente e reflexiva experiência. Desde já fica a recomendação: o jogo está disponível nos tiers Extra e Deluxe da PlayStation Plus sem custo adicional, sendo uma ótima pedida. Mas será que o game realmente vale a pena? Vamos descobrir nesta review:
Está de olho nos melhores descontos em games e acessórios? Então não perca tempo e economize:
Uma bela homenagem!
Tales of Kenzera: ZAU surge de uma homenagem realizada por Abubakar Salim (voz de Bayek em Assassin’s Creed Origins), fundador do Surgent Studios, ao seu falecido pai. O pai de Salim foi o responsável por apresentá-lo ao mundo dos games e é realmente muito bonito que esta relação tenha sido a pedra basilar de Tales of Kenzera: ZAU, mostrando um sentimento facilmente reconhecível: o luto familiar.
No jogo acompanhamos duas histórias. A primeira envolve Zuberi, um jovem que vive na poderosa cidade de Amani no que parece ser um glorioso futuro. Zuberi acabou de perder o pai e tenta absorver o impacto deste acontecimento. Ele encontra um pouco de conforto em uma história escrita pelo seu ascendente e que narra uma aventura que se passa em Amandla, terra de paz e alegria com uma conexão espiritual que supera a material. Ali nos deparamos com a segunda e maior história retratada no game, a odisseia de Zau, um xamã que também foi tomado pela perda do pai.
Zau decide fazer algo a respeito e pede a Kalunga, Deus da Morte, que traga seu pai de volta. Kalunga concorda, mas somente se Zau realizar uma tarefa: fazer três Grandes Espíritos aceitarem a morte, uma vez que eles enganaram Kalunga anteriormente. É nesse contexto que Zau parte em sua jornada que é lida com atenção por Zuberi.
Em um metroidvania, é importante que a história seja envolvente de forma a conduzir o jogador pelos cenários labirínticos sem criar uma sensação de cansaço. Felizmente, aqui a narrativa é muito boa. Parte disso se deve a Zau e Kalunga serem personagens carismáticos e humanizados com erros, tropeços e reflexões sobre o que vem a seguir. Os diálogos entre ambos possuem uma química excelente e ajudam a mover a história para a frente.
Ao longo de sua busca, Zau encontra alguns personagens que se cruzam de maneira singular com seu objetivo. Todos eles são bem introduzidos e possuem personalidade própria, temperando o enredo e trazendo uma dinâmica interessante.
No geral a história é menor do que se pode encontrar em alguns outros títulos do gênero, porém acredito que Tales of Kenzera: ZAU soube escolher muito bem sua duração. Os dilemas de Zau e Zuberi são bem abordados e terminam de maneira satisfatória, sem barrigas ou momentos desnecessários. Talvez este seja um dos maiores méritos do game: saber contar a sua história.
Importa dizer que a narrativa e os personagens são cheios de representatividade de povos africanos, com cultura e noções diferentes de muito o que vemos no Ocidente. Por exemplo: o luto é tratado com cores muito mais intensas e vívidas, além de Zau viver uma vida que foge do acúmulo de bens e é muito mais pautada no afeto sincero entre as pessoas. A forma como o game trabalha estes conceitos é muito boa e digna de nota.
Metroidvania muito divertido e sem estresse!
Tales of Kenzera: ZAU é um metroidvania, sendo um side-scrooling 2.5D com mundo interligado e passagens e habilidades sendo desbloqueadas com a progressão do jogador. Zau deve seguir por entre três tipos de biomas, cada um com suas próprias subdivisões e espaços. Convém dizer que os cenários são realmente muito bonitos, com a direção de arte caprichando para criar todo um background convincente para o jogador. Avançamos por entre florestas sombrias, terras áridas e áreas descampadas, cada lugar com sua própria identidade.
A jogabilidade com Zau é ágil e poderosa. Desde o início do game temos acesso a alguns poderes básicos que mostram o quão poderoso é o xamã. O primeiro deles é a Máscara da Lua, azulada, que dá a Zau um foco em combate à distância. O segundo modo de jogo é a Máscara do Sol, focada em ataques físicos. Há ataques fracos e fortes, com variantes e novos golpes sendo desbloqueáveis através de duas árvores de habilidade distintas. Ambas as máscaras também possuem ataques especiais destrutivos. Estes ataques são ativados através de barras que tem, além desta, a função de recuperar a vida de Zau após uma árdua batalha.
Ao longo do game Zau é agraciado com poderes de personagens do mundo de Amandla, cada um com uma história por trás. O herói pode, por exemplo, congelar cursos d’água ou ativar passagens com lanças específicas. Zau também pode realizar desafios para obter talismãs, equipados em bancadas, e refletir em baobás para aumentar a barra de vida.
O combate é responsivo e eloquente, com golpes que se conectam aos inimigos e tornam as lutas bem divertidas. A agilidade de Zau, a dinamicidade entre as duas Máscaras e a fluidez do jogo permitem uma boa experiência. Há, porém, alguns pontos negativos. Para começar, há de se perceber a variedade de inimigos, que considerei pequena, e isso também se aplica aos bosses. Além disso, o game é marcado por arenas repetitivas que poderiam ter designs diferenciados e acabam cansando um pouco. Para completar, há algumas pequenas questões como o personagem não se mexer de imediato após abrir e fechar o mapa e também o fato de Zau se confundir com o cenário ou com os inimigos pela escolha das cores.
Já um aspecto que considero ótimo é que o game é bastante objetivo, não exigindo demasiado backtracking por parte do jogador, ou seja, voltar a zonas já exploradas. Existe também um mecanismo de viagem rápida bem-vindo e que torna a travessia pelos mapas muito mais tranquila.
O único ponto que me deixou mais ressabiado na travessia durante o game foi o de uma sessão de perseguição, próxima do final, que possui um posicionamento ruim de checkpoints. Com a necessidade de se realizar movimentos quase perfeitos, o jogador pode morrer várias vezes e ser jogado para o início da fase, o que pode frustrar. Mas é um único momento em um título bem generoso quanto a salvar o progresso do jogador realizado até então.
Um jogo feito com carinho
O trabalho de voz em Tales of Kenzera: ZAU é fantástico, assim como a trilha sonora inebriante e mágica que cativa e conduz a narrativa. O desempenho é estável, não havendo quedas de quadros ou travamentos visíveis durante a jogatina. E na localização o estúdio manda bem, com legendas e menus traduzidos para o PT-BR.
Tales of Kenzera: ZAU vale muito a pena!
Tales of Kenzera: ZAU é um jogo muito bonito, sensível e capaz de tocar não só nossos sentidos, como também o coração. Usando de um evento que gera grande empatia, a perda de um ente querido, ele trabalha bem elementos e sentimentos como as fases do luto, o amadurecimento e a jornada da vida. Trata-se de uma obra preciosa, valiosa e que, apesar de algumas inconsistências na gameplay, é fácil de encantar. Vale a pena!
Obs: Esta análise foi realizada a partir de uma chave do game cedida pela Eletronic Arts, a quem agradecemos.
Leia também:
Tales of Kenzera: ZAU é uma cativante aventura que nos faz refletir sobre sentimentos e jornadas com uma roupagem de metroidvania divertido e objetivo.
- História
- Jogabilidade
- Desempenho
- Visuais
- Trilha sonora