The Artful Escape é muito mais do que um jogo. Ele é quase que uma carta para a humanidade. Desenvolvido pelo estúdio Beethoven & Dinosaur e publicado pela Annapurna Interactive, a jornada é protagonizada por Francis Vendetti, um jovem em conflito que precisa lidar com o peso causado pela morte do seu tio. Johnson Vendetti, o tio de Francis, era uma figura lendária do gênero Folk, fazendo com que o jovem sofra uma enorme pressão por toda a população da cidadezinha Calypso.
Em busca do Eu
Apesar de tocar um pouco de Folk, Francis se sente completamente desconectado com o gênero. Era um lance de seu tio, não dele. Sua paixão é o Rock Progressivo, fortemente inspirado pela sua paixão pelo espaço. Diante de todo esse contexto, o protagonista acaba se perdendo dentro de si mesmo. Pra piorar a situação, a cidade está realizando um festival de aniversário do último albúm de seu tio e a principal atração do festival é Francis. Romy, o principal organizador do evento (e uma figura bastante ameaçadora), quer que o garoto toque algumas músicas do tio.
Em meio a enorme pressão de ser alguém que ele não é, um visitante de outro mundo surge do além com um convite inusitado: a oportunidade de fazer a “viagem da sua vida”. É aí que a aventura intergalática do protagonista se inicia. É claro que poucos de nós temos algum parente que seja um ícone lendário de um gênero musical, contudo, não é nada incomum viver na sombra de alguém. É daí que surge a pressão esmagadora de fazer mais, ser melhor, causar mais impacto. E, bom, é nas falhas dessa jornada que a tristeza surge.
A genialidade da história de The Artful Escape vem do seu poder de se conectar com a nossa realidade. Mesmo que o enredo seja sobre um jovem tocando guitarra em diversos planetas alienígenas. É uma história sobre reinvenção, aceitação e, bom, compaixão consigo mesmo. Temos o costume de sermos nossos maiores carrascos. A experiência fica ainda mais marcante com os diálogos existenciais construídos com muita genialidade. Além disso, todas as falas foram gravadas por atores de ponta. Confira abaixo a relação do elenco:
- Michael Johnston – Francis Vendetti
- Caroline Kinley – Violetta
- Carl Weathers – Lightman
- Lena Headey – Esteticista
Uma aventura pelo Cosmo
Ao aceitar embarcar na “viagem da sua vida”, Francis acaba se aliando à Violetta e Lightman, duas figuras bem irreverentes que ajudam o garoto na construção de sua Persona, e, consequentemnte, no seu processo de aceitação. Com um incentivo “forçado”, Francis abandona o Folk e abraça o rock progressivo. É daí que vem a principal mecânica do jogo. Nós podemos segurar o botão quadrado no PlayStation, fazendo solos irados de guitarra e fazendo com que o ambiente ao redor do personagem ganhe vida.
A jogabilidade é bem simples, arrisco a dizer que de certa forma, nem existe uma jogabilidade em si. Como mencionei lá em cima, é complicado classificar The Artful Escape como um jogo. Sua proposta é muito maior do que isso. Ele é uma jornada. Uma experiência bem diferente de praticamente tudo que existe no mercado. Aqui, o objetivo é contemplar e refletir. Em virtude disso, a interação é a mínima possível, tudo com a finalidade de deixar o jogador livre pra observar o tanto de coisa que acontece na tela e seus significados. Praticamente a única interação do game são as “Jams”, seções de pressionar botões para impressionar os líderes de cada platina. Nestes trechos, o jogo se torna uma espécie de Guitar Hero, onde precisamos repetir os padrões emitidos pelo líder. Caso você erre a nota, não tem problema algum, a figura de liderança vai continuar repetindo as notas até que você acerte. Não existe nenhum tipo de punição por errar.
O passeio de Francis pelo universo é uma das coisas mais bonitas que você vai ver em um “game”. O estúdio usa e abusa das cores e de elementos dinâmicos pela tela, entregando um literal espetáculo que lembra muito o que acontece no Tomorrowland. Com técnicas de iluminação incríveis e efeitos sonoros que beiram a perfeição, fica nítido que o jogo se trata de um trabalho com muito amor envolvido.
Leves desafinadas em The Artful Escape
Em meio a epifanias, shows em planetas exóticos e a construção de uma Persona, o jogo dá uma escorregada em alguns pontos. Falando especificamente sobre o PlayStation 5, versão em foco aqui, a ausência do recurso Game Help merece ser mencionada. Apontado como recurso diferencial pela PlayStation no começo da geração, parece que os estúdios não enxergam a situação da mesma forma. O uso do DualSense também foi o mínimo possível, o que poderia tornar a experiência ainda melhor.
Falando especificamente sobre elementos do jogo, a única coisa que me incomodou foi a falta de variedade de notas ao usar a guitarra. São as mesmas durante praticamente o jogo inteiro e nem sempre elas combinam com a música externa do planeta visitado.
The Artful Escape: Um indie obrigatório!
Se você é um apreciador de Indies, colocar o jogo em sua lista é praticamente uma obrigação. A jornada de Francis carrega consigo lições poderosas, principalmente para uma sociedade que insiste cada vez mais em se padronizar para agradar massas. Assim como Francis, não tenha medo de chegar ao topo!
“Acho que as coisas parecem mais maravilhosas quando estão terminando.“
Este review foi feito com um código do jogo para PS5 cedido pela assessoria da Annapurna Interactive.