Quando eu vi o primeiro trailer de The Precinct, eu pensei imediatamente: preciso jogar isso. O jogo parecia reunir vários elementos fantásticos para entregar uma experiência policial similar a de L.A Noire, um game que sinto uma grande falta.
É claro que a proposta tem suas diferenças, tanto em jogabilidade quanto em orçamento. Desenvolvido pela Fallen Tree Games, The Precinct é um indie com visão isométrica, lembrando os primórdios da franquia GTA.
O próprio site do jogo já entrega que o projeto é uma carta de amor aos filmes policiais clássicos. Temos uma atmosfera que de fato exala a mesma de longas como Serpico, Caçador de Morte, Operação França. É perceptível que a equipe passou anos pesquisando esses materiais que servem de alicerce para a construção de The Precinct.
Mas será que o jogo vale seu tempo e dinheiro? É isso que você vai descobrir nesse review de The Precinct.
O peso do nome
Nossa história é protagonizada por Nick Cordell Jr., um policial recém formado e filho do antigo chefe de polícia. Seu pai foi assassinado e o caso nunca foi solucionado, servindo como uma das justificativas para a nossa campanha.
Por ser um novato, Nick é colocado para trabalhar em turnos com Kelly, um policial veterano prestes a se aposentar e que por ventura era amigo de seu pai. A personalidade de Kelly segue o clichê de policiais veteranos. O desgaste do tempo de trabalho deixou Kelly cínico e descrente da justiça. Agora ele só quer acabar seu turno e ir pra casa sem se meter em problemas.

As interações entre os dois são bem escassas mas segue à risca o que esperaríamos de uma dupla em um filme policial. Ela me lembrou bastante a relação de Steve McGarrett e Danny Williams, dupla protagonista de Hawaii Five-0. Inclusive podemos ouvir o clássico bordão “Book ‘em, Danno” várias vezes ao longo da jogatina.
No geral, senti que o roteiro se apoia bastante em clichês na história principal. Não temos nenhuma imprevisibilidade, a narrativa é abordada de um jeito superficial, com imagens estáticas que lembram visual novel e até as histórias paralelas, como a do advogado, deixam um vislumbre de qualidade mas o desfecho é corrido e raso.
Compreendo as limitações do estúdio e do projeto, mas a atmosfera é tão incrível que o componente narrativo acaba deixando a desejar mas por um bom motivo. Louco, não é? Averno, a cidade do jogo, é cheia de charmes e potencial e o jogador, ao mergulhar no universo, fica sedento por mais e por profundidade e o game não entrega isso.
A equipe focou demais nos aspectos sandbox do game, o que ao meu ver, foi um erro. Acredito que o jogo seria bem melhor se tivesse um foco em investigações e casos e não na conclusão de turnos pra ganhar XP. Falarei mais sobre essa mecânica abaixo.
Levei 19 horas para fazer tudo que o jogo tem a oferecer, obtendo a platina no processo. A campanha em si é relativamente curta. Precisamos coletar pistas para derrubar o Tenente, Capitão e por fim o Chefe de duas gangues diferentes. Após isso, temos a resolução do mistério principal do jogo que é o assassinato do pai de Nick.

Como a estrutura da narrativa principal está presa nesse processo de coletar pistas, ela acaba se tornando engessada e repetitiva demais, tudo graças ao já mencionado foco nos aspectos sandbox.
O melhor de Averno
The Precinct é um jogo policial sandbox com um mundo aberto e visão isométrica. Pense nos GTAs originais, só que controlando um policial e com um sistema de crimes procedurais.
Nosso “dia” sempre começa na delegacia, onde precisamos escolher as características do nosso turno. Quais tipos de crimes iremos combater, a duração do turno, se iremos a pé ou de carro e até a zona de patrulha. Esse sistema de escolhas logo acaba ficando sem nexo.

The Precinct conta com um sistema de geração de crimes procedurais. Por exemplo, você escolhe um turno pra patrulhar infrações de estacionamento. Você vai até a zona e fica procurando isso mas o game gera vários e vários tipos distintos de crimes. Acaba se tornando ilógico escolher um tipo de crime a ser focado, já que pode aparecer pessoas jogando lixo na rua até guerras entre gangues.
No sentido dos crimes, o jogo flerta com a proposta de ser um simulador. Por exemplo, ao abordar um suspeito, podemos verificar a identidade deles e só então vasculhar seus pertences. Caso você vasculhe os itens antes, você recebe uma penalização de XP. Ao perseguir suspeitos que resistem à prisão, aparece um prompt para dizer os direitos deles e por aí vai. Esses detalhes pequenos fazem uma grande diferença e tornam a jogabilidade mais charmosa.

A trocação de tiro acontece dentro do esperado para um jogo de tiro isométrico e, como já mencionei, lembra muito os GTAs antigos. O sistema de mira é intuitivo e na medida que subimos de ranque, desbloqueamos novas armas como espingardas, uma UZI, uma carabina, M16 e por aí vai. As armas seguem à risca o esperado para o ano em que o jogo se passa – anos 80.

Outro sistema crucial de The Precinct é a dirigibilidade. E aqui temos um caso clássico de ame ou odeie. Ela é prazerosa e irritante ao mesmo tempo. O sistema de colisão é uma doideira e muitas vezes, muitas mesmo, eu bati em coisas como hidrantes e cabines telefônicas e o veículo acabou entrando no chão.
Durante as perseguições policiais, podemos preencher uma barra de ação para solicitar apoio como bloqueios de estrada, uma viatura, apoio de helicóptero e mais. A barra só é preenchida ao ficarmos próximos do carro, o que garante uma boa dose de adrenalina para as perseguições.

Duas das atividades secundárias, os rachas e o contra o tempo, são extremamente irritantes e mal feitas. Em muitos rachas o veículo do primeiro colocado por padrão é muito mais veloz que o nosso, demandando que a gente conte com a sorte do RNG para que ele cometa um deslize e a gente fique em vantagem.
No décimo e último racha por exemplo, eu só venci a corrida por que o primeiro colocado passou por um checkpoint e ele não foi contabilizado, automaticamente enviando ele para a última posição. Esse problema de não registrar um checkpoint aconteceu comigo várias vezes.
Temos 15 tipos de veículos únicos no total e 10 carros secretos que nada mais são do que “skins” especiais de 10 desses 15 tipos de carros. Logo no começo do jogo desbloqueamos a árvore de habilidades e um dos talentos permite que a gente use qualquer carro, automaticamente transformando ele no nosso carro de patrulha e ganhando a sirene. Eu senti falta de um sistema para salvar o veículo por padrão. No fim de todo turno, nosso veículo some e uma viatura nova surge na entrada da delegacia.
Além de disputar rachas e corridas contra o tempo, a outra atividade secundária consiste em recuperar 20 artefatos espalhados pelo mapa. Esses artefatos foram colocados em maletas que exigem senhas. As senhas são “exibidas” como pistas que funcionam como enigmas matemáticos ou um quiz sobre uma informação importante do jogo. Alguns desses enigmas me fizeram pensar bastante, o que acaba sendo um ponto positivo. Um deles envolve até uma equação de primeiro grau.
Loucademia de Polícia
Penso que The Precinct precisava ficar mais um tempinho no forno. Durante minhas 19 horas pra fazer o 100% no jogo eu tive MUITOS problemas técnicos. E dois desses problemas foram bem frequentes.
O primeiro e mais irritante diz respeito ao sistema de colisão. Várias vezes bastou triscar em um objeto para o carro entrar no chão. Já o outro problema consiste na queda frequente de frames em trechos do mundo aberto com vários veículos.
Essas quedas acontecem com frequência em trechos de perseguição policial, o que acaba prejudicando e muito visto que precisamos ter precisão ao dirigir. E, bom, o jogo não demanda muito de hardware e eu joguei no PS5 Pro…
O sistema de geração de crimes não é o dos melhores e torna tudo repetitivo. Somando isso com uma IA que não funciona bem e temos um mundo bem caótico que lembra a Loucademia de Polícia. Civis voando, engavetamento frequente de veículos.. A IA precisa de ajustes no trânsito.
No mais, o estúdio fez um trabalho impecável com a ambientação. Averno lembra uma variante de Nova York dos anos 80, com uma bela atmosfera neon noir e construções charmosas.

Muitos dos assets do jogo vieram diretamente de American Fugitive, o projeto antecessor da Fallen Tree Games. Os veículos por exemplo foram transportados de lá. Mas a equipe soube diferenciar bem as cidades e Averno exala identidade.
Isso é amplificado pela trilha sonora que aposta no synthwave da década de 80 com sons instrumentais para aumentar a imersão no mundo do jogo.
Review de The Precinct – Aguarde promoção
The Precinct apresenta boas ideias, contudo, sua execução não é a das melhores. A estrutura central do jogo é repetitiva e sua narrativa é rasa, em contrapartida, a simulação de um trabalho policial é competente e por mais estranho que pareça, o jogo consegue cumprir um pouco do vazio deixado por L. A. Noire. Se você procura por experiências similares, vale a pena dar uma chance após o game receber alguns patches de melhorias.
The Precinct apresenta boas ideias e se porta como um exemplar de um subgênero esquecido na indústria dos games, contudo, a execução deixa a desejar, entregando um loop de jogabilidade repetitivo e uma história desinteressante.
Pontos Positivos
- Averno é uma cidade cheia de charmes
- Atenção aos detalhes ao abordar os suspeitos
Pontos Negativos
- Sistema de colisão é terrível
- Dirigibilidade poderia ser melhor
- Rachas beiram o injusto
- História se apoia em clichês e deixa a desejar
- Sistema de geração de crimes torna o jogo extremamente repetitivo
- Narrativa
- Jogabilidade
- Desempenho
- Visuais
- Conteúdo Secundário
- Som