The Wanderer aborda uma das histórias mais famosas do mundo. Você provavelmente não deve saber quem é Mary Shelley mas garanto que você já ouviu falar sobre Frankenstein, uma obra importantíssima que é considerada por muitos como o grande início da ficção científica na literatura. Diferente do que muita gente pensa, Frankenstein é o Doutor responsável pela criação da Criatura, um monstro horrendo que protagonizou dezenas de filmes ao longo dos séculos.
The Wanderer: Frankenstein’s Creature se trata de uma nova leitura da famosa obra no formato de um jogo indie. O desenvolvimento foi realizado pelos estúdios La Belle Games e Hidden Trap em parceria com a ARTE France, essa última também assume o rótulo de publisher. Como o próprio nome já indica, The Wanderer se apoia muito em sua veia artística para entregar uma experiência bem diferente do que os jogadores estão habituados a experimentar.
The Wanderer e o Admirável Mundo Novo
Na obra nós assumimos o papel da Criatura. Recém criada, partimos em uma jornada de descobrimento. Apesar de já termos o corpo montado de um adulto, a mentalidade da criatura é similar a de um recém nascido, o que torna todo o processo muito interessante. O que é você? Por que as pessoas tem tanto medo do “monstro”? São diversas perguntas que são respondidas mediante o progresso em cada capítulo. Durante esse progresso, somos forçados a tomar escolhas que determinam nosso papel no mundo. A Criatura será do “bem” ou do “mal”? Isso será consequência das escolhas de quem joga.
A jogabilidade funciona de maneira muito similar a um walking sim (simulador de caminhada) com câmera isométrica. Se você espera por trechos cheios de ação, adrenalina e suspense, é melhor procurar outra coisa pra jogar. The Wanderer foca mais no lado contemplativo e reflexivo, apresentando uma jornada de autodescoberta que pode ressoar (ou não) com quem joga. De certo modo, o título chega até a ser poético em certos momentos.
Se o jogador se permitir, a jornada realmente é tocante. Em muitos momentos me peguei me perguntando o que faz de nós humanos e cheguei a conclusão que de certo modo, todos nós fomos monstros em algum momento de nossas vidas. Isso é possível graças a ousadia do jogo de se propor como um objeto de arte, não somente um jogo eletrônico criado para divertir. Como mencionei mais acima, o objetivo primordial aqui é fazer refletir, posicionando-se como um tributo importantíssimo para a obra de Mary Shelley.
Não Corra, Forrest!
Caso ainda não tenha ficado claro, The Wanderer: Frankenstein’s Creature é uma experiência para ser degustada com calma e clareza na mente. Com cerca de quatro horas de duração, não recomendo iniciar o título caso você não consiga dar foco total ao mesmo. Para quebrar um pouco do marasmo que sua jogabilidade contemplativa gera, o título apresenta alguns minigames para gerar um pouco mais de dinâmica no gameplay.
O mais interessante é o minijogo de música que traz um pequeno momento “Guitar Hero” para a obra. Um ponto que merece ser citado é todo o teor artístico da obra. Os visuais lembram muito aquarelas e afirmo tranquilamente que este é um dos indies mais bonitos que já tive o prazer de jogar. Os cenários que flertam com o surrealismo são acompanhados de uma trilha sonora melancólica que triplica o impacto da narrativa e das lições que o título busca transmitir. Em alguns trechos a música chega a assustar, indicando um trabalho muito bem feito do músico Alex Burnett. Você pode ouvir a trilha sonora completa abaixo:
The Wanderer: Frankenstein’s Creature vale MUITO a pena!
Numa indústria que gera cada vez mais produtos “enlatados”, The Wanderer traz um frescor extremamente necessário, tornando-se mais um exemplo de que jogos eletrônicos também podem se posicionar como um produto de arte. Caso você queira viver uma experiência bem diferente, fica minha alta recomendação!