A série Trails (antigamente conhecida como The Legend of Heroes) é uma franquia que eu sempre quis conhecer, mas que pela enorme quantidade de títulos interconectados, tem uma barreira inicial muito complexa para iniciantes. Eis que a desenvolvedora Nihom Falcom resolveu ajudar os novatos com o remake do primeiro jogo, Trails in the Sky FC, chamado Trails in the Sky 1st Chapter, e nesse review, você entenderá porque precisa jogar esse que já é um dos melhores JRPG’s do ano.
A série Trails e Liberl
Para quem não conhece, a franquia Trails possui atualmente 13 jogos. Os primeiros jogos são foram lançados no PC e depois portados para o PSP e PS Vita, e atualmente, são jogos difíceis de serem jogados pelas limitações técnicas da época e algumas decisões de game design da Falcom.
Pois bem. A Falcom decidiu atualizar os primeiros jogos pros tempos de hoje, modernizando alguns pontos que no original, poderiam ser considerados defeitos. E o primeiro passo disso é Trails in the Sky 1st Chapter, um remake completo do primeiro jogo da franquia, com o intuito de introduzir esses jogos a novos jogadores e ter uma nostalgia aos fãs antigos da franquia.
A premissa desse jogo é algo que ao longo da franquia, foi ficando pra trás, pois nos títulos mais recentes, a escala dos eventos é tão gigante e envolve tantos personagens que os primeiros jogos parecem jogos menores mesmo (o que você entenderá ao longo do texto que é somente uma impressão essa questão).
Então vou resumir de uma forma bem direta e rápida do que se trata a história de Trails in the Sky 1st Chapter. Estelle e Joshua são 2 jovens que vivem em Rolent, uma cidade de Liberl (local onde o jogo se passa). Um dia, o pai desses jovens some ao ir realizar uma missão como Bracer (uma espécie de escoteiro), e isso desencadeia a busca por ele como a premissa inicial, aliando a isso a necessidade dos irmãos em virarem Senior Bracers, e poderem realizar missões mais difíceis.
A partir daí, o jogo se desenvolve em uma trama com vários mistérios, boas reviravoltas, e principalmente, ótimos personagens. A franquia é recomendada por vários veteranos, e todos concordam que a escrita e o roteiro, além do desenvolvimento desses personagens são alguns dos motivos mais fortes.
Para exemplificar um pouco isso, o cast de personagens de Trails 1st Chapter é realmente sublime. Scherazard, Kloe, Agate e tantos outros merecem um destaque neste texto, pois é um dos pontos mais positivos do jogo para este que vos escreve.
Quartz e o Sistema Orbal
O gameplay de Trails in the Sky 1st Chapter sendo um jogador novato na franquia como sou é algo impressionante. Ele alia muitos elementos de diversos jogos de franquias existentes, mas com um toque único da Niham Falcom.
Começando pelos Quartz. Toda a magia do jogo acontece através dos quartz e como isso ocorre? Para se ter um quartz, é necessário conseguir sepiths (fragmentos) que são extraído de diversas formas, sendo a principal derrotar monstros e na exploração dos cenários, e esse material possui propriedades de diversos elementos, seja água, fogo, vento, terra, espaço e por ai vai.
Em determinados locais ao redor do jogo, conhecidos como Fábricas Orbais, é possível sintetizar os quartz (algo bastante similar as matérias de Final Fantasy VII), que é colocada em um equipamento chamado de Orbment. Esses equipamentos utilizam a energia orbal que é manifestada através dos quartz para realizar as magias, aqui chamadas de Orbal Arts. O recurso necessário para se utilizar as Orbal Arts são os EP (energy points).
Uma das coisas mais interessantes de todo esse sistema é que os orbments possuem alguns locks (travas de tipo de elemento), e que nem todos os personagens podem usar qualquer tipo de quartz. Um exemplo disso é o Joshua, que tem 2 pontos do seu orbment travados para usar quartz do elemento espaço.
Além disso, o sistema de quartz é tão complexo que para usar as magias mais poderosas do jogo, é necessário combinar diversas quartz, pois cada unidade dela é atribuída um numero de pontos de elemento, e é essa combinação de elementos que permite o usuário utilizar uma magia de rank maior. E quanto maior o necessário de EP em uma magia, maior o tempo necessário pra se utilizá-la, pois o jogo utiliza um tempo de cast, sendo necessário as vezes aguardar turnos completos até a magia ser usada. Juro pra vocês, aqui foi onde eu mais tive que pensar pra manusear a minha party no jogo.
Crafts
Junto do sistema de magias do jogo, os personagens possuem técnicas de combate que aqui são chamadas de crafts. Cada personagem usa uma arma diferente, e as crafts funcionam de forma única por esse motivo. Exemplo: Estelle utiliza um bastão, e todas as suas crafts são unicas por somente ela usar bastão. O mesmo vale pro Joshua, que utiliza duas espadas curtas; Scherazard com o chicote e por ai vai.
Para se usar as crafts, o jogador utiliza uma barra chamada de craft points (CP), que recarrega ao realizar cada ação no combate ou receber dano. Além disso, existem as S-Crafts, que são espécies de habilidades ultimates, até mais fortes que as magias no geral, e que são adquiridas ao ir subindo de level com cada personagem.
Gameplay
Eu separei os 2 pontos do combate que acho que era necessário dar mais atenção. Agora vamos pro gameplay em si. O jogo original era em combate de turnos, mas aqui no Trails in the Sky 1st Chapter, a Falcom resolveu dar uma ampliada nisso.
Ao iniciar qualquer combate com os mobs comuns, o jogador pode realizar ações na forma de um combate em tempo real, em que se tem golpes comuns, ataques pesados e esquiva. Ao realizar 2 ataques pesados (que tem uma mini barra), é possível recarregar esses ataques ao realizar uma esquiva perfeita, e esse combate tem o intuito de stunar os monstros e entrar no combate tático.
O combate tático é o típico combate de turnos, e ele tem particularidades interessantes. A movimentação é livre, como em Dragon Quest 11, e cada Craft ou Orbal Art possuem áreas de dano, ou seja, é fundamental que o jogador sempre pense em como maximizar o dano ao alinhar a posição de cast com os inimigos no combate tático.
Já deixo algo registrado aqui: todas as boss fights e alguns mini bosses (em side quests) são realizadas na forma de combate de turnos, o que evidencia que é a forma que o jogo foi pensado pra ser jogado. Mesmo assim, a forma de combate em tempo real trouxe uma ajuda para realizar as explorações do mapa sem perder tanto tempo e ficar chato.
Como você deve imaginar e acabei citando indiretamente antes, o jogo possui um sistema de level como em qualquer RPG, portanto é fundamental que você vá fazendo as quests e sidequests para que além das recompensas de quartz, equipamentos e dinheiro, você vá aumentando o seu level para as áreas subsequentes.
Outros Sistemas
Falei de quase todos os sistemas do jogo, mas faltou dizer sobre algumas coisas que foram introduzidas nesse remake pela Falcom como mudanças de qualidade de vida. A primeira e mais importante é a introdução de um mapa, algo que não tem no jogo original. Além do mapa, temos marcadores de pontos de quest, sidequests e pontos de interesse, o que facilita e remove uma grande crítica ao original, em que sem um guia, era possível perder várias sidequests e itens ao longo do jogo.
Outra mudança muito bem vinda e que eu utilizei bastante são os fast travels. Alguns pontos ao longo do mapa geram marcadores de fast travel, e eles são muito úteis ao por exemplo, realizar sidequests ou precisar entregar itens, adiantando um processo que poderia se tornar tedioso ao longo do jogo.
No combate, em alguns turnos, ocorrem elementos de RNG que seus personagens, ou até inimigos, utilizam magias ao custo 0 de EP. É nessas horas que o jogador precisa abusar das magias mais poderosas, pois o timing de cast é nulo, ou seja, ao escolher uma magia que demoraria 4 ou 5 turnos pra ser utilizada, aqui ela é instantânea, dando oportunidade de realizar um dano massivo nos inimigos ao custo de nada.
As sepiths que o jogador vai recebendo no jogo, aqui a Falcom criou um tipo específico para gerar dinheiro, algo que no original também não existe. Confesso que ao longo do jogo, eu não fiquei sem dinheiro em nenhum momento muito por causa dessas sepiths, facilitando obter novos itens sempre que necessário.
E por fim, o jogo possui um sistema de cozinhar pratos, e eles são fundamentais pois ao se cozinhar um prato pela primeira vez, ele dá status permanentes aos membros da party que o jogador tiver no momento. E para se aprender novas receitas, é necessário consumir pratos que o jogador pode comprar ao longo do jogo, ou receber como recompensas.
Trilha sonora, Gráficos e performance
A trilha sonora de Trails in the Sky 1st Chapter é maravilhosa. Muitos veteranos da franquia diziam que as trilhas sempre foram marcantes e aqui, eu posso constatar que é das melhores coisas que o jogo tem a oferecer. Músicas novas para cada novo cenário, músicas para alguns personagens, trilha de combate e por ai vai. Vale muito a pena escutar tudo que a Falcom propõe nesse aspecto aqui.
Graficamente, o jogo é muito bonito. Obviamente que não se compara a um Death Stranding 2 por exemplo, mas na proposta de cell shading, Trails in the Sky 1st Chapter é altamente atrativo aos olhos, com vários cenários diferentes, personagens muito bem feitos, cutscenes excelentes (tem 2 no segundo capítulo que são maravilhosas), e as animações das habilidades são lindíssimas também.
A performance é extremamente boa no PS5. Existem 2 modos como em qualquer jogo atual, o qualidade que roda a 4K e 30 FPSe o performance, que roda a 60 FPS numa resolução menor. Joguei o jogo todo no modo performance e não senti nenhuma queda de FPS ou resolução baixa. Como problema, algumas texturas carregaram ao chegar perto, mas nada que incomode ou atrapalhe a gameplay. Sobre o tempo de jogo, finalizei com 50h, ou seja, o jogo é robusto e vai gerar muito tempo de jogo.
Review de Trails in the Sky 1st Chapter: Vale a Pena?
Se você é um jogador que tem interesse na franquia Trails e não tem ideia de onde começar, vá sem medo e inicie em Trails in the Sky 1st Chapter, um remake completo do primeiro jogo da franquia de 2004 e que ao finalizar, me deixou muito ansioso pra jogar a sequência que deve sair no ano que vem. Eu fortemente te recomendo e confie em mim, você não irá se arrepender. Trails in the Sky 1st Chapter está disponível para PS5, Nintendo Switch, Nintendo Switch 2 e PC.
Trails in the Sky 1st Chapter é a melhor forma de entrada na franquia que possui mais de 13 jogos interconectados. Modernizando e atualizando um jogo de 2004, a Niham Falcom mostra como é um dos melhores estúdios de JRPG's atual e mostra que ao se dedicar e valorizar o seu produto, quem sai ganhando é o jogador com um jogo excelente.
Pontos Positivos
- História e personagens excelentes.
- Gameplay complexo com diversas possibilidades.
- Trilha sonora fantástica.
Pontos Negativos
- Início lento pode afastar algumas pessoas.
- Não ter tradução em pt-br pode atrapalhar novatos.
- História
- Gráficos
- Performance
- Trilha Sonora
