Durante a minha adolescência, eu amava passar horas e mais horas em simuladores como os clássicos RollerCoaster Tycoon, Theme Hospital e The Sims. Mesmo sem entender totalmente as mecânicas daqueles jogos, era sempre muito divertido passar um tempo construindo parques, hospitais, ou mansões dos mais variados tamanhos (nessas horas o klapaucius ajudava demais). Curiosamente, o meu jeito de encarar esse tipo de jogo mudou com o tempo.
Se no passado eu gostava de ficar criando coisas à toa, hoje em dia eu tenho uma visão muito mais pragmática desse tipo de jogo — o que me diverte realmente é masterizar as mecânicas e conseguir progredir da maneira mais eficiente possível. Porém, algumas vezes isso pode se tornar um problema.

Tentar ser o mais eficiente possível em jogos de criação acaba justamente prejudicando a parte de criação em si. Ao invés de criar cômodos bonitos e visualmente interessantes, eu acabo tentando fazer tudo da maneira mais eficiente possível. Por causa disso, jogos muito “abertos” não me agradam mais. Minecraft, por exemplo, é um título que não me prende por mais do que algumas horas. Eu realmente preciso de um “guia” para me ajudar a progredir.
Quão foi a minha alegria, então, quando eu comecei Two Point Museum no Nintendo Switch 2, e reparei a forma magistral que o jogo não apenas resgata e continua as clássicas experiências dos simuladores do passado, mas que também faz isso com uma das campanhas mais interessantes e engajantes que eu já vi em um jogo desse tipo. Se você jogou algum dos títulos anteriores do estúdio, como Two Point Hospital, ou Two Point Campus, aposto que Museum vai te agradar. Se você nunca jogou, saiba de antemão que esse é um ótimo título do Switch 2 — mas precisamos falar sobre alguns detalhes específicos desta versão.

Uma noite no museu
Two Point Museum apresenta dois modos de jogo distintos: a campanha, que te coloca como o curador responsável por diferentes museus; e o modo sandbox, que te permite configurar livremente as opções de jogo e criar ao seu bel-prazer. Já de cara, a característica de Two Point Museum que mais me agradou foi justamente o modo como ele estrutura essa campanha, que é engraçada, engajante e coça aquela coceirinha de te instigar a ficar sempre querendo fazer “o próximo objetivo”.
De início, você é colocado como curador de um museu focado em artefatos pré-históricos, que serve de palco para você aprender as mecânicas mais básicas do game. No caso, embora você esteja administrando um museu, diferente do que você possa imaginar, esse ainda é um negócio, que precisa gerar lucro, crescer e se tornar famoso e muito próspero. Fazer isso, contudo, exige muito trabalho, atenção e estratégia.

Para fazer o seu museu crescer, é necessário levar em consideração uma quantidade absurda de informações (que, graças à ótima progressão do jogo, são apresentados paulatinamente). Contratar e gerenciar os diferentes funcionários (como especialistas, seguranças e assistentes), cuidar das várias peças do museu (que precisam ser limpas, restauradas, e dispostas de maneira inteligente), e manter os seus visitantes felizes é uma tarefa bastante desafiadora, mas igualmente divertida de se gerenciar.
De início, você possui poucas preocupações, já que cada uma dessas “engrenagens” é apresentada de maneira separada. Tudo isso ocorre com objetivos claros e específicos, que mostram claramente qual o seu próximo passo. Aos pouquinhos desse jeito, Two Point Museum apresenta um sistema que se torna absurdamente complexo, envolvendo elementos cada vez mais específicos, como excursões, campanhas de marketing, além de problemas que você precisa lidar, como ladrões e vândalos.

A cada museu, uma experiência
Além de apresentar os diversos sistemas de gerenciamento de modo a não sobrecarregar um jogador novato, a campanha de Two Point Museum também faz um ótimo trabalho ao te colocar nos diferentes tipos de museu — cada um com seus ítens únicos e exigências distintas.
De início, o progresso em um museu como o da pré-história ocorre de maneira bastante direta e tranquila de se gerenciar. Basicamente, você precisa enviar parte dos seus funcionários para diferentes expedições, com o objetivo de encontrar novos fósseis e objetos para serem expostos nas diferentes alas do seu museu. Encontrou um pedaço de esqueleto? Coloque-o em uma das alas, decore o ambiente com alguns elementos temáticos e coloque algumas placas de informação e, voilá, seus visitantes ganharão pontos de conhecimento e ficarão propensos a fazer doações.

Conforme você avança, contudo, outros museus e itens mais específicos exigirão um preparo muito mais do ambiente. Itens congelados ou plantas selvagens, por exemplo, só poderão ser exibidos se você preparar o ambiente de maneira correta, incluindo aparelhos como umidificadores, condensadores, ou aquecedores. E as coisas só ficam mais complicadas (e interessantes!) a partir daí!
Tipos diferentes de museu trazem conceitos e brincadeiras ainda mais únicas. O segundo museu, por exemplo, é inteiramente tematizado no sobrenatural, e contará até mesmo com exibições que contam com espíritos e outras entidades sobrenaturais. Para contê-los, contudo, é preciso criar salas inteiras que os mantenham entretidos e confortáveis. Somente assim seus visitantes poderão vislumbrar o sobrenatural sem correr riscos. Descobrir essas várias mecânicas e aprender como melhor construir e decorar cada museu traz um prazer próprio, que só esse tipo de jogo consegue proporcionar.

Alguém chame o segurança!
Infelizmente, contudo, nem tudo são flores quando falamos de Two Point Museum no Nintendo Switch 2, e minhas principais reclamações são relacionadas a alguns probleminhas técnicos, de maior ou menor grau. Visualmente, o jogo é muito charmoso, com modelos divertidos e fofos de todos os itens de exibição, funcionários e visitantes do museu. Tudo é apresentado em meio a uma ambientação cômica e até mesmo um pouco nonsense, que faz a experiência ser engraçada e exagerada da medida certa.
Porém, a versão de Nintendo Switch 2 possui alguns problemas técnicos que se acentuam quanto mais você progride. Em termos de performance, o jogo apresenta gráficos bonitos, tanto no modo portátil quanto na TV, renderizados a um framerate de 30fps. O grande problema aqui está em como o jogo não consegue manter os 30fps em todos os instantes. Quando você avança na campanha, e passa a ter um museu muito cheio de itens e visitantes, é comum você encontrar algumas quedas de frame quando você entra no modo de edição ou construção.

Devido ao tipo específico de gameplay que Two Point Museum oferece, essas quedas não atrapalham necessariamente a sua jogatina, mas é um incômodo que se torna um tanto quanto constante em momentos mais avançados da campanha. Além disso, existem alguns pequenos bugs em caixas de texto presentes aqui e ali na campanha. Vale ressaltar que o texto e tradução em português do Brasil estão ótimos, mas em alguns menus você pode encontrar alguns espaços extras, ou texto cortado em caixas que você não consegue ler por inteiro.
Por fim, o último aspecto negativo de Two Point Museum não está necessariamente em um problema, mas sim em uma ausência. Como um jogo de gerenciamento muito focado em construção, é uma pena que a versão de Switch 2 não tenha recebido suporte aos controles de mouse, que poderiam facilitar e ajudar muito a relevar um pequeno problema desse tipo de jogo: alguns menus um tanto quanto convolutos, com informações que parecem “escondidas” e são um pouco complexas de se encontrar de início. Como o jogo continua recebendo suporte e conteúdo em todas as plataformas, vamos torcer para que o fps melhore e que eles consigam adicionar suporte ao mouse.

Review de Two Point Museum — Divertidíssimo, apesar dos engasgos
Embora a versão de Nintendo Switch 2 de Two Point Museum possua algumas arestas técnicas, não é exagero afirmar que Two Point Studios mantém o gênero de gerenciamento vivo com alguns dos melhores jogos desse tipo. Two Point Hospital e Two Point Campus eram bons, mas aqui eles elevaram o nível.
Divertido, viciante e com uma quantidade exorbitante de conteúdo (que você pode jogar e rejogar no modo sandbox), Two Point Museum é facilmente um dos melhores jogos de gerenciamento já feitos, e sua campanha é construída com uma progressão pensada em todo tipo de jogador, incluindo tanto aqueles mais criativos, quanto pessoas como eu que gostam de tentar fazer tudo da maneira mais eficiente, em todos os momentos.

Se você está pensando em pegar um dos vários títulos de gerenciamento disponíveis no Nintendo Switch 2, saiba que nem mesmo esses probleminhas que mencionei tiram o brilho de Two Point Museum. Se precisar escolher, pode pegar esse jogo sem pensar duas vezes. Afinal de contas, ninguém poderia imaginar que se tornar um curador de itens antigos poderia ser tão divertido.
PS: A análise foi feita em um Nintendo Switch 2 através de uma cópia cedida pela SEGA.
Como um dos melhores jogos de gerenciamento disponíveis na plataforma da Nintendo, Two Point Museum oferece uma experiência vasta, divertida, que vai te manter fisgado sempre em busca do próximo objetivo para o seu museu. Infelizmente existem alguns problemas técnicos nesta versão, mas nem mesmo essas quedas de fps tiram o brilho dessa experiência fantástica.
Pontos positivos
- Progressão fantástica da campanha
- Loop de gameplay viciante
- Visuais e temáticas engraçadas
- Conteúdo extenso, mesmo sem os DLCs
Pontos negativos
- Quedas frequentes de framerate
- Menus um pouco convolutos
- Ausência de suporte ao mouse
- Narrativa
- Mecânicas
- Conteúdo
- Performance
- Visuais
- Trilha Sonora
