Sempre que é necessário fazer a análise um jogo é de suma importância dizer ao leitor ou espectador qual o gênero do jogo a ser análise, pois bem, essa tarefa se faz um pouco mais árdua em Worldless do que em outros jogos, isso porque esse jogo aqui é o resultado de uma soma inesperada de gêneros que deu muito certo, não apenas porque soma gêneros diferentes entre si, mas também porque a atenção aos detalhes que criam a amálgama que sustenta e segura essa mistura é muito bem-feita!
Confira meu review de Worldless:
Uma proposta diferente
Tradicionalmente, como sempre faço, ficam de apresentação alguns detalhes técnicos do jogo, Worldless se trata de um jogo indie, produzido pela Coatsink e publicado pela Thunderful, com lançamento no dia 20 de novembro de 2023, no dia que esse review está sendo lançado.
Nessa breve apresentação eu geralmente informo ao leitor de qual gênero se trata o jogo, mas se a falta de liturgia assim permite, hoje falarei que aqui se trata de um jogo multigênero.
Exatamente, pelo menos na minha análise, é impossível, ou, pelo menos, muito difícil categorizar Worldless em apenas um gênero, mas imediatamente eu explico o porquê.
Duas frentes!
O jogo se divide em duas frentes: exploração e combate. E em ambas seus gêneros são muito claros: na parte da exploração se trata de um jogo de movimentação 2D que pode muito bem ser categorizado como um Metroidvânia não tradicional, isso porque o backtracking do jogo meio que se esconde até um segmento relativamente avançado do jogo e o jogador passa boa parte achando que é apenas uma movimentação 2D de aventura, porém, a medida que o jogador vai liberando novas habilidades para seu personagem, a percepção de uma interconexão do mapa se revela aos poucos a medida que o backtracking se torna possível.
A outra frente diz respeito ao combate do jogo: um RPG de turno bem atípico. Não bastasse o jogo mesclar a movimentação e exploração 2D com um combate muito raramente presente nesse gênero, ainda conta com uma batalha por turnos diferente, pois aqui se torna algo bem mais dinâmico e ativo que o tradicional “Bate e espera” de alguns jogos mais tradicionais do gênero.
Em Worldless o jogador preciso combinar habilidades e criar combos de ataque para causar dano em seus inimigos, além do fato de existirem diferentes tipos de golpes, como magias, golpes físicos e especiais, além do fato de que mesmo no turno do inimigo o jogo não deixa de fazer com que o jogador seja um personagem ativo, na verdade, talvez a atenção deva ser redobrada no turno do inimigo, pois aqui é sua oportunidade de defender na hora certa ou mesmo contra-atacar.
O tempo que você terá para desferir seus golpes nos inimigos é presentado por uma barra decrescente que pode ser aumentada a medida que se progride no jogo ao conseguir alguns coletáveis espalhados no mapa que a medida que um novo upgrade é conseguido, para conseguir aumentar a barra novamente, mais coletáveis serão necessários, porém, logo no início do jogo é possível conseguir uma habilidade que lhe concede um tempo extra, caso o jogador realizar defesas perfeitas no turno do oponente, o que em um primeiro momento pode parecer pouco, mas que em batalhes mais difíceis pode ser um atributo essencial entre a vitória e a derrota.
Esses atributos tanto de ataque como de defesa faz com que o jogo crie batalhas que são desafiadoras e recompensadoras de forma diretamente proporcional, pois quanto mais se avança na história do jogo, mais difíceis as batalhas se tornam chegando ao ponto de que em alguns chefes a atuação do jogador em relação a acertar os golpes certos e defender no momento exato chega a ter que ser perfeita e o jogo praticamente se torna um jogo rítmico! O que pode atrair muito jogadores e afastar outros. Pessoalmente achei uma decisão ousada, porém bem executada, pois torna o gameplay desafiador mas também satisfatório. Você vai comemorar ter vencido alguns chefes desse jogo!
E por falar em gameplay é importante frisar aqui outras questões técnicas que também chamam a atenção em Worldless.
Minimalismo Visual
Com uma estética cósmica, mas, ao mesmo tempo, minimalista é fácil dizer que dificilmente você encontrará outro jogo que mostre uma parte visual tão marcante quanto Worldless que aposta muito em ambientes praticamente monocromáticos compostos em sua maioria por uma cor dominante que acompanha os cenários do início ao fim, por exemplo, o primeiro mapa tem pela cor dominante o azul, depois temos outro mapa que tem a cor dominante o vermelho, e cada cenário é como se obedecesse a um tema de um elemento, que se reflete em sua cor.
E esses cenários são interconectados por segmentos de mapa que não possuem uma cor dominante, são escuros e normalmente possuem uma iluminação que faz lembrar uma penumbra, o que coaduna muito bem com a proposta dar cores temáticas.
Mas para além disso, a medida que vai se avançando nos cenários puder perceber uma possível inspiração em um outro jogo que se aproveita de uma estítica visual minimalista e que também possui uma movimentação em 2D: Gris.
Algumas composições, algumas cores dominantes e alguns temas de cenários remetem facilmente a cenários muito marcante de Gris, que coincidentemente (ou não) também possui uma abordagem em relação às cores muito importante em sua essência.
Não é possível afirmar com certeza se é uma homenagem clara a Gris, mas a semelhança estética é notável! (O que me deixou feliz e familiarizado, já que Gris além de ser um jogo muito bonito é um dos jogos que mais me marcou na vida, estando no rol dos meus favoritos. Já o platnei duas vezes e futuramente pretendo completá-lo em outras plataformas).
Atenção ao som!
Porém voltando para Worldless, o mesmo minimalismo presente na parte gráfica também é percebido na parte sonora.
Os cenários dificilmente possuem algum NPC, além disso dificilmente possuem uma música tema, destacando dessa forma a jornada solitária de seu protagonista além de dar bastante espaço para o design de som, que possui um trabalho muito bom.
A trilha aprece pouco, porém em momentos chave e importantes, como em segmentos da história e principalmente em lutas contra chefes em que ela se torna épica, contagiante e cheia de energia!
São músicas dignas de fato, de grandes batalhes de RPGs!
Surpreendentemente regular!
Em relação ao desempenho do jogo é importante destacar que joguei a versão de PlayStation e não tive nenhum bug de nenhuma natureza, além de em nenhum momento eu ter percebido quedas de quadros por segundo, o desempenho do jogo está excelente! Fazendo falta apenas uma tradução das legendas em português brasileiro, porque afinal são poucos textos, porém são textos que abrem margem pra muita interpretação.
De fato, a história de Worldless não é seu forte, é uma história em certo ponto rasa, porém o jogo possui uma narrativa não tradicional e fragmentada, que é contada através dos encontros da protagonista com poucos NPCs espalhados pelos cenários, além do próprio cenário contar parte dela o que faz com que jogá-lo em sua língua mãe provavelmente torne a experiência mais completa e mesmo conseguindo entender tudo, senti falta de ler os diálogos misteriosos na minha língua-mãe.
Review de Worldless: vale a pena!
Worldless é uma aposta ousada de um casamento que deu certo de dois gêneros que estão presentes nos videogames a muitas décadas e que aqui são muito bem executados e executados de forma bastante original, possuindo uma duração muito bem acertada para que o jogo não se torne muito curto a ponto de sentir que precisava de mais nem muito longo a ponto de sentir que precisava de menos. A Sua exploração é relativamente recompensadora, bem como sua estética é impressionante, e o mesmo pode ser dito sobre seu desempenho.
Talvez uma narrativa um pouco mais expositiva e um mapa um pouco mais regular ajudassem mais na imersão do jogador, porém não exclui o fato de ser um jogo surpreendentemente bom e que vale muito a pena ser jogado, prometendo conquistar os fans tanto de Metroidvanias quanto de RPGs, e porque não, os amantes de jogos de luta?!
- Visual
- Audio
- Desempenho
- Narrativa
- Progressão
- Jogabilidade