The Callisto Protocol foi lançado no ano passado com a promessa de ser um grande jogo de ação em terceira pessoa. Ambientado na Prisão Ferro Negro, na Lua Calisto, o game possui uma história sombria na qual acompanhamos Jacob (Josh Duhamel), um homem que aparentemente foi preso por engano e precisa escapar do local enquanto luta contra hordas de zumbis e um ambiente opressivo. Na época, pude fazer a review do game para a República DG (confira aqui!) elogiando o título por ser objetivo, trazer um combate interessante e ostentar gráficos de ponta. Infelizmente The Callisto Protocol teve uma recepção morna, tanto pela maior parte da crítica quanto pelo público, não obtendo as vendas esperados. Algum tempo depois foi anunciada Final Transmission, DLC que prometia continuar a história. Nas linhas abaixo explicarei as razões pelas quais a conclusão de Final Transmission me deixou insatisfeito. Não se trata de uma review da DLC, e sim alguns comentários sobre os sentimentos que este encerramento causou. Obviamente, há spoilers.
A ideia original de The Callisto Protocol seria criar uma saga que mantivesse elementos da famosa franquia Dead Space, mas que fosse construída em um novo universo. A ideia de uma franquia de mais de um jogo é apresentada através das várias pontas soltas na trama e também em comentários do diretor Mark James. Outro detalhe foi a cena pós-créditos que mostrou Jacob ainda vivo na Prisão Ferro Negro após a fuga de Dani (Karen Fukuhara). O game encerra com ele sendo contatado pela Doutora Caitlyn Mahler (Louise Barnes) que afirma haver uma saída. Logo após isso, porém, Jacob é confrontado por Ferris (Sam Witwer), vilão que aparentemente havia morrido.
A questão é que a DLC de The Callisto Protocol é inócua porque frustra, e frustra bastante. Seu final nos mostra que a busca de Jacob nada mais é do que uma espécie de sonho. Nosso protagonista está sendo mantido vivo pela doutora Mahler através de uma máquina, embora sem membros e parcialmente eviscerado. Seu propósito é repassar dados para Dani, permitindo assim que ela consiga provar a farsa que é Calisto e os crimes de seus responsáveis. Após isso, Jacob morre e Calisto desmorona, matando Mahler também.
Fiquei refletindo por algum tempo o motivo deste final ter me incomodado. Afinal, um encerramento abrupto assim é recorrente em histórias de terror. Me lembro de meu episódio favorito de Love, Death and Robots, Para Além da Fenda de Áquila, onde o protagonista percebe que sua realidade possui algo de errado. Na verdade, ele está em uma espécie de colmeia alienígena (semelhante ao estado da prisão Ferro Negro após ela ser dominada pelos biófagos) e mantido vivo por um estranho e assustador ser. O final, ali, havia me chocado de uma maneira muito positiva. Por que, em Callisto Protocol, isto não aconteceu?
Muito disso se deve à expectativa que criamos quando vamos consumir determinada mídia. No caso de Para Além da Fenda de Áquila é que a jornada não tem tanto foco, com o enredo nos conduzindo de maneira muito inteligente até realizar a incrível reviravolta final. Ao término de The Final Transmission, falta substância ao roteiro. Toda a jornada de Jacob o coloca como um sobrevivente que busca escapar da prisão e a cena pós-créditos dá indícios de que há uma maneira de fazer isso, criando esperanças para nós.
Quando a reviravolta sombria de Final Transmission aparece na tela, a subversão das expectativas ocorre de uma maneira negativa. O jogador é surpreendido pelos seus esforços na DLC não gerando efeitos. A nova arma não é real, os novos inimigos não são reais, nada foi real e tudo o que você pode fazer é ver Jacob morrendo, tornando a cena pós-créditos do game original um dissabor. A utilidade do protagonista é ter dados repassados para expor a mentira que é Ferro Negro. No entanto… Qual o propósito real disso, uma vez que não temos informações sobre uma sequência?
Isto nos leva a um segundo ponto. A forma como The Final Transmission foi criada nos faz suspeitar que esta foi uma maneira de encerrar a propriedade intelectual The Callisto Protocol. Sabemos que um jogo AAA nos dias de hoje é bastante caro para ser produzido. Uma vez que The Callisto Protocol não performou tão bem nas vendas, não parece que veremos uma sequência ou algo relativo, fazendo a DLC ser talvez a forma que o estúdio buscou para encerrar a história deste universo. As pontas soltas, as perspectivas do futuro da prisão, tudo seria deixado de lado com um fim abrupto e focado em: “Jacob se foi, Dani foi salva e assim se conclui The Callisto Protocol”. Claro que posso estar errado e posteriormente vermos uma sequência, mas os sinais mostrados até agora não são bons.
The Callisto Protocol não é o primeiro game a não ganhar uma sequência apesar de deixar pistas que indicassem uma franquia. Days Gone (que tem Sam Witwer em seu elenco, desta vez no papel principal) também passou por isso. Os jogadores podem se sentir frustrados, mas em um mundo onde jogos triple A se tornam cada vez mais caros para serem produzidos é arriscado lançar novas IPs e The Callisto Protocol pode ter sido a prova de que este risco existe e é real.
The Callisto Protocol está disponível para PC, PlayStation 4, PlayStation 5, Xbox One e Xbox Series X/S.