A vingança é um tema recorrente em praticamente todos os formatos de mídia. Tenho certeza de que você conhece ao menos uma obra centrada na jornada destrutiva de alguém visando igualar o “placar”.
Quando fiquei sabendo que Michael Green (roteirista de Logan e Blade Runner 2049) iria criar uma obra juntamente com sua esposa, Amber Noizumi, fiquei com um sorriso no rosto. Michael sabe capturar a verdadeira essência da humanidade como ninguém e é um maestro em construir um universo altamente imersivo.
Os dois pontos se provam reais em Samurai dos Olhos Azuis, um novo anime da Netflix que se passa no turbulento período Edo do Japão, palco perfeito para uma história visceral e com múltiplas camadas.
A obra conta a história de Mizu, um ronin que guarda muitos segredos. Mizu na verdade é uma garota e é uma mestiça, isso é, seu pai é um estrangeiro e sua mãe é japonesa. Por conta disso, ela sofre muito bullying quando era pequena. No período em questão, o Japão tinha uma política firme contra ocidentais e tudo isso é bem explicado na trama.
O objetivo de Mizu é simples: na época do seu nascimento, 4 homens do Ocidente estavam no Japão. Seu pai é um deles. Ela pretende matar todos os 4 pra vingar o que ela e sua mãe sofreram. Apesar da aparente simplicidade, a narrativa de Samurai dos Olhos Azuis surpreende e esconde diversos plot twists que deixam um gancho para a segunda temporada.
O elenco de personagens é formidável e todos são muito bem desenvolvidos ao longo da trama. O próprio ódio imensurável que Mizu carrega é explicado, assim como ela se tornou uma ronin extremamente letal. Em sua jornada, o destino de diversas pessoas se entrelaçam ao seu. O bondoso e engraçado Ringo, um jovem sem os braços que sonha em ser um samurai.
Taigen, o samurai descendente de um pescador pobre que busca ascender na vida. Akemi, a princesa que almeja traçar o seu próprio caminho. O Criador de Espadas, o ferreiro cego que acolhe Mizu quando pequena. A genialidade dos personagens e do desenvolvimento de cada um deles reside na enorme capacidade criativa que Michael e Amber possuem. Os diálogos e motivações de cada um foram bem fincados. O mais legal de tudo é que quase o elenco inteiro é composto por atores de descendência japonesa, inclusive, temos nomes conhecidos na lista como Masi Oka, Randall Park e Cary-Hiroyuki Tagawa.
Samurai de Olhos Azuis é um anime bem realista, na medida do possível é claro. O mundo é visceral e duro. Enquanto uma parcela passa fome e se prostitui, outra cobiça o poder. Vale destacar aqui que a obra se trata de uma produção voltada para o público adulto. Espere muitos desmembramentos, nudez e cenas de sexo.
Por falar em desmembramentos, os visuais e takes rivalizam com grandes obras de Hollywood. O nível de produção é altíssimo, tanto para os olhos quanto para os ouvidos. A trilha e efeitos sonoros estão magistrais e contribuem para que o telespectador mergulhe nesse universo fantástico.
Até o antagonista principal da temporada, Fowler, é humanizado. Ele é a prova perfeita de que nós somos meros perpetuadores dos ciclos que sofremos. Samurai dos Olhos Azuis é uma obra especial. Ela retrata com maestria o que significa ser humano. Assista!