A principal novidade desse mês de maio no mundo dos games é Doom: The Dark Ages, terceiro título desde a retomada da franquia. Uma prequela de Doom (2016) e Doom Eternal (2020), o game coloca os jogadores em uma guerra medieval contra as forças do inferno.
O primeiro Doom foi lançado em 1993 para computadores pela id Software. Com inovações tecnológicas para a época, foi responsável por popularizar os jogos de tiro em primeira pessoa, sendo considerado até hoje um dos games mais importantes de todos os tempos. Na semana de estreia de um novo jogo da série, a República DG resgata um pouco da história dos primórdios do gênero FPS e do lançamento do Doom original nesse especial. Confira.
Os primeiros FPS
Apesar de ter popularizado o gênero, Doom não inventou os jogos de tiro em primeira pessoa. Nos anos 70, Spasim e Maze War já utilizavam essa perspectiva. Spasim é um simulador de voo espacial, enquanto Maze War é um jogo de tiro em labirinto. Em 78, surge Futurewar, game que continha uma imagem vetorial de uma arma apontada para monstros.
Nos anos 80, houve um aumento no número de jogos de tiro com a popularização de videogames e fliperamas. Foram lançados, por exemplo, Star Raiders para o Atari 8 bits, Starmaster para o Atari 2600 e Space Spartans para o Intellivision.
Em 1982, é lançado Wayout, um jogo de labirinto que revolucionou na época pela introdução do ray casting, um algoritmo que produz as imagens na tela a partir do campo de visão do observador. Além disso, oculta o que está fora do alcance de observação do jogador. Esse algoritmo foi fundamental para John Carmack, um dos criadores de Doom, desenvolver seus jogos.
Nos anos 90, John Carmack estudou tecnologia 3D, de uma forma que pudesse implementá-la em jogos de ação sem sobrecarregar a capacidade de processamento dos computadores. Ele construiu uma engine para fazer um jogo 3D utilizando o ray casting. Também estudou formas de implementar texturas 3D não uniformes em seus jogos.

Wolfenstein 3D
Antes trabalhando como desenvolvedor para uma empresa chamada Softdisk, John Carmack abriu, juntamente com John Romero e mais duas pessoas, um estúdio chamado id Software em 1991.
Utilizando todo o conhecimento adquirido anteriormente, os desenvolvedores lançaram Wolfenstein 3D em 1992. Na época, predominavam nos computadores os jogos lentos e estratégicos. Wolfenstein propunha justamente o oposto: um jogo rápido e cheio de ação. Outra novidade foi a possibilidade de recolher itens após matar soldados. Algo básico hoje em dia.
O jogo ficou marcado pela violência, com esqueletos e detalhes em sangue nas paredes. Os soldados nazistas choravam e gritavam em alemão quando mortos. Foi produzido utilizando o algoritmo do ray casting, com o jogador tendo a visão das salas em que visitava. A arma foi inserida aparecendo aos olhos do personagem, proporcionando maior imersão.
Wolfenstein 3D foi distribuído via shareware, uma prática comum na divulgação de games nos anos 90, era pré-Internet banda larga e quando não existiam as plataformas digitais. O primeiro capítulo foi disponibilizado de forma gratuita para teste. Se os usuários gostassem, poderiam adquirir o restante do jogo. Wolfenstein 3D foi um sucesso e deu o pontapé inicial na estrutura básica dos jogos FPS que conhecemos atualmente.

Nasce Doom
Se Wolfenstein já foi importante na história dos FPS, o lançamento de Doom, em 1993, trouxe ainda mais inovações tecnológicas. A produção começou em 1992 e surgiu da ideia de John Carmack de fazer um jogo com demônios, baseado em um RPG que ele e seus amigos jogavam. Seria um game de tiro rápido e brutal.
Carmack construiu uma engine com o que havia de mais moderno em tecnologia para a década de 90. Isso possibilitou que a equipe implementasse os melhores sons, gráficos e jogabilidade. O clima de terror e os demônios do jogo foram inspirados em filmes de terror dos anos 80, como Alien e Evil Dead.
Doom se destacava de outros jogos ao unir violência e terror em uma jogabilidade divertida. Tinha demônios esquisitos, fases enormes e criativas, armas pesadas e trilha sonora inspirada em bandas de heavy metal como Pantera e Alice in Chains. Uma combinação que agradava aos jovens.
A variedade de inimigos era grande para os padrões da época e eles enchiam o cenário, forçando o jogador a se manter em constante movimento e jogar de forma agressiva. A IA dos inimigos foi trabalhada para que os monstros tivessem estratégias de ataques diferentes, sendo necessário aprender novos movimentos cada vez que encontrassemos um demônio diferente. Ou seja, um game frenético e que testava os reflexos de quem jogava de forma constante.
Enquanto Wolfenstein era um jogo que ocorria em um nível plano, sem janelas, buracos ou escadas, em Doom existiam plataformas, escadas e elevadores. Isso foi possível graças a habilidade de John Carmack como programador, que estudou sobre uma técnica de computação gráfica chamada BSP (Binary Space Partitioning ou particionamento binário do espaço, em português). Usando o BSP, era possível dividir a imagem em diversas partes menores.
A aplicação do BSP em Doom tornou possível trabalhar com variados níveis e tipos de imagens: alturas diferentes, blocos que se movem, sobem e descem, criando assim fases mais complexas para os jogadores. O uso do BSP também permitiu que o jogo processasse apenas as imagens que o jogador estivesse vendo no momento, limitando, por consequência, a quantidade de imagens processadas no computador. Isso fez com que Doom rodasse de forma mais fluida e rápida. Essa inovação tecnológica impactou toda a indústria dos games e é utilizada até hoje com processos mais modernos.

Licenciamento de engine e multiplayer
John Carmack teve a ideia de permitir que a engine de Doom pudesse ser licenciada. Dessa forma, outras empresas pagariam pelo uso de uma engine que já está pronta, otimizando tempo e dinheiro na construção de uma do zero.
O licenciamento de engines trouxe grande impacto na produção dos jogos. Um dos maiores exemplos que temos no mercado atualmente é a Unreal Engine, desenvolvida pela Epic Games e licenciada para várias empresas produzirem seus games.
Doom ainda tinha um modo multiplayer competitivo, o “deathmatch”, e foi um dos primeiros jogos a popularizar o modo em que jogadores poderiam competir uns contra os outros em tempo real. Os jovens carregavam os enormes PCs antigos para a casa dos amigos e passavam a madrugada matando demônios.
Também foi revolucionário em criação de mods, criando uma comunidade ativa que continua modificando o jogo original até os dias de hoje. Isso faz com que Doom tenha alcançado uma longevidade que poucos games conseguiram ao longo do tempo.

Sucesso e polêmica
Doom se tornou um sucesso durante a década de 1990. O consumo do jogo foi impulsionado pela distribuição em formato shareware e pela pirataria. Empresas contavam que os funcionários usavam os computadores para jogar. A revista Computer Gaming World listou Doom como o game mais jogado. Foi eleito jogo do ano pela mesma revista, em 1994.
Em 1995, Bill Gates aproveitou a popularidade de Doom, utilizando cenas do game em um vídeo promocional do Windows 95. Indo além dos computadores e videogames, em 2005 foi feito um filme, estrelado por Dwayne Johnson, o The Rock. Infelizmente, o filme foi um fracasso de bilheteria.
Apesar do sucesso, Doom criava polêmica em vários setores da sociedade norte-americana pela violência de sua jogabilidade. Em 1999, houve o Massacre de Columbine, onde dois estudantes assassinaram alunos e professores. Um dos atiradores disse na época que o massacre seria como jogar Doom, o que acendeu debates sobre a influência dos jogos eletrônicos em comportamentos violentos.
Jogos lançados até hoje
- Doom (1993)
O pioneiro, que foi um marco na história dos videogames e revolucionou o gênero FPS, foi lançado originalmente para computadores e traz um fuzileiro espacial enfrentando demônios em Marte. Portado para várias plataformas ao longo do tempo, encontra-se disponível na versão remasterizada DOOM + DOOM II para PC, Xbox One, Xbox Series X|S, PS4, PS5 e Switch, podendo ser jogado pelo Game Pass.
- Doom II: Hell on Earth (1994)
O segundo jogo traz a batalha contra os demônios para a Terra, com mapas maiores e novos inimigos. Lançado originalmente para o PC, encontra-se atualmente disponível na versão DOOM + DOOM II citada anteriormente.
- Doom 64 (1997)
Exclusivo do Nintendo 64 no lançamento, traz uma nova campanha, gráficos aprimorados e atmosfera sombria. Foi relançado para PC, Switch, PS4 e Xbox One. Disponível no Game Pass e PS Plus.
- Doom 3 (2004)
O terceiro jogo se afastou um pouco da proposta original da franquia ao apostar em uma jogabilidade mais lenta, que priorizava a imersão e o suspense. Está disponível atualmente no PC, Switch, Xbox One, PS4, Game Pass e PS Plus.
- Doom (2016)
O reboot de nove anos resgata a ideia original do Doom clássico com visual moderno, apostando em ação intensa e combates brutais. Disponível para PS4, Xbox One, PC, Switch, Game Pass e PS Plus.
- Doom Eternal (2020)
Sequência que expande o jogo de 2016 com mapas mais complexos, novas mecânicas de habilidades e maior variedade de inimigos. Pode ser jogado no PC, Switch, PS4, Xbox One, PS5, Xbox Series X|S, Game Pass e PS Plus.
- Doom: The Dark Ages (2025)
O mais recente título da franquia chegou no último dia 15 de maio e acontece antes dos eventos de Doom 2016 e Doom Eternal, colocando os jogadores em uma batalha medieval contra demônios. Lançado para PC, PS5, Xbox Series X|S e day one no Game Pass.
Além dos títulos principais, a franquia Doom recebeu diversas expansões e spin-offs ao longo de mais de 30 anos de história.
E aí, gosta de Doom? Qual o seu favorito? Conta pra gente nos comentários.