Depois de a id Software entregar os sensacionais DOOM (2016) e DOOM Eternal, a desenvolvedora decidiu concluir a trilogia com um prequel, revelando o que aconteceu com o Doom Slayer durante o período em que esteve desaparecido.
Ambientado em um cenário medieval e prometendo a maior campanha da história da franquia, DOOM The Dark Ages consegue manter o legado da saga de boomer shooters?
É isso que você vai descobrir nesta review, em que destrincho todos os detalhes e novidades da jornada sombria e sanguinária contra as forças demoníacas.
Uma prequel que preenche lacunas
Se você não está familiarizado com a saga DOOM, o jogo lançado em 2016 é uma mescla de reboot e remake do clássico de 1993. Nele, o Doom Slayer é despertado para enfrentar demônios após uma tentativa desastrosa de usar energia infernal como fonte de eletricidade.
Ao mesmo tempo em que reimagina o primeiro jogo da franquia, DOOM (2016) também é uma continuação de DOOM 64, em que o Doom Guy, como era chamado na época, permanece no Inferno para erradicar os demônios.
O que aconteceu nesse período entre DOOM 64 e DOOM (2016) sempre foi uma incógnita. DOOM Eternal até tentou explicar como o Slayer foi selado e despertado em outro tempo, mas sem se aprofundar muito na narrativa.
É aí que entra DOOM The Dark Ages, um jogo que se passa antes dos eventos de 2016, mostrando o Slayer lutando ao lado dos Cavaleiros da Noite.

Evito entrar em muitos detalhes para não cair em spoilers, já que a lore, diferentemente de outros tempos, agora é parte crucial da experiência da franquia.
A história é contada pela perspectiva do Slayer, com cenas no início e no fim de cada uma das 22 missões presentes na campanha.
Durante a jornada, o Slayer encontra diversos personagens. Sendo direto, nenhum me marcou profundamente, mas alguns têm maior destaque.
É o caso do Rei Novik, um monarca que lidera as defesas contra o Inferno, e sua filha Thira, herdeira do trono e conhecedora das artes místicas.
A dinâmica entre o Slayer e os outros personagens bastante é interessante. Todos ao seu redor o enxergam como uma figura quase mitológica.

Enquanto os demônios o temem, suas lideranças evitam o confronto direto. Os lacaios, por sua vez, lutam apenas como forma desesperada de sobrevivência.
A história no geral é boa, com diálogos relativamente curtos e um aprofundamento maior por meio dos códices encontrados durante a campanha. Ainda assim, a narrativa não é o maior ponto forte do jogo.

Jogabilidade: Escudo, parry e ação brutal
Uma vez, John D. Carmack, cofundador da id Software, disse a seguinte frase: “História em um jogo é como história em um filme pornográfico. Você espera que tenha uma, mas ela não é importante”, deixando claro qual sempre foi o objetivo da franquia DOOM.
A história existe e, hoje em dia, conta com um aprofundamento muito maior do que nos anos 90. Contudo, o foco da série sempre será a jogabilidade eletrizante.
Se a gameplay de DOOM (2016) já era excelente, muitos acreditavam que a de DOOM Eternal havia atingido o ápice do que um jogo de tiro em primeira pessoa poderia oferecer.
DOOM Eternal era mais pautado na velocidade, já que o jogador era obrigado a utilizar o dash e manter uma movimentação constante para sobreviver nas arenas.
Já DOOM The Dark Ages segue por um caminho diferente, introduzindo o uso de escudo para defesa e, principalmente, a mecânica de parry, que se popularizou bastante nos últimos anos após o sucesso de Sekiro, e que hoje está presente em praticamente todos os jogos de ação.

O jogo é mais lento, mas isso não é um ponto negativo. Trata-se apenas de uma forma diferente de se jogar. Afinal, ninguém espera que três jogos da mesma franquia apresentem a mesma jogabilidade.
O escudo é uma adição excelente. Ele não serve apenas para se defender de inimigos e perigos do ambiente, mas também para resolver puzzles espalhados pelos amplos mapas do jogo.

Ele pode ser usado diretamente como defesa, com uma barra de vida própria, para refletir ataques corpo a corpo e à distância, e também como arma, no melhor estilo Steve Rogers, o saudoso Capitão América, arremessando-o contra os inimigos.
Na resolução de puzzles, o escudo é usado para erguer estruturas, empurrar objetos e até na locomoção do Slayer.
Mapas gigantes e progressão profunda
É tradicional na franquia apresentar mapas grandes, nos quais é preciso ir e voltar para encontrar chaves coloridas, como azul e vermelha, enfrentando inimigos no caminho. E aqui não é diferente. Só que há um detalhe importante.

Desde o início da divulgação do novo jogo, a id Software destacou que este seria o maior título da franquia. Tanto que os elementos de multiplayer foram completamente removidos para que o foco fosse totalmente na campanha.
E isso é verdade. São ao todo 22 missões, cada uma com aproximadamente uma hora de duração.
Durante a exploração, além dos inimigos encontrados, há conteúdo secundário que varia entre o pouco relevante, como colecionáveis do tipo brinquedos e códices, até elementos fundamentais para a progressão do personagem, como dinheiro e joias, necessários para os upgrades das armas e do escudo.


São 12 armas de fogo e 3 armas corpo a corpo. Cada uma possui sua própria árvore de melhorias, ficando mais poderosa ao longo da campanha.

O escudo também pode ser aprimorado, e posteriormente recebe runas que alteram seu funcionamento. Por exemplo, é possível apenas refletir o golpe do inimigo, ou escolher uma runa que, ao defender, faz surgir uma metralhadora no ombro do Slayer, que atira automaticamente nos oponentes.
Portanto, para ficar mais forte e não sofrer com a dificuldade — que sim, começa a se intensificar bastante a partir do nível “Ultraviolento” — é fundamental explorar o mapa em busca dos itens de aprimoramento.

No entanto, como o jogo é longo para os padrões do gênero, ele começa a se tornar cansativo com o passar das horas. A cada novo mapa, em vez de uma estrutura mais linear, o Slayer é lançado em vastas áreas abertas repletas de inimigos e colecionáveis que exigem exploração quase obrigatória.
No começo, tudo era divertido. Mas, próximo às missões finais, eu só queria concluir a história e enfrentar os chefes finais, mas era necessário explorar novamente os enormes mapas para avançar com tranquilidade.
Pelo menos, os puzzles não são maçantes. Mesmo os mais complexos são bastante intuitivos.
Para melhorar a saúde do personagem e a quantidade de munição de cada arma, é necessário enfrentar inimigos especiais chamados de líderes. Nessas batalhas, o jogador precisa primeiro eliminar diversos demônios ao redor para, então, derrotar um inimigo do tipo elite.

Esses confrontos são fenomenais, com ação desenfreada por vários minutos, e combinam perfeitamente com a proposta de progressão de poder do Slayer.
Outro detalhe que vale ser citado são os desafios de combate opcionais espalhados pelo mapa. Muitas vezes, eles colocam o jogador em desvantagem contra uma horda de inimigos, mas oferecem boas recompensas ao final.
Desempenho, gráficos e som: os altos e baixos
Historicamente, Doom sempre foi um exemplo de otimização, a ponto de originar diversos memes dizendo que, se um dispositivo tem uma tela, é possível rodar Doom nele.
Na reimaginação da franquia para os tempos atuais, essa tradição se manteve. Tanto Doom (2016) quanto Doom Eternal são extremamente bem otimizados, mesclando realismo com um estilo visual mais cartunesco.

Porém, há de se questionar o motivo pelo qual durante a gameplay os gráficos são um verdadeiro espetáculo, mas nas cutscenes os personagens parecem mal modelados e pouco trabalhados.
Os NPCs quase não possuem expressões faciais, o que compromete a imersão em momentos mais dramáticos ou importantes da narrativa.
Isso é especialmente estranho considerando que o jogo utiliza a mesma engine chamada idTech 8, que também foi usada em Indiana Jones e o Grande Círculo e apresentou resultados visivelmente superiores nesse aspecto.

Doom: The Dark Ages não oferece diferentes modos gráficos ao jogador. O game roda com ray tracing ativado por padrão, a 60 quadros por segundo. Isso pode ser questionável, já que a tecnologia de iluminação e reflexos é bastante exigente, e tive a sensação de que a resolução não está no seu auge no PlayStation 5 base.

A performance é estável em 99% do tempo, com algumas quedas pontuais na taxa de quadros quando há muitos inimigos na tela simultaneamente.
No entanto, não percebi grandes avanços gráficos em comparação ao Doom Eternal. Na verdade, notei até uma certa regressão.
Fiz um teste lado a lado com o título anterior, lançado em 2020, e ele aparenta ser mais bonito em vários momentos, com resolução mais alta e opções como 4K a 60 FPS com ray tracing ou 120 FPS sem ele.
Por outro lado, as telas de carregamento presentes em Eternal praticamente não existem em The Dark Ages. O carregamento de missões e recarregamento após falhas acontece de forma quase instantânea.
Na parte sonora, havia certo receio devido à saída de Mick Gordon, o aclamado compositor responsável pelas trilhas de Doom (2016) e Eternal, e vencedor do prêmio de melhor trilha sonora no The Game Awards.
De fato, a trilha de Doom: The Dark Ages está um pouco abaixo das anteriores, mas está longe de ser ruim. A combinação entre metal pesado durante os combates e momentos mais calmos durante a exploração contribui bastante para a ambientação.
Falando em ambientação, o jogo se passa em uma era medieval reinterpretada, com florestas, castelos e vilarejos. No início, tudo parecia genérico, já que a maior parte das fases era escura, com construções destruídas e em chamas.

Contudo, ao longo da campanha, a variedade de cenários cresce consideravelmente, atingindo até um nível “lovecraftiano”. Isso, somado à trilha sonora e ao combate, que constantemente apresenta novas armas e inimigos, contribui de forma significativa para a imersão.
Review de DOOM: The Dark Ages – Vale a Pena?
Essa é uma resposta muito simples. Se você gosta de jogos de tiro e com muita ação, DOOM The Dark Ages é um prato cheio.
O jogo é extremamente divertido, com uma grande variedade de armas e inimigos. A adição do escudo oferece novas possibilidades de abordagem, incentivando o jogador a experimentar diferentes estilos de combate.
Tecnicamente, o jogo apresenta bom desempenho, apesar de algumas ressalvas, e conta com uma campanha longa. Isso pode agradar quem busca uma experiência mais duradoura, mas também pode cansar parte do público ao longo do tempo.
Sem dúvida, foi um ótimo encerramento de trilogia. Caso a franquia continue, já fico na expectativa de ver de que forma a id Software vai apresentar uma nova abordagem.

DOOM: The Dark Ages traz uma nova abordagem para a franquia, preenchendo lacunas da história e introduzindo mecânicas inéditas, como o parry, em uma temática medieval bastante visceral.
Apesar de apresentar alguns problemas técnicos sem muita justificativa, a experiência como um todo é magnífica.
Pontos Positivos
- Gameplay intenso
- Variedade de armas e inimigos
- Ótima ambientação com cenários medievais e elementos lovecraftianos
- Carregamentos rápidos e desempenho geral sólido
- Mecânicas inéditas como o uso do escudo e o sistema de parry
Pontos Negativos
- Modelagem dos personagens nas cutscenes deixa a desejar
- Ausência de sincronização labial prejudica a imersão
- Mapas excessivamente grandes tornam a progressão cansativa em certos momentos
- História
- Gameplay
- Parte Técnica
- Conteúdo Secundário