Hoje em dia posso dizer que sou consolista, pois 90% do tempo que passo jogando é no PS5 e/ou no Xbox Series S. Entretanto, meu primeiro contato com games foi pelo PC, na virada dos anos 90 para 2000. FIFA International Soccer, Prince of Persia, Formula One Grand Prix e Wolfenstein 3D são alguns títulos que marcaram minha infância, sendo fundamentais para acender uma paixão por jogos eletrônicos que ainda se mantêm viva depois de adulto.
Nesse contexto, a oportunidade de jogar e fazer uma review de Kvark foi como se eu tivesse voltado 25 anos no tempo. O jogo se inspira em Half-Life e traz vários elementos característicos dos FPS clássicos em sua gameplay.
Desenvolvido pelo estúdio tcheco Latest Past e publicado pelo também tcheco Perun Criative, Kvark foi lançado inicialmente em acesso antecipado, na Steam, em junho de 2023 e disponibilizado em versão completa para PC no ano passado. Agora, chegou também ao PS5, PS4, Xbox Series X|S, Xbox One e Switch em 15 de maio de 2025.
Confira, a seguir, uma review do FPS retrô Kvark. A versão utilizada para análise foi a de Xbox Series X|S, em um console Xbox Series S.
História
O game se passa nos anos 80, em uma versão fictícia da República Tcheca, que na época ainda se chamava Tchecoslováquia. O protagonista é um trabalhador da empresa Kvark e está preso em uma instalação subterrânea. Kvark é uma empresa focada em pesquisa e desenvolvimento de tecnologias nucleares que, por causa da Guerra Fria, levou suas estruturas para o subsolo.
Quando o protagonista, que não tem nome, sai da prisão começa a ser atacado por diferentes tipos de inimigos. Seres humanos vestindo roupas de proteção, robôs, ratos mutantes e o mais curioso: um mutante semelhante a um zumbi, que atira uma gosma verde letal.
Após fugir do complexo prisional, passaremos por diferentes setores de Kvark: esgotos, ferrovias, minas, cavernas, escritórios e laboratórios. Enquanto o protagonista desloca-se por cada um desses locais, será atacado e terá que derrotar os inimigos citados anteriormente.
Durante o enredo, é revelado que a empresa Kvark está fazendo um experimento científico no qual seres humanos sofrem mutação e são transformados em supersoldados. Nosso objetivo será colocar um fim nessa ideia maluca.

Construção narrativa
Esqueça aquela estrutura narrativa já consagrada dos jogos modernos, com vários personagens e dividido entre gameplay e cutscenes para contar uma história. Em Kvark, voltamos aos primórdios dos jogos de tiro em primeira pessoa, como Doom, Wolfenstein 3D e Quake.
A gameplay ocorre sem interrupções, com pausas breves quando completamos uma fase. As cutscenes que existem, se é que assim podemos chamar, são vídeos institucionais sobre a empresa Kvark. Esses vídeos aparecem antes do início de cada uma das três partes principais do jogo e são importantes para contar a história. Não temos personagens secundários. Apenas os inimigos. O protagonista é mudo e não interage com nenhum NPC. Apenas mata quem estiver pelo caminho.

Para entender os detalhes da história, é preciso explorar o ambiente e encontrar cartazes, textos e gravações espalhados pelo cenário. Ou seja, os desenvolvedores querem que o jogador descubra o que está acontecendo jogando, ao invés dos próprio game revelar o enredo por meio de NPCs e cutscenes. Aí entra um problema para nós brasileiros: o jogo não tem legendas em português, o que dificulta o processo.
Kvark tem Half-Life como inspiração. Não joguei o game, mas, pesquisando, verifiquei que a construção narrativa é semelhante, pois Half-Life utiliza os cenários e a exploração do jogador para contar a história.

Jogabilidade
Como já dito mais de uma vez nesta review, Kvark é uma volta ao passado. Então, esqueça mapa, indicadores de objetivo e indicações da direção certa para seguir. Nesse game, você terá que fazer tudo sozinho, “na raça”, e achar o caminho correto. A sorte é que os cenários não são complexos e têm poucas diferenças entre si. Então, se localizar acaba não sendo uma tarefa difícil.
Não existem missões primárias e secundárias. Nosso objetivo ao longo de toda a jornada é eliminar os inimigos e encontrar o caminho correto dentro das instalações subterrâneas. Sem deixar, claro, de procurar munição e itens de cura.
Como em todo FPS, temos a disposição um vasto cenário de armas. Chave inglesa para lutas corpo a corpo, granada, pistola, espingarda e fuzil são alguns exemplos. E encontramos diferentes tipos de munições ao explorar o ambiente. Também achamos kits médicos para recuperar a vida e objetos de proteção que servem como escudo, aumentando a resistência aos ataques inimigos. Não deixe de abrir lixeiras. O game ainda tem locais secretos, que contêm mais recursos. Para mim, jogar Kvark foi como voltar a ser criança e jogar Wolfenstein 3D novamente.

Achei Kvark um jogo com alto grau de desafio. Mesmo no nível fácil. Os tiros inimigos são precisos e causam grande quantidade de dano. Não há sistema de cobertura ou esquiva para se defender. Além disso, os rivais partem para cima do protagonista sem hesitar, quase sempre em grupo e atacando de formas diferentes. A agressividade dos oponentes exige agilidade do jogador nos movimento do personagem e no manuseio da arma para conseguir progredir na gameplay.
Em alguns combates, morri e voltei à luta repetidas vezes até conseguir avançar. A dica é prestar atenção nos movimentos pré-programados da inteligência artificial e encontrar a melhor estratégia para derrotar um oponente específico. No meu caso, por exemplo, optei por esmagar ratos com a chave inglesa, guardando balas para matar humanos e mutantes. Apesar de numerosas, as armas possuem munição limitada.

Existe um outro fator que torna Kvark ainda mais difícil: a forma que os desenvolvedores escolheram para salvar o progresso do game. Conforme avançamos pelos esgotos, ferrovias, minas e outras instalações da empresa, encontramos pontos de salvamento automático. Esses pontos, entretanto, demoram para aparecer novamente na tela. Além disso, não é possível voltar ao ponto anterior e salvar novamente o jogo antes de encontrar outro ponto de salvamento.
Com a distância grande entre um e outro ponto de salvamento, muitas vezes o jogador morre em uma parte mais complicada do game e precisa andar novamente por locais já explorados ate retornar onde morreu, como aconteceu comigo. Ficar repetindo o que já foi concluído atrasa o progresso e pode causar frustração. Na minha opinião, o sistema de salvamento deveria ser aprimorado com alguma atualização.

Para fechar a jogabilidade, temos os puzzles. Você terá que fazer ações como encontrar botões para abrir portas e alterar o cruzamento de trilhos. Mesmo não tendo mapa para auxiliar, os cenários simples e repetitivos acabam facilitando a tarefa de resolver os puzzles e progredir no game.
Olhei alguns vídeos de Half-Life no YouTube para ver semelhanças com a gameplay de Kvark. Percebe-se que os cenários subterrâneos de Kvark possuem estruturas que lembram o complexo subterrâneo de pesquisa Black Mesa, onde ocorre a história de Half-Life. No clássico da Valve, o protagonista enfrenta inimigos alienígenas em meio a um experimento científico antiético e durante a gameplay também encontramos puzzles para resolver.

Gráficos, sons e ausência de legendas
O jogo foi desenvolvido em um motor gráfico de última geração, a Unreal Engine 5, que foi trabalhada graficamente para parecer um jogo da década de 1990. Utiliza estruturas com baixa contagem de polígonos e texturas pixeladas para construir os diferentes ambientes da empresa Kvark, o que remete aos primeiros jogos 3D, como Doom e Wolfenstein 3D.
Achei muito engraçadas as animações de mortes de alguns inimigos, que perdem a cabeça antes de caírem mortos. Após matar os ratos, aparecerão restos mortais com sangue. Uma boa ideia de efeito sonoro executada, na minha opinião, foi a introdução de um barulho diferente para identificar cada oponente. Os vídeos institucionais e outros áudios apresentados durante o game estão no idioma tcheco, o que cria mais familiaridade com o lugar e aumenta a imersão.

Onde Kvark falha, para mim, é na ausência de legendas. A gameplay básica de um jogo de tiro não senti prejudicada, pois palavras em inglês como “health”, “ammo” e “saving” são familiares ao vocabulário dos jogadores de videogame.
O problema é entender a história, contada através dos vídeos institucionais e dos textos e gravações espalhados pelo cenário. Como meu inglês é de nível básico, precisei recorrer à ferramentas de tradução para ajudar a entender o universo de Kvark.
Além da ausência de legendas em português, senti falta de legendas em espanhol. Um idioma mais próximo do nosso facilitaria muito a imersão. Já recorri várias vezes ao espanhol em jogos com ausência de tradução em português. Dessa forma, penso que faltou aos desenvolvedores olhar com carinho para o público latino, que tem dificuldades em compreender inglês ou os outros idiomas presentes no game.

Jogando a versão de Xbox Series X|S, em meu console Xbox Series S, para fazer esta review, encontrei vários bugs, nos quais o game fechava sozinho. Tinha que reabrir e reiniciar Kvark do último ponto de salvamento.
Review de Kvark: espere promoção ou serviços de assinatura
Kvark é ideal para gamers da velha guarda, que atualmente têm mais de 30 anos e se divertiam com jogos de tiro no PC ou videogames nas décadas de 90 e 2000. Ou então para jovens entusiastas de games retrô.
Se você é fã de Wolfenstein 3D, Doom, Quake, Half-Life ou outros títulos semelhantes em que o objetivo simples é pegar uma arma e eliminar inimigos sem muita enrolação, Kvark é uma boa pedida. Mas, se você gosta de games complexos, ricos em narrativa e com variadas missões e objetivos, esse não é o jogo indicado.
Dentro de sua proposta, Kvark é competente em muitos pontos. Apesar da história construída de forma simples, levanta curiosidade desde o início para entender o porquê estamos presos em uma instalação subterrânea e sendo constantemente atacados. Possui ambientação e iluminação bem feitas.
Os inimigos são agressivos e exigem estratégia para derrotá-los. O arsenal de armas é coerente com o gênero FPS e encontramos bastante munição e vida espalhados pelo cenário. Apesar da falta de indicadores e mapas, é fácil se localizar e os puzzles também não são desafiadores.
Entretanto, o jogo tem alguns detalhes que merecem atenção. Começando pela dificuldade elevada. Mas o principal problema da gameplay são os pontos de salvamento terem uma distância razoável entre si, conforme explicado anteriormente. Provavelmente, Kvark te exigirá algumas horas morrendo e repetindo partes do jogo até conseguir matar todos os inimigos. Então, você terá que estar disposto a encarar esse desafio.
Outro ponto relevante é a falta de legendas. Com ausência do português e também do espanhol, fica mais difícil compreender a história para quem não entende inglês. E também os bugs, em que o jogo fechava sozinho no meio da gameplay. Vale ressaltar que encontrei bugs jogando a versão para Xbox Series X|S. Não testei nos outros consoles e no PC.
Após jogar e analisar, penso que Kvark vale a pena, mas não pelo preço cheio. Creio que a melhor ideia é testá-lo e verificar se os jogadores irão gostar de um FPS retrô com alto grau de dificuldade e sem legendas em português.
Minha sugestão para você que está lendo esse texto e se interessou pelo game é esperar um bom desconto para adquiri-lo. Outra ótima alternativa são os serviços de assinatura. Se seguir a tendência de jogos indie similares, em breve Kvark será adicionado ao PS Plus, Game Pass e outros.
Kvark tem qualidades e pode garantir algumas horas de diversão se você é fã dos jogos de tiro clássicos. Entretanto, tem alguns problemas que podem frustrar os jogadores. É um game para observar seus prós e contras antes de comprar.
Pontos Positivos
- História simples, mas interessante;
- Ambientação bem feita;
- Vasto arsenal de armas e munição;
- Inimigos desafiadores;
- Puzzles acessíveis.
Pontos Negativos
- Alto grau de dificuldade para o nível fácil;
- Pontos de salvamento distantes;
- Falta de legendas em português e espanhol.
- História
- Jogabilidade
- Gráficos
- Sons
- Desempenho