Como eu mencionei no meu review da versão de Nintendo Switch 2 de Yakuza 0, iniciar uma série tão longa e com tantos títulos como a série Yakuza é um desafio, principalmente quando consideramos uma série que envolve uma narrativa contínua, que avança de jogo a jogo de forma linear e sequencial.
Para aqueles que, assim como eu, estão entrando nesse trem agora, por meio do Nintendo Switch 2, a SEGA está fazendo um ótimo trabalho ao disponibilizar os títulos na ordem da história. Isso significa que, após a chegada de Yakuza 0 na data de lançamento do Switch 2, eis que os remakes Yakuza Kiwami e Yakuza Kiwami 2 chegam ao console em novembro de 2025, e já podemos esperar também o lançamento de Yakuza Kiwami 3 & Dark Ties em fevereiro de 2026 — para os velhos e novos fãs da série, não faltam oportunidades de experimentar os primeiros títulos da franquia no console híbrido da Nintendo.

Todavia, jogar a franquia Yakuza na ordem narrativa (e não na ordem de lançamento) gera alguns efeitos curiosos, já que certos aspectos de gameplay e estrutura narrativa variam muito de jogo para jogo. Em particular, por mais que Yakuza Kiwami seja um remake do primeiro jogo, que melhora inúmeros aspectos da experiência original, ele ainda traz algumas curiosas limitações, que fazem ele ser um pouco menos proveitoso do que Yakuza 0, por exemplo. Mas antes de falar desses detalhes especificamente, bora falar sobre o melhor que Yakuza Kiwami tem a oferecer?

Um início ambicioso
Lançado inicialmente em 2016, Yakuza Kiwami era um remake do Yakuza original, que por sua vez tinha sido lançado inicialmente lá em 2005. Essa nova versão que recebemos no Nintendo Switch 2 basicamente traz todo o conteúdo do remake original, junto com inúmeras melhorias técnicas e visuais, que colocam o jogo mais à par a outros títulos mais modernos da franquia.
Acho essa contextualização bastante importante, pois nos mostra como o Yakuza original era um jogo absurdamente ambicioso para a época em que foi lançado. Certamente, estabelecendo muitos dos aspectos mais icônicos da franquia, Yakuza Kiwami é um jogo que escolhe muito bem suas batalhas, sendo “econômico” em determinados pontos. De um lado, por exemplo, temos um “mundo aberto” um tanto quanto limitado, que não passa muito além do icônico bairro de Kamurocho. Todavia, as forças do jogo não estão necessariamente nesse ponto, mas sim em um foco grande em uma narrativa muito envolvente.

É nesse ponto que Yakuza Kiwami continua se sobressaindo enormemente. Embora menos complexa do que a narrativa de Yakuza 0, Yakuza Kiwami conta uma trama extremamente interessante envolvendo o estóico protagonista Kazuma Kiryu, que precisa reconstruir sua vida após um enorme acontecimento que promete mudar para sempre toda a estrutura da máfia japonesa. Sem entrar em muitos detalhes para não estragar as surpresas de quem está jogando pela primeira vez, um assassinato impactante, traições inesperadas e um salto de tempo formam a base de uma narrativa que promete muito, mas que consegue entregar um final absurdamente satisfatório em seu desfecho épico.
Aqueles que começarem a sua jornada em Yakuza Kiwami certamente terão facilidade maior de entender as relações e subtramas envolvendo as diversas famílias da Yakuza, gangues independentes e outras figuras importantes dentro da narrativa do jogo. Nesse sentido, o jogo faz um bom trabalho ao introduzir paulatinamente as diferentes peças do intricado palco do crime de Kamurocho. Jogá-lo após o 0, contudo, permite ter uma outra apreciação, considerando os conhecimentos a respeito do passado de diversos personagens da trama.

Heranças do passado
Se de um lado a narrativa de Yakuza Kiwami é um dos seus pontos mais fortes, de outro, temos o seu mundo aberto e sistema de combate que são aspectos um pouco mais “básicos” do jogo. Sobre o combate, primeiramente, temos um sistema muito inspirado por jogos de beat ‘em ups, onde Kiryu pode desferir combos combinando golpes fracos, golpes fortes, agarrões, golpes especiais, além de armas e objetivos que você pode pegar no cenário para te ajudar.
De início, esse é um sistema bastante limitado e simplório, que não oferece muitas opções aos jogadores — é preciso avançar no jogo, coletar experiência e desbloquear novos golpes e possibilidades em uma extensa árvore de habilidades, para aí sim o combate se tornar um pouco menos repetitivo. Embora não seja incrível, esse sistema de combate não chega a ser ruim necessariamente, porém esse é um aspecto que se torna um pouco problemático em momentos pontuais devido a uma herança indesejável do passado antigo da franquia: a falta de balanceamento.

Embora seja um remake, Yakuza Kiwami traz alguns elementos “antiquados” quando consideramos o ritmo de jogo e, principalmente, o balanceamento e cadenciamento dos combates. É muito comum você passar quase uma hora inteira avançando na narrativa, assistindo cutscenes e não fazendo nada além de andar de um lado para outro na cidade (como curiosidade, o meu Switch 2 chegou a entrar em “modo de economia de energia” em alguns momentos enquanto jogava Yakuza Kiwami, pois fazia tempo demais que eu apertava qualquer botão). Parece então que o jogo repara o que está acontecendo, e decide então te jogar em uma longa arena de lutas, com sequências infindáveis e com alguns picos de dificuldade esquisitos.
O design de determinados inimigos influencia negativamente nesse aspecto, já que aconteceu mais de uma vez de o jogo apresentar chefes com comportamentos que pareciam “quebrados”. Para citar um exemplo, um dos piores do jogo para mim foi um inimigo que portava duas armas de fogo e tinha o comportamento de ficar girando ao meu redor, se esquivando de quase todos os meus ataques, e atirando à distância, me deixando atordoado. Ao invés de um desafio interessante, foi um chefe apenas chato, e esse tipo de coisa se repetiu em alguns momentos.

Os altos e baixos de Kamurocho
Apesar desses pesares, esses picos de dificuldade são bastante pontuais e, de modo geral, os momentos de combate de Yakuza Kiwami servem muito bem para quebrar a narrativa tensa do jogo. Por falar nisso, tal qual outros jogos da série, Yakuza Kiwami também apresenta uma série de sidequests e atividades secundárias espalhadas por toda Kamurocho, que podem ser exploradas para expandir equipamentos e habilidades de Kiryu, ou ainda mostrar um outro lado da cidade.
Curiosamente, tive a impressão de uma diferença de tom bastante grande entre o conteúdo secundário de Kiwami quando comparado com o 0. De modo geral, Kiwami é um jogo muito mais sério, e não tem a mesma quantidade de sidequests de comédia ou nonsense como seu predecessor — esses momentos estão, em sua maioria, relegados a figura do excêntrico e carismático rival de Kiryu, Goro Majima.

Com uma personalidade muito diferente do que foi visto em Yakuza 0 (temos que lembrar que, embora uma prequel, Yakuza 0 foi lançado muito depois na franquia), Goro Majima aparece frequentemente na cidade de Kamurocho, surpreendendo Kiryu (e o jogador) com combates aleatórios que servem para desbloquear uma árvore de habilidades exclusivas. Esses são, de modo geral, momentos muito engraçados e que ajudam a quebrar o gelo da campanha séria e sisuda.
Kiwami significa “extremo”
Em termos visuais, Yakuza Kiwami mantém um nível técnico e gráfico similar ao que foi apresentado na versão de Nintendo Switch 2 de Yakuza 0. Isso significa que o jogo utiliza bem uma direção de arte inteligente para fazer o melhor uso de um budget claramente limitado. Existem, sim, aspectos que são menos polidos ou visualmente impactantes que outros — NPCs secundários, por exemplo, podem apresentar muitas vezes uma modelagem mais simples, destoando enormemente dos protagonistas da trama.

Todavia, fica claro que o time de Yakuza Kiwami faz esse tipo de escolhas para poder focar nos aspectos que são mais interessantes para a trama e a experiência como um todo. As cutscenes principais, por exemplo, são muito bem animadas, com diálogos impactantes, e modelos de personagens expressivos. O bairro de Kamurocho, por sua vez, embora pequeno para os padrões de jogos de mundo aberto AAA, é apresentado de uma maneira única, que a faz parecer viva.
Com pessoas andando pelas ruas e comentando acontecimentos públicos, luzes neon cortando a calada da noite, e um sistema de tempo dinâmico, que fica absurdamente lindo quando o asfalto da cidade está todo molhado, refletindo as lojas e prédios da cidade, Yakuza Kiwami pode não necessariamente atingir um patamar gráfico absurdo, mas faz um trabalho muito bom com os recursos que tem.
Por falar em recursos, Yakuza Kiwami é o primeiro jogo da série a receber uma tradução em português do Brasil, o que é uma notícia excelente para todos aqueles que desejam explorar a franquia (Yakuza 0 também receberá traduções por patch). De modo geral, a tradução para o português é boa, já que sotaques, gírias e trejeitos são adaptados de maneira satisfatória para a nossa língua. Durante minhas 20 horas de jogatina, eu encontrei uma ou outra frase esquisita, traduzida muito ao pé da letra, e alguns erros de concordância (uma mulher era referenciada como “meu amigo”, por exemplo), mas são problemas pontuais, que não estragam a experiência de quem optar pela nossa língua.

Review de Yakuza Kiwami — um remake à altura da série
Seguindo preceitos de algumas das melhores histórias de máfias vistos nos jogos ou nos cinemas, Yakuza Kiwami combina temas de lealdade, traição e honra de maneira a entregar uma narrativa impactante e com um final absurdamente satisfatório. Devido a sua estrutura e elementos de seu sistema de combate, existem algumas barrigas indesejadas no meio da experiência, mas eu afirmo com, categoria que vale sim muito a pena vivenciar a continuação (ou o primeiro ponto, dependendo de sua abordagem) da história de Kazuma Kiryu e dos principais personagens da Kamurocho fictícia.
Com uma direção gráfica que entrega muito, mesmo com algumas claras limitações, Yakuza Kiwami consigo algumas arestas advindas de elementos antiquados do primeiro título da série, mas essa versão se torna uma das mais interessantes portas de entrada, devido à nova inclusão de uma localização na nossa língua. Yakuza Kiwami é um daqueles jogos com altos tão altos, que nem mesmo alguns pequenos pontos baixos não tiram o brilho da experiência como um todo.
PS: A análise foi feita em um Nintendo Switch 2 através de uma cópia cedida pela SEGA.
Continuando a sequência de lançamentos no Nintendo Switch 2, Yakuza Kiwami chega à plataforma com uma experiência que combina gráficos refinados com alguns elementos um tanto quanto antiquados. Mesmo assim, alguns picos de dificuldade e barrigas não tiram em nada o brilho de uma narrativa impactante, que te mantém interessado do início ao fim, e entrega um final épico e emocionante.
Pontos positivos
- Narrativa épica e impactante
- Personagens cativantes
- Boa localização
Pontos negativos
- Picos de dificuldade
- Problemas de ritmo
- Narrativa
- Jogabilidade
- Conteúdo
- Visuais
- Trilha Sonora
- Desempenho
