Rise of the Ronin/A Ascensão do Ronin, novo jogo da Team Ninja, é inspirado no período Bakumatsu. Uma das “eras” masi importantes da história do Japão. O jogo foge da estrutura padrão adotada pelo estúdio, abraçando o mundo aberto para contar sua história. Com a finalidade de preparar terreno para o jogo, vamos explicar os eventos que aconteceram nesse período de forma breve!
O velho contra o novo
Um dos principais momentos históricos que antecedem a queda do regime vigente aconteceu em 1825. O governo emitiu uma lei chamada de Ikokusen Uchiharairei. A ordem determinava que todos os estrangeiros fossem expulsos do Japão. A lei ficou vigente até 1842.
Para se fortalecer contra as forças ocidentais, que avançavam tecnologicamente de maneira rápida graças ao fomento industrial, o Japão passou a contar com o auxílio dos holandeses para atualizar o armamento de suas tropas. O estudo da medicina e tecnologia ocidental era chamado de Rangaku. Foi diante desse contexto que os exércitos japoneses começaram a usar morteiros, armas de fogo e baionetas.
Em Rise of the Ronin, o gameplay é fortemente pautado no uso mesclado de armas orientais e ocidentais, reforçando o quanto o estúdio se empenhou para estudar o período em questão.
Esse momento é interessante pois na ocasião, as elites do país começaram a discutir entre si. Uma parte defendia que eles deveriam se manter fiéis aos métodos tradicionais, ou seja, não fazer uso das armas de fogo. Já uma outra parte afirmava que a única maneira de se proteger contra os estrangeiros era usando as mesmas técnicas e ferramentas.
Como o país ainda era extremamente tradicional, o primeiro grupo venceu e os estudiosos do Ocidente foram perseguidos. Uma parcela foi forçada a ficar presa, outros foram forçados a cometer suícidio e os principais nomes da “corrente” foram assassinados. O episódio ficou conhecido como Bansha no Goku.
Um tubarão na porta
O plano dos japoneses tradicionalistas talvez até tivesse dado certo se não fosse um homem. O temido Comodoro Matthew C. Perry. Pertencente à uma família naval de muito prestígio, Matthew entrou na marinha aos 15 anos de idade, participando de expedições ao lado de seu irmão. Após ter sucesso em diversas campanhas, principalmente na Guerra do México, Perry recebeu uma missão diretamente do presidente americano Millard Fillmore. Seu objetivo? Forçar os japoneses à abrirem os postos comerciais.
Astuto e munido de conhecimento dos livros, Perry chegou no Japão fazendo ameaças. Ele estendeu uma bandeira branca e enviou uma carta ao governo vigente, alegando que se eles não abrissem os portos, ele iria destruir tudo. Para dar a impressão de que ele não estava blefando, Perry disparou uma enorme saraivada de canhões em algumas construções do porto.
Nesse meio tempo, Perry lançou diversas missões de reconhecimento nas praias japonesas. Surpreendentemente, em um dos trailers de Rise of the Ronin, podemos ver um general da Marinha que lembra bastante Matthew, o que indica que o jogo tentará manter um pé na história real do período.
Foi diante desse contexto que o nome de Abe Masahiro ganhou força. Presidente do Conselho dos Veteranos no regime Tokugawa, Abe via a aproximação do Ocidente como algo inevitável e aproveitou o momento para fortalecer o Japão e sua economia. A medida que ele adotava práticas de abertura do país, ele fortalecia o exército japonês com receio dos americanos tentarem alguma artimanha. Um dos principais desafios de Abe foi atender as demandas de três grupos diferentes:
- O imperador queria expulsar os estrangeiros
- Os veteranos do regime Tokugawa queriam negociar com os americanos
- Os daimiôs queriam ir para a guerra e assegurar o poder
Perry se retirou por 6 meses e foi até Hong Kong com a finalidade de preparar um avanço maior para assustar os japoneses. Matthew retornou com 10 navios completamente armados e 1600 homens. Após um pouco de relutância, os japoneses cederam e o Tratado de Kanagawa foi assinado em Março de 1854. Apesar de não abrir os postos comerciais, o tratado passou a permitir que americanos ancorassem no porto, além de permitir que um cônsul dos Estados Unidos estabelecesse uma moradia em Shimoda.
Em 1855, o Japão estava em ponto de ebulição. Insatisfeitos com a aproximação com os americanos, a elite do país substituiu Abe Masahiro por Hotta Masayoshi. Nesse mesmo ano, um terremoto e uma tsunami atingiram Shimoda, a região em que os americanos iriam colocar um consulado. Muitos japoneses entenderam o ocorrido como um sinal divino de reprovação à aproximação.
Um novo tratado e o colapso da economia
Os Estados Unidos apontou Townsend Harris como cônsul do Japão e ele segue sendo até hoje um dos americanos mais respeitados em toda a história nipônica. Harris ajudou a costurar o Tratado de Amizade e Comércio que trouxe uma série de regalias para os americanos:
- Troca de agentes diplomáticos
- Abertura comercial de Edo, Kobe, Nagasaki, Niigata e Yokohama para os estrangeiros
- Cidadãos americanos passaram a ter permissão para morar e ter comércio nesses portos (o ópio continuava proibido)
- Um sistema jurídico que permitia que os estrangeiros fossem submetidos às próprias leis e não as leis japonesas
- Acordo comercial para vender navios e armas americanas aos japoneses
O problema pro Japão é que isso só serviu como porta de entrada para outros tratados com o Reino Unido, França, Rússia e Holanda. Com o comércio exterior completamente descontrolado, a economia do país entrou em colapso total, incluindo o sistema monetário do país.
Na época, o país usava uma taxa de troca entre ouro e prata de 1:5, contudo, os estrangeiros usavam um sistema de 1:15. Estupetafos com a situação, os estrangeiros começaram a comprar vastas quantias de ouro, lucrando cerca de 200% no processo. Todo o processo acabou forçando o governo à reduzir o valor de sua moeda, gerando uma crise sem precedentes.
Os níveis de desemprego, inflação e fome atingiram o teto, gerando uma enorme insatisfação popular. Além de ter que lidar com isso tudo, os estrangeiros levaram uma série de doenças que até então nunca haviam “tocado” o Japão. A cólera por exemplo causou a morte de milhares de japoneses.
Com a economia afundando e o povo doente e faminto, o governo estava aos fragalhos por uma disputa de poder. O shogun morreu sem deixar herdeiros diretos, fazendo com que os nobres de maior influência, liderados por Ii Naosuke, arquitetassem um plano para colocar o adolescente Tokugawa Iemochi no poder.
Os outros nobres não gostaram do novo shogun e tentaram denunciar Ii Naosuke para o imperador. O episódio resultou na Purga Ansei, onde o bakufu passou a caçar e eliminar personalidades contrárias às negociações com os estrangeiros. Foi nesse período que Yoshida Shoi, um grande opositor do Xogunato, foi assassinado. Yoshida é considerado um dos maiores intelectuais da história do Japão e ele serve como uma espécie de mentor para o protagonista de Rise of the Ronin.
Entre os anos de 1859 e 1861, diversos estrangeiros começaram a ser assassinados, incluindo oficiais enviados pelos governos. Isso culminou em uma crise política gigantesca entre o Japão e as potências do Ocidente.
Quebra de tradição
A situação turbulenta do Japão deu força para a filosofia sonno joi que remetia à expulsão dos bárbaros. Isso fez com que o Imperador Komei quebrasse séculos de tradição, passando a intervir diretamente em assuntos do estado e no xogunato.
É diante desse contexto que diversos ronins começaram a se unir para derrubar o Xogunato, visando garantir a soberania e a liberdade do Japão.
A conclusão dessa história deixo pra você descobrir a partir do dia 22 de Março, dia em que Rise of the Ronin vai chegar exclusivamente no PS5.
Personagens históricos já confirmados no jogo:
- Sakamoto Ryoma: Considerado o pai da Marinha Imperial Japonesa. Criou uma força naval poderosa para combater o Xogunato.
- Takasugi Shinsaku: Apaixonado por batalhas, foi o segundo em comando do clã Choshu.
- Kusaka Genzui: Um dos principais defensores do movimento Sonno Joi.
- Katsura Kogorō: Ele veio a se tornar uma figura importantíssima do Regime Meiji, ajudando a organizar os alicerces do novo governo.
- Saigo Takamori: Opositor ferrenho do Xogunato, Saigo é considerado como o último samurai “verdadeiro” do Japão.
- Okubo Toshimichi: Um dos cinco nobres que lideraram a rebelião contra o Xogunato.
- Katsu Kaishu: Foi o negociador-chefe do Xogunato Tokugawa, garantindo uma transição mais pacífica de poder.