Com os rumores recentes apontando para Horizon Zero Dawn Remastered e Days Gone Remastered, os “fãs” da marca estão furiosos querendo a resposta para duas perguntas: por que a PlayStation faz tantos remasters? E por que eles não fazem os remasters que a comunidade tanto pede?
Curiosamente, as respostas de ambas as perguntas estão interligadas e tudo pode ser resumido em uma única palavra: dinheiro. Mas isso todo mundo já sabe, logo, vamos nos debruçar sobre motivos, necessidades e todas essas questões.
PlayStation e a necessidade de ser mais lucrativa
Não é nenhum segredo que a PlayStation gera uma receita absurda anualmente. Estamos falando na casa dos bilhões de dólares. Mas muitos ainda cometem o erro de principiante de confundir receita bruta com lucro líquido e, infelizmente, o lucro líquido da PlayStation está baíxissimo.
Vamos analisar o período festivo da marca no ano fiscal passado, o chamado Holiday, período que compreende os meses de Outubro até Dezembro. No jargão contábil, estamos falando sobre o Q3 (terceiro trimestre do ano fiscal).
A PlayStation gerou uma receita surpreendente de U$9,76 bilhões. Isso mesmo, quase 10 bilhões em apenas 3 meses. Só que o lucro líquido foi de apenas U$582 milhões. Em porcentagem, estamos falando de uma margem de lucro de apenas 6%.
Para efeito comparativo, a Nintendo, uma das duas principais concorrentes da PlayStation, opera com margens que variam entre 20 a 40%, uma média considerada saudável e dentro do esperado entre os analistas.
Outras publishers, como a EA e Take-Two, operam de maneira similar. Entre as explicações para uma margem de lucro mais baixa da PlayStation, temos uma estrutura de custos elevada, afinal, a companhia inchou bastante seu quadro de funcionários com uma série de aquisições.
E nesse sentido, não pense somente no funcionário em si. As equipes precisam de um escritório para trabalhar, daí já gera outro custo: locação de imóvel. Tivemos variações agressivas de moedas, juros ficando mais alto.. Todos esses fatores causam um grande impacto numa multinacional e por isso a PlayStation tem adotado uma série de medidas para atenuar isso.
Como nesse texto estamos falando especificamente sobre remasters, irei focar nessa ótica. Agora, vamos analisar o custo de produção de alguns de seus títulos recentes:
- God of War Ragnarok: U$200 milhões | Break even em 2,85 milhões de unidades
- Horizon Forbidden West: U$212 milhões | Break even em 3 milhões de unidades
- The Last of Us – Parte 2: U$220 milhões | Break even em 3,1 milhões de unidades
- Marvel’s Spider-Man 2: U$300 milhões | Break even em 4,2 milhões de unidades
PS: Break even significa basicamente “empatar”. Os cálculos acima foram feitos com base no valor padrão de U$70.
Como vocês podem ver acima, os jogos estão ficando cada vez mais caros de serem produzidos, promovidos e o processo de desenvolvimento está cada vez mais longo. Como a PlayStation se especializou em aventuras cinematográficas para UM JOGADOR, é ainda mais díficil explorar outras formas de receita com essas IPs.
Os perigos dos jogos narrativos na perspectiva dos negócios
Como falei acima, é complicado pensar em formas de gerar receita com propriedades intelectuais focadas em um jogador. A empresa fica refém da venda direta, isto é, da comercialização do produto para o consumidor.
Não é o que acontece em jogos como serviço que podem vender passes de temporada, cosméticos, moedas premium e por aí vai. E isso por si só justifica os investimentos da PlayStation nesse setor. A ideia é aumentar a receita recorrente.
Agora some o que falei: PlayStation operando com uma margem de lucro baixa + jogos narrativos cada vez mais caros de serem feitos e o resultado é = remasters. Essas remasterizações, principalmente de jogos recentes como Horizon Zero Dawn, The Last of Us: Parte 2 e Ghost of Tsushima, são bem baratas e rápidas de serem feitas.
Isso permite que a franquia como um todo tenha um boost nas vendas e o ROI (retorno sobre o investimento) é muito maior. Por mais que muitos batam na tecla chamando alguns projetos de desnecessários, não se enganem, a PlayStation investe anualmente milhões e milhões de dólares em R&D (pesquisa e desenvolvimento).
Essa estratégia de remasterizações não surgiu de agora e, se eles continuam fazendo, com certeza os dados internos indicam que a iniciativa gera lucro.
Por que remasters desejados e remakes não são feitos?
A resposta dessa pergunta também se resume a ROI. Os fãs clamam por remakes de God of War e Legend of Dragoon, mas, estamos falando de um jogo de 2005 e outro de 1999. Um remake de ambos os títulos vai demandar um esforço enorme, afinal, o mercado e os gostos do público mudaram muito de lá pra cá, assim como a tecnologia.
Gastar 150-200 milhões em um remake de Legend of Dragoon pode não parecer, mas é um risco enorme. A IP não foi “validada” no mercado recentemente e pode não atrair vendas o suficiente. Lembre-se que a PlayStation opera atualmente numa margem de lucro de 6%.
Qualquer produto que der errado vai colocar a companhia numa situação crítica. O caso de God of War Remake é diferente. É uma franquia validada e que com certeza vai vender bem, mas os desafios são outros.
Esse remake vai precisar de uma equipe de grande porte e um longo tempo de desenvolvimento, coisa que a PlayStation provavelmente não tem no momento. A Santa Monica está ocupada com dois projetos – uma nova IP e o que tudo indica ser a sequência de Ragnarok.
E agora chegamos no momento inevitável desse texto – e Bloodborne Director’s Cut? Esse é um caso bem peculiar que ninguém consegue responder. O gênero souls está em alta, a FromSoftware está em alta, os fãs querem o produto e ele é relativamente recente.. É difícil encontrar explicações para a ausência do projeto até hoje.
Como ele foi um trabalho em conjunto da Sony Japan Studio com a FromSoftware, muitos pensaram que existia algum percalço contratual, contudo, o presidente da FromSoftware já falou que depende apenas da vontade da PlayStation.
A única explicação que resta é que a PS pode estar reservando o retorno da franquia de um jeito mais grandioso, quem sabe uma sequência? Mas não consigo ver sentido nisso. Com uma margem de lucro baixa, não existe um produto mais certeiro de gerar um ROI gigantesco atualmente do que Bloodborne para PS5 e PC.
E a comunicação?
Outro ponto muito criticado pela comunidade é uma comunicação cada vez mais tímida da PlayStation. Isso também é explicado pelo dinheiro.. O custo de promover produtos digitalmente tem aumentado de maneira absurda desde o começo da pandemia. E, por conta disso, as empresas estão reinventando a forma que realizam anúncios.
Pense na Nintendo Direct e no State of Play. São eventos compactos, feitos pela própria marca e com um custo bem menor do que a antiga PlayStation Experience por exemplo ou aquelas apresentações pomposas da E3.
Agora, some altos custos de promover produtos nos espaços digitais com a empresa operando com uma margem de lucro “baixa” e o resultado é = PlayStation Blog.
A empresa tem se apoiado cada vez mais em seu site para fazer anúncios. O custo de publicar um texto lá é irrisório e, graças ao branding fortíssimo da marca, a matéria rapidamente é replicada em todos os sites de games do mundo.
Outro ponto digno de nota é o desafio de sincronizar o processo de comunicação em uma empresa multinacional. Pense que um anúncio importante deve ser solto na mesma hora tanto na PlayStation Brasil quanto na PlayStation Shangai, quanto na PlayStation UK. Só que estamos falando de equipes diferentes e fusos completamente diferentes que precisam respeitar as diretrizes da matriz.
Isso demanda um processo de coordenação intenso. Não é somente apertar um botão e pronto.
O futuro
Eu espero que com essa breve explicação você tenha entendido que no fim, tudo se resume a duas questões: aumentar a margem de lucro/ROI dos produtos.
Quando se é fã de uma marca ou franquia, é inevitável que a pessoa acabe esquecendo que se trata de um produto de uma empresa que existe para gerar lucro. E isso explica todas as ações recentes da marca.
Vários exclusivos chegando no PC e agora até no Nintendo Switch, franquias ganhando séries e filmes em streamings, estratégia de remasterizações cada vez mais agressivas.. Todos esses esforços estão sendo realizados com um único objetivo em comum: aumentar a margem de lucro.
Pode parecer algo “negativo”, contudo, nós consumidores temos mais a ganhar com isso do que de fato perder. A marca pode não estar anunciando a remasterização que você queria, mas, lembre-se, você não perde absolutamente nada com isso. É um produto e ele não é pra todos.
O que você acha da PlayStation e sua estratégia de remasters? Conta pra gente nos comentários!