Não faz muito tempo que eu tive a oportunidade de testar Beyond Galaxyland, um jogo de aventura em pixel art inspirado em filmes clássicos do gênero sci-fi.
Minhas impressões iniciais foram bem positivas, contudo, o preview teve uma duração curta e acabou não dando tempo de ter uma experiência mais robusta sobre o game.
Felizmente, o momento do review chegou. Desenvolvido por uma única pessoa, Sam Enright, em um processo que levou 5 anos, se aconchegue e vem saber se vale a pena mergulhar nesse universo em nosso review de Beyond Galaxyland.
Esperança e Desespero
Em nossa história, acompanhamos Doug, um jovem normal que acaba se metendo em uma conspiração intergalática após atravessar um portal.
Chegando nesse novo mundo, chamado de Galaxyland, Doug descobre que existe uma força chamada de Fim que destrói planetas inteiros e, infelizmente, a Terra entrou pra lista.
Acompanhado por Boom Boom, seu porquinho da índia que acabou ganhando a capacidade de falar e atirar e de MartyBot, um robô que serve como guia, a história se desenrola de um jeito magistral e com um ritmo propositalmente dinâmico.
Sam Enright, o desenvolvedor, falou abertamente que ele quis que o RPG de turnos tivesse um ritmo que lembrasse os filmes antigos do gênero e isso é conquistado com maestria. Eu levei 15 horas para platinar o jogo e, apenas a história, leva cerca de 12 horas.
Para a minha feliz surpresa, a história do jogo é muito boa e ela consegue manter o jogador engajado em todos os instantes. A cada novo desdobramento, queremos saber o que vem a seguir e a narrativa consegue instaurar perguntas na mente de quem joga de um jeito bem satisfatório.
Ao longo da aventura, conhecemos novos personagens que se tornam aliados valorosos e todos eles são muito bem desenvolvidos, com motivações e sonhos próprios. Constantemente Beyond Galaxyland me fez pensar no Guia do Mochileiro das Galáxias, uma de minhas obras prediletas.
A lore do jogo é formidável, o que chega a ser assustador quando lembramos que se trata do trabalho de um único desenvolvedor.
Um ponto negativo é a falta de voz nos diálogos, o que diminui e muito o impacto narrativo de algumas passagens da história. Contudo, estamos falando de um projeto indie, logo, a falta de verba para colocar voz em todos os diálogos acaba sendo compreensível.
Felizmente, todos os textos estão localizados em PT-BR, o que ajuda na compreensão da trama.
Um frescor no gênero
Beyond Galaxyland foi estruturado como um RPG de turnos, contudo, o desenvolvedor adicionou alguns temperos para fugir do sentimento de monotonia que os títulos do gênero podem gerar.
Cada personagem tem três “barras” relacionadas à comandos. A de ação, que indica quantas ações podem ser realizadas em um turno, a de Habilidades, usada para acionar skills e a de Invocação, usada para invocar criaturas capturadas em combate.
Cada personagem apresenta skills específicas. Rosie por exemplo é capaz de roubar itens dos inimigos. Boom Boom é capaz de fugir de lutas e Doug consegue analisar os oponentes visando descobrir os pontos fracos.
A progressão é bem direta ao ponto. Obtemos experiência, o que faz com que os personagens evoluam de nível. Além disso, podemos equipar artefatos que ficam cada vez mais fortes na medida que exploramos novas áreas do jogo.
Surpreendentemente, dá pra montar várias builds específicas priorizando coisas como ataque crítico, velocidade para chegar o turno de determinado personagem, dano em área e por aí vai. O jogo conta com artefatos muito fortes e, no final da aventura, minha equipe estava quase que imortal.
Similar à outros JRPGs, podemos atacar os inimigos previamente para ter uma vantagem inicial na luta. Caso eles sejam muito fracos, o abate é instantâneo, aspecto que ajuda a tornar a exploração mais dinâmica.
Falando em exploração, podemos trocar de personagens e existem interações que são exclusivas de certos personagens. Por exemplo, certos trechos exigem que Boom Boom use sua pistola para abaixar pontes.
Existem dois aspectos do combate de Beyond Galaxyland que me pegaram completamente de surpresa. O primeiro deles é que o jogo conta com um sistema de gerenciamento de criaturas. Podemos capturar quase todos os inimigos do jogo, incluindo chefes, usando-os em combate como Summons.
Esse sistema inclusive é o melhor farm para obter moedas de ouro no game. Existe um NPC que paga uma boa quantia por cada criatura capturada.
O segundo sistema está atrelado à fotografias. Podemos tirar foto de todos os tipos de inimigos e criaturas do jogo, servindo como o colecionável de Beyond Galaxyland. Mas a minha surpresa é que o sistema tem aplicabilidade no game. Podemos completar missões secundárias que exigem fotos de criaturas específicas ou descobrir novas informações de inimigos fortes através da fotografia deles.
Além de tirar fotos, outra atividade secundária divertídissima são as corridas de moto e nave. Apesar de acontecerem apenas em momentos bem pontuais da trama, essas corridas ajudam a trazer ainda mais diversidade para a aventura e dão um vislumbre do quanto a jornada poderia ser ainda mais épica com um time completo e mais orçamento!
Mundo cuidadosamente esculpido
Um charme adicional de Beyond Galaxyland é sua belíssima pixel art. O design dos personagens, cidades e inimigos encanta, assim como a qualidade das animações.
O jogo respeita seu escopo e proposta, evitando dar passos maiores do que a perna e isso ajuda a aumentar o “ar artesanal” que Beyond Galaxyland possui.
É claro que o game continua sendo um produto, mas, diferente dos AAAs, sua alma é evidente em cada pixel e em muitos momentos é quase como se a paixão de seu criador se materializasse na tela. Cuidado é um adjetivo que pode ser usado tranquilamente para descrever a aventura.
Durante minhas 15 horas para a platina, não tive nenhum bug, queda de frame ou crash. O jogo não conta nem com erros de tradução. Sua simplicidade certamente ajudou o game a performar muito bem no PS5.
Review de Beyond Galaxyland – Vale a pena!
Completamente fora do radar, Beyond Galaxyland se tornou a maior surpresa positiva de 2024 pra mim. Seus personagens e a narrativa épica vão permanecer comigo por um bom tempo.
O jogo não se propõe a reinventar a roda, pelo contrário, ele segue à risca toda a cartilha de elementos que um ótimo RPG precisa ter, entregando uma aventura que merece ser vivida por todos os fãs de RPGs de turnos.
Fruto de uma paixão gigantesca de Sam Enright, não tenho dúvidas de que Beyond Galaxyland vai encantar e conectar milhares de aventureiros dessa galáxia e de tantas outras que existem por aí!
Beyond Galaxyland é o Sea of Stars de 2024. Se você gosta de RPGs de turnos, não deixe de conferir essa nova aventura!
Pontos Positivos
- História com um excelente ritmo
- Pixel art belíssima
- Ótimo sistema de captura de criaturas
- Jogabilidade diversificada
Pontos Negativos
- Trilha sonora poderia ser mais marcante
- Sem voz nos diálogos
- História
- Jogabilidade
- Visuais
- Desempenho
- Som