O terror psicológico sempre teve seu apelo e sua grande base de fãs, mas BrokenLore: Don’t Watch vai além ao mergulhar na mente de um jovem hikikomori em uma Tóquio isolada e angustiante.
A série BrokenLore, já conhecida por suas propostas intensas e essencialmente críticas, nos traz uma experiência imersiva e perturbadora, que mistura exploração mental, mecânicas simples e uma atmosfera de tensão crescente em uma ambientação minimalista e claustrofóbica.
Com um enredo que envolve temas pesados como o isolamento social e problemas de saúde mental, o jogo se propõe a nos conduzir pela mente de Shinji, um protagonista à beira do colapso. Mas será que ele consegue entregar tudo o que promete?
A história de Shinji
Em BrokenLore: Don’t Watch, você assume o papel de Shinji, um jovem hikikomori preso em seu pequeno apartamento em Tóquio. Com o aluguel atrasado, as contas se acumulando e uma família que não entende seu sofrimento, ele se sente cada vez mais distante do mundo e de si mesmo.
Seu único refúgio são os videogames, mas até isso se torna inútil diante da crescente ansiedade e do peso emocional que ele carrega. Assim, ele se torna alvo de algo que a natureza não consegue explicar, e a partir desse momento ele deve lutar por tudo que valoriza, sejam as pessoas próximas ou sua própria alma.

BrokenLore: Don’t Watch não se prende a longos diálogos ou explicações. A narrativa é sutil, sendo contada através de interações mínimas e da exploração leve pelo ambiente. Há segredos e algumas interações escondidas que expandem a lore, dando margem para mais interpretações sobre a maldição por trás do apartamento.
O que realmente te captura é o drama psicológico de Shinji e a sensação crescente de que algo está prestes a acontecer, o que é intensificado pela presença de Hyakume, uma entidade maligna com cem olhos, que está sempre observando e aguardando o momento certo para atacar.

Você não pode ver Hyakume diretamente o tempo todo, mas a sensação de estar sendo vigiado e a incerteza de quando ele vai agir cria uma tensão sempre existente. Isso é o que torna a experiência de Don’t Watch tão única: o terror não está apenas no que você vê, mas no que você não pode controlar.
E caso você queira ir um pouco além, BrokenLore: Don’t Watch tem finais alternativos (um bom e outro ruim) que são determinados por escolhas muito específicas (mas bastante claras) durante transições dos atos.
Atmosfera que incomoda e seduz
O grande trunfo de Don’t Watch é, sem dúvida, sua atmosfera. O jogo não se preocupa em encher o cenário de sustos fáceis ou criaturas grotescas. Ele aposta no terror psicológico sutil, criando uma sensação de claustrofobia e paranoia.
Você passa a maior parte do tempo explorando o apartamento de Shinji, um espaço apertado e sufocante, que serve como uma metáfora visual para o estado mental do personagem — recurso já conhecido pela comunidade que é fã de jogos indie.

O design de som é impecável nesse sentido, com uma trilha sonora que alterna entre momentos de silêncio absoluto e passagens sonoras carregadas de tensão. Já em momentos mais intensos, a música ambiente cria uma sensação de desespero, como se a própria mente de Shinji estivesse desmoronando ao seu redor.
Quando as coisas pioram drasticamente, logo com o início do segundo ato, a trilha sonora se intensifica e passa a apostar em contrastes com o silêncio, levando os jogadores a experimentarem sensações inquietantes de que algo está sempre prestes a quebrar a calma.
Jogabilidade simples, mas suficiente
Em termos de jogabilidade, BrokenLore: Don’t Watch adota uma abordagem simples, o que é um acerto, dado o foco no psicológico e na própria narrativa.
Basicamente, você usa o controle para interagir com objetos, correr e se defender. Até mesmo o ataque, que é necessário em alguns momentos da campanha, se dá por meio de interações com alguma região do mapa.

Nesse sentido, uma mecânica que chamou a atenção foi a de defesa. Bom, não é exatamente uma defesa, mas uma proteção dos olhos. No segundo ato, você deve evitar a morte cobrindo seus olhos do Hyakume. Caso você não consiga a tempo, é game over e tente outra vez.
Já os quebra-cabeças são muito básicos e não exigem muito de sua mente. Dessa forma, em termos gerais, BrokenLore: Don’t Watch é quase um house simulator, subgênero que se tornou popular por meio de jogos independentes lançados no PC.

O jogo se concentra em explorar o apartamento de Shinji e, mais tarde, sua mente. Há grandes momentos de introspecção, discussões sobre realidades alternativas e uma ampla critica à presença do mundo digital em nossas vidas, principalmente no que diz respeito ao desapego do mundo real e de como a alienação às telas pode fazer mal.
BrokenLore: Don’t Watch — impactante e sensível na medida certa
BrokenLore: Don’t Watch merece elogios por sua atmosfera e pelo design sonoro, mas está longe de ser um projeto realmente inovador. Falhas incluem bugs de processamento visual e curtíssimo tempo de campanha (até 1h), apesar da franquia BrokenLore já ter essa proposta mais episódica.
O jogo consegue oferecer uma experiência de terror psicológico única, onde a mente do protagonista se torna o maior inimigo. A sensação constante de perseguição e de se sentir observado tornam Don’t Watch uma jornada angustiante e profundamente envolvente.
Se você procura um jogo que mexa com suas emoções e te faça questionar sua percepção de realidade, o título da Serafini Productions é uma excelente escolha. No entanto, se você busca algo mais longo ou mais polido, talvez seja melhor ajustar suas expectativas. Ainda assim, é um projeto de terror que vai ficar com você muito tempo depois que a última cena acabar.
Don't Watch é curto, mas se mostra como uma experiência de terror suficiente para quem busca jornadas profundas e provocativas sobre temas atuais.
- Narrativa
- Jogabilidade
- Desempenho
- Visuais
- Som