Final de outubro, com o lançamento de um novo Call of Duty, é inegavelmente a melhor época do ano para quem gosta de games.
Dessa vez, há um toque especial, já que o combo parece perfeito: a Treyarch, favorita da comunidade, foi designada para essa missão; pela primeira vez na história da franquia, uma desenvolvedora teve 4 anos para se dedicar exclusivamente a um Call of Duty, e este é o primeiro lançamento sob a tutela da Microsoft, estreando diretamente no Xbox Game Pass.
Mas será que as expectativas foram correspondidas? Após o gosto amargo deixado pelo Modern Warfare III, será que Call of Duty voltou aos seus tempos de glória? Vem que eu te conto tudo nesta review.
Isso é Black Ops
Em 2023, a Activision foi duramente criticada pela campanha de Call of Duty: Modern Warfare III, e com razão: além de curta, mais parecia um esboço para o Warzone do que um modo bem trabalhado.
Felizmente, parece que a Treyarch e a Raven ouviram todo o feedback da comunidade e fizeram uma campanha digna de um jogo que carrega o título Black Ops.
Ambientada no início dos anos 90, a história é uma sequência direta de Call of Duty: Black Ops Cold War e da parte no passado de Call of Duty: Black Ops 2. O mundo está em completa tensão: a Guerra Fria acabou, os Estados Unidos tornaram-se a única superpotência global, enquanto a Guerra do Golfo toma todos os holofotes.
O lendário Frank Woods está de volta e lida com as consequências do passado: preso em uma cadeira de rodas e enfrentando o trauma da missão que deu errado no Panamá. Agora, ele age como uma espécie de mentor para os membros de sua equipe.
Falando em equipe, o novo time é composto por Troy Marshall, o jovem pupilo de Woods; Felix Neumann, gênio e articulador dos planos; Sevati Dumas (Sev), assassina e especialista em disfarces; Russell Adler, que apareceu pela primeira vez em Cold War e roubou a cena; e Case, um personagem misterioso que controlamos na maior parte da campanha.
Todos os personagens são carismáticos e bem escritos. Mesmo sendo extremamente profissionais, eles interagem entre si, criando uma espécie de amizade. Cada um possui uma personalidade distinta, o que gera conflitos que precisam ser superados pelo bem maior.
A equipe de Woods reporta-se a Jane Harrow, uma agente de alto escalão da CIA que auxilia fornecendo informações confidenciais.
Como o material promocional fez questão de destacar, a CIA supostamente está corrompida, e a equipe de Woods precisa trabalhar sozinha, sem poder confiar em ninguém — nem mesmo nos próprios membros do time. Esse cenário gera um clima de desconfiança a cada nova missão. Por isso, “a verdade mente“.
A trama é um thriller de espionagem que, em muitos momentos, lembra os filmes das franquias Missão Impossível e 007. Há, inclusive, uma missão que facilmente poderia ser estrelada pelo Tom Cruise ou James Bond.
Para não adentrar no campo dos spoilers, vou me limitar a dizer que a história é facilmente uma das melhores da franquia e mantém o espectador envolvido do inicio ao fim.
Missões para todos os gostos
As missões seguem em grande parte o padrão estabelecido em Black Ops, com corredores lineares, combates intensos em arenas e uma ação desenfreada, digna de um filme de Hollywood. No entanto, a saga busca expandir esse conceito, trazendo fases em mundos “semi-abertos” e com diferentes formas de completar os objetivos.
Por exemplo, em uma das missões iniciais, precisamos nos aproximar de um senador e obter informações confidenciais. A escolha da estratégia fica a critério do jogador: é possível investigar e descobrir escândalos de corrupção e uma relação extraconjugal para chantageá-lo, ou adotar uma abordagem furtiva e acessar diretamente o recinto onde ele se encontra.
Há uma fase ambientada no deserto do Iraque que lembra Far Cry em seu auge, com um mapa aberto, veículos utilizáveis, várias missões secundárias e segredos que conectam a campanha principal ao modo Zombies.
Isso mostra que a ideia implementada em Modern Warfare III era promissora, mas faltou competência para executá-la adequadamente.
Puzzles como hackear computadores, arrombar fechaduras e sintonizar sinais de rádio também estão presentes. A equipe foi criativa ao integrá-los de maneira divertida, evitando o excesso que poderia torná-los cansativos.
Ao final de cada missão, a equipe retorna ao esconderijo, onde é possível interagir com os personagens, ouvir seus pontos de vista sobre os acontecimentos e aprimorar o local com o dinheiro ganho nas batalhas. Essas melhorias resultam em upgrades para o personagem, como aumento de vida e maior velocidade de recarga de armas, entre outros.
Há algum tempo, a franquia Call of Duty vem flertando com a ideia de chefes nas fases. Desta vez, implementaram isso da melhor maneira possível. Os inimigos mais fortes são chamados de Elites e têm uma barra de HP no topo de suas cabeças. Eles podem utilizar shotguns e escudos, miniguns e armaduras reforçadas, aumentando assim o desafio.
Finalizei a campanha no modo Veterano, completando todas as missões secundárias e adquirindo todos os upgrades, o que levou cerca de 10 horas. Com os upgrades, o jogo fica tão difícil quanto seus antecessores; recomendo investir neles constantemente e utilizar os equipamentos táticos e letais.
Para quem optar por jogar no modo normal, sem buscar 100% de conclusão, o tempo médio deve ficar entre 7 e 8 horas.
Como ponto negativo, posso citar a ausência de um vilão imponente, capaz de gerar um senso de urgência no jogador, como foi com Raul Menendez e Makarov.
Outro ponto bem chato, mas que merece destaque, é que a Activision decidiu que, mesmo onde não há necessidade de internet, como na campanha e no modo Zombies, seu uso é obrigatório. Em caso de ausência de conexão, não é possível jogar.
Por fim, devo dizer que adorei a campanha de Cold War, e a de Black Ops 6 é uma evolução em todos os aspectos. Após ter a experiência completa, afirmo com convicção que o novo título da Treyarch se junta a Black Ops 1 e 2 no pódio das melhores campanhas da franquia Call of Duty.
Multiplayer inovador
Quando Call of Duty parece estar chegando ao seu teto de qualidade, a Activision surpreende e apresenta algo novo que muda toda a dinâmica de gameplay.
O destaque desta vez é o Omni-Movement, que, de forma resumida, é uma movimentação que permite o controle do operador em 360 graus, possibilitando correr, deslizar, realizar o movimento de “golfinho” e mergulhar em qualquer direção.
Essa nova mecânica acelerou o ritmo do jogo, mas a Treyarch adotou medidas, como aumentar o time to kill dos inimigos, trazendo um equilíbrio à cadência de combate. Hoje, é estranho jogar um Call of Duty sem essa nova movimentação, pois passa a sensação de um jogo “travado”.
Menus de fácil compreensão
Atualmente, são três empresas que comandam a franquia: Infinity Ward, Sledgehammer e Treyarch. É curioso notar como, aparentemente, elas não apreciam as ideias implementadas de forma individual.
Enquanto a Infinity Ward busca um jogo tático, lento e complexo na linha Modern Warfare, a Treyarch opta por um estilo oposto em Black Ops, com um jogo arcade, rápido e fácil.
Chega de aqueles menus chatos, que mais parecem a tela da Netflix, e das centenas de acessórios inúteis e confusos para as armas.
Em Black Ops 6, os menus foram simplificados, e o conteúdo dentro do jogo é prático, de fácil compreensão para jogadores, sejam novatos ou veteranos da franquia.
No lançamento, temos 16 mapas originais, em sua grande maioria de pequeno ou médio porte. De forma até estranha, gostei da maioria dos mapas, mas não adorei nenhum logo de cara, como ocorreu com Hijacked, WMD e Standoff.
Os que não gostei foram Scud e Lowtown. O primeiro é uma arena destruída repleta de escombros e cores opacas, enquanto o segundo possui uma grande quantidade de água e muitos subcaminhos.
Seguindo a tradição, Nuketown e outros mapas devem chegar com o lançamento da primeira temporada do jogo, podendo minha perspectiva sobre a ausência de mapas marcantes ser alterada com o tempo.
Para quem gosta de upar armas e fazer grind de camuflagem, Black Ops 6 está perfeito, pois possui, logo de cara, centenas de camuflagens, incluindo algumas secretas.
A montagem de classes não retornou ao Pick 10, seguindo o que foi visto em Cold War. É possível utilizar arma primária, secundária e corpo a corpo na mesma classe.
O poder curinga quebra as regras estabelecidas pelo jogo, possibilitando, por exemplo, colocar até 8 acessórios na arma, em vez de 5, ou 4 vantagens para o jogador.
A especialidade é algo interessante de citar, pois, ao utilizar 3 vantagens da mesma categoria, que são divididas entre executor, reconhecimento e estrategista, a especialidade é desbloqueada, proporcionando um upgrade a mais para o operador.
O sistema de prestígio clássico retornou, permitindo ao jogador resetar seu progresso ao atingir o nível máximo, até alcançar o nível 10 de prestígio.
Entre os modos de jogo, temos os já tradicionais mata-mata em equipe, dominação, zona de conflito, entre outros. Como novidade, implementaram um modo chamado Jura de Morte, onde um jogador de cada time será sorteado como alvo, possuindo blindagens e radar portátil. Ganha o time que mais fizer baixas e conseguir defender o alvo da sua equipe.
Esse modo é divertidíssimo e traz uma dinâmica que foge do individualismo, necessitando que parte do time ataque e outra defenda. É uma novidade que acredito que veio para ficar na franquia.
Com a adição do Black Ops 6 ao catálogo do Game Pass, muitos novos jogadores poderão ter acesso ao game, seja no PC ou no Xbox. Como o crossplay está disponível, há a possibilidade de pessoas de diferentes plataformas jogarem juntas, além de as salas ficarem lotadas por muito tempo.
Levando-se em consideração todos os aspectos e por ser extremamente convidativo para o público, se a Treyarch conseguir manter um bom suporte, com balanceamento e novos mapas, o modo multiplayer deve render centenas de horas ao longo de sua vida útil.
Zombies, diferente não, estranho
Sou da época em que jogava Kino der Toten, Ascension, Buried e Origins nos Black Ops mais antigos. Mesmo jogando os Call of Duty mais recentes, não me interessei pelo modo Zombies, pois acredito que ele fugiu muito do estilo que eu gostava, que era mais focado em sobrevivência por maior tempo possível com o uso de armas poderosas.
A abordagem mais moderna, com missões e easter eggs complexos, parece atender a um público diferente, provavelmente vindo do Warzone, com preferência por mapas maiores e gestão de recursos.
Ainda assim, deixei o preconceito de lado, chamei meus amigos e entrei no modo para ter uma experiência pessoal. Logo de cara, percebi mudanças, como a implementação de um minimapa no canto superior, blindagens nos personagens e diferentes tipos de zumbis, incluindo chefes com barras de vida. Achei, no mínimo, curioso.
Elementos clássicos também estão presentes, como os perks vendidos nas máquinas de refrigerantes. O famoso Juggernog e o Speed Cola retornam, e a máquina de Pack-a-Punch agora permite melhorar as armas em diferentes níveis, assim como os coletes, com ambos indo até o nível 3.
Os chicletes introduzidos no Black Ops 3 retornam, divididos em quatro níveis de raridade: raro, épico, lendário e ultra. Eles podem ser adquiridos ao realizar ações pelo mapa e conferem certas vantagens ao jogador, como, por exemplo, permitir uma extração imediata, sem precisar esperar um round específico para realizá-la.
Entre as novidades, há a adição de streaks que podem ser utilizados durante a partida. O helicóptero sentinela é muito forte e pode ajudar em momentos críticos, quando o jogador está encurralado.
No lançamento, temos dois mapas do modo: Terminus e Liberty Falls. O primeiro lembra bastante os mapas clássicos, situando-se em uma ilha com espaços mais fechados, como uma prisão e um laboratório.
O segundo é um mundo aberto, ambientado em uma cidade com vários estabelecimentos, como igreja, banco, loja de quadrinhos e boliche.
Achei o mapa Terminus bem melhor, pois me trouxe a sensação do que é o verdadeiro modo Zombies, com áreas desconhecidas, elementos diversos e mistérios. Uma mudança sutil que melhoraria totalmente a vibe de Liberty Falls seria se o mapa fosse noturno. Por ser de dia, não transmite o senso de “terror” que era a proposta original do modo.
No geral, gostei bastante e joguei diversas horas sem notar o tempo passar. Com a maturidade do jogo, os easter eggs e segredos devem ser descobertos, aumentando a vida útil do modo, além dos novos mapas que chegarão nas próximas temporadas.
Um primor técnico
A IW Engine é a melhor engine para jogos FPS do mercado. Ela entrega realismo, permite muitos elementos em tela, oferece uma otimização surreal e apresenta uma qualidade técnica que impressiona a todo instante.
Black Ops 6 não foge à regra, apresentando um dos, se não o melhor gráfico da indústria em um jogo de tiro. Os visuais são brilhantes e aproximam o jogador do universo ambientado nos anos 90 que a direção propôs.
Joguei a maior parte do tempo no Xbox Series S, por acreditar que será o console utilizado pela maioria dos brasileiros, e no PlayStation 5, o console mais popular da Sony na atual geração.
Series S
No Series S, o jogo tem dois modos gráficos: 1440p a 60 fps ou 1080p a 120 fps. Durante o jogo, senti algumas quedas de fps em momentos pontuais, como explosões na campanha e na introdução de algumas cutscenes.
Pessoalmente, não gosto do modo a 120 fps, pois considero que há uma grande perda gráfica e não vejo tamanha discrepância nas taxas de quadros acima dos 60. Por isso, recomendo utilizar o modo de maior resolução.
Por padrão, a Activision utiliza o FidelityFX CAS e texturas sob demanda para aumentar a qualidade gráfica. Contudo, quem for jogar em telas maiores deve notar serrilhados nos cabelos dos personagens e nas bordas de algumas superfícies, devido à técnica de upscaling sendo utilizada.
Fora isso, o jogo rodou perfeitamente bem, sendo talvez o jogo mais bonito que executei no meu console.
PlayStation 5
O PlayStation 5 segue na mesma linha do Series S, com dois modos gráficos: 4K a 60 fps ou 1440p a 120 fps. Mas no console da Sony, eu recomendo o oposto; já que não há tanta diferença gráfica entre os modos, é recomendável jogar no de maior desempenho.
Som
Os efeitos sonoros são excelentes, com explosões, chuva e passos sendo reproduzidos de forma tridimensional, aumentando a imersão.
No Black Ops 6, a Activision fez uma parceria com a empresa especialista em áudio chamada Embody, que gerou certa polêmica. Isso porque as empresas implementaram um sistema de áudio 3D chamado Immerse Spatial Audio, que possui assinatura à parte.
De forma resumida, há uma customização do som universal para todos os jogadores, mas aqueles que entendem de mixagem de som e queiram personalizar ao seu gosto precisam comprar uma licença vendida a 20 dólares, válida por 5 anos.
Testando essa customização universal, não notei uma diferença significativa em relação ao Dolby Atmos e ao Tempest 3D, que já são conhecidos pelo público. Os passos dos aliados são diminuídos, enquanto o ruído dos adversários é ampliado, nada mais que isso.
Muitos jogadores, até por desinformação, acreditaram que o audio 3d do jogo é 100% pago, o que não é verdade, apenas forneceram uma possibilidade a mais das que já exisitam.
De qualquer maneira, qualquer um pode utilizar, mas eu preferi seguir utilizando o Dolby Atmos, já que comprei a licença e tenho o costume há muitos anos.
A dublagem em português deve agradar à maioria dos jogadores. Eu apoio a dublagem, mas gosto de ter a opção de poder selecionar o idioma original, por exemplo: áudio em inglês e legendas em português. Em nenhum Call of Duty isso é possível, com a Activision restringindo o áudio e a legenda ao mesmo idioma. Isso me desagrada, mas pelo menos no multiplayer não incomoda.
Review de Black Ops 6 – Vale a Pena?
Seria uma piada dizer que a maior franquia de jogos FPS da história não vale a pena, ainda mais em um dos seus melhores títulos em mais de 10 anos.
De forma sintetizada, Call of Duty: Black Ops 6 reuniu todo o aprendizado da saga ao longo dos anos, entregando uma campanha criativa que beira a perfeição, um multiplayer robusto e convidativo para todos os tipos de jogadores, e um modo Zombies que é extremamente instigante e divertido de se jogar.
Conteúdo não falta; pelo contrário, há de sobra e ainda vai chegar mais ao longo dos próximos meses. A Treyarch, mais uma vez, mantém seu histórico de nunca ter feito um COD ruim.
Muitas vezes, não valorizamos o que Call of Duty faz, mas é incrível como a franquia está presente na cultura pop há cerca de 20 anos, entregando jogos de altíssimo nível, sem que a concorrência consiga fazer algo parecido.
É um título obrigatório para todos que gostam de jogos de ação e multiplayer, ainda mais com a possibilidade de usufruí-lo no PC e Xbox via Game Pass.
Call of Duty: Black Ops 6 está disponível para PlayStation 4 e 5, Xbox One e Series X|S, PC via Steam, Window Store e Battle.net, e xCloud pelo catálogo do Game Pass.
Resumindo em poucas palavras: Call of Duty: Black Ops 6 VALE MUITO A PENA.
A Treyarch, mais uma vez, mantém seu histórico de nunca ter feito um COD ruim, entregando uma altíssima qualidade em todos os aspectos.
Pontos Positivos
- Muito conteúdo
- Campanha espetacular
- Multiplayer viciante
- Zombies extremamente divertido
- Parte Técnica impecável
Pontos Negativos
- Necessidade de estar sempre online em todos os modos
- Falta de um vilão impactante na campanha principal
- Ausência de opções nas configurações
- Campanha
- Multiplayer
- Zombies
- Parte Técnica
- Conteúdo