Eu sou um grande fã de soulslike. Falo abertamente que esse é o meu gênero predileto. Já fiz o 100% em vários dos principais títulos do segmento e até o de jogos menores, pouco conhecidos, como Thymesia.
Fazer essa breve introdução é essencial para esse review, afinal, ela ajuda a entender todos os sentimentos e a satisfação enorme que eu tive com Enotria: The Last Song. Desenvolvido pelo estúdio italiano Jyamma Games, é difícil não se encantar pelo jogo.
A cultura italiana sempre me fascinou bastante, sendo uma de minhas favoritas, logo, ver a junção de duas coisas que eu adoro acabou ajudando no processo para me conquistar imediatamente. Desde o seu primeiro trailer, Enotria: The Last Song me deixou rendido.
Quando o jogo foi lançado no PS5, em Setembro de 2024, um desencanto ocorreu. No lançamento, o título estava cheio de problemas, desde chefes incrivelmente desbalanceados até armas e habilidades que não apareciam. Fora os troféus que não pipocavam da maneira devida.
Eu optei então por dar tempo ao tempo, como um bom vinho envelhecido e, para a minha felicidade, não tive que esperar muito. Resolvi retornar ao jogo em Dezembro após uma série de patches serem aplicados e me deparei com um produto devidamente polido e pronto para ser desfrutado.
Depois dessa (longa) introdução, eu acredito que você já saiba minhas considerações finais. Mas, caso queira ficar por aqui e entender mais sobre o jogo e por que eu gostei tanto dele, sinta-se a vontade para ler o meu review de Enotria: The Last Song!
Um soulslike culto
A Itália é, inegavelmente, um dos países que mais exportou e exporta cultura no mundo. Indo além do campo da culinária, o território deixou um grande impacto na arte global. A Commedia dell’arte, o teatro popular italiano, ajudou a popularizar uma figura proeminente na mídia atual, o Arlecchino ou Arlequim. A figura do Arlequim foi fundamental para gerar personagens da cultura pop como o Coringa.
Toda a lore de Enotria: The Last Song se baseia fortemente na arte, música e tem um forte viés teatral. Ter um conhecimento prévio sobre a já mencionada Commedia dell’arte fará com que sua experiência com o jogo seja ainda mais rica.
No mundo do game, todo ser que existe tem um papel pré-determinado na sociedade. Esse papel se torna tangível graças ao uso de máscaras. E é diante desse contexto que nosso personagem entra em cena. Sem Máscara, nosso “papel” no mundo do jogo é justamente libertar as pessoas que estão sendo obrigadas à performarem um papel.
O nome Enotria entrega muito desse apoio da lore na arte. Os enótrios eram um povo que viviam na região Sul da Itália e acredita-se que eles eram originários da Grécia. A região que os enótrios moravam era comumente chamada de Terra das Vinhas e o local era extremamente fértil para a produção de vinhos.
Essa fusão entre Grécia e Itália foi fundamental para construir os alicerces narrativos do jogo, tornando-o completamente diferente dos demais titulos do gênero. Dark Souls, Elden Ring e até o recente Lies of P são conhecidos por terem histórias maduras que caminham mais para o obscuro.
O viés artístico de Enotria ajuda o game a ter uma identidade própria que merece ser conhecida por todo e qualquer jogador que aprecia o gênero soulslike. A lore é genial e foi um dos poucos games que me deu vontade de ler todos os registros do compêndio, um glossário que explica detalhadamente os pormenores do mundo de Enotria.
Ao todo, levei 33 horas para platinar o game. Temos 3 finais diferentes, sendo um considerado o verdadeiro, algo padrão para títulos do gênero.
Alterando a peça
Não é somente na lore que a Jyamma Games se apoiou para construir pontos de diferenciação no gênero. O combate de Enotria é bem único, apesar de usar o tradicional sistema de stamina que estamos habituados.
Aqui, os elementos são fundamentais para obter sucesso no combate. São 4 ao todo: Vis, Malanno, Gratia e Fatuo. Esses quatro elementos interagem entre si e conhecer o sistema é vital para se manter vivo, principalmente contra os chefes.
Existem chefes que são de elementos específicos como o Fatuo e, para aumentar o dano causado, o jogador pode usar ataques do elemento que se opõe ao Fatuo que neste caso é o Gratia. Um ponto positivo é que o game apresenta um pequeno indicador no canto superior esquerdo que serve como lembrete de qual elemento opõe o outro.
Aqui, não temos conjuntos de equipamentos. Os jogadores podem obter máscaras ao eliminar chefes e inimigos comuns, adotando o papel delas. As máscaras possuem bônus passivos poderosos e são o único recurso de mudança visual que temos no game. Além das máscaras, podemos equipar Aspectos, que também funcionam como bônus passivo.
Um detalhe interessante para a formação de builds é o que é chamado de Caminho dos Inovadores. Essa árvore de habilidades permite que os jogadores se especializem em coisas como combate corpo a corpo ou no Poder de Árdore, elemento que afeta as habilidades de Enotria. Ao adquirir uma habilidade, podemos equipar ela no conjunto da máscara, formando uma build.
Temos três opções de loadouts que podem ser trocados instantaneamente e livremente, o que ajuda a garantir uma ótima diversidade no que diz respeito ao combate. Por falar em builds, temos dezenas de “magias” e mais de 100 armas diferentes no game.
Eu senti que o jogo é incrivelmente desbalanceado no sentido de combate físico e combate mágico. Se você focar sua build no combate corpo a corpo, você vai sofrer muito em certos chefes. Já com a build focada nas magias, o game se torna um passeio no parque, com exceção de certos chefes como o Giangurgolo.
Por falar em chefes, o design não só visual, mas das mecânicas dos chefes está primoroso. Eles possuem vários padrões de ataques e as temidas “fases 2” das lutas realmente elevam o desafio de uma maneira criativa. Ao lado de Lies of P, o jogo tem facilmente os melhores chefes do gênero, excluindo claro as obras da FromSoftware.
A diversidade de inimigos comuns também impressiona, afastando aquele sentimento de repetitividade. Para o primeiro AA de um estúdio novo, o brilhantismo de Enotria: The Last Song é de assustar. A Jyamma Games fez um trabalho impecável aqui!
Ode às telas
De certa forma, podemos considerar Enotria: The Last Song como uma obra renascentista. Indo na contramão de quase todos os jogos do gênero, a equipe decidiu lançar seu jogo ao sol, literalmente. Os cenários são ensolarados e apresentam cores vibrantes, refletindo a exuberante Costa Amalfitana, um dos lugares mais belos do mundo real.
O período renascentista tirou a humanidade do que passou a ser chamada da Idade das Trevas e essa alusão se faz presente aqui. A fusão arquitetônica da Itália com a Grécia pode ser vista em várias regiões da campanha e, sim, temos localizações emblemáticas como o eterno Coliseu servindo como uma representação palpável da cultura do país.
No quesito desempenho, não tive nenhum problema durante minhas quase 40 horas com o jogo. Os patches que foram aplicados nos últimos 4 meses fizeram muito bem ao jogo. Não notei nenhuma queda de frame e nem tive nenhum crash. Um problema inusitado, que aconteceu duas vezes, é que em certos momentos os comandos pararam de responder, me obrigando a fechar o jogo.
O curioso é que o jogo volta exatamente no ponto em que foi fechado e sem o problema. Além dos visuais belíssimos, impulsionados por uma iluminação que é mais protagonista, a equipe fez um trabalho fantástico no design dos inimigos comuns, dos chefes e das armas e máscaras. Cravo facilmente que Enotria: The Last Song é um dos soulslikes mais bonitos que eu já joguei.
Review de Enotria: The Last Song – Vale MUITO a pena!
Se você chegou até aqui, já sabe que eu recomendo fortemente Enotria: The Last Song. O jogo é facilmente um dos melhores souls não feitos pela FromSoftware, caminhando lado a lado com o também excelente Lies of P.
A Jyamma Games conseguiu incutar sua identidade de maneira genial, criando uma obra única em um dos gêneros mais competitivos do mercado na atualidade.
Se você gosta de soulslikes ou de RPGs de ação em geral, seu tempo será muito bem recompensado por Enotria. Não deixe de dar uma oportunidade ao jogo!
Enotria: The Last Song esbanja charme e identidade própria, portando-se como uma entrada de respeito da Jyamma Games no gênero souslike.
Pontos Positivos
- Lore fantástica
- Muitas opções de build
- Design formidável dos chefes
- Visuais belíssimos refletem bem a Itália
Pontos Negativos
- Certas builds são desbalanceadas
- Comandados pararam de funcionar
- Narrativa
- Jogabilidade
- Desempenho
- Visuais
- Som