É até difícil de acreditar que, após 17 anos, temos uma sequência direta do lendário Dragon Ball Z: Budokai Tenkaichi 3.
Quando pus as mãos em Dragon Ball: Sparking! ZERO, parecia um sonho de infância realizado. Contudo, após tantos anos de espera, será que valeu a pena? É isso que vou te contar neste texto.
Afinal, o que é Sparking Zero?
Para aqueles que não sabem, os jogos Budokai Tenkaichi 1, 2 e 3 tinham esse nome apenas no Ocidente. No Japão, eles se chamavam Sparking, Neo e Meteor, respectivamente.
Agora, a Bandai Namco decidiu adotar um único nome para todo o mundo, e assim surgiu Dragon Ball: Sparking! ZERO.
Mais personagens do que nunca
Se Dragon Ball Z: Budokai Tenkaichi 3 já era incrível com seus 161 personagens, Sparking! ZERO tinha tudo para superá-lo, especialmente com a estreia da fase Super, que trouxe várias novas sagas e muitos personagens inéditos.
E de fato superou. Em Sparking! ZERO, são 182 personagens jogáveis, abrangendo todas as fases de Dragon Ball, desde o clássico até o Torneio do Poder de Dragon Ball Super. Como extra, ainda temos o Goku de Daima, que, na data desta análise, sequer havia estreado.
Felizmente, os personagens de Dragon Ball GT, que são muito queridos pelos fãs e provavelmente estarão entre os mais utilizados pelos jogadores, estão disponíveis no jogo base, sem a necessidade de qualquer DLC.
A franquia Sparking! nunca foi conhecida por seu balanceamento. O foco é a diversão, e eles respeitam o powerscaling do anime. Não dá para esperar que um Yamcha enfrente um Gogeta SSJ4. Embora, com o Yamcha, contra qualquer personagem, o resultado será sempre o mesmo.
Modos de jogo
Dragon Ball: Sparking! ZERO é um jogo de luta 3D e, consequentemente, seus modos de jogo são baseados em batalhas. Eles incluem:
- Batalha de Episódio – A campanha principal.
- Batalha Personalizada – Uma espécie de “What If” (E se).
- Batalha – Online ou offline.
- Torneio Mundial – Pode ser jogado online ou offline.
- Super Treinamento – Como o nome sugere.
Na primeira vez que abri o jogo, fui direto para o modo Batalha, para testar os personagens, montando equipes com 5 de cada lado.
Para equilibrar as batalhas em equipe, a Spike Chunsoft, desenvolvedora do jogo, implementou as chamadas “Batalhas de PD”, nas quais os personagens possuem diferentes níveis de poder.
O time, que pode ter até 5 personagens, precisa respeitar o limite de 15 pontos, e quanto mais forte o personagem, mais pontos ele custa.
Esse sistema exige que o jogador reflita: monto uma equipe muito poderosa, mas com poucos personagens, ou seleciono vários personagens, garantindo um maior tempo de sobrevivência?
Nos modos offline e nas partidas amistosas online, as “Batalhas de PD” podem ser desativadas, permitindo que os jogadores formem as equipes mais absurdas possíveis, apenas por diversão.
Inicialmente, o jogo não contaria com um modo multiplayer local, o que seria um grande erro, considerando que esse é um dos modos mais divertidos já criados na história dos videogames.
Felizmente, ouvindo o feedback dos fãs, a Spike Chunsoft o implementou, e agora é possível jogar contra seus amigos com a tela dividida ao meio.
Entretanto, como isso não estava previsto no projeto original do jogo, o modo foi feito às pressas, disponibilizando apenas a Sala do Tempo, o cenário mais simples do jogo, como arena de combate.
Tenho grandes esperanças de que, futuramente, com as atualizações que estão por vir, o restante das arenas seja implementado no modo offline.
No modo competitivo online, existe um ranking mundial, onde os jogadores mais habilidosos e com maior número de vitórias terão seus nomes registrados.
O modo Batalha Personalizada cria situações em um ambiente virtual dentro da Corporação Cápsula que não aconteceram no anime. Por exemplo: e se Tullece não enfrentasse Goku, mas sim Gohan adulto?
No Torneio Mundial, que pode ser jogado tanto online quanto offline, há diversos torneios com regras distintas. Por exemplo, no Torneio do Cell, as batalhas têm limite de tempo, são individuais e, após a luta, o personagem só recupera 20% dos seus pontos de vida.
É possível também criar o seu próprio torneio com regras personalizadas definidas pelo jogador.
Modo história ou quase isso
A Batalha de Episódio é a campanha principal do jogo, e foi, de longe, o modo pelo qual eu estava mais ansioso e curioso para jogar, afinal, ele poderia mostrar toda a fantástica história de Dragon Ball, desde o clássico até Super. Porém, veio minha primeira decepção com o jogo.
Diferente dos Budokai Tenkaichi anteriores, a desenvolvedora decidiu dividir a campanha entre os personagens: Goku, Vegeta, Gohan, Trunks do Futuro, Goku Black, Freeza, Jiren e Piccolo, cada um com sua própria perspectiva dos acontecimentos da história, assim como aconteceu no Budokai 3 (aquele jogo de luta 2D lançado em 2004).
Cada campanha leva em torno de 3 horas para ser concluída. Algumas são mais longas, como a de Goku, o que é bem plausível, considerando que ele participa de praticamente todas as batalhas do anime; outras são mais curtas, como a de Vegeta, que se encerra no final da saga Boo.
No total, levei aproximadamente 17 horas para concluir todas as campanhas principais e algumas variações (explicarei mais à frente).
A decisão de subdividir a campanha me desagradou, pois a história ficou picotada e sem profundidade.
Em diversos momentos, avancei pelos arcos e, ao iniciar uma nova campanha, precisei retroceder aos mesmos arcos, ficando quase em um looping. Isso não gerava uma sensação de progresso; na verdade, trazia uma sensação de regresso. Um exemplo disso:
- Na campanha de Goku, em determinado momento enfrentamos o Super Boo e, utilizando a fusão, nos transformamos em Vegetto. Depois de concluir a campanha de Goku, fui direto para a de Vegeta e tive que repetir toda a saga Boo, mas agora sob a perspectiva dele, enfrentando novamente o Super Boo e realizando a fusão.
- Enquanto, na campanha de Goku, eu estava no Torneio do Poder, utilizando técnicas absurdas como o Instinto Superior Completo, poucos minutos depois, na campanha de Vegeta, eu estava em Namekusei enfrentando os capangas de Freeza.
Deveriam ter optado por seguir uma abordagem cronológica, usando a criatividade para permitir que jogássemos com todos os personagens. A Spike Chunsoft já demonstrou que isso é possível, tanto que fez de forma brilhante no Budokai Tenkaichi 3.
Caso não se lembre, existiam capítulos que abordavam um arco do anime, e durante a batalha era necessário trocar de personagens e usar transformações para avançar. Por exemplo:
- Quando Nappa chega na Saga Saiyajin, Tenshinhan, Chaos, Gohan e Piccolo se mobilizam para enfrentá-lo.
- Os Guerreiros Z perdem a luta no anime, e para adaptar isso, sem perder a essência de um jogo de luta, é necessário trocar os personagens apertando R3 até que haja tempo para a chegada de Goku, que, de fato, derrota Nappa.
Dessa forma, participávamos de todas as lutas da obra original, utilizando diversos personagens e sentindo o aumento na escala de poder das sagas.
Sparkling! ZERO deixa de adaptar muitas lutas interessantes, como a do Tenshinhan vs. Cell Imperfeito. Além disso, mesmo contando com personagens do Clássico, GT e dos filmes, não há capítulos separados para eles, com o jogo narrando apenas a história das fases Z e Super.
A campanha principal possui variações, dependendo das escolhas do jogador. Essas variações fogem da história principal do anime e criam uma espécie de “What If“. Por exemplo:
- E se Goku recusasse a ajuda de Piccolo e fosse enfrentar Raditz sozinho?
A variação da história pode gerar uma cena original criada para o jogo, chamada “Episódio Sparking!“. Não irei me aprofundar para não entrar no campo dos spoilers, mas todas as cenas são sensacionais, e as variações criadas estimulam o fator replay do jogo, já que mudam bastante a história. Uma das possibilidades que mais gostei foi a de levar Coola para o Torneio do Poder.
Já que citei as ótimas cenas, vale a pena mencionar outro ponto negativo da campanha principal: a forma como a história é contada é preguiçosa. Após as lutas, a história é apresentada de três maneiras:
- Uma cutscene estática, onde precisamos apertar X ao final de cada fala para avançar.
- Um terrível slideshow resumindo os acontecimentos.
- Uma rara cutscene animada.
Enquanto a cutscene animada é excelente e deveria ser utilizada em todo o jogo, o slideshow é desanimador, mostrando que os desenvolvedores quiseram economizar recursos e, muito provavelmente, tempo.
Depois de tudo que foi dito, pode parecer que o modo história de Dragon Ball: Sparking! ZERO é ruim, mas, na verdade, está longe disso.
A campanha é bem divertida; porém, a falta de objetividade, lacunas entre as histórias das sagas e a forma como a história é contada na maioria das vezes me fizeram sentir que houve mais criatividade e empenho em um jogo de quase 20 anos atrás.
A gameplay é um deleite para qualquer fã de Dragon Ball
Estamos falando de um jogo de luta, e o fator principal sempre deve ser a jogabilidade. E, nesse aspecto, Dragon Ball: Sparking! ZERO pode ostentar o título de uma das gameplays mais satisfatórias já criadas nos jogos de anime.
Há dois modos de controle: o padrão e o clássico, semelhante aos jogos anteriores.
O combate foi aprimorado, e existem novas mecânicas, como diferentes formas de contra-ataque. Se golpeado, é possível utilizar o teletransporte para escapar, adotar uma postura defensiva que devolve um golpe ao adversário, esquivar dos ataques ou até mesmo realizar um parry.
O personagem possui 5 barras de KI, que são utilizadas para desferir ataques especiais e para usar o dash. Ao carregar 100%, o modo Sparking! é ativado, com o personagem ficando mais rápido, podendo realizar combos mais longos, além de habilitar o poder especial mais forte.
É possível realizar transformações durante a batalha, incluindo fusões entre personagens compatíveis, como Goten e Trunks, algo extremamente satisfatório de se ver em combate.
Existem diversas possibilidades de combos que, à primeira vista, podem parecer resultado de um “esmagar de botões”, mas, ao dominar as mecânicas, a complexidade do combate se torna evidente.
Os minigames durante a batalha retornaram, e, felizmente, eles não irão destruir os analógicos dos controles como acontecia antigamente. Agora, é necessário apertar os botões no tempo correto para conseguir vencer.
Detalhes durante a gameplay não faltam, como as roupas rasgando após o personagem sofrer um ataque poderoso, os androides regenerando o Ki automaticamente, e o espaço-tempo sendo quebrado quando ataques ultra poderosos se chocam.
A quebra do espaço-tempo passou por uma mudança em relação às builds liberadas anteriormente. Com base no que foi mostrado em previews, esse evento ocorria sempre durante choques de ataques poderosos.
Os fãs deram o feedback relatando que não gostaram e que isso deveria acontecer apenas em momentos oportunos. Os desenvolvedores, mais uma vez, ouviram e fizeram as mudanças, merecendo todos os aplausos.
A parte técnica é um primor
Antigamente, víamos as aberturas cinemáticas dos jogos e imaginávamos poder jogar com aquela qualidade. Hoje, com a tecnologia avançada em três gerações de consoles e utilizando o poder da Unreal Engine 5, os gráficos de Dragon Ball: Sparking! ZERO superam todos os jogos de anime criados antes dele.
O estilo não busca o realismo, mas sim a beleza visual dos gráficos em cel shading. Os efeitos de luz, cenários e personagens estão, como diria o Cell, perfeitos.
Doze arenas estão presentes no jogo, e seis delas podem sofrer variações no horário da luta. Considero isso um downgrade, visto que Budokai Tenkaichi 3 possui 20 arenas.
Removeram a minha favorita, que era a arena do Inferno. Talvez a exclusão seja justificada pela ausência dos filmes no modo história, mas ainda assim é uma perda considerável.
Todavia, a ambientação de todas as arenas presentes é espetacular, com cenários conhecidos pelos fãs de longa data, como o Mundo dos Kaiohshins, o Terreno Rochoso, entre outros.
Não sei a resolução exata que o game roda, mas estimo que está acima dos 1440p, próximo ao 4K, tudo isso rodando a 60 fps constantes. Em raras ocasiões, sofri com algumas quedas na taxa de quadros, mas rapidamente elas retornaram à normalidade.
O som está dentro dos padrões, com uma boa escolha de músicas e efeitos dos poderes. Há duas opções de dublagem: inglês e japonês. Preferi a japonesa por familiaridade com a saga Super do anime.
Um dos maiores pecados do jogo é não possuir dublagem em português do Brasil, sendo que foi um dos fatores que fez Dragon Ball ter tanto sucesso em nosso país. Pelo menos há legendas em todos os textos.
Bugs
No início da minha gameplay, eu constantemente sofria com bugs da câmera durante os combates, onde ela se posicionava abaixo do chão do cenário.
Outro bug que encontrei foi durante a campanha do Goku, na saga dos Androides, onde o jogo ficava com um loading muito demorado, ultrapassando 3 minutos.
Felizmente, antes do lançamento oficial, foi lançado um patch que solucionou completamente o segundo problema. Quanto ao bug da câmera, houve uma melhora de cerca de 95%, ainda ocorrendo em algumas situações, mas acredito que será corrigido com um patch de lançamento (day one).
Conteúdo Extra
O jogo possui uma loja onde é possível adquirir alguns personagens, itens que alteram os status de batalha, cartões personalizados, músicas e muito mais. Tudo pode ser comprado com o dinheiro do próprio jogo, que é facilmente adquirido apenas jogando.
A enciclopédia está de volta e, dessa vez, a Chichi está acompanhada da Bulma e da Videl, gerando momentos muito cômicos.
Zen’oh e Whis passam missões e desafios que, se concluídos, geram recompensas, como esferas do dragão.
Reunindo as 7 esferas do dragão, é possível invocar um dos três dragões: Shenlong, Super Shenlong e Porunga, que concederá um desejo. As opções variam entre desbloquear personagens, liberar cosméticos ou aumentar o nível do jogador.
O passe de batalha já revela que teremos 3 pacotes de DLC futuramente, o que não surpreende em jogos do gênero, incluindo personagens jogáveis do filme Dragon Ball Super: Super Hero e de Dragon Ball Daima.
Por enquanto, a monetização dentro do jogo está excelente, sem qualquer desequilíbrio entre quem deseja desbloquear o conteúdo apenas jogando e aqueles dispostos a pagar por adicionais.
Review de Dragon Ball: Sparking! ZERO – Vale a pena?
Resumindo em poucas palavras: Dragon Ball: Sparking! ZERO VALE MUITO A PENA.
O jogo possui muito conteúdo, parte técnica praticamente impecável, e um bom suporte da desenvolvedora. O modo história tira um pouco do brilho, mas não apaga todos os acertos da obra como um todo.
Esse jogo faz brilhar os olhos de qualquer fã da saga criada pelo lendário Akira Toriyama, agradando tanto aqueles que cresceram acompanhando o clássico e o Z, quanto a nova geração captada pelo Super.
Beirando a perfeição, poucos ajustes na forma de contar a história e a adição de uma dublagem em português fariam Dragon Ball: Sparking! ZERO ser uma obra-prima irretocável.
É o tipo de jogo que digo tranquilamente: compre sem medo de ser feliz.
Resumindo em poucas palavras: Dragon Ball: Sparking! ZERO VALE MUITO A PENA.
O jogo faz brilhar os olhos de qualquer fã da saga criada pelo lendário Akira Toriyama, agradando tanto aqueles que cresceram acompanhando o clássico e o Z, quanto a nova geração captada pelo Super.
Pontos Positivos
- Muito conteúdo
- Monetização equilibrada
- Gameplay extremamente viciante
- Desenvolvedora ouve o feedback dos fãs
- Parte técnica é o suprassumo dos jogos de anime
Pontos Negativos
- Campanha principal mal estruturada
- Leves bugs
- Ausência de dublagem Pt-Br
- História
- Jogabilidade
- Parte técnica
- Conteúdo
- Som