Eu preciso começar esse review deixando claro o seguinte: eu nunca havia zerado um Dynasty Warriors até o Origins. Eu joguei um pouco do 4 e do 9 mas por pouco tempo, logo, posso considerar que Origins foi o meu primeiro contato propriamente dito com a franquia.
Graças à um código cedido pela Koei Tecmo, fiquei semanas internado no jogo e me familiarizando com um dos principais contos do Oriente: a saga dos Três Reinos.
Caso você não conheça, aqui vai uma breve contextualização: o Romance dos Três Reinos foi um livro escrito no século 14 por Luo Guanzhong. Ele aborda os anos finais da Dinastia Han e todo o período dos Três Reinos. São eventos que acontecem entre 169 até 280, logo, estamos falando de centenas de personagens.
A franquia Dynasty Warriors, iniciada em 1997 como um jogo de luta, acabou solidificando o gênero Musou, tornando-se conhecida por apresentar várias e várias interpretações das histórias dos Três Reinos e seus personagens. Em Dynasty Warriors Origins, como o nome indica, a narrativa é centrada nos anos finais da Dinastia Han e no começo do período dos Três Reinos propriamente dito.
Sim, a Rebelião dos Turbantes Amarelos está de volta.
Como mencionei mais acima, esse é o meu primeiro grande contato com a franquia e o review de Dynasty Warriors Origins vai seguir essa ótica. No fim, eu espero responder se o jogo vale seu investimento mesmo que você nunca tenha jogado NADA da franquia!
O herói prometido
Diferente dos demais jogos da saga, em Origins nós jogamos com um herói predeterminado. Sem memórias e sem nome, nosso personagem é chamado de Andarilho e no começo da trama aprendemos que ele é um Guerreiro da Paz.
O objetivo é direto ao ponto: encontrar o herói prometido que vai unificar a nação.
O recurso usado pela Omega Force é meio clichê mas funcionou muito bem aqui. A narrativa é meio que dividida em dois grandes blocos: relembrar o passado do Andarilho e escolher o grande herói da nação.
Pois é, escolher. Como o romance entrega, nós temos uma divisão de poder em três grandes frentes: a de Cao Cao, a de Liu Bei e a da família Sun. A história é dividida em 5 grandes capítulos e temos 3 campanhas diferentes.
Nossas decisões afetam a história e a partir de certo ponto do capítulo 3, só podemos seguir com um único grupo. Quando zeramos a primeira vez, abrimos um sistema que permite jogar as outras duas campanhas e ver como a história se desenrola.
Eu fiquei positivamente surpreso com a narrativa do jogo. Os diálogos são fantásticos e, como era de se esperar, batem muito na tecla da justiça e honra. Até os diálogos secundários com os aliados estão ótimos. Por ser uma história com dezenas de personagens, eu não esperava muita qualidade nesse departamento mas estava enganado.
Na medida que evoluímos nosso elo de amizade com os aliados, cutscenes são acionadas e aprendemos mais sobre suas personalidades e anseios. Foi diante disso que eu entendi toda a mística dos Três Reinos e por que a Koei Tecmo bate tanto nessa tecla.
Temos uma quantidade absurda de personagens formidáveis. A benevolência inabalável de Liu Bei, a lealdade inquebrável de Guan Yu, a engenhosidade de Zhuge Liang, a brutalidade de Dong Zhuo, a impiedade de Lu Bu… Graças aos artifícios da atual geração de consoles, as personalidades desse período emblemático ganharam mais vida e nuances.
Um ponto que me incomodou um pouco é que existem batalhas com resultados pré-definidos. Por mais que você domine o campo de batalha, um aliado específico vai morrer ou o general inimigo escapa. Logo, isso acaba causando um falso senso de escolha.
No quesito duração, você vai precisar de cerca de 45 a 50 horas para completar as 3 campanhas presentes no jogo e existem mecânicos que incentivam o fator replay mas falarei disso em outro tópico.
O caminho sangrento da paz
Dynasty Warriors: Origins apresenta uma antítese interessante. O protagonista é um Guerreiro da Paz, contudo, o caminho para escolher o candidato perfeito para unir o país é sangrento e implacável.
A paz é a recompensa de batalhas e guerras que duram anos. E, para a felicidade dos fãs, temos um combate completamente repaginado em Origins.
Mais estratégico e cadenciado, as batalhas contra os oficiais inimigos lembram muito Wo Long, outro jogo da Koei. Focadas no 1v1, qualquer deslize é cobrado brutalmente pela IA inimiga.
Nesse sentido, as batalhas lembram muito um Soulslike mas do jeito Team Ninja de ser: veloz e punitivo.
Fora dessas batalhas contra os oficiais inimigos, a jogabilidade se comporta de maneira similar aos demais games. Usamos artes das armas pra despachar milhares de inimigos.
Na medida que concluímos as missões secundárias, aumentamos nossa capacidade de tropas e aprendemos comandos novos. Podemos acionar esses comandos, que vão desde a saraivada de flechas até atropelo de cavalos, para desmoralizar as tropas adversárias e ajudar na conclusão da batalha.
Outro ponto importante é a estratégia nas batalhas. Você precisa decidir, em tempo real, entre ajudar um oficial aliado ou “empurrar” as linhas inimigas. Uma escolha errada pode acarretar na derrota.
Felizmente o jogo é democrático nesse sentido, permitindo retroceder para checkpoints na missão e tentar de novo.
Por falar em missões, temos quatro tipos delas. As Batalhas, que são as missões da campanha, as missões secundárias, as skirmishes que são confrontos rápidos com objetivos específicos e os Pedidos que são missões curtas de aliados que são necessárias para melhorar o elo de amizade com eles.
Essas missões são apresentadas em um mundo aberto que lembra os Final Fantasy antigos. No mapa, podemos ir até novas missões, conversar com aliados, coletar moedas e minérios e gastar o dinheiro em lojas.
O jogo flerta com sistemas de RPG. Temos uma árvore de habilidades básicas. Os pontos de habilidade são obtidos ao concluir os desafios dados pelos aliados e ao abater cada 100 inimigos.
O nível do nosso personagem é determinado pelo nível de proficiência total com todos os 9 tipos de armas no jogo. E isso reflete bem o quanto o game é diverso.
Cada arma possui uma variedade absurda de combos e artes de batalha, que nada mais são do que as habilidades especiais. Temos lanças, espadões, chakrams, machados duplos, alabardas, manoplas e por aí vai.
O sistema de equipamentos é rudimentar. Podemos equipar a arma, uma gema com um bônus passivo, acessórios e quatro artes de batalha. O sistema é simples o suficiente para fazer com que o jogador não gaste muito tempo com gerenciamento e sim nas batalhas.
Falando especificamente das batalhas, por ser um guerreiro de uma ordem perdida, nosso personagem é capaz de acionar os Olhos do Pássaro Sagrado, uma espécie de sensor que ajuda a ter uma visão geral da batalha e, além disso, permite localizar incensos que estão afetando o senso dos soldados aliados.
Um forte ponto positivo é a capacidade de mudar de arma a qualquer instante, permitindo que a gente teste várias combinações ao longo da batalha. Vale destacar também o quanto esse jogo está mais estratégico.
O posicionamento das tropas e a barra de moral realmente importam aqui e fazem muita diferença, principalmente nas dificuldades mais altas!
Para se locomover no campo de batalha e no mundo aberto contamos com a presença constante de um cavalo que pode ser summonado a qualquer momento. São 9 cavalos diferentes, cada um com bônus específicos e que também muda de nível ao ganhar XP.
Em suma, o jogo apresenta a experiência tradicional do gênero Musou mesclado com elementos de RPG e de Soulslikes.
Um expert nos Três Reinos
Como falei mais acima, Dynasty Warriors: Origins apresenta uma série de sistemas que incentivam o replay.
Após zerar a primeira campanha, podemos meio que rebobinar a história para completar as outras duas, novos ranques e armas são liberados e uma nova dificuldade (que é brutal) fica disponível com objetivos inéditos nas missões.
Apesar de não trazer nenhum modo inédito, os sistemas devem agradar os fãs mais fervorosos da franquia, principalmente aqueles que buscam desafios.
Quem não se importa com o 100% ou é averso a desafios não vai ter muito a aproveitar aqui. O endgame, se é que podemos chamar assim, lembra muito o de RPGs tradicionais onde grindamos por armas melhores.
Para você ter um gostinho do quão mais difícil fica, um dos desafios presentes pede que a gente vença Lu Bu sem usar nenhum item de cura e na dificuldade mais alta. A recompensa é a Lebre Vermelha, o lendário cavalo usado pelo guerreiro.
O casamento perfeito
Dynasty Warriors: Origins e o PS5 Pro são o casamento perfeito. Por ser um jogo sobre alguns dos principais generais da história e batalhas épicas da China, ter a possibilidade de ver 4, 5 mil soldados na tela é uma experiência marcante.
O único jogo que chega perto de fazer algo do tipo é o recente Space Marine 2, mas, acredite, a Koei vai além aqui, colocando ainda mais inimigos na tela.
Existem várias missões com uma escala sem precedentes e a prova disso é que nem o hardware de ponta da geração atual aguentou o tranco. Tem alguns trechos nessas batalhas que causam uma queda brutal de FPS.
Mas, honestamente, seria impossível não cair. É MUITA coisa na tela, mesmo. São balistas gigantes, catapultas, batalhões de arqueiros disparando flechas flamejantes, dezenas de cavaleiros em cavalos, carroças, fora os generais usando habilidades especiais e os 3 mil soldados de infantarias. Tudo isso apareça na tela de maneira simultânea.
Minha experiência completa com o jogo foi usando o idioma japonês para o áudio e a imersão foi excelente. As vozes dos generais combinam perfeitamente com suas respectivas personalidades. Um grande ponto negativo é a falta da localização dos textos para o PT-BR. Baita bola fora da Koei Tecmo!
No quesito gráfico, temos os tradicionais modos de qualidade e desempenho, fora o suporte para os 120 FPS. Esse é o Dynasty Warriors mais bonito até agora e temos vários incrementos nas texturas e modelos de personagem, contudo, ainda existe muito espaço para melhorias.
A engine da Koei Tecmo já mostra sinais claros de envelhecimento e isso afetou todos os jogos recentes da empresa como Rise of the Ronin e Wo Long: Fallen Dynasty. Por conta disso, temos texturas de terrenos defasadas, assim como a de construções e portões.
As cutscenes são outro ponto positivo, lembrando filmes clássicos como o Tigre e o Dragão. O diretor de cutscenes fez um trabalho louvável aqui e conseguiu captar a essência de cada personagem de maneira grandiosa.
Review de Dynasty Warriors: Origins – Vale a Pena!
Chegou a hora de responder aquela pergunta do início do texto. Ao meu ver, sim, Dynasty Warriors: Origins cumpre bem o seu propósito e serve como a porta de entrada perfeita por essa franquia que já dura décadas.
Os visuais, sistemas e a jogabilidade foram completamente refinadas, usando a experiência acumulada da Koei Tecmo e a adaptação ao mercado para entregar um jogo que respeita o legado da franquia mas que é corajoso em navegar por novos horizontes.
2025 já começa com um AAA excelente!
Dynasty Warriors: Origins representa uma evolução gritante não só para a franquia mas para todo o gênero musou, proporcionando uma experiência épica que reflete o período retratado.
Pontos Positivos
- Três campanhas robustas
- Bom fator replay
- Diálogos incríveis
- Batalhas épicas com milhares de soldados na tela
Pontos Negativos
- Trilha sonora passa despercebida
- Leves quedas de frames em missões específicas
- Texturas das construções e terrenos deixam a desejar
- Narrativa
- Jogabilidade
- Desempenho
- Visuais
- Som