A perfeição, por mais que não exista, é buscada pela humanidade desde os primórdios do mundo. Um dos principais exemplares da busca incessante por ela é Leonardo da Vinci, um dos seres mais ilustres que já pisou na Terra e que tinha o perfeito como filosofia de vida. É diante desse contexto que temos GRIME, um jogo que mescla elementos de dois gêneros: soulslike e metroidvania, num mundo cheio de perigos e obcecado pela perfeição e proporção.
Lançado no PC em 2021, o título finalmente foi disponibilizado nos consoles da geração atual juntamente com um DLC gratuito chamado de Colors of Rot. Neste review, vamos mergulhar na ideia do estúdio Clover Bite para determinar se vale a pena dar uma chance ao jogo.
Perfeição e Divindade
GRIME é protagonizado por um humanoide com um Buraco Negro na cabeça. Guarde essa informação por que ela será muito importante em breve e é a grande responsável pela mecânica mais original do game. A criatura é chamada pelos outros personagens de O Esculpido. Como mencionei mais acima, os seres que habitam o mundo prezam muito pela forma e começam a tratar o Esculpido como uma divindade por conta da perfeição de suas partes.
Ironicamente, sou um grande fã de títulos soulslike, apesar de preferir narrativas mais diretas. Em GRIME, as informações são dispostas de maneira vaga através de diálogos com os NPCs espalhados no jogo. Nosso objetivo principal é descobrir a razão para que o mundo exista e, eventualmente, a nós mesmos. A subjetividade entra em cena de maneira proposital para gerar reflexão e iniciar um debate filósofico entre a equipe que desenvolveu o jogo com quem está de fato jogando: do que nós somos feitos? de onde viemos? qual o nosso propósito?
Em meio a tantos conceitos que envolvem filosofia e sociologia, GRIME aborda temas de grande impacto como o sentimento de superioridade racial, a exclusão do outro devido a forma e introduz até um sistema de castas. Não se engane, a superfície do game parece ser simples, ainda mais com o seu forte caráter subjetivo, mas as discussões inseridas na aventura são bem profundas e interessantes.
Absorção de Identidade
Como mencionei acima, o protagonista da aventura possui um Buraco Negro como cabeça. É graças a essa característica que temos uma mecânica extremamente inovadora. Podemos absorver o golpe do inimigo e, após fazer isso um determinado número de vezes, conseguimos desbloquear a parte do corpo que o inimigo em questão usa para atacar, podendo adquirir bônus passivos interessantes. Em suma, o sistema funciona como um parry tradicional, só que com um tempero a mais. O timing é bem convidativo e divertido de usar.
Cheio de nuances, o sistema de cura de GRIME também é diferente dos demais games do gênero. Ao derrotar inimigos, adquirimos uma barra no medidor de Fôlego. Quando cheio, acionamos esse medidor para recuperar o nosso HP. Isso traz um certo senso de estratégia ao jogo, afinal, a opção de se curar não fica disponível livremente.
O Invólucro, nosso personagem, pode ser evoluído com o uso de Massa, as famosas almas da série Souls. Podemos mudar de nível e evoluir cinco pontos de atributos diferentes. Força, Vigor, Destreza.. O sistema segue a risca o modelo tradicional dos RPGs. Por falar em série Souls, temos estruturas similares às fogueiras, aqui chamadas de Levolam, pedras gigantes. Fiquei positivamente surpreso com a quantidade de armas e de inimigos diferentes no jogo. Por ser um indie de menor escopo, esperava muito menos! Infelizmente, para os apreciadores de equipamentos, as armaduras de GRIME possuem uma função quase que totalmente estética. O único quesito a mais é que quando um conjunto é equipado por completo, ele concede um bônus de efeito para algum Traço.
Os Traços são bônus passivos que são desbloqueados ao absorver golpes inimigos após um número determinado de vezes. Eles precisam ser habilitados e aprimorados com o uso de Pontos de Caça, recurso obtido ao derrotar inimigos elite. Graças aos diferentes sistemas do jogo, podemos construir um gameplay bem particular e diferente dos demais jogadores, o que é um ponto positivo fortíssimo para o game.
Aquarela sombria
Graças ao seu escopo mais compacto, GRIME exige pouco do hardware do PlayStation 5. Os loadings são extremamente velozes e não tive nenhum problema técnico como quedas de frames, bugs, glitches ou crashes. Outro detalhe, esse negativo mas compreensível, é que o jogo falha em usar os recursos do console, principalmente do DualSense. Por ser um indie de baixo orçamento, dá pra relevar, mas a experiência seria mais completa se explorasse um pouco mais os recursos sensoriais que o controle oferece.
Visualmente falando, o jogo não causa impacto mas os cenários e a construção de mundo são feitos de maneira competente, trazendo um senso de imersão pra quem joga. A trilha sonora, que flerta com o gótico, impressiona e ajuda a construir um clima propício para a atmosfera e as perguntas que o jogo busca fazer.
GRIME: Vale a Pena?
O jogo da Clover Bite consegue trazer boas inovações em um dos gêneros mais complicados de se inovar. Apesar de não ser perfeito ou incrivelmente lindo, GRIME é um ótimo exemplar de metroidvania que com certeza vai agradar aos adeptos do gênero. Com boas ideias e uma narrativa que intriga, deixo a recomendação para todos os jogadores que apreciam um bom indie!
PS: Este review foi feito graças a um código de PS5 cedido pela publisher.