Kena: Bridge of Spirits é o jogo do momento. Desenvolvido pela Ember Lab, um estúdio criando seu primeiro projeto na indústria, o game parecia inacreditável na época em que foi anunciado. Com visuais de ponta, rivalizando com as animações da Pixar, a obra prometia entregar uma aventura épica, repleta de momentos mágicos e criaturas fofinhas conhecidas como Rots. O tempo passou, adiamentos foram feitos e Kena finalmente foi lançado. Será que ele faz jus ao hype ou acaba se esbarrando na inexperiência da equipe?
Kena, a Guia das Almas
Kena acaba assumindo o papel de seu pai, que era um Guia Espiritual experiente. A função deles é bem óbvia: acompanhar os espíritos em seus ritos de passagem. Enquanto a maior parte das almas realizam a “travessia” sem grandes problemas, alguns Espíritos possuem traumas do passado, demandando que o Guia entre em ação e realize o processo de purificação.
No jogo, o mundo foi tomado pela corrupção e temos como objetivo purificar o espírito de três personagens: Taro, Adira e Toshi. Apesar de suas histórias não conectarem os personagens, elas estão completamente ligadas ao “cataclisma” que ocorreu no mundo. Antes de podermos confrontar os espíritos, precisamos coletar três relíquias de cada um, aprendendo um pouco mais sobre os eventos que antecederam a sua morte.
No geral, a história tinha um potencial enorme, tanto de comover quanto de causar reflexões e deixar ensinamentos poderosos. Contudo, a narrativa esbarra na superficialidade, tornando difícil o processo de fazer com que os jogadores se importem com os personagens secundários e suas motivações. O game até brilha em alguns momentos, mas não pela qualidade de sua escrita. Os sentimentos são colocados a flor da pele graças a trilha sonora fantástica que é, sem a menor dúvida, a melhor trilha sonora de um jogo eletrônico do ano. Todavia, me repetindo, ela não é acompanhada pelos diálogos e roteiro, o que causa um choque entre as partes. A história carece tanto de profundidade que a maior parte dos jogadores provavelmente não vão se lembrar dela daqui a 12 meses.
Como a experiência do estúdio Ember Lab era completamente focada em animações, eles fazem esta parte MUITO bem, entregando algumas das cutscenes mais bonitas que eu já vi. Não somente isto, todos os efeitos animados do game são bem competentes, chegando num nível similar ao que vimos no começo do ano em Ratchet and Clank: Rift Apart.
Lutando contra a Corrupção
Para lutar contra a Corrupção, Kena conta o auxílio dos Rots, criaturinhas fofas que concedem a ela poderes mágicos. O Martelo dos Rot é um ataque poderoso que tira bastante dano dos inimigos. A Flecha de Rot é um disparo poderoso que penetra os inimigos e, por fim, a Bomba de Rot é vital para derrotar inimigos encouraçados e solucionar alguns puzzles e trechos de plataforma.
Além das habilidades atreladas aos Rots, temos “magias” ligadas a Kena e ao seu cajado. O Escudo Mágico é capaz de bloquear o dano recebido, já a Corrida faz com que a personagem atravesse portais dimensionais e inimigos, tirando HP dos mesmos. Assim como a sua história, o gameplay de Kena: Bridge of Spirits é bem básico. Com quase nenhuma variedade no que tange o combate, outro problema é a movimentação pesada da personagem e os tempos esquisitos tanto de Parry quanto de Desvio. Vale mencionar que este problema fica mais perceptível em dificuldades mais altas.
Mas calma que o jogo também entrega elementos muito positivos. Por ser uma jornada relativamente curta (10-12 horas), o título apresenta uma variedade bacana de inimigos e uma quantidade surpreendentemente vasta de minichefes. Pra quem adora as famosas “boss battles”, certamente é um motivo pra se comemorar. Outro ponto é a interação dos Rots com os cenários. Dá pra ajeitar estátuas caídas no chão e ganhar cristais como recompensas. Estes cristais são usados para comprar Chapéus para os Rots, deixando eles ainda mais fofos.
Outros elementos que gostei bastante:
- Usar Rots para levantar obstáculos e salvar outras criaturas
- Encontrar frutas, alimentando os bichinhos e ganhando “pontos” de habilidade
- Seções de plataforma que usam o Arco
As “Firulas” de Kena
Como todo jogo do gênero, existem algumas atividades secundárias que foram implementadas com o objetivo de extender a duração do jogo. Ao todo, são mais de 200 colecionáveis espalhados em 6 tipos diferentes:
- Locais de Meditação – Bem similar a Ghost of Tsushima. Sente, observe a paisagem e ganhe um incremento permanente no HP.
- Correio Espiritual – Entregue-as nas Caixas Postais do Vilarejo (Hub), abra novas áreas e pegue outros tipos de colecionáveis
- Rots – Criaturas fofinhas que são usadas pela protagonista ao longo da aventura
- Baús Amaldiçoados – Baús que só podem ser abertos após completar desafios (matar X inimigos em X tempo)
- Chapéus de Rots – Basicamente skins dos Rots
(quase inúteis) - Templo das Flores – Templos amaldiçoados que precisam ser purificados ao realizar puzzles envolvendo a forma temporária dos Rots
Caso você queira coletar tudo, saiba do grande problema envolvendo a atividade: tudo que você coleta ao longo da sua aventura não fica marcado no mapa. Logo, caso você queira voltar depois e não se lembre mais dos cantos que você já visitou, se prepare para perder bastante tempo revirando o mapa. Os Rots até deixam cogumelos de cor lilás como indicativo de que já foram recolhidos, contudo, você ainda vai precisar ir até o local ver se os cogumelos estão lá. A marcação no mapa é um recurso bem simples que já deveria estar no jogo.
A Magia do PS5 em Kena
Como já se tornou rotineiro, o PlayStation 5 ajudou demais a Emberlab a entregar a melhor experiência possível do jogo. Com loadings praticamente inexistentes, efeitos de partículas aprimorados e a possibilidade de enxergar todos os 100 Rots na tela, o investimento da companhia japonesa com certeza vai trazer retornos positivos. Para quem não sabe, a PlayStation fez uma contribuição financeira para garantir que a versão de PS5 fosse realizada.
Vivi toda a aventura de Kena no modo desempenho e o jogo brilha demais graças aos 60 FPS. O aúdio no Pulse ficou ainda mais perfeito. A decepção aqui se dá pelo uso parcial do DualSense. Os recursos do controle são acionados no combate, contudo, fora dele, é como se estivéssemos jogando num controle comum do PS4. Muito provavelmente a equipe não teve tempo o suficiente para implementar mais funcionalidades durante a exploração.
Outro ponto curioso é o suporte parcial ao Game Help. Apenas os objetivos principais possuem vídeos que exibem o que deve ser feito. Entretanto, os mais de 200 colecionáveis foram deixados de lado, o que dificulta o processo de fazer 100% do jogo.
Kena: Bridge of Spirits – Vale a Pena!
Longe de ser um jogo perfeito, tampouco o melhor do ano, Kena entrega uma experiência ótima dentro do gênero e cumpre bem suas promessas. Com visuais lindíssimos, uma história com potencial desperdiçado e uma jogabilidade simples e divertida, este foi um passo grandioso para o legado da Ember Lab. Não tenho dúvidas de que não vai demorar muito para que o estúdio comece a ocupar o “Olimpo” dos estúdios de jogos eletrônicos. Além de todos os elementos citados, o jogo está sendo vendido por R$214,90, um preço honesto e bem menor do que o praticado atualmente por outros títulos.