Um protagonista para todas as ocasiões
Kazuma Kiryu é um homem realmente versátil. O cara já foi de tudo um pouco, desde prisioneiro até atendente de fast food, subindo e descendo de vida dentro do submundo criminoso da máfia japonesa a ponto de se tornar uma verdadeira lenda, o Dragão de Dojima e o quarto presidente do clã Tojo.
No final de Yakuza 6: The Song of Life, o último título da série no qual estrelou, Kazuma foi dado como morto, após ser baleado no porto de Hiroshima. No entanto, como ficamos sabendo nas cenas pós-créditos daquele jogo, ele não haveria morrido de fato. Agora, em Like a Dragon Gaiden: The Man Who Erased His Name, mais um lançamento do lendário Ryu Ga Gotoku Studio, ficamos sabendo o que se passou depois daquilo.
O jogo se passa durante os eventos de Yakuza: Like a Dragon, o último lançamento da série, e há até momentos em que os caminhos dos dois protagonistas, Kiryu e Ichiban quase se cruzam. No entanto, essa aventura paralela de Kazuma é um conto independente, podendo ser jogado por quem ainda não deu uma chance às maluquices do protagonista do vindouro Like a Dragon: Infinite Wealth. O pouco que Gaiden trata da trama passada é rapidamente resumido, dando espaço à nova história.
Uma segunda chance?
Nela, ficamos sabendo como Kazuma sobreviveu e o que o fez se tornar um homem sem nome, como o título do jogo: para salvar a vida de todos que importam para ele, as crianças do orfanato Glória da Manhã em Okinawa – quem jogou Yakuza 3 sabe muito bem quem são e a importância deles na vida do personagem – deixou para trás sua identidade para se tornar Joryu, agente da facção Daidoji, uma poderosa e influente organização, que o ajudou a forjar sua morte.
No início do jogo, o vemos fazer parte dos seguranças de um carregamento de ouro que chegaria ao Japão por meio da CIA. Mas as coisas não dão muito certo e seu superior direto, Hanawa, acaba sendo sequestrado por uma das famílias criminosas da yakuza. Em meio às suas investigações, nosso herói se envolve com membros do clã Watase, velhos conhecidos de sua antiga vida, e as coisas ficam um tanto mais complicadas, como dita o estilo de trama de praticamente todos os jogos da série.
Em contato com eles e avançando cada vez mais na conspiração que o cerca, vemos Joryu travando batalhas cada vez maiores a fim de manter as crianças em segurança, pois a todo momento são ameaçadas pela Daidoji, para que ele faça o que eles querem, sem questionar. Sendo o homem que é, o protagonista da série não dá de pau mandado e se coloca nas mais malucas situações, saindo quase ileso.
Afinal, este é mais um Like a Dragon, e quem vem acompanhando sabe que o cara é um tanque em forma de humano, um baita de um casca-grossa. Sua fama, apesar de ele negar ser a pessoa que foi, o precede a cada lugar que passa, inclusive no Castle, um navio cargueiro convertido em parque de diversões para adultos. Lá, no coliseu, bem como passagens anteriores da série, é possível digladiar contra todo tipo de adversário, com a novidade de poder formar seu próprio time de aliados, para lutar em grupo.
Entre pouco amigos e muitos socos
Nas idas e vindas de Joryu, ele fica conhecendo Akame, uma figura que à primeira vista parece mais uma vigarista, mas que logo revela ser coração mole, pois ajuda aos desamparados na cidade de Osaka. Correndo de um lado pro outro por Sotenbori, o distrito fictício onde parte do jogo se passa, o herói toma conta de todo tipo de missão, subindo o nível do grupo de Akame, colhendo benefícios em forma de novos equipamentos.
Falando neles, há algumas novidades interessantes. Como agente da Daidoji, há um novo estilo de luta, uma mistura do “break dance” de Majima em Yakuza 0 com a ginga vista em Judgment, o spin-off de Like a Dragon estrelado pelo detetive Yagami. Com ele, além de descer a lenha com estilo, é possível usar bugigangas como sapatos a jato e um drone para auxiliar no combate.
Não demora para Joryu apelar para o estilo mais clássico no qual estamos acostumados, que serve como uma junção de todos os tipos de luta que ele já usou na série, podendo até agarrar objetos próximos para acabar com seus inimigos. É bem divertido alternar entre os dois estilos durante as muitas brigas do jogo, mas admito que depois de um tempo passei a jogar no modo fácil, como alguém que já está um pouco cansado da pancadaria nesses jogos.
Como todos os outros capítulos anteriores, a “melhor” parte de The Man Who Erased His Name é sua história que, da mesma maneira dos anteriores, é tratada com muito mais seriedade que sua jogabilidade pelo game. Mesmo assim, há o que se falar sobre a qualidade dela, especialmente em comparação aos outros jogos, no modo como ela constantemente é deixada de lado para forçar a gente a interagir com seus minigames.
Mas mesmo que fosse colocada em primeiro plano, é clara a diferença de qualidade da trama quando colocada lado-a-lado com o que já vimos de excelente em outras aventuras de Kazuma e companhia. Essa lorota de que agora ele é um faz-tudo e que mesmo sendo o homem que é ao não aceitar ser mandado mas mesmo assim sempre cair na contradição fica bem chatinha rápido.
Claro, Gaiden trata-se de um jogo e é preciso haver uma desculpa para que o personagem continue fazendo o que faz de melhor, mas o pouco que há de história aqui vai deixar o fã mais ardoroso de Like a Dragon desapontado com o desenrolar dessa história paralela, ainda mais por se tratar de uma continuação dos eventos de um jogo tão bom quanto Yakuza 6, sem falar que também serve como a porta de entrada do personagem no elenco principal de Infinite Wealth, cujo lançamento está marcado para o começo do ano que vem, ao lado de Ichiban.
Infelizmente, deixa um pouco a desejar
É triste dizer isso como um adorador de Yakuza, que vem jogando desde o primeiro no PlayStation 2: Like a Dragon Gaiden: The Man With Who Erased His Name não se garante como um jogo obrigatório para adoradores da franquia. Mesmo com suas novas ferramentas de combate, as lutas do jogo não passam de mais do que já vimos ser feito de maneira mais legal em outros capítulos, e o pouco que há de novo em termos de atividades, como o cabaré “imersivo”, que coloca você na companhia de acompanhantes interpretadas por atrizes reais, não anima muito.
Por outro lado, se você fizesse uma lista de tudo que um jogo da série precisa ter para fazer parte dela, este daqui não deixa de “ticar” todas as caixinhas, mesmo que fazendo de uma maneira pouco emocionante e passável, o mínimo necessário. Não será uma grande surpresa se deparar com um curto resumo de tudo quando chegar a hora de jogar a continuação de fato da série, com Like a Dragon: Infinite Wealth, por se tratar de uma história sem muito sal como a apresentada em The Man Who Erased His Name.
Mesmo contando com a volta de Kiryu ao papel principal, há limite para o que um só homem possa fazer, mesmo ele sendo quem é, o que ele já fez no passado e seu potencial como protagonista. Se não há uma boa trama para acompanhá-lo, ele passa a ser somente uma lembrança do que poderia ter sido, amarrando uma série de atividades que fizeram parte de jogos já passados e em todos os aspectos de maneira melhor que Like a Dragon: The Man Who Erased His Name.
PS: Este review foi feito graças a um código de PS4/PS5 cedido pela assessoria da Sega no Brasil.
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