Tenho uma história curiosa com Lords of the Fallen. Joguei o original e inicialmente detestei, contudo, decidi rejogar com calma no começo do ano passado e acabei amando o jogo, fazendo até o 100%.
Fiquei bem feliz quando vi que a CI Games decidiu insistir na franquia, trazendo uma espécie de soft reboot que respeitou todo o trabalho feito com o anterior, mas que alterou drasticamente o DNA e os alicerces do jogo.
Será que o novo projeto, liderado pela Hexworks, valeu a espera? É isso que vamos abordar nesse review de Lords of the Fallen.
Um conto de dois reinos
Como mencionei acima, a Hexworks optou por não descartar o jogo prévio por completo e um dos pontos mais aproveitados pelo estúdio diz respeito a lore. O objetivo do protagonista, um detentor da Lâmpada, é impedir que o Rei Adyr seja renascido.
O estúdio seguiu um caminho pra contar a história que eu não sou muito fã. As coisas são espalhadas em itens ou através de cenas subjetivas para que o jogador interprete as mesmas. Essa é uma das piores heranças deixadas pela FromSoftware. Não é sempre que esse modo de contar uma história combina com o projeto e senti isso com Lords of the Fallen.
A lore do jogo é riquíssima, as missões secundárias são as mais complexas do gênero, apresentando múltiplas etapas e que são espalhadas em diversos cenários. Por conta dessa disposição subjetiva, muito da lore acaba se perdendo, o que acaba sendo um ponto negativo. Outro ponto a ser destacado é que essas missões são bem fáceis de serem perdidas, o que dificulta bastante a vida dos caçadores de troféus e conquistas. Em algumas das missões senti que o estúdio pesou a mão demais só pra garantir uma complexidade artificial desnecessária.
Os personagens secundários são ótimos mas acabamos não entendendo por completo suas motivações por conta desse estilo narrativo. Diferente de outros exemplares recentes do gênero, como Lies of P, Lords of the Fallen é bem mais denso e complexo e isso é refletido diretamente em sua duração. Separe entre 50 a 60 horas para concluir o primeiro NG. Isso claro, se você decidir explorar bem os cenários.
Um convite aos diligentes
Uma das principais mecânicas de diferenciação de Lords of the Fallen é o seu sistema de dois reinos: Axiom e Umbral. Axiom é o mundo dos vivos e o Umbral é o reino dos mortos.
Como o nosso personagem é um Detentor da Lâmpada, ele pode transitar entre os dois reinos. Esse sistema engenhoso afeta integralmente a experiência do jogo. Existem itens, caminhos e personagens que só aparecem em um reino específico, demandando que o jogador seja bem diligente na exploração.
A Lâmpada emite uma luz que revela caminhos do reino Umbral enquanto o personagem está em Axiom, contudo, caso queira, é possível mergulhar completamente no reino Umbral, gerando uma sensação fantástica de risco e recompensa.
Por ser o reino dos mortos, inimigos semelhantes a zumbis surgem com frequência pra atrapalhar o jogador. Quanto mais tempo é gasto no reino Umbral, a quantidade de zumbis e outros adversários aumenta, o pior deles, um Espectro Ceifador, surge após 5 minutos. Achei o Espectro Ceifador um pouco desbalanceado em relação aos demais inimigos do jogo. Ele causa mais dano do que muitos chefes presentes no game.
No geral, a sacada da transição entre reinos é inteligente e enriquece a exploração e a relação entre risco x recompensa. Similar à Elden Ring, Lords of the Fallen é um jogo muito generoso com os gamers curiosos. Cada canto do mapa reserva boas recompensas, seja em forma de itens consumíveis, magias ou equipamentos poderosos.
Outro sistema inusitado de Lords of the Fallen diz respeito aos Vestígios, as fogueiras do game. Temos Vestígios fixos e podemos colocar Vestígios provisórios durante nossas andanças. Esses locais de repouso provisórios só podem ser inseridos em locais específicos dos mapas. Os cenários de Lords of the Fallen são tão grandes e confusos que esse mecanismo se torna vital para progredir entre as áreas.
O level design do game deveria ser um pouco mais intuitivo. Por muitos momentos me vi perdido sem ter a mínima ideia do que deveria fazer ou pra onde ir, isso considerando que sou um veterano no gênero e já fiz 100% em quase todos os souls.
Um arsenal pomposo
A Hexworks foi além para entregar um dos Soulslikes mais densos da história. Temos centenas de opções de armas, armaduras e três escolas de magias diferentes. Isso gera uma vasta quantidade de builds, algo muito apreciado pelos fãs do gênero.
Existe um balanceamento surpreendente nas armas, fazendo com que os jogadores tenham acesso a um excelente leque de opções no que diz respeito as armas. No quesito magias, temos feitiços umbrais, de radiância e piromancias, também abrindo um emaranhado bem atrativo de opções.
Uma coisa que o jogo fez muito bem diz respeito a filosofia pros arremessáveis. Após coletar o item em questão, você pode usar ele a vontade mediante a quantidade de mana disponível. Não existe uma quantidade pré-fixada. Quer continuar usando? Basta recuperar a barra.
O estúdio novato também foi generoso na quantidade de chefes. São dezenas deles espalhados entre principais e minibosses e, no NG, o balanceamento existe. Contudo, quando vamos pro NG+, a situação foge de controle. Os chefes estão recebendo uma quantidade absurda de HP, o que torna as lutas bem chatas.
Outro ponto que vale ser mencionado é o fator replay gigantesco do game. Por conta da sua complexidade, diversas missões secundárias são facilmente perdíveis, demandando que o jogador as faça em outro NG. Outro ponto digno de nota é que o estúdio está trabalhando em uma experiência de NG+ mais personalizada, permitindo que os jogadores escolham os efeitos que querem ativar ou desativar ao começar uma nova run.
Atmosfera magistral
Usar a Unreal Engine 5 trouxe benefícios e malefícios para Lords of the Fallen. Os visuais do jogo estão belíssimos, lembrando o que vimos em Demon’s Souls Remake no início da geração (apesar de ainda não estar no mesmo nível).
Contudo, o jogo sofre com diversos problemas técnicos, seja no formato de bugs ou crashes que causam o fechamento abrupto do game. Felizmente, o estúdio Hexworks tem se empenhado arduamente para consertar completamente o jogo e tem soltado um patch por semana. Diante disso, não deve demorar para que todos os problemas técnicos sejam corrigidos.
Seguindo o novo padrão da indústria, o game conta com dois modos, Desempenho e Qualidade. Em minha opinião, o Qualidade beira o estado injogável para um título como esse. O tempo de resposta é fundamental nos embates e somente o Modo Desempenho proporciona uma experiência fluída.
A trilha sonora orquestrada pela Hexworks beira a genialidade. Temos uma imersão fantástica graças aos tons sombrios que são evocados na trilha. Os efeitos sonoros também são um destaque. Podemos ouvir o som do tilintar de espadas, do vento uivando e muito mais.
Lords of the Fallen: Vale muito a pena!
Lords of the Fallen é a materialização de algo muito especial. Diversos desenvolvedores apaixonados se uniram e construíram uma obra maravilhosa que além de prestar homenagem ao principal exemplar do gênero, acrescenta uma série de ideias novas que trazem um frescor muito bem vindo ao todo.
Se você aprecia RPGs de ação, não vejo motivos para que você não mergulhe em Lords of the Fallen. A CI Games foi muito feliz em sua decisão de não abandonar a franquia e essa releitura foi um acerto em cheio no que os fãs queriam.