Persona 5 foi um dos jogos mais bem recebidos dos últimos 10 anos, trazendo consigo uma admiração do público e uma atenção que a Atlus, sua desenvolvedora, jamais tinha visto. Após isso, tivemos o lançamento de Persona 4 para plataformas atuais, a mais nova entrada da saga Shin Megami Tensei e o bem-recebido Remake de Persona 3 como os maiores RPGs da empresa, reiterando SMT e Persona como os pilares da casa (e também os mais antigos).
Em 2016, tivemos o anúncio do desenvolvimento de uma nova IP pelo próprio diretor de Persona 5, Katsura Hashino, denominado Project Re: Fantasy, uma nova IP com o intuito de se estabelecer junto das outras grandes IPs da Atlus. Oito anos se passaram e finalmente estamos com o jogo em mãos! Desta vez, com um novo nome: Metaphor: ReFantazio. Será que, após todo esse tempo, ele conseguirá se provar à altura de seus “irmãos” mais velhos?
Vem comigo nessa review de Metaphor: ReFantazio!
Familiar, mas diferente
Metaphor: ReFantazio é um JRPG de turno que todo fã da Atlus irá se acostumar rapidamente, tendo mecânicas, estrutura de história e gameplay geral bem parecidos com os outros jogos da empresa. Não se engane! O jogo se passa em um universo semi-medieval totalmente original, o que acaba sendo bem diferente das ambientações modernas e baseadas na realidade de SMT e Persona. A história diverge bastante das que já estamos acostumados nessas séries e conta com mecânicas de gameplay com mudanças e misturas bem interessantes, que, no fim, se juntam em um jogo familiar, trazendo uma experiência refrescante e que prende o jogador por toda a jornada.
Jogo dos Tronos
O jogo se passa no reino de Euchronia, país composto por nove raças diferentes e governado pela família real, que nos últimos anos perdeu sua autonomia para a Teocracia da Coroa, um grupo político-religioso que prega a disseminação do Sanctarismo como religião absoluta do estado. Louis Guiabern, um oficial militar de alta patente, cansado da estagnação e corrupção do governo e da igreja, é o estopim para os acontecimentos do jogo após matar o rei atual, cujo único herdeiro é reconhecido publicamente como morto, iniciando uma quase literal corrida pela coroa.
O universo do jogo é rico e pragmático, mostrando constantemente como o racismo, a xenofobia, a corrupção e a intolerância religiosa são práticas comuns nesse mundo, e como a igreja e o estado, apesar de possuírem pessoas que corroboram para o bem, são engolidos pela ganância e obsessão de integrantes mais poderosos.
Nós controlamos o melhor amigo do príncipe herdeiro, que segue vivo em segredo, porém em coma, com sua saúde deteriorando cada vez mais por conta de uma maldição contraída anos atrás em uma tentativa de assassinato. Sua única esperança de salvação é a morte do mago que o amaldiçoou: Louis Guiabern, o indivíduo mais poderoso do reino e favorito na corrida pelo trono.
Mistura Perfeita
Como dito anteriormente, quem jogou SMT ou Persona vai se encontrar rapidamente em Metaphor: ReFantazio, com o sistema de calendário, seguidores/social links, upgrade de virtudes/social stats e exploração em zonas. O combate em si também contém várias semelhanças, com uma mistura de press turn do SMT e personalização/fusão de “classes” do Persona.
Nas áreas com mudanças, elas são extremamente bem-vindas: as zonas nas cidades para exploração são maiores; podemos teleportar diretamente para os seguidores; existe um compendium que explica praticamente tudo do jogo, acessível a qualquer momento; usar os equipamentos mais fortes com apenas um clique, etc. Além disso, há mudanças maiores, como a introdução de combate em tempo real, que serve tanto para iniciar o combate com o inimigo paralisado e com metade de sua vida, como também matar instantaneamente inimigos mais fracos em campo, acelerando muito a exploração de masmorras e tornando o jogo muito menos cansativo em longas jogatinas.
Provavelmente, a mudança que mais me surpreendeu foi o sistema de arquétipos, que admitidamente não me chamou atenção nos trailers iniciais, mas que, pessoalmente, se provou o melhor sistema de gameplay que a Atlus já fez. Existem mais de 40 arquétipos no jogo, que são basicamente classes liberadas ao decorrer da história, da aproximação com seus seguidores e da evolução dos próprios arquétipos. Por exemplo, o guerreiro, ao chegar ao nível 20, é capaz de liberar o arquétipo do espadachim.
Nesse momento, quem jogou SMT ou Persona pode estar pensando: “Mas temos acesso a centenas de demônios/personas nos outros jogos. Como esse sistema pode ser melhor se temos uma quantidade menor?” Realmente, a variedade visual e a quantidade pura dos outros jogos é maior, mas, enquanto em SMT controlamos demônios genéricos e em Persona nossos companheiros são limitados a apenas um ou dois personas durante todo o jogo.
Em Metaphor todos os integrantes que nos acompanham na jornada podem usar praticamente todos os arquétipos a qualquer momento. Isso abre um leque de gameplay e variedade que, na minha opinião, é o resultado de uma excelente mescla dos dois outros jogos. Isso sem contar o sistema de heranças de técnicas, que permite usar até quatro técnicas de qualquer outro arquétipo na sua “classe atual”, possibilitando criar, assim, um mago com dano físico e mágico, ou um cavaleiro tanque que consegue chamar a atenção de inimigos e curar ao mesmo tempo.
Uma coisa não tão boa, no entanto, é o design da maioria das masmorras e zonas de combate, muitas das quais são repetidas durante o jogo e não apresentam uma criatividade destacável ou variedade suficiente, pecando bastante se comparadas aos palácios de Persona 5 ou até mesmo a algumas zonas de SMT 5. O combate em tempo real acaba diminuindo o tempo que passamos nesses lugares, e existem algumas masmorras com visuais notáveis e puzzles bem legais, mas é inegável que esse é um dos pontos mais negativos do jogo.
Direção de arte padrão Atlus (Metaphor: ReFantazio)
Além de ter entregue um sistema de gameplay e combate que me cativaram bastante, a parte artística e sonora de Metaphor também transmite a alta qualidade já presente em outros jogos da Atlus. Os menus e interfaces com toques davincianos incríveis tornam a ação de mudar o arquétipo do personagem, ajustar a formação da party ou usar itens uma experiência sempre interessante. O retrato dos personagens também está excelente, com várias emoções e até se mexendo quando o personagem fala.
A trilha sonora, que por pouco não tirou a de Persona 5 do topo do meu pódio da Atlus. Este é um feito que poucos jogos conseguiram e acabam tornando o combate e a exploração ainda melhores com as músicas dinâmicas, que mudam conforme o que acontece no mapa, como ao entrar em combate ou fugir de inimigos.
Nem tudo são flores! Apesar de nunca esperar um esmero gráfico avançado da Atlus, notei que o jogo muitas vezes aparenta ser mais feio que Persona 3 Reload, SMT 5 Vengeance e, em certos pontos, até que Persona 5 Royal, provavelmente por conta do estilo do jogo ser um pouco mais realista e ambicioso. O jogo apresenta texturas melhores em muitas partes, e o modelo dos personagens mostra uma evolução em relação aos jogos passados, mas realmente é algo muito estranho e difícil de ignorar quando algo pior aparece na tela.
Em relação desempenho, joguei todo o jogo sem nenhum bug ou crash na versão da Windows Store do PC. Com um processador 3600X, 32GB de RAM e uma RTX 4080, o jogo rodou sem nenhum problema nas configurações máximas em 4K, e parece ser leve o suficiente para rodar em máquinas bem mais modestas e até no Steam Deck. Além disso, Metaphor disponibiliza uma demo para testar a qualquer momento antes de efetuar a compra.
Metaphor: ReFantazio – Vale a Pena?
Metaphor: ReFantazio está bem longe de ser meu primeiro jogo da Atlus, e o fato de ser bem parecido com os outros inegavelmente tira aquela sensação única de quando jogamos um Persona ou SMT pela primeira vez. No entanto, a Atlus provou que consegue, sim, evoluir seus jogos e construir um novo universo cativante e com mecânicas ainda melhores que suas obras anteriores. Zerei o jogo com cerca de 80 horas e não vi o tempo passar.
O protagonista do jogo carrega consigo um livro de fantasia utópico muito peculiar, e a primeira pergunta que temos ao iniciar o jogo é se a fantasia pode ser limitada à imaginação. Seria ela algo tão impotente?
Quando consumimos algo, seja um livro de aventura, um filme de comédia ou até mesmo um jogo de fantasia, muitas pessoas nos perguntam por que desperdiçamos nosso tempo com isso, afirmando que não é nada além de ficção e inutilidade. Mas, como o próprio jogo nos indaga, isso é mesmo verdade?
A fantasia nasce da esperança, do luto, da guerra, da amizade, entre outros sentimentos reais que afetam nosso mundo. Quantos de nós, por exemplo, não choramos assistindo a um filme sobre animais ou jogando jogos que tratam de amor paterno, abraçando nossos pets ou pais logo em seguida com um amor ainda maior por eles?
A fantasia nasce de um desejo, tornando-se tangível e mudando a nossa própria realidade.
Pontos Positivos
- Melhor gameplay já feita pela Atlus
- Universo original e interessante
- Trama madura e com um ótimo pacing
Pontos Negativos
- Gráficos bem abaixo do esperado em certos pontos
- Design das Dungeons com poucas variações
- Conteúdo pós-game/NG+ praticamente inexistente
- Narrativa e Lore
- Jogabilidade
- Gráficos
- Trilha Sonora e Efeitos Sonoros
- Desempenho
- Conteúdo secundário