Crossovers, aquela junção de várias franquias em um grande evento, são coisas que vendem. Veja, no mundo dos videogames, a franquia Smash Bros., da Nintendo, que a cada novo lançamento se torna um sucesso e até mesmo um fenômeno cultural, pelo fato de, além de serem ótimos jogos de combate em plataformas, também dão chances aos fãs de franquias da Big N de verem o Mario batendo no Link, por exemplo.
O fato é que a fórmula de Smash Bros. já tentou ser replicada por várias empresas com resultados que variam de qualidade – mas em 2022, acredito que pela primeira vez um oponente digno surgiu: Multiversus, da Warner. O Desconto em Games teve a oportunidade de começar a jogar o game em acesso antecipado, e contamos nossas impressões a seguir:
Além do crossover e do fan service
Antes de prosseguir no texto, quero deixar claro meu compromisso em só comparar Multiversus com Smash Bros. nessa primeira parte da análise – não por não serem jogos que tem características em comum, mas sim para avaliar o título das franquias da Warner mais como seu produto próprio.
Entretanto, para falar sobre um dos principais acertos do título, é importante mostrar o que torna Smash Bros. tão bom e outros jogos que tentaram surfar na mesma estrutura de gameplay parecem não ter entendido – o fan service. Veja, ter referências aos personagens e suas franquias de origem é importante e adiciona uma estrutura confortável de familiaridade e até mesmo amor com as séries para estes jogos, só que existe uma dose certa, que ainda torna o game algo próprio e não uma colagem de vários momentos que criam buzz.
Smash Bros. faz isso com maestria desde sempre, com pequenos toques como o menu de ações do protagonista de Dragon Quest sendo retirado diretamente do jogo de origem, mas que não modificam ou saem do padrão do gameplay do título. É uma referência, mas você ainda está em Smash Bros. Multiversus repete isso com maestria, se esforçando em trazer familiaridade as peças selecionáveis sem perder o sentido com sua jogabilidade.
Peguemos o Batman, por exemplo. O seu gancho, batarangue e demais utensílios estão presentes em seu gameplay, mas de forma integrada genialmente as batalhas, sem parecer leviano ou que está lá só por estar. Eles fazem sentido mecanicamente e, para quem não se interessar por essas coisas, são legais e dão dano. É a mistura perfeita e necessária.
Ao mesmo tempo, quando necessário, o jogo bebe de fontes até mesmo não oficiais para deixar os personagens engajantes – é o caso com o Salsicha, que em vez do covarde bem conhecido retratado nas animações de Scooby Doo, aqui é um lutador excelente com tons de… Dragon Ball – consequência de um popular meme que existe desde 2018.
Quem quiser um fan service mais avançado também encontra em Multiversus. Assim como Smash Bros. muitas vezes usa jogos obscuros em menus e itens, o crossover da Warner utiliza seu sistema de skins para colocar, por exemplo, um visual do Superman de uma saga limitada dos quadrinhos dos anos 1990, DC Um Milhão, como opções. É a forma perfeita, no fim, de utilizar marcas tão fortes que estão sobre controle da Warner e ainda sim fazer uma experiência completa – e que, com dubladores como Guilherme Briggs dando vida ao Homem de Aço na versão brasileira, ainda ganham tons confortáveis, remetendo a infância.
Multiversus e o dilema F2P
A jogabilidade de Multiversus é básica se comparada a jogos de luta como Street Fighter e afins, mas mesmo assim consegue ter nuances o suficiente para tornar ele algo que, quanto mais treino investido pelo jogador, mais habilidoso e com chances de vitória ele fica – e isso é algo positivo, já que se trata de um jogo F2P.
Veja, por mais que FPS e afins estejam constantemente presentes como jogos gratuitos para jogar, games de luta ainda são novatos nesse meio, o que causa que muitas pessoas fiquem com um pé atrás ou esperem políticas de monetização predatórias, que acabem impedindo o jogador de vencer caso não invista algum dinheiro no game. Multiversus mostra que o caminho é outro, disponibilizando sua monetização principalmente para acelerar o processo de liberar novos personagens ou para liberar cosméticos.
Isso cria uma estrutura em que o jogador que se dedicar ao game e não tiver interesse em itens cosméticos poderá ter acesso a todos personagens, enquanto roupas alternativas vão chamar atenção daqueles que quiserem jogar com seus bonecos de uma maneira diferente e se destacar no online. É divertido e exatamente o mesmo modelo que jogos como Valorant e os populares MOBA fazem, e que caiu como uma luva para o universo de um jogo de luta – potencialmente se tornando o primeiro exemplo de algo que, pode no futuro, ser uma tendência.
Ao mesmo tempo, o jogo conta com uma mecânica que, embora não seja premium, parece ser um resquício do mundo de jogos F2P – as vantagens, ou perks no original, em que antes de cada batalha o jogador pode customizar seus personagens com habilidades ganhas durante as lutas.
Essa customização é algo comum em F2P, mas não sei se estou sendo um tanto protetor do meu gênero favorito, só que em luta me parece algo que tira um pouco da graça dos combates. Ambientes controlados em que as habilidades de cada boneco são imutáveis me parecem incentivar mais a melhoria e o treino, enquanto o uso das vantagens pode criar situações em que, mesmo com esforço, os oponentes sejam imbatíveis pela escolha de um poder específico – embora, sendo sincero, não encontrei nada do tipo nas minhas horas em Multiversus, talvez sendo então um medo infundado.
Conclusão
Multiversus é um jogo excelente, e que sinto pode ser uma porta de entrada para muitas pessoas para o gênero de luta como um todo. Com um elenco empolgante, visuais bonitos, direção sonora primorosa e referências constantes aos mundos que amamos, mas que em nenhum momento mudam a forma em que o título se apresenta como um exemplar eficaz das pelejas virtuais, ele com certeza é uma surpresa agradável.
Agora, para ele continuar sendo interessante e com base de jogadores ativas, só precisamos que a Warner continue lançando conteúdos para ele – o que faz com que, daqui a uns meses, após a agitação do lançamento ter passado, o momento perfeito para entender realmente o que será esse jogo no grande escopo do mundo dos videogames.