Painkiller tem um lugar especial no meu coração e o motivo é um tanto inusitado. O game foi o meu primeiro contato com uma obra do estúdio People Can Fly, equipe que pra mim é responsável por alguns dos shooters mais divertidos do mercado.
Na época, 2004, o jogo foi bem recebido tanto pela sua campanha quanto pela experiência multiplayer. A campanha contava a trágica história de Daniel e Catherine, um casal separados por um grave acidente. A trama colocava Daniel no Purgatório combatendo as hordas de Lúcifer para garantir um lugar no céu.
Por algum motivo surpreendente, a 3D Realms se uniu à Anshar Studios para lançar um reboot/remake da franquia em pleno 2025, 21 anos depois do original. Será que essa ideia deu certo? É isso que você vai descobrir neste review de Painkiller.
Daniel ficaria irritado
Nesses jogos Doomlike, a comunidade não costuma ligar muito para o aspecto narrativo, contudo, ignorar quase que completamente esse setor é um ultraje. O Painkiller original tinha uma história lotada de clichês mas que era divertida e ajudava a extender a durabilidade do jogo, aqui, o foco é quase que total na jogatina cooperativa.
O jogo claramente começou a ser construído durante a época em que os shooters co-op de 3-4 pessoas estavam em alta, contudo, o gênero já se tornou incrivelmente lotado de exemplares e, para um título se destacar perante a uma concorrência tão brutal, ele precisa ser extremamente especial. Esse não é o caso dessa releitura de Painkiller.
Narrativamente falando, o jogo é pobre e o conteúdo é bem raso. Podemos concluir as três expedições disponíveis em 5 a 6 horas. No estado atual, o fator replay é bem baixo, mesmo convidando amigos para se divertirem juntamente conosco.

Painkiller permite que o jogador desfrute da aventura sozinho ao lado de bots, contudo, CLARAMENTE a proposta foi pensada para ser jogada em co-op e a experiência de ir solo é no mínimo chata. Como destaquei acima, em um gênero tão competitivo, temos dezenas de exemplares que se saem bem melhor na jogatina solo (e em co-op).
Ferramentas do Criador
Para despachar as hordas de Azazel, precisamos escolher entre quatro personagens diferentes e, claro, usar um arsenal seleto de armas que ajudam a destroçar os demônios. Os quatro personagens são: Ink, Void, Sol e Roch, cada um com habilidades específicas que reforçam a filosofia do jogo co-op.
Eu fiquei decepcionado com as armas do jogo. Elas podem ser vistas em vários outros games do gênero, tanto em funcionamento quanto em design. A Disparadora de Estacas e a Painkiller foram as únicas que me garantiram um sorriso enquanto desmembrava as hordas de inimigos. Como era de se esperar, os upgrades das armas acontece de maneira bem direta ao ponto usando núcleos obtidos nas missões. A equipe não quis prender os jogadores em sistemas e tirar o tempo da ação.

O loop é satisfatório e só ficamos no hub alguns poucos minutos para melhorar as armas antes de irmos para a próxima expedição. Cada arma tem dois tipos de disparo, o normal e o alternativo e, para a minha surpresa, os recursos são bem vastos mesmo nas dificuldades mais altas.
Como se Painkiller já não entregasse que tenta preencher o maior número possível de checklists do gênero, o jogo tem um modo chamado de Anjo Rebelde que basicamente funciona como um modo roguelike (como se a gente precisasse de mais um desse no mercado).. O nome do modo é curioso, visto que faltou rebeldia na Anshar Studios para entregar uma obra verdadeiramente digna da franquia.

Atualmente, o fator replay consiste basicamente em repetir as expedições para coletar moedas de ouro e comprar cartas de tarô e itens cosméticos. O problema é que o sistema de personalização escancara que a precificação das coisas está absurda. Temos skins bizarras sendo vendidas por 30 mil moedas de ouro, uma quantia considerável e que leva algumas horas para ser obtida. A economia do jogo precisa rapidamente de um rework antes que a pequena comunidade fiel desista de vez do game.

Lindamente macabro
Um aspecto onde Painkiller brilha bastante é nos visuais. O jogo não fica devendo em nada para grandes AAAs do gênero, o que foi uma grande surpresa. Os recursos de iluminação ajudam a dar um charme a mais nos cenários góticos da aventura. Contudo, confesso que eu esperava um nível de detalhamento maior nas armas, a textura delas deixa um tanto a desejar.

A parte sonora também faz o dever de casa, e tanto os efeitos balísticos quanto a trilha sonora casam bem com a proposta do jogo. Não existe nada melhor do que despachar hordas de demônios ouvindo heavy metal, não é mesmo?
No lado técnico da coisa, tive alguns problemas jogando Painkiller no PS5 Pro. As quedas de frames aconteciam de modo frequente, tive problemas de latência mesmo com uma boa conexão (e com testes feitos em outros games) e tive um crash no meio de uma Expedição online. Para um jogo que não é tão exigente, é uma quantidade de problemas preocupante.
Review de Painkiller: Vale a Pena?
Infelizmente, eu não consigo pensar em nenhum motivo para recomendar Painkiller. Essa releitura não preserva quase elemento algum do original, apenas faz menções distantes como as cartas de tarô e replica algumas armas do primeiro jogo.
Sem inspiração e com um ar de cópia, a Anshar Studios perdeu bastante tempo perseguindo trends do mercado e se esqueceu de aplicar ferramentas e identidades em sua obra, tornando-a esquecível.
Se o gênero não fosse tão competitivo, talvez houvesse esperanças para Painkiller, mas com novos exemplares mais atrativos saindo quase que mensalmente, não consigo recomendar o projeto mesmo em promoção.
Sem identidade, com conteúdo raso e problemas de desempenho, Painkiller falha em honrar o legado da franquia e se posiciona como uma experiência completamente esquecível.
Pontos Positivos
- Belos visuais
- Trilha sonora boa
Pontos Negativos
- Conteúdo raso
- Experiência completamente pensada no co-op
- Vários problemas de desempenho
- Economia do jogo precisa de ajustes
- Narrativa
- Jogabilidade
- Visuais
- Desempenho
- Som
