Roguelikes existem há muito tempo, mas é inegável que existem alguns momentos em que sua popularidade acaba por aumentar – como aconteceu recentemente após o lançamento de Cult of the Lamb. Com isso, jogos como Ship of Fools já não escapam da comparação com o principal representante do momento, o que pode ser uma situação um pouco ingrata com o título.
Porém, olhando ele como um todo único, Ship of Fools até surpreende, como detalharemos no nosso review. Confira a seguir:
O prazer da cooperação em Ship of Fools
Em Ship of Fools, o jogador encontra-se preso na The Great Lighthouse, e recebe ajuda de Clarity, um polvo super sábio, que explica que os mares do mundo estão próximos de serem absorvidos por sombras eternas – passando a importante missão de você impedir que esse evento apocalíptico ocorra.
O que acontece então, a partir desse momento, é que o jogo permite que você escolha personagens que parecem com criaturas do mar e vá jogando o título, explorando as diversas fases do jogo e encontrando demais personagens, nem sempre jogáveis, que vão contando mais do contexto geral desse mundo e da razão desses perigos existirem.
Nesse meio, as mecânicas clássicas de roguelike são aplicadas: você começa cada tentativa de zerar as quatro áreas do jogo sem nenhum item, somente utilizando a habilidade especial do personagem que escolheu para essa run e algumas opções de customização em seu navio, como focar mais em munição ou no espaço para upgrades nele – com essas sendo as únicas situações que podem ser melhoradas permanentemente através do mundo Hub do jogo, buscando assim facilitar as várias jogatinas conforme mais tempo for gasto no jogo.
No gameplay mesmo, temos um enorme bullet hell, daqueles que até podem gerar um pouco de inveja nos clássicos da Treasure lá nos anos 1990. É impressionante a quantidade de projéteis na tela ao mesmo tempo, e o quão exaustivo pode ser, inicialmente, tentar conseguir triunfar nas áreas de Ship of Fools. Eu tive mais ou menos uma semana e meia para fazer este review, e admito sem vergonha nenhuma que nos três primeiros dias eu estava ficando tão frustrado com o jogo e sua dificuldade que não consegui jogar mais do que 40 minutos.
A situação mudou, porém, quando procurando informações sobre o título, descobri que ele é vendido principalmente como um roguelike cooperativo. Aproveitei a situação e chamei meu irmão para sentar junto comigo e começar a incrível tentativa conjunta do jogo – e cerca de 3 horas depois, vi pela primeira vez os créditos do game.
Isso mostra que o título não está balanceado para uma experiência solo, pelo menos inicialmente. Com um segundo jogador no navio e mais tiros sendo emitidos, a situação muda, já que torna-se possível responder aos constantes tiros adversários de maneira mais incisiva. Ao mesmo tempo, finalizando pela primeira vez o jogo, consegui upgrades o suficiente para que as próximas tentativas pudessem ser mais tranquilas mesmo quando executadas sem companhia de meu irmão, criando uma curiosa situação em que o jogo somente inicialmente tem esse grande choque.
Claro que, no meio de tudo isso, os eventos aleatórios também tiveram importante papel, já que existem upgrades não permanentes que podem ser recolhidos durante as fases e que podem mudar completamente o fluxo da tentativa. Talvez eu tenha dado sorte com os tipos de munição e as melhorias na barra de vida do navio na primeira jogatina conjunta, e fiquei pensando que era o balanceamento do jogo – quando a realidade talvez só seja um azar enorme nas tentativas anteriores.
Cabe mais um destaque aqui: existe uma quantidade inumerável desses upgrades temporários, e ter algum tipo de registro geral no jogo sobre eles teria ajudado. Minha memória nos últimos dias não anda particularmente boa e, com isso, mesmo que o jogo seja extremamente visual, acabava esquecendo o que cada um deles fazia e prejudique meu navio – mas isso talvez seja uma reclamação muito particular.
Conclusão
Eu gostei de Ship of Fools, mas muito mais pelo fato dele ser uma experiência cooperativa do que qualquer outra coisa. Na experiência solo, mesmo que ainda divertida, o jogo passa a impressão de não estar exatamente balanceado, criando mais frustração do que diversão nas primeiras tentativas.
A situação muda quando upgrades permanentes começam a ser obtidos, de fato, mas sabemos bem que a impressão inicial é a que fica, não? Com isso, talvez muita gente acabe se afastando do título por achar ele muito complicado – uma pena, já que ele consegue apresentar conteúdo para divertir por muito tempo.