Nos últimos anos, o terror vem se provando como um gênero extremamente versátil. Sua popularização o fez se misturar com vários outros estilos de jogo, que vão desde os esportivos até os mais tradicionais baseados em jumpscares e atmosfera.
E uma publisher que vem se aproveitando muito bem disso é a Top Hat Studios. Seu mais novo projeto, Silly Polly Beast, em parceria com o desenvolvedor Andrei Chernyshov, é um verdadeiro passei de referências que se destaca pela sua abordagem muito conceitual e diferentona.
O título está longe de ser algo perfeito, mas chama a atenção por ser uma experiência bastante criativa; e isso talvez surja como o seu maior charme: a capacidade de inovar e de tentar fugir consideravelmente de um espaço comum.
A garota azarada
Depois de finalmente escapar de seu tortuoso orfanado, Polly recebe uma estranha mensagem de sua amiga de infância. Desaparecida, Alice parece pedir ajuda, mas seu paradeiro desconhecido coloca Polly em uma situação dramática: “preciso encontrá-la a todo custo”.
Presa em um mundo decrépito e em ruínas, Polly acaba entrando em um mundo de pesadelos e descobre que um demônio supostamente sabe a localização de sua amiga. Determinada, ela fecha um acordo com a criatura, mas sem saber que esse pacto pode levá-la à danação.

Alice estaria no fim do túnel de um universo distorcido. E para encontrá-la, Polly deve não apenas se empenhar em uma busca desesperadora, mas também aceitar seu lado mais bestial possível, onde um segredo profundo se esconde e pode perturbá-la para sempre.
Silly Polly Beast é um game de terror e ação em terceira pessoa, com amplo foco narrativo. O título se destaca por incluir diversas mecânicas de jogabilidade, bem como um mapa interconectado em mundo semiaberto.

A campanha do jogo, que leva entre 6h a 8h para ser concluída, depende completamente do nível de dificuldade. Esses modos escalam significativamente, e mesmo o Normal pode gerar muitas dores de cabeça devido ao alto grau dos desafios e de algumas escolhas conceituais.
Além disso, Silly Polly Beast é uma aventura linear, mas com missões secundárias, caminhos alternativos (e mais curtos) e vários finais. O game também conta com eventos perdíveis baseados em decisões críticas que envolvem a ética da personagem.
Satisfatório, mas desleal
A ideia de Silly Polly Beast é muito boa. A ação funciona de forma muito precisa, com golpes melee por meio de um skate, granadas arremessáveis e alguns tipos de armas de fogo. Basicamente, você pode enfrentar inimigos da forma que quiser, mas com ressalvas.
O game possui uma boa variação de inimigos e chefes muito interessantes, mas o alto grau de dificuldade pode afastar. Isso não necessariamente é ruim, mas a sensação de deslealdade que o jogo passa é quase suprema.

Itens de cura são escassos, moedas para reabastecê-los são mais ainda e munição especial aparece apenas em alguns momentos muito específicos. Com isso em mente, some uma IA dos inimigos ligada no modo “kill-kill-kill”, que não te dão sossego literalmente a instante algum.
Silly Polly Beast tem um combate preciso e com impacto. Seu sistema de tiro é muito bom, com uma mira controlada pelo analógico e uma espécie de “reconhecimento assistido” dos monstros que evita maiores problemas devido às várias mudanças de perspectivas da câmera.

Porém, vá se preparando. Há alguns soft-locks no combate, especialmente nas lutas contra hordas infinitas (minions de chefes). Você certamente morrerá bastante e se frustrará nesse sentido, repetindo confrontos várias vezes até decorar rotas e movesets de inimigos.
As lutas contra chefes de Silly Polly Beast têm agravantes: muitos perigos ambientais. E, em alguns mapas, eles acabam se estendendo, criando uma névoa que te captura com a aproximação, perseguidores que spawnam do nada, armadilhas que se renovam (são muito chatas mesmo), inimigos explosivos e com escudos, dano à distância. É um mundo bastante injusto.
Charme em um universo detonado
Silly Polly Beast apresenta um conceito de mundo visualmente incrível. A realidade alternativa do game se revela sob tonalidades rubras, destacando uma oposição entre a paleta e o escuro.
Todo esse contexto é construído com perfeição, especialmente quando se diz respeito à atmosfera. Os cenários, apesar de simples e de serem reduzidos pelo escopo criativo do jogo, são cheios de detalhes, com ótimos níveis de sombras, reflexos (sim, há muitos espelhos) e iluminação.

A ideia conceitual de Silly Polly Beast transforma os mapas em personagens. Assim, eles não somente dão dicas e conversam com os jogadores, como também colocam a protagonista em uma realidade tensa e preocupante, onde ameaças se escondem em todas as regiões.
Além disso, o game aproveita muito bem a proposta de survival horror. Há grandes inspirações em clássicos retrô, com muitos puzzles baseados em objetos, gerenciamento de inventário, segredos cosméticos desbloqueáveis, atalhos abertos e muito mais.

Fãs do gênero também podem esperar bons jumpscares, ótimas sequências de perseguição (com destaque para três eventos de skate que infelizmente não funcionam tão bem), bom grau de violência gráfica, abordagem de temas sensíveis e horror corporal.
Silly Polly Beast é uma simplicidade disfarçada
Silly Polly Beast é muito mais complexo do que se propõe. Sua linearidade e mundo bastante objetivo podem ser relativamente óbvios, mas os rumos narrativos e de progressão vão muito além do esperado.
A dificuldade chega a ser desleal e pode incomodar muito os jogadores casuais, mas a exploração bem feita e uma história profunda empurram a protagonista para investigar tudo que puder. Além disso, o combate é eficiente e variado, contendo boas referências aos clássicos e ótimas lutas contra chefes.
Para o público brasileiro, temos uma má notícia: não há localização em português. E como o título tem muitos textos, alguns detalhes da história podem ser mal interpretados ou, simplesmente, ignorados. Porém, não há como negar que Silly Polly Beast é um excelente e criativo jogo de terror.
Silly Polly Beast é uma ótima experiência conceitual de terror. Com personagens carismáticos e história fragmentada, mas interessante, o título combina ação e sobrevivência, mas esbarra em confrontos desleais.
- Narrativa
- Jogabilidade
- Desempenho
- Visuais
- Som
- Diversão