Sonic é um personagem complicado. Originalmente um mascote para competir com o Mario, da Nintendo, o ouriço azul da Sega se viu após os anos 1990 em uma situação complicada, onde a maioria dos seus títulos vendia mas era massacrado pela crítica especializada – muito por decisões que pareciam não fazer sentido do ponto de vista de um animal antropomórfico.
Em 2022, mais um capítulo dessa experiência foi lançado: Sonic Frontiers. Estive jogando ele nestes últimos dias e bem, a situação do jogo é complicada, como contarei no review a seguir. Confira:
Uma primeira impressão agradável antes da realidade aparecer
Sonic Frontiers começa de um jeito bem-bom, introduzindo o mundo aberto, as fases mais lineares e as mecânicas de combate em conta-gotas de forma que o jogador não se sinta massacrado de informações logo de cara. Mecanicamente, tudo funciona nessas primeiras horas: as lutas contra os inimigos que liberam chaves, os puzzles que envolvem mais velocidade do que qualquer outra coisa e a exploração do mundo, em geral, parecem juntar-se em uma sinfonia de acertos – é forte e empolgante.
O problema é que conforme o jogo vai progredindo, essas mecânicas introduzidas no começo vão se repetindo de maneira exaustiva. É de fato mais interessante abrir um mapa de mundo realizando puzzles repetitivos do que subindo em torres ou estamos simplesmente cansados desse tropo tão usado? Coletar exaustivamente fragmentos de memória dos amigos de Sonic para liberar minigames desafiantes mas ao mesmo tempo entediantes é realmente mais gameplay ou é inflar um mundo que talvez nem tenha tanta coisa para se fazer? É complicado demais.
O que parece acontecer em todo momento em Sonic Frontiers, independentemente de qual das cinco ilhas que compõem o jogo, é que existem momentos pontuais de genialidade que mostram um título que poderia ter sido muito além do produto final, mas que por serem tão espaçados entre si, ficando entre repetições exaustivas de uma fórmula que não parece ter sido suficientemente desenvolvida, acabam deixando o jogo inferior ao seu potencial.
Isso foi gritante para mim no momento que percebi que mesmo as técnicas mais avançadas de combate de Sonic, liberadas com um grind extenso de habilidades e missões no jogo, na realidade são pouco usadas em relação as três primeiras apresentadas no começo do game. Elas influem na completação total do título, ok, mas não estão lá para ter um uso real ou importante.
Essa fórmula também é repetida exaustivamente nas fases mais lineares, as Cyber Space, que utilizam temáticas conhecidas da franquia, como Green Hill ou Sky Sanctuary, e embora agradem no começo, depois o level design vai perdendo a genialidade e colocando desafios que parecem existir não pensados com o equilíbrio geral da rota, mas sim só para encher e fazer que o jogador fique um pouco mais em Sonic Frontiers.
Essa estrutura cria um título complicado, em que a repetição de um gameplay sem grandes variações vai deteriorando a empolgação do jogador – pelo menos para mim. Mesmo a grande recompensa de conclusão das missões principais, a luta contra os chefes utilizando o Super Sonic, que na primeira vez é épica e empolgante, cria um cenário mais complicado a partir da segunda, com esse mesmo reaproveitamento de estrutura ficando extremamente óbvio, mesmo que o chefe seja diferente.
Pelo menos a trilha sonora talvez seja uma das melhores dos títulos recentes do ouriço, comigo chegando ao fim do jogo muito na perspectiva de escutar a música do chefe final – que não decepcionou!
Sonic Frontiers sem grandes mudanças no PS5
Há de se elogiar, porém, os visuais do jogo – embora sim, ele pareça na maior parte do tempo um “Veja o Sonic na Unreal Engine 5”, os mapas abertos, em especial, criam uma estrutura bonita e coesa – e que ficam belíssimos em 4K no PS5.
Porém, Sonic é sobre velocidade, o que me fez priorizar os quadros na tela, colocando no modo Performance o título – ver os 60FPS na intensa corrida do ouriço por desertos e construções rochosas é de encher os olhos, de fato, e mostra que o jogo está em seu melhor na atual geração de consoles.
Porém, senti falta de mais resquícios de interações especiais com o DualSense. Não há uma vibração especial ou gatilhos mais duros na intensa velocidade de Sonic – oportunidade perdida, ao meu ver.
Conclusão
Sonic Frontiers começa como um lampejo de genialidade para a franquia, mas se perde muito rápido. A constante repetição, embora existente em muitos outros jogos pelo mundo, precisa de algumas pequenas variações para torná-la mais interessante – e isso não ocorre aqui.
Ao mesmo tempo, pode ser que ele não tenha me agradado, mas outros jogadores enxerguem nele um dos grandes títulos do ano. Ele é suficientemente dúbio em sua experiência para ter resultados tão diferentes entre as pessoas – uma ode a humanidade e seus gostos tão complexos e diversos, não é mesmo?