Stranger of Paradise: Final Fantasy Origins talvez seja um dos jogos com um ciclo de marketing mais únicos dos tempos recentes. Inicialmente mostrado como uma releitura madura e pesada do primeiro Final Fantasy, aós uma recepção não muito positiva além das memes, o jogo cada vez se apresentou mais como uma espécie de paródia.
Menos de um ano depois daquele primeiro trailer na E3 2021, o jogo foi lançado para o público – e levanta uma questão bem importante: o que é, afinal Stranger of Paradise? A resposta, ou uma delas, você confere em nosso review:
O Final Fantasy fora da curva
A história de Final Fantasy é intimamente ligada com a evolução do RPG eletrônico. Desde o primeiro título, os produtores tentam criar narrativas que se aproveitam da jogabilidade para apresentarem históricas tocantes e exemplares para a mídia videogames.
Após FF VIII, em especial, isso se tornou algo também esperado pelos fãs, que se tornaram um poderoso coro que fica gritando aos sete mares que “é a melhor franquia do mundo”. E vendo esse contexto, Stranger of Paradise se torna algo muito mais interessante, já que nas primeiras horas de jogo ele parece fazer questão de se distanciar ao máximo desses conceitos.
Jack, o protagonista com hiperfoco no assassinato de Chaos, usa uma camisa preta não longe do que qualquer brasileiro pode encontrar em lojas locais de roupa. Ele usa fones de ouvido bluetooth para escutar seus rocks e, acima de tudo, ele está bravo. Muito bravo.
Seus companheiros, Jed e Ash, são complamente unidimensionais, existindo somente para que Jack tenha com quem conversar nas cutscenes. Uma ou outra vez existe uma tentativa de torná-los amigos, mas tudo no fim acaba se perdendo quando o protagonista solta um grunido e lembra de Chaos.
E sabe o que é o melhor de tudo isso? Não tem problema nenhum os personagens serem assim, pelo menos para mim. Final Fantasy é uma série que sempre tentou reinventar sua própria roda, então por que não podemos dar a chance de um título da franquia ir para outro lado, saindo das poderosas metalinguagens e filosofia e virando um clássico noventista de brucutus?
Ao mesmo tempo, estaria mentindo se falasse que o DNA das histórias de Final Fantasy não está presente em Stranger of Paradise. Sem spoilers, mas em certo ponto do jogo, novos rumos são tomados pelos personagens, e o que antes realmente parecia uma abordagem diferente vira uma das jornadas mais curiosas da franquia.
Stranger of Paradise é mais Diablo que Souls
Saindo da história do jogo, precisamos comentar sobre sua jogabilidade. Durante seu anúncio e após as primeiras demos, muitos compararam Stranger of Paradise com um soulslike, citando até mesmo Nioh, título anterior do Team Ninja, como justificativa para isso.
Essas pessoas, pelo menos ao meu ver, estão erradas. Primeiro que Nioh, além da dificuldade e das lutas épicas com chefes, tem muito mais relação com um Diablo do que um Dark Souls – e isso se repete nesse Final Fantasy.
Jack vai passando pelas missões do jogo matando hordas de inimigos e coletando equipamentos. Dependendo da dificuldade que o título está sendo jogado, melhores itens podem ser encontrados, e isso também afeta diretamente a força do personagem.
Junte a isso um sistema de Jobs que muda completamente a jogabilidade de Jack, e temos um ARPG em terceira pessoa. A build de mago, por exemplo, poderia ser a melhor para passar por uma sala flamejante, mas talvez não seja a ideia para um combate com um chefe especifico, então eu só experimentava, sem nenhuma punição.
Além disso, o jogo também permite multiplayer nas missões, o que cria toda uma curiosa jogabilidade em que realmente os quatro (ou três, já que é esse o número limite de participantes) guerreiros da Luz podem estar juntos para tentar derrotar os adversários.
O jogo também não te obriga a ficar criando uma única build definitiva, sempre te incentivando a experimentar. Para quem está com a memória fresca de Elden Ring, sabe que um soulslike vai na direção contrária.
Eu só acho que o combate poderia ser um pouco menos truncado. Sinto que o universo de Final Fantasy permitiria algo mais estiloso, rápido e frenético — coisa que não está presente em nenhum momento em Stranger of Paradise. Ao mesmo tempo, entendo que isso ajuda muito o pacing do jogo, que tem uma frequência clara de movimentação e ataque.
Conclusão
Tirando algumas pequenas ressalvas visuais que, honestamente, não vi necessidade de dedicar uma sessão específica para reclamar, já que se tratam de uma péssima resolução durante as cutscenes do jogo, Stranger of Paradise: Final Fantasy Origins muito me surpreendeu.
Não falo por ser fã da franquia ou qualquer coisa do tipo, mas sim pelo título ser algo único em um mar de jogos que, hoje em dia, parecem muito serem cópias uns dos outros. Não nego, porém, que talvez a personalidade hiperfocada e grossa de Jack não seja para todos – mas, até ai, o que seria do amarelo se todos amassem o azul, não é mesmo?