Acho que boa parte dos fãs das Tartarugas Ninjas devem concordar que estamos passando por um excelente revival da franquia em termos de jogos envolvendo o quarteto de tartarugas mutantes adolescentes ninjas. Ano retrasado, tivemos o lançamento da nostálgica The Cowabunga Collection, que contou com uma dezena de títulos clássicos dos beat ‘em ups, além do excelente Shredder’s Revenge, com sua abordagem mais moderna no gênero.
Daqui a alguns meses, em outubro desse ano, teremos o lançamento de Mutants Unleashed, novo jogo de ação que se passará no universo dos novos filmes de animação. Porém, caso queira algo das tartarugas para hoje, Splintered Fate chega como uma opção divertida e diferente, já que é o primeiro jogo das tartarugas com uma abordagem rogue-like.
Teenage Mutant Ninja Turtles: Splintered Fate (ou Tartarugas Ninja: O Destino de Splinter, como ficou na tradução) conta uma história inédita dos Tartarugas, que começa com o misterioso rapto do Mestre Splinter por meio de portais misteriosos. Com o intuito de resgatar seu pai e mentor, Leonardo, Donatello, Rafael e Michelangelo precisam arriscar-se em incursões em meio a uma Nova York sitiada, adentrando nesses portais misteriosos e enfrentando hordas de inimigos, incluindo os ninjas do Clã do Pé, além de figurinhas carimbadas do seu rol de vilões, como Karai, Bebop, Rocksteady e, como não poderia deixar de ser, o próprio Destruidor.
Um destino forjado em loops
A característica mais única de Tartarugas Ninjas: O Destino de Splinter é sem sombra de dúvidas a sua estrutura. Enquanto outros jogos das Tartarugas costumam apresentar uma campanha single-player linear, com fases distintas e únicas, O Destino de Splinter opta por construir uma experiência baseada em loops, com cenários gerados proceduralmente, repetição de inimigos e uma série de upgrades diferentes (alguns temporários temporários, outros permanentes) que poderão te ajudar a chegar cada vez mais longe a cada incursão.
Isso significa que O Destino de Splinter vai lembrar muito mais a experiência encontrada em um jogo como Hades (ou algum dos outros tantos rogue-likes disponíveis no Switch), já que de início, você terá pouquíssimas chances de chegar até o final. Isso acontece, pois o jogo apresenta diferentes mecânicas de progressão, que vão sendo desbloqueadas conforme você tenta (e falha) em subsequentes incursões.
Sempre que você completa os combates presentes uma sala, você é recompensado com algumas escolhas de upgrades temporários, que podem incluir melhorias para o seu ataque básico, para o seu ataque especial, para o seu equipamento, ou ainda um dos três tipos de moedas presentes no jogo: sucata, Moedas do Dragão e Moedas do Sonhador (explicarei cada uma delas em breve). Escolher boas melhorias é de fundamental importância para o sucesso naquela incursão em específico, já que O Destino de Splinter é um jogo bastante desafiador, exigindo que o jogador se torne o mais forte possível a cada nova sala, pois o jogo vai ficando progressivamente mais difícil a cada nova região que você alcança.
Como um roguelike padrão, ao morrer, você será enviado de volta para o esconderijo dos Tartarugas e perderá todos os upgrades temporários. De início, essa pode parecer uma punição bastante severa, porém a intenção do jogo é que você utilize as Moedas do Dragão e Moedas do Sonhador ganhadas em cada incursão para desbloquear novos upgrades permanentes, que incluem desde melhorias diretas como mais HP e mais dano de ataque, até desbloqueios mais específicos, como melhores chances de encontrar habilidades e itens mais poderosos.
Tudo por um pedaço de pizza!
Embora O Destino de Splinter seja bastante generoso em relação a velocidade de desbloqueio dos upgrades permanentes (não demora muito pra você conseguir conquistar algumas centenas de moedas a cada nova incursão), a progressão no jogo ainda é um tanto quanto lenta quando você considera o quanto os inimigos ficam mais fortes a cada nova região. Toda vez que você inicia uma nova partida, você começa nos esgotos de Nova York, onde a maioria dos inimigos serão ratos e soldados mais fracos do Clã do Pé. Conforme você avança e começa a explorar as docas, a cidade e outras regiões, os inimigos ficam muito mais forte, de um jeito até exagerado.
Isso cria um efeito um pouco indesejado onde, após desbloquear uma quantidade suficiente de upgrades, uma região fica extremamente fácil, praticamente desprovida de qualquer desafio, enquanto a próxima região continua difícil demais, com inimigos que parecem aquelas famosas “esponjas de dano”. Isso é: com tanto HP que demoram muito para serem derrotados, de um jeito que torna o combate um pouco tedioso, às vezes.
Pelo menos, O Destino de Splinter compensa um pouco isso ao apresentar um sistema de combate simples, mas bastante divertido — principalmente quando você começa a dominar o estilo específico de cada uma das tartarugas. Leonardo, Donatello, Rafael e Michelangelo possuem armas, especiais e equipamentos bastante diferentes, o que faz com que a experiência de jogar com cada um deles seja única o suficiente. Graças a isso, O Destino de Splinter consegue adicionar um grau extra de variabilidade a cada nova incursão, o que é reforçado por outro elemento do seu sistema de upgrades: os medalhões específicos de cada Tartaruga.
Funciona assim: ao término de cada região, você encontrará um dos vilões clássicos dos Tartarugas como um chefe, incluindo figuras como Leatherhead, Karai, Bebop e Rockstead. Sempre que uma Tartaruga Ninja específica derrota alguns desses chefes, eles recebem um medalhão próprio, que pode ser utilizado em upgrades específicos. Além disso, outros itens especiais recolhidos de outros chefes (incluindo o chefe final) também são necessários para outros upgrades mais fortes. É uma maneira interessante que o jogo encontra para incentivar o jogador a continuar jogando, testando todas as possibilidades disponíveis.
Santa Tartaruga, o que é isso?
As músicas do jogo são bastante cativantes e remetem aos temas clássicos das Tartarugas. Já em termos de visuais e performance, a versão de Switch de O Destino de Splinter apresenta uma experiência sólida, mas que está um pouco aquém dos vídeos que podemos encontrar por aí das versões de PC ou de outros consoles. Principalmente no modo portátil, o jogo não possui efeitos tão nítidos ou gráficos tão refinados quanto o possível, o que é uma pena. Ao menos, vale ressaltar que o jogo roda bem em 99% do tempo, mesmo quando você opta por jogar com outros jogadores no modo online, ou no modo de co-op local. Há, inclusive, uma opção no menu caso você queira limitar o jogo a 30fps, sacrificando um pouco sua fluidez em prol de ter gráficos um pouco mais bonitos.
Por falar nas opções multiplayer do jogo, é muito interessante que O Destino de Splinter permita ao jogador participar em partidas com amigos online ou localmente, porém há algumas especificidades a serem mencionadas sobre o modo online. Infelizmente, o jogo não possui qualquer sistema de matchmaking. Para jogar com amigos online, você precisa criar uma sala e enviar o código para um amigo e/ou utilizar o código de um amigo para acessar seu jogo. Isso significa que não é possível jogar online com estranhos, por exemplo.
Por outro lado, o modo de co-op local é extremamente fácil de se acessar e a possibilidade de jogar com os Joy-Con na horizontal (ou seja, dividindo os controles básicos do Switch em 2) faz com que fique muito mais prático iniciar uma jogatina em grupo a qualquer momento. Com a possibilidade de jogar com até quatro pessoas, onde cada um controla uma das Tartarugas, O Destino de Splinter consegue funcionar como uma excelente opção de “jogo para festas”, já que o seu gameplay é bastante simples e pode ser aproveitado até mesmo por crianças mais novas.
Nesse sentido, vale ressaltar também que o jogo está inteiramente legendado em português do Brasil, com uma tradução surpreendentemente boa, o que permite que fãs de longa data consigam aproveitar mais da história do jogo. Aproveitando o ensejo, devo ressaltar que O Destino de Splinter não é um jogo com um foco em narrativa. Com o passar das runs, você até encontra alguns dos parceiros clássicos das Tartarugas, como April O’Neil e Casey Jones, que ajudam a dar uma certa profundidade ao rapto de Splinter e os misteriosos portais, porém não é uma narrativa que vai prender o jogador por seus próprios méritos.
Review de Tartarugas Ninjas: O Destino de Splinter — simples, mas divertido
Ao incorporar elementos de roguelike, O Destino de Splinter consegue trazer uma experiência bastante diferente dos outros jogos beat ‘em ups das Tartarugas Ninjas, que consegue ser divertida dentro da simplicidade do seu combate. Os fãs de longa data das aventuras dos Tartarugas com certeza encontrarão uma experiência bastante prazerosa em O Destino de Splinter — mesmo que sua progressão seja pouco lenta em certos aspectos.
Infelizmente, a versão do Nintendo Switch possui algumas limitações claras em seus visuais, mas ainda consegue oferecer um pacote sólido o suficiente para aqueles que procuram se aventurar nessa nova aventura das Tartarugas Ninjas, principalmente caso você tenha amigos ou crianças que possam dividir essa experiência em seu modo multiplayer local. Caso queira uma experiência simples, mas divertida, com um alto nível de jogabilidade, então, como diriam as Tartarugas Ninjas: Cowabunga!
PS: A análise foi feita em um Nintendo Switch através de uma cópia cedida pela Super Evil Mega Corp.
Com uma estrutura de roguelike, Tartarugas Ninjas: O Destino de Splinter apresentar uma experiência diferente de outros jogos da franquia. Com um combate simples mas divertido, a versão de Switch deixa um pouco a desejar em aspectos gráficos, mas ainda entrega uma experiência sólida e engajante, principalmente em seu modo multiplayer local.
- Narrativa
- Jogabilidade
- Progressão
- Desempenho
- Visuais
- Trilha Sonora