Eu fiquei muito feliz quando Young Souls foi anunciado em 2018. O trailer inicial publicado pela editora The Arcade Crew (Blazing Chrome) revelava uma aventura cheia de desafios e um estilo visual fantástico. Agora, 4 anos depois, finalmente estamos no dia do lançamento do jogo. Será que o jogo do estúdio 1P2P faz jus a enorme espera por ele? É isso que você vai descobrir nesse review!
Young Souls: Uma jornada de dois irmãos
O jogo é protagonizado por Tristan e Jenn, dois gêmeos ruivos que são adotados pelo Professor, um homem inusitado que tenta educar os jovens rebeldes. Graças a suas diferenças, os gêmeos são odiados por quase todos os moradores da cidade. Bocudos e revoltados com a vida, os irmãos se veem numa conspiração sem precedentes entre goblins, povo que vive debaixo da terra e os humanos, a raça da “superfície”.
A narrativa, apesar de parecer boba, é pra audiências maturas. Temos uma quantidade absurda de xingamentos e vemos diversos temas pesados sendo retratados, como genocídio e tortura. A Dotemu/Arcade Crew e o estúdio 1P2P fizeram um trabalho fantástico com a localização do texto para o nosso idioma. O jogo é cheio de “brasileirices” em seus diálogos, se tornando um ponto bem forte para o game.
Infelizmente, o jogo não possui voice over, isso é, os diálogos e as cutscenes só acontecem em forma de caixas de texto, o que tira um pouco de brilho da história e das cenas de impacto do game. Ao todo, levei um pouco menos de 6h para fazer 100% do jogo (incluindo a platina) e jogando na dificuldade mais difícil, logo, não espere uma trama longa. Achei a duração muito bem dosada para o projeto.
Contra tudo e contra todos
Young Souls traz em seus sistemas de jogabilidade uma mistura bem feita de diversas franquias. Temos uma pitada de Diablo no sistema de loot e um pouco de Streets of Rage e Dark Souls no combate. Sim, um beat em up conseguiu reunir elementos de todos esses jogos. Felizmente, o estúdio conseguiu fazer isso com maestria, fazendo com que o título tenha um charme próprio muito convidativo.
Como os protagonistas são gêmeos, o game possui um modo co-op que funciona muito bem diga-se de passagem. Durante a minha jornada eu joguei ele quase todo no modo solo, logo, isso não é nenhum problema. Tirando a porção final do jogo, nós podemos trocar o equipamento dos irmãos a qualquer momento e o grau de personalização desses equipamentos é bem vasto. Temos diversos tipos de armas que vão desde adagas até machados de duas mãos. Os escudos também se fazem presentes e são vitais para a sobrevivência em dificuldades mais elevadas. Podemos habilitar a compra de novos tipos de armas ao concluir os Mausoléus de Yarlanda, uma sala onde desafiamos o espírito Yarlanda, a “Deusa Guerreira” dos goblins e adquirimos uma arma especial em cada confronto. Para a platina é necessário concluir o jogo na Dificuldade Especialista e o desafio é tremendo.
Toda a exploração do jogo acontece em Calabouços que podem ser acessados através do Portal. Ao todo são 5 zonas principais e cada uma delas tem dezenas de salas. O design de cada uma dessas zonas é diferente, contudo, o level design é o mesmo, o que acaba gerando um certo senso de repetição após as duas primeiras horas de jogatina. A progressão dos personagens acontece de um jeito bem inusitado. Ao derrotar inimigos, adquirimos experiência. Essa XP é acumulada e só é computada ao dormir. Após dormir, mudamos de nível e ganhamos três atributos: Força, Resistência e Estamina. Em alguns níveis, ganhamos uma Ficha de Academia que permite que a gente vá até a cidade e faça exercícios na academia, ganhando pontos de atributos adicionais.
Esses exercícios na academia são realizados através de três minigames diferentes e, como era de se advinhar, nós só podemos escolher um atributo para ser melhorado por cada irmão. Isso traz uma forma de gerenciamento interessante. Eu fiz um irmão focado em Força e Jenn focada em aguentar dano, ou seja, uma Tank. Como é possível alterar entre os personagens nas lutas, essa tática foi uma mão na roda para concluir o jogo na dificuldade mais alta. Vale mencionar que esses minigames possuem um sistema de ranqueamento e, quanto maior o rank obtido, maior a quantidade de pontos ganhos.
No geral, a progressão dos personagens segue a linha “arroz com feijão”, ela é básica e cumpre bem o seu propósito. A sensação que tive é que isso foi proposital, afinal, a ideia do estúdio parece ter sido deixar o foco quase que total para a narrativa e para o combate. Vale mencionar que também existem opções de personalização com foco nos cosméticos. Podemos comprar camisas, bonés e tênis para deixar os personagens mais estilosos. Os tênis concedem bônus passivos interessantes como aumentar o ganho de moedas.
Graças a boa variedade de armas e acessórios, dá pra construir combos formidáveis que tornam os confrontos ainda mais frenéticos. Por falar em combos, a jogabilidade é extremamente responsiva e prazerosa. Cada golpe e defesa tem peso, fazendo com que a experiência de jogar Young Souls seja muito gratificante. Infelizmente, vi uma variedade bem pequena de inimigos comuns, gerando a famosa sensação de repetição. Em contraponto, temos uma quantidade de chefes (Guardiões) únicos bem satisfatória para um jogo desse tamanho.
Parte Técnica
Eu joguei a versão de PlayStation 4 no PS5 e tive muito pouco do que reclamar. Os loadings, bem frequentes em virtude da viagem rápida, são bem velozes. O estilo de arte escolhida pelo estúdio deu um charme gigantesco pro game, tornando-o um dos indies mais bonitos que já tive o prazer de jogar. A trilha sonora também é bem tímida e, uma versão específica do PS5, deixaria o game ainda melhor se tivesse suporte ao DualSense.
É algo bem particular, mas, eu observo e gosto bastante do HUD bem feito nos jogos. Young Souls tem um dos HUDs mais belos que já vi num game. Até mesmo a fonte usada nos textos acabou sendo um acerto enorme e o conjunto da obra só aumenta o valor percebido do projeto. Em relação a FPS, tive quedas de frames em um trecho específico do jogo, bem próximo ao final da jornada. As quedas duram em torno de 20 segundos e pude fazer diversos testes e confirmar que é algo desse trecho em específico, logo, é um problema bem fácil e tranquilo de ser solucionado.
Young Souls: Praticamente Obrigatório!
O último indie que vi ser lançado com esse mesmo nível de qualidade, polimento, atenção aos detalhes e proposta mais comercial foi Hades. Se você aprecia bons indies com um foco maior em ação, afirmo tranquilamente que Young Souls é praticamente obrigatório! Certamente é minha maior e melhor surpresa de 2022 até o momento. Tristan e Jenna jamais serão esquecidos e mal posso esperar para conhecer a próxima aventura do estúdio 1P2P. Caso você seja assinante do Xbox Game Pass, saiba que o jogo chega Day One no serviço, logo, basta baixar e aproveitar!