Desde seus primórdios o homem é fascinado pela exploração espacial. É uma constante, algo que é impossível dissociar de nossos anseios como seres humanos. Afinal, se perguntar de onde viemos e para onde vamos passa essencialmente por questionar a vastidão do espaço sideral.
Tirar do âmago as angústias, apreensões e ansiedades relacionadas às estrelas sempre teve o condão de criar experiências realmente memoráveis. Não é por acaso que a exploração do espaço é uma das temáticas mais pertinentes no mundo dos games. Há décadas que nos jogamos em experiências que simulam jornadas em outros planetas, estrelas e naves espaciais. E é aí que surge Starfield, um dos produtos mais aguardados dos últimos nos anos na indústria dos videojogos por conter os sonhos de Todd Howard, considerado por muitos um visionário da área. Ao seu favor contaria também o fato do projeto estar sob o guarda-chuva do Xbox, este encabeçado por Phil Spencer.
Todos nós já nos imaginamos em algum momento como astronautas ou, ao menos, como conhecedores do que está para além da Terra. É uma fantasia que é aumentada com Starfield que, embora tenha seu universo próprio, não se poupa ao nos introduzir conceitos familiares como o sistema solar e seus visuais deslumbrantes e exploráveis.
Quando pensamos em um marco, imaginamos um momento de impacto, algo que chame a atenção e que se destaque. Starfield desde muito antes de seu lançamento já provocava um furor entre os jogadores por conta de não estar disponível para jogadores do PlayStation. Sendo o primeiro jogo da Bethesda (séries The Elder Scrolls e Fallout) a ser lançado após sua compra pela Microsoft, esta não foi uma decisão particularmente surpreendente. Starfield não foi o primeiro grande lançamento da Microsoft na nona geração, mas é uma guinada no sentido de tornar a marca ainda mais relevante no mundo dos games com um RPG poderoso, ambicioso, bem avaliado e muito extenso, um verdadeiro peso pesado que nunca poderia ser ignorado.
De fato, Starfield pautou boa parte da mídia especializada e dos criadores de conteúdo nas últimas semanas. Só isso já demonstra um saldo positivo do game, com ele conquistando seu espaço e fazendo mais e mais pessoas voltarem os olhos para o ecossistema Xbox. Em que pese parte das discussões acabarem caindo em um reducionismo tóxico e improdutivo, o conjunto da obra tornou Starfield um fenômeno como não se via há alguns anos na indústria. Isso pode ajudar a desmistificar o Xbox para parte dos jogadores.
Os esforços da Microsoft não são apenas para reforçar o seu catálogo com um novo grande jogo, e sim também para agregar valor ao seu serviço que também é seu carro-chefe, o Xbox Game Pass. Starfield, um game triple A, chegou em seu lançamento no serviço (se não contarmos o acesso antecipado) sem custos extras, como normalmente ocorre com os games first party do Xbox. Isto significa que pagando valores entre 30 (plano standard para PC) e 50 reais (Game Pass Ultimate) mensais é possível ter acesso ao game. Uma vez que Starfield é um game denso e com uma campanha relativamente longa, podemos imaginar que muitos de seus jogadores continuarão a assinar o Game Pass, oxigenando o número de jogadores no serviço.
Talvez o detalhe mais importante do lançamento de Starfield no Game Pass seja a sua chegada no Cloud Gaming, que permite jogar por meio da nuvem. É um tanto curioso pensar em um game da magnitude de Starfield podendo ser acessado por qualquer tipo de PC. É claro que ainda há barreiras a serem superadas, uma vez que a Cloud, em sua versão beta, possui problemas incluindo filas e desempenho dos games em si. Entretanto, sua existência importa em democratização de acesso a um triple A, o que é um feito e tanto.
Enquanto o saldo em sua maior parte é positivo, é preciso também lembrar que Starfield possui seus problemas, normalmente atrelados à sua engine e ao seu início. De todo modo, é um bom RPG, um jogo que a Microsoft precisava e um trunfo na competição do mundo dos games.
No geral, podemos dizer que Starfield pode ser considerado um marco em duas vertentes que acabam se complementando: na indústria em si e no relacionamento do ser humano com o espaço. Na indústria, por entregar uma experiência sólida e pavimentar o futuro do Xbox. No outro campo, por dar vazão a sonhos da conquista espacial e da tentativa de compreender o cosmos de maneira acessível. É uma infeliz constatação pensar que a grande maioria de nós nunca poderá explorar o espaço. Porém, com games como Starfield, é possível ao menos sonhar.
O tempo dirá se Starfield é uma supernova que permanecerá viva por eras ou brilhará por apenas uma pequena finitude. A julgar pelo histórico da Bethesda, podemos pensar que ele permanecerá perene, sendo desbravado por um sem-número de jogadores e servindo como uma odisseia de ambição ao mirar as estrelas.
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