Quando pensamos em RPGs eletrônicos, é comum imaginar títulos como Starfield ou Final Fantasy, que tornaram-se sinônimos do gênero em videogames. Porém, se andarmos mais pra trás, encontraremos jogos que simulam muito mais a experiência de um RPG de mesa, e que embora tenham menos lançamentos hoje em dia, sempre que saem ainda se destacam por suas narrativas extensas e densas.
Baldur`s Gate 3 é um desses exemplos, destacando-se tanto em relação aos demais títulos disponíveis no mercado que não é um exagero considerá-lo um dos principais concorrentes a Jogo do Ano de 2023. Explicamos mais no nosso review a seguir:
Engajante, denso e complexo
É difícil não entender o apelo de Baldur`s Gate 3 logo ao ligar o jogo pela primeira vez. Com uma narrativa extensa, e a sensação real de estar numa mesa de RPG simulada, o jogo já te joga num tutorial capaz de agradar a qualquer um graças a sua extensa área de ação e também com uma explicação simples mas funcional de todas as funções de combate.
Não é difícil entender a magia, então, de suas lutas, mas é complicado aperfeiçoá-las. Em um esquema tático muito mais complicado que a maioria dos jogos de estratégia existentes no mercado atualmente, o jogo traz a movimentação e o uso de magias da quinta edição de Dungeons e Dragons para o mundo virtual, com um aproveitamento impressionante. Não há MP aqui, mas sim cargas de magia; use mais do que as que você preparou no acampamento e aquele ataque em específico ficará indisponível até o próximo descanso.
O acampamento, por si, também é um mundo de mecânicas por si só, a começar pelo fato que ele é onde podemos conversar mais profundamente com nossos companheiros, engajar em romances, organizar melhor o que carregamos em nosso inventário e também preparar as magias que queremos usar na próxima aventura – mesmo que isso signifique gastar uma quantidade de recursos, a comida, para estarmos plenamente recuperados.
Com isso, a recuperação e preparo se tornam coisas não tão simples e que devem ser mais pensadas, uma tática por si só. Qual o momento mais propício para descansar? Tenho recursos o suficiente para fazer o que quero? Vale a pena ficar com esta bola de fogo em vez deste buff? E assim a sinfonia das escolhas vai sendo tocada, cada vez com mais e mais decisões.
Narrativa é a alma do jogo
E essas tão citadas decisões não estão presentes somente nas batalhas, por sinal, com a narrativa do jogo, seu grande destaque, também estando presente de maneira impressionante com uma textura quase literária e em como absolutamente todo o mundo do jogo parece ter algo para apresentar ao jogador.
Como exemplo, cito o momento em que me desviei da missão principal temporariamente para explorar as montanhas em que iniciei o jogo. Acabei me deparando com um antigo santuário druida, e ao explorá-lo descobri um item que, quase 20 horas depois, me permitiu entrar em outro lugar no mundo.
O jogo inteiro é assim, com pequenos diálogos com qualquer personagem podendo esconder segredos muito maiores. Um rumor que tenha sido escutado no começo do jogo pode ajudar a desvendar um puzzle na metade dele; um amigo que ajudamos durante uma aventura em um lar de Orcs pode ser um político que mais tarde permitiu nossa entrada em um lugar restrito e por aí vai. É denso e muitas vezes eu sentia que durante minha jornada talvez estivesse perdendo alguma coisa, mas isso não quer dizer que minha experiência tenha sido incompleta, mas sim que ela somente tenha sido daquele jeito para o meu personagem em específico, e se eu criar outro, novos caminhos aparecerão.
Customização faz parte
A customização dos personagens, inclusive, faz parte integrante da experiência. Ao criar um personagem, alguns bônus são escolhidos, como seu comportamento e sua origem, e conforme o jogador for explorando o mundo e for se comportando de acordo com essas escolhas, pontos de rerolagem são concedidos para eles.
Os dados fazem parte integrante do jogo, sendo necessário sempre realizar rolagens para ver se é possível desde quebrar uma porta até mesmo convencer alguém de algo. Com as rerolagens concedidas pela jogatina de acordo com as escolhas da criação do personagem, o jogo permite segundas chances para testes difíceis, e a dificuldade parece mais justa – mais uma vez, tal qual o RPG de mesa em que o jogo se baseia.
É claro que para quem quebrar essas escolhas o jogo também reserva surpresas, sendo muito mais um caminho de redenção ou transformando o personagem em algo mais sombrio (e sem pontos de rerolagem) do que qualquer outra coisa, mas ainda é interessante de se presenciar.
PS5 entra em cena
O port de um jogo tão denso (e em turnos) para os consoles sempre é motivo de preocupação por dois motivos: a jogabilidade e a câmera. Felizmente a Larian já tem experiência de sobra com isso, graças à franquia Divinity. Baldur’s Gate 3 funciona de maneira excepcional no PlayStation 5. A experiência não apresenta bugs, glitchs, quedas de frames ou crashes.
A navegação nos menus é intuitiva, contudo, confesso que o jogo poderia ter uma quantidade maior de tutoriais nesse sentido. Mesmo funcionando bem, existem diversos recursos “escondidos” que facilitam e muito no combate.
Os visuais estão estonteantes, parelho com as opções mais parrudas no PC e a ausência de loadings permitem que a aventura aconteça praticamente sem qualquer interrupção. Um interessante ponto de reforço é o DualSense. As “firulas” especiais do controle foram bem aplicadas e realmente concedem um ar maior de imersão em Baldur’s Gate, aprimorando as sensações durante a aventura.
Conclusão
Se me perguntarem o que é Baldur`s Gate 3, eu responderei de maneira simples e efetiva: é o melhor RPG que já joguei na vida, não por ser melhor que os outros, mas por ser o mais próximo do que penso que é um jogo de mesa tão narrativamente denso quanto o prometido.
Cheio de momentos incríveis, personagens engajantes e heróis clássicos, Baldur`s Gate 3 é uma experiência que deve ser tida por todos os amantes de videogames, mesmo que não seja finalizado por muitos; ele é narrativamente, mecanicamente e principalmente divertidamente perfeito.
- Narrativa e lore
- Jogabilidade
- Conteúdo Secundário
- Direção de arte
- Som
- Parte técnica