Há poucas séries de videogames que vivem em uma dicotomia tão extrema quanto Pokémon. De um lado, temos uma centena de monstrinhos e personagens que cativam gerações e mais gerações há quase trinta anos, com jogos de RPG adorados por muitos, graças às suas mecânicas divertidas e a oportunidade de explorar esse mundo fantástico. De outro, temos práticas de negócios questionáveis, com preços elevados e experiências que parecem incompletas, muitas vezes com problemas técnicos sérios e aspectos visuais muito aquém do resto da indústria.
E, vem jogo, passa jogo, a série continua fazendo enorme sucesso, com números de vendas absurdos, apesar das diversas reclamações e promessas de potenciais boicotes.
Continuando com basicamente todas essas características típicas de Pokémon, Pokémon Legends: Z-A é o mais novo spin-off da série, e chega ao Nintendo Switch 1 e ao Nintendo Switch 2 trazendo uma proposta curiosa e bastante diferente.
Dessa vez, ao invés de explorar uma região inteira do mundinho de Pokémon, Legends: Z-A se propõe a oferecer uma experiência inteiramente focada em uma única cidade. Com um sistema de combate inteiramente novo à série, o retorno das Mega Evoluções, e algumas limitações técnicas bizarras, será que esse jogo merece o seu tempo e dinheiro? A resposta à essa pergunta é um tanto quanto complexa.

Grand Theft Aggron
Como o segundo jogo da subsérie Legends, Pokémon Legends: Z-A traz algumas das características vistas em Pokémon Legends: Arceus ao mesmo tempo em que chega com uma quantidade surpreendente de mudanças e novidades (nem todas positivas).
Como uma série spin-off, Legends: Z-A não apresenta uma nova região a ser explorada, nem mesmo uma nova geração de monstrinhos inéditos. Pelo contrário, a ideia básica aqui é revisitar uma região já conhecida de Pokémon — neste caso, a região de Kalos, que é baseada na França, e que apareceu pela primeira vez em Pokémon X e Y, de Nintendo 3DS.
Diferente do que fez Legends: Arceus, contudo, Legends: Z-A não traz uma nova interpretação da região de Kalos em sua totalidade. Estranhamente, a GameFreak optou por construir um jogo que se passa inteiramente em uma única cidade. Inspirada por Paris, Lumiose City é o palco de toda a aventura de Legends Z-A, que dura cerca de 25 horas, e é focada em diversas tramas que se desenvolvem em paralelo e se conectam ao longo da campanha, como o projeto de revitalização de Lumiose City, a misteriosa presença do Pokémon Zygarde, o campeonato Z-A Royale, além do inexplicável fenômeno de Pokémons selvagens que estão Mega Evoluindo espontaneamente.

Surpreendentemente, Legends: Z-A mistura todas essas diferentes subtramas em uma narrativa divertida, cativante e com um final surpreendentemente épico. A narrativa e a experiência de jogo como um todo começam devagar — muito, muito devagar! —, já que você vai passar as primeiras horas sendo limitado constantemente a respeito de onde pode ir e do que pode fazer.
Passado esse enorme “tutorialzão”, a experiência se eleva muito, já que você passa a explorar a cidade livremente, visitando as “Wild Zones” para capturar novos monstrinhos e enfrentando jogadores para ganhar pontos nos rankings do campeonato conforme sua vontade.
A grande sacada da narrativa do jogo, que a torna mais interessante do que outros jogos de Pokémon mais padrão, está em como os vários personagens da trama são construídos de maneira cativante.
É claro, nenhum personagem aqui tem muita profundidade — esse é ainda um jogo “para todas as idades” —, mas seus designs únicos e personalidades marcantes tornam a narrativa divertida. É uma pena que aqui já entra uma das várias limitações técnicas desse jogo: não há dublagem em nenhum idioma. Isso significa que os personagens são animados nas cutscenes como se estivessem falando, mas não há áudio algum. Um detalhe simplesmente bisonho.

Um trunfo de Z à A
Durante toda a campanha do jogo, o seu tempo em Lumiose City será dividido em atividades bastantes distintas, que são agrupadas em missões principais e secundárias, além, é claro, da exploração livre que você pode fazer pela cidade.
Por meio das missões principais, você poderá avançar no campeonato Z-A Royale, bem como participar de batalhas especiais contra as Mega Evoluções Rogue (que detalharei mais adiante). Já as missões secundárias, por sua vez, compreendem quests menores e, na maioria das vezes, bobas e repetitivas.
Os aspectos que compõem a campanha principal de Legends: Z-A são, em sua maioria, bastante divertidos e interessantes, e são elevados por um único e específico aspecto do jogo no qual ele mais se sobressai: o seu novo sistema de combate.
Diferente de outros jogos da série Pokémon, que geralmente apresentam um sistema de combates focados em turnos, Legends: Z-A implementa um sistema de combate em tempo real, que transforma a experiência como um todo.

Basicamente, a qualquer momento durante a exploração, você pode chamar um de seus Pokémons para te acompanhar. Enquanto o Pokémon está ao seu lado, você pode mirar em um Pokémon inimigo e ativar os diversos golpes que estão relacionados a cada botão do controle. É uma estrutura com uma base bastante simples, mas que funciona surpreendentemente bem graças ao modo como o jogo adapta todos os golpes clássicos dos monstrinhos à essa nova estrutura.
Há um grau interessante de estratégia no modo como cada golpe possui tempos de animação diferente, bem como um cooldown específico até poder ser utilizado novamente. Golpes podem atingir enormes áreas, ou ainda podem ser interrompidos por efeitos específicos. Isso cria uma dança única e específica que nunca apareceu antes em Pokémon, e que é explorada de maneiras variadas durante o jogo.

O Bonsly, o Maushold, e o Fearow
Durante o campeonato Z-A Royale, por exemplo, o jogo incorpora elementos de furtividade, onde você pode se esconder para atacar seus inimigos desprevenidos. Já durante as batalhas contra as Mega Evoluções Rogue, o sistema de batalha é utilizado de modo a transformar o combate inteiro em uma grande e épica luta contra chefe, onde você precisa não apenas cuidar do seu Pokémon, mas também do posicionamento do seu próprio personagem, que também pode ser atacado pelos Pokémons enfurecidos. Esses são alguns dos melhores (e mais desafiadores) combates do jogo, e realmente mostram que a GameFreak acertou enormemente nesse aspecto.
Infelizmente, nem tudo são flores, e por mais que o combate de Legends: Z-A realmente brilhe, o jogo é permeado por pequenas limitações e decisões de design esquisitas, que impedem esse jogo de atingir o seu verdadeiro potencial. A primeira dessas limitações está relacionada, obviamente, aos aspectos visuais do jogo.

À essa altura, todo mundo já deve estar meio saturado dos diversos memes tirando sarro dos visuais desse jogo, mas eu preciso reafirmar como esse continua sendo um dos aspectos mais limitantes da série como um todo. E não é como se o jogo não tivesse elementos visuais interessantes aqui e acolá. Como falei anteriormente, o design de personagens é bastante interessante, e as criaturinhas em específico (com suas novas animações em tempo-real) são apresentadas de uma maneira muito satisfatória.
É uma pena que isso esteja lado-a-lado com cenários extremamente pobres visualmente. Com pequenas exceções aqui e ali, a cidade de Lumiose é triste de se ver. Geometrias simples, com pouco ou quase nenhum detalhe e uma iluminação simplista compõem um cenário que não faz juz ao hardware do Nintendo Switch 2 — e nem mesmo do Switch 1! Isso se torna um pouco pior quando você considera o fato de quase toda Lumiose City apresentar o mesmo visual, com prédios idênticos repetidos à exaustão. No final das contas, quase não existe variedade nos cenários, o que limita demais a exploração e a apreciação do jogo como um todo.

Variedade e novidades, mas a que custo?
A escolha de limitar o jogo todo em uma única cidade também compromete aspectos de gameplay, já que existe um senso muito menor de exploração aqui do que em jogos anteriores da franquia. Por motivos narrativos, a cidade se transforma levemente no decorrer da campanha, com novas Wild Zones aparecendo em determinadas regiões. Isso amplifica as opções de cenários com criaturas selvagens para você lutar e capturar.
Há também o topo dos prédios da cidade, que guardam segredos e criaturas únicas. Contudo, isso não é suficiente para tornar a experiência variada o suficiente. A presença de parques, cemitérios e alguns cenários únicos é interessante, mas é pouco em meio a uma cidade quase que totalmente idêntica.

Pelo menos, Pokémon Legends: Z-A apresenta enormes melhorias em performance quando comparado aos jogos anteriores lançados no Nintendo Switch, como Pokémon Legends: Arceus e Pokémon Scarlet e Violet. No Nintendo Switch 2, o jogo roda com resolução de 2160p na TV e 1080p no portátil, com uma taxa de atualização de 60 frames por segundo, e eu não presenciei nenhuma queda em nenhum momento do gameplay. Embora isso devesse ser o mínimo — ainda mais considerando os visuais apresentados —, o padrão nem sempre foi esse.
Vale ressaltar um aspecto não mencionado até então: diferente de Legends: Arceus, Legends: Z-A apresenta um modo de batalhas online, onde você pode enfrentar até 3 jogadores simultaneamente. Com temporadas que acontecem de tempos em tempos, esse é um modo extra divertido para quem quer tirar mais proveito do jogo, explorando o combate com outros jogadores online. Em meus testes, é uma modalidade que não traz uma variedade grande de modos de jogo, mas que pode encontrar o seu público.

Review de Pokémon Legends: Z-A — divertido, apesar dos pesares
No final das contas, existe sim bastante o que se apreciar em Pokémon Legends: Z-A, principalmente se você for um fã de longa data da série. As mudanças que o jogo apresenta com o seu novo sistema de batalha sem sombra de dúvidas trazem um frescor sem igual à uma série que merece mais carinho. Porém, é muito desencorajador jogar e reparar que esse carinho não está presente em todos os elementos desse pacote.
Por mais que soe como um conceito diferente e com muito potencial, o modo como implementaram essa ideia de uma única cidade comprometeu muito o senso de exploração do título. Quando você soma isso aos visuais pobres e desinteressantes, além de outros aspectos negativos como a ausência de dublagem e a falta de legendas em português do Brasil (uma ausência absurda que continua afetando a série Pokémon!), o resultado é um título com pontos bastante positivos, que acabam soterrados em problemas e limitações que soam como descaso e falta de respeito com o consumidor.

Eu preciso admitir que, sim, me diverti muito jogando Pokémon Legends: Z-A, principalmente nos momentos cativantes de história e nas épicas batalhas contra Mega Pokémons. Se você for um fã da série, esse acaba sendo um dos melhores títulos disponíveis no Switch 1 e Switch 2 — mas isso só se você for capaz de superar e ignorar suas várias limitações.
PS: A análise foi feita em um Nintendo Switch 2 através de uma cópia cedida pela Nintendo.
Com ideias diferentes e um combate inovador para a série, Pokémon Legends: Z-A é um título com altos e baixos. Ele apresenta sim uma campanha divertida, com personagens cativantes e um sistema de batalha dinâmico, mas visuais pobres e algumas limitações esquisitas tiram o brilho do que poderia ser um dos melhores jogos da série.
Pontos positivos
- História divertida, com personagens cativantes
- Sistema de batalha dinâmico e engajante
- Trilha sonora marcante
Pontos negativos
- Visuais pobres e desinteressantes
- Exploração limitada e repetitiva
- Ausência de dublagem e localização em PT-BR
- Narrativas
- Mecânicas
- Conteúdo
- Performance
- Visuais
- Trilha Sonora
