Durante a Brasil Game Show de 2022, entrevistamos o Bruno Micali, que atualmente é editor-chefe de conteúdo do Flow Games. Na conversa tratamos de assuntos como o jornalismo de games, preços dos jogos e alguns spoilers sobre o portal do Flow Games. Confira a entrevista abaixo:
Como foi o processo de entrar nesse meio do jornagames?
Eu adoro o trabalho de vocês! Eu sigo e estou em todos os canais, além de conseguir diversos descontos graças a vocês. Vocês fazem um favor à sociedade. De verdade! Eu sempre indico espontaneamente vocês. Então, é sempre um aprendizado estar no outro lado também. Eu acho que é sempre uma via de duas mãos. Eu estou há 10 anos, uma década! A gente completou aí… Tá indo para 11 anos agora. E curiosamente eu não sou formado em jornalismo. Eu sou formado em letras, tradutor e intérprete em inglês, que é um curso de tradução, basicamente. Eu fiz jornalismo lá atrás, em 2006, na Metodista, por dois anos. Mas eu não me formei. Eu tranquei e fui para letras, me tornando tradutor e intérprete. Sou formado em tradução e isso ajuda muito com a parte de texto. Eu trabalho muito com texto e sempre gostei de trabalhar com texto. Já trabalhei com tradução e como intérprete também. E aí eu sempre tive, desde adolescente, esse desejo de trabalhar com videogame. Sempre joguei muito, desde “moleque”. Minha família sempre me incentivou e minha mãe sempre achou muito legal que eu jogue videogame. Então, sempre tive esse fomento da família, né? Todo mundo sempre achou muito legal. E aí eu falei, de que jeito que eu posso trabalhar com videogame? Porque eu detesto matemática, também não sou um cara do desenho. Não saberia fazer, sei lá, design. Então, o jeito que eu encontrei de trabalhar com videogame foi com o jornalismo de videogame. Escrevendo sobre videogame, basicamente. E aí eu comecei a me especializar nisso. Comecei pela EGM, lá em 2011. Eu criei um blog e tinha um blog no Blogspot, pra quem se lembra. Bons tempos de Blogspot! E lá eu começava a colocar meus textos e tudo sobre o que eu pensava. Eu não trabalhava em lugar nenhum ainda. Já tentei trabalhar em revistas antes e não consegui. Já mandei currículo pra lugares lá no começo e não consegui. Eu acabei “tomando” muito NÃO. E aí eu criei o meu blog e pensei… quer saber? Eu vou criar meu blog e começar a postar os meus textos. Comecei a postar. Comecei a publicar os links nas redes sociais durante a época do Orkut. Aí comecei a criar uma pequena comunidade e as pessoas conversavam e discutiam comigo. Foi aí que eu entrei na ENZ 2013 e ali foi realmente a grande porta de entrada. Eu comecei no Baixaki Jogos e depois fui pro Tec Mundo Games. E por fim fui direto para o Voxel. Atualmente eu estou trabalhando no Flow Games. Na Voxel eu fiquei por quase sete anos. E agora finalmente estou nessa jornada do Flow Games que já vai completar cinco meses. O portal está em construção e o site vai nascer no começo de novembro de 2022. Vamos fazer um baita buzz aí nas “internets”. Vai ser um site muito robusto e muito legal. Estamos desenhando toda a parte editorial agora e o planejamento é algo essencial. Acho que em todos os lugares que eu trabalhei eu sempre fiz com muita calma o que eu fiz. Acho que isso acabou me ajudando muito.
Durante um tempo você também foi PR. Então você pode falar como é estar do outro lado pra gente?
Exatamente. Muitas pessoas associam o PR comigo! Sempre fui muito sociável e tenho um jeitão de PR talvez. Acabei tendo essa baita oportunidade com o pessoal da Weber Shandwick que eu adoro. Também foi uma oportunidade que surgiu e eu encarei porque eu queria ter uma experiência como PR pra saber como é o outro lado do balcão. O lado de quem envia código e o lado de quem planeja um lançamento. Com quem a gente vai falar? Com quais influenciadores? Com quais mídias? Com quais jornalistas? Eu queria entender como tudo isso funciona. O lado do insider e de entender como o outro lado funciona para me dar até mais empatia e entender melhor mesmo como que eles decidem pra quem que vai ser enviado. já que códigos às vezes não são suficientes. E realmente isso é real. Às vezes não chega muito código. Chega 30 códigos, 20 códigos e você tem que escolher 20 ou 30 nomes. Mas hoje a gente tem mais de 200, mais de 300. Hoje é muito mais e a gente tem que tentar conversar com todo mundo! Essa é a missão das marcas. Tem que tentar conversar com todo mundo. Eu quis ter esse aprendizado e eu fui atrás dessa missão. Mas eu já tinha o propósito de lá na frente não ficar pra sempre nessa missão. Eu sabia que era uma sidequest pra me dar um aprendizado e eu fiquei por um ano. Trabalhei como um PR por um ano e voltei pro jornalismo já seguindo o plano que eu já tinha feito pra mim mesmo.
A pandemia foi um período muito difícil para todos. Como foi pra você? Influenciou no seu trabalho?
Com certeza! Foi uma coisa que todo mundo não via a hora de voltar pra BGS. Todo mundo tava carente de evento e carente de encontrar as pessoas. Acho que a grande marca registrada dessa Brasil Game Show é que a gente tá conseguindo ver todo mundo, além de estar se conhecendo, estamos vendo novas pessoas que não estavam no jornalismo, ou na criação de conteúdo de games. A gente não precisa sempre usar a palavra jornalismo, pode ser criação de conteúdo de games, o que eu acho que expande ainda mais. Então está sendo muito, muito legal, porque estamos matando a saudade. Nesse um ano que eu trabalhei como PR, foi algo totalmente remoto. Eu não fui um dia sequer para a agência, onde se tornou algo remoto. 100% remoto do momento que eu comecei e do momento que eu saí de lá. Acho que todo mundo teve que se adaptar e se reinventar. Acho que a pandemia trouxe reinvenção pra gente. Nós precisamos reaprender e explorar a criatividade. Todos nós precisamos ser mais criativos se a gente quiser se destacar. Em qualquer coisa que a gente faça na vida, em qualquer profissão, você precisa ser criativo e ter personalidade. Acho que a pandemia trouxe essa necessidade pra gente.
Em outros anos da BGS você veio como apresentador. O que você mais gosta de fazer? O host ou o editorial?
Essa pergunta é muito boa, hein? Bom, todas as perguntas são muito boas! Olha, embora eu me vire muito bem na frente das câmeras e consiga conversar com as pessoas, com câmeras e com o público, se eu tivesse que escolher… Olha, eu gosto muito dos dois, mas eu acho que o editorial ainda é aquele “xodó” pra mim, sabe? O editorial é onde eu nasci e minhas bases estão no editorial. Esse é sempre o meu caminho, particularmente de preferência. Nós vivemos em um mundo muito mais multimídia e é necessário ter vídeo, é necessário ter um canal. Nem que seja um cartão de visita pra você ter, mas tem que ter! Também gosto muito de fazer esses trabalhos como host mas acho que eu ainda fico com o editorial.
E aproveitando o assunto do Flow Games, como está sendo essa experiência aqui na BGS com uma marca tão expressiva no mercado?
O Flow Games, como você falou, carrega o nome Flow que já é uma potência da internet! Além disso, algumas pessoas já estão envolvidas no projeto também. O Guilherme Phoenix começou lá nas antigas no YouTube, depois ele parou e aí voltou como bastidores. O Davy Jones também é um nome super famoso. São pessoas super profissionais com quem eu estou me relacionando e conhecendo melhor agora. A gente sabe que na câmera é uma coisa, mas fora da câmera é outra. Às vezes tem um personagem ali e para todos nós, na verdade. Está sendo muito legal porque é tudo novo e é sempre uma missão nova. Então o Flow Games sempre teve uma expertise muito grande, ou o nome Flow como um todo, em podcast, em YouTube e internet. Um site de notícias foi uma grande novidade para eles e aí que eles me chamaram. Pela bagagem do editorial mesmo e porque o pessoal do Flow tem toda a expertise de algoritmo de YouTube e podcast, mas não do editorial. Tem uma equipe de redação trabalhando e criando conteúdo para estrear em Novembro. A gente tem muita coisa para produzir no site, além de já nascer com um SEO legal também. Tem toda aquela coisa de SEO e toda cartilha editorial. A gente tem uma missão de desenhar um editorial de um site, contando desde a escalação de pessoas até a maneira como você vai abordar. Como você vai comunicar isso para o público e como você irá abordar. Como que o público vai perceber a sua abordagem. Então tudo isso a gente tem que trabalhar com bastante cautela e está sendo bem desafiador.
E você pode falar para a gente como surgiu a ideia de ir para o Flow Games?
Olha, eles me contataram por volta de março desse ano e eu entrei ali no comecinho de maio. Eu estava trabalhando com o pessoal da Warner e já produzindo alguns conteúdos. Estava envolvido em várias outras coisas e aí eu tive que avisar as partes que eu estava indo para uma outra missão. Mas as conversas em torno do projeto, até onde eu ouvi, elas começaram no ano passado, em 2021. Em algum momento ali do ano de 2021, pelo que eu ouvi, era que o Davy queria criar uma outra vertente para o Flow, chamada Flow Games. Eles queriam criar um site e já tinham essa ideia. Eu não tinha sido nem contatado, não tinha ouvido nada. Mas a ideia já estava sendo pensada há mais de um ano. Eles haviam mencionado que o Davy Jones havia citado meu nome em 2021, porém, eu só fui contatado em fevereiro desse ano, que acho que é quando o projeto estava mais amadurecido. Já estava um pouco mais desenhado. Tudo isso é algo que requer planejamento e tempo! Serve até de aprendizado para todo mundo não é mesmo? Um projeto grande desse não é coisa que a gente pensa em dois, três meses. Ou às vezes nem um ano. Às vezes precisa de mais, porque precisa ver a questão do dinheiro, precisava ver a questão de conversar com patrocinadores e com marcas. Claro que tem uma força por trás, que é o nome Flow, mas este é um projeto novo.
Qual o maior desafio de montar uma equipe de redação no Brasil?
Nós temos muitas pessoas hoje em dia no jornalismo de games, então o filtro já é um desafio por si só. Muita gente quer trabalhar e é normal porque o mercado aumentou muito e todo mundo quer trabalhar com isso. Só que eu sinto particularmente, às vezes, um pouco de dificuldade de encontrar pessoas com uma ótima redação e isso é crucial! É necessário ter um bom texto e atualmente nós estamos muito viciados no “internetês”. Quando eu digo a gente, eu também, todos nós, todos nós cometemos erros ao escrever, seja de gramática, de concordância, de ortografia, de ritmo de texto. Precisa ter um ritmo e precisa ter uma cadência. Acho que tudo isso é difícil hoje porque as pessoas estão muito viciadas em redes sociais. O internetês tira a vírgula, tira a concordância, coloca uma vírgula entre sujeito e verbo, que é uma coisa crassa que eu tenho visto acontecer. Então, atualmente, nós temos dificuldade de encontrar uma boa redação. Vejo muitas pessoas querendo trabalhar com vontade mas na hora de escrever precisa estar legal. Se não estiver legal, não adianta manjar de games, não adianta platinar milhões de jogos e dominar tudo e saber toda a história dos games se não escrever bem. Precisa “manjar” de games, jogar bastante mas se a pessoa escreve mal, parou aí. Então essa é uma das grandes dificuldades do jornalismo em games. Mas nós temos ótimos criadores também, pessoas novas que estão surgindo no mercado e que estão sem os vícios das pessoas que estão há mais tempo no mercado. Eu mesmo tenho vícios, assim como todos nós criamos vícios com o tempo. Precisamos nos reinventar e aprender com eles também. Mas sem dúvida também tem por outro lado uma galera nova muito talentosa que está chegando, incluindo vocês da Desconto em Games por exemplo. Então eu acho que esse novo fôlego também é muito legal, é muito saudável para o mercado para tirar esse vício, essa “casca” antiga que está ali. Não são só aquelas pessoas antigas, tem muita gente hoje criando conteúdo. Então ao mesmo tempo em que há um desafio, também é gostoso descobrir coisas novas.
Vivemos no Brasil em um momento muito delicado que são os aumentos dos preços dos jogos. Você vê uma perspectiva de melhora para isso?
Olha, a gente é muito dependente do dólar, querendo ou não, o dólar é uma moeda mundial. Então se o dólar está alto, o mundo todo vai sofrer de alguma forma, em tudo. É a moeda que comanda o mundo no mercado financeiro de certa forma. Mas sem dúvidas, é preciso que a gente tenha o tempo todo a discussão sobre videogame. Porque quanto mais discutir sobre videogame, mais o Brasil é percebido como um mercado importante. E a gente tem que trabalhar essa percepção o tempo todo. Por exemplo, o público pede preços menores e para a Nintendo localizar os jogos dela. É um pedido antigo que todos nós estamos fazendo agora com mais barulho. Alguns jogos já estão traduzidos, como o Mario Strikers e Mario Party SuperStars. Mas na verdade nós queremos ver um Zelda traduzido e um Pokémon com texto em português. Este é só um exemplo recorte de como o Brasil precisa ser percebido para as empresas de forma impactante, de forma grande, de forma positiva. O governo, dependente do lado, dependente de qual o governo tiver lá em cima, dependente de preferências políticas, e precisa dar incentivos. É necessário criar fomentos, ou seja, mecanismos que permitam que a gente tenha uma lei de oferta e demanda mais justa. O assunto fica esquecido e então o governo precisa estar o tempo todo com esse assunto lá no topo. Claro que tem outras prioridades, obviamente, saúde, educação e segurança mas os videogames compõem o mercado de emprego. Nós precisamos falar disso o tempo todo e eu acho que criar esses mecanismos é essencial para que a gente veja os preços aos poucos sendo abatidos. No Brasil sofremos com o preço de tudo, seja ela uma edição de colecionador. Eu sofro pra caramba, porque eu tenho que ficar caçando com a importadora e o dólar está alto, chegando no Brasil e parando na alfândega, aí tem que pagar a taxa da alfândega. Atualmente nós temos os modelos de serviços que estão crescendo agora, tanto no Playstation quanto no Xbox. A gente tem serviço e o serviço é uma forma de acesso. Game Pass é uma forma de acesso, a nova Playstation Plus é uma forma de acesso e a assinatura que você possui no catálogo rotativo. Esses caminhos não existiam antes e os jogos vão continuar sendo caros. Eu acho muito difícil que saia do panorama de R$300 a R$350 agora tão cedo. Nós temos que buscar essas alternativas para pelo menos o jogador conseguir consumir e comprar jogos de alguma forma. Lançamentos sempre serão caros e isso não vai ter muito escapatória, infelizmente.
Voltando ao Flow Games, você pode dar um spoiler pra gente do que vai rolar?
Lógico! Com relação ao portal e ao site, com certeza. O que eu posso dizer é que vai estrear no comecinho de novembro e nós vamos fazer muito barulho nas redes sociais, além de fazer live comunicando e envolvendo o Igor 3K, o Phoenix, Davy Jones e a Thais. Além da redação, temos o Marcelo Rodrigues, o Max e algumas outras pessoas que já estão aí se envolvendo. Então, nós vamos envolver todas as partes que estão agora atuando no Flow Games. Vamos fazer lives comunicando em todos os canais e certamente teremos ações relacionadas a sorteios. Inclusive, posso dar esse spoiler aqui? Já posso! Vai ter Play 5 que vamos sortear! Nós vamos fazer algumas coisas bem legais com o público e uma forma de agradecer a todo o apoio. O site será lançado no comecinho de novembro e o que eu posso dizer é que está perto do lançamento do God of War, né? Então, com certeza, o God of War Ragnarok vai ser um carro-chefe de conteúdo dessa estreia, seja para guia, análise e para conteúdos diversos. Nós queremos muito trabalhar no God of War Ragnarok porque será um timing muito coincidente.
Trabalhar com jornalismo de games é o sonho de muitas pessoas! Você pode dar uma dica para quem quer começar?
Lógico! Bom, a dica que eu dou é que se você quiser trabalhar no jornalismo de games é essencial escrever bem. Então, aprimore essa habilidade que você eventualmente tenha e se você quiser trabalhar com isso, você precisa ter um texto legal. O Senac tem muitos cursos focados em apresentador, dublador e locução de rádio. Eu já fiz cursos de locução de rádio no Senac e que você pode concluir em dois ou três meses mas isso é uma habilidade específica. O que eu indico é, aprimore o texto e aprimorar a sua escrita, além de sua interpretação e percepção, é essencial ler sobre todos os assuntos. Leia jornal e não fique dependente da leitura na internet. Não fica refém da tela! O Kindle é bom e ele realmente simula a experiência de leitura mas não é uma fonte de informação. Então vá para a banca, compre jornal ou qualquer um de seu agrado. Compre jornal e leia, Se informe do que está acontecendo no mundo, o que está acontecendo com outros assuntos, sejam eles o cotidiano, economia ou política. Não precisa se infiltrar nesses assuntos, você só precisa se informar! Então o que eu quero dizer aqui? Você precisa ser uma pessoa atualizada e ter conhecimento do que está acontecendo. Não precisa ler só jornal, certo? Mas se informe e entre nos portais de notícia. Sobre cursos, você pode fazer jornalismo, mas você não precisa obrigatoriamente fazer jornalismo. Você pode fazer algum curso de comunicação, publicidade e Rádio e TV. Rádio e TV é bem bacana. Ele te dá também a habilidade de apresentação e de voz. Se você for formado já em outra coisa, aí você tem que fazer alguns cursos que vão te dar essas habilidades. E aí você precisa treinar, exercer e praticar essa habilidade. Texto, leitura e informação são essenciais. Quanto mais informação você tiver, melhor você vai estar. Mais preparado você vai estar, certo? Porque você vai fazer uma análise e poder criar uma referência. E quando estamos informados, nos sentimos seguros para falar e para escrever. A gente se sente seguro para conversar como estamos conversando. Informação nunca é demais! Acho que essa é a grande dica que eu deixo. Se informar ao máximo, se munir ao máximo que der!
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