Chrono Cross é um dos RPGs clássicos de PS1. Sendo uma sequência indireta do importante Chrono Trigger, embora sem o envolvimento de Akira Toriyama, autor de Dragon Ball, o jogo se tornou lendário – e também um dos games da Square Enix lançados na época que há muito precisava de um relançamento.
Quando, então, em fevereiro desse ano Chrono Cross: The Radical Dreamers Edition foi anunciado, muitos ficaram em êxtase – principalmente pela inclusão da Visual Novel Radical Dreamers, que conecta Trigger e Cross, no pacote, traduzida oficialmente pela primeira vez. Só que ninguém esperava que o tratamento dado ao título fosse tão “nas coxas” como o resultado final, que detalhamos a seguir. Confira:
Voltando ao tempo, mas não como pessoas queriam
Como a maioria dos granes RPGs 3D do PS1, Chrono Cross rodava de maneira péssima no primeiro console da Sony. Com quedas de frames constantes, o game acabava ficando com um ritmo lento, o que não ajudava com o sistema de batalha numericamente exigente graças ao sistema de Stamina do jogo, que faz com que qualquer ação gaste esse recurso e o ritmo de como recuperá-lo se torne importante parte do estratagema das lutas.
Quando coloquei então a cópia de review em meu PS5, o mínimo que esperava era que a performance em si estivesse melhor que no console original, já me passando uma experiência mais satisfatória do que a de anos atrás. Não foi o que aconteceu: o game está rodando pior no que no PS1, de alguma forma.
A situação é gritante. Há momentos em que o jogo parece que vai travar completamente, e acaba se tornando revoltante por literalmente ser um título de mais de 20 anos. Não há justificativa para isso acontecer, parece que é só um trabalho rápido para relançar o jogo.
Existem formas de diminuir um pouco esse impacto, como jogar com os modelos originais de PS1 em vez dos remasterizados – só que mesmo assim a performance ainda fica ruim, parecendo pior que no console dos anos 90. É revoltante, e até mesmo um tanto triste.
Mérito para Chrono Cross onde é cabível
Esse relançamento, porém, também conta com o enorme mérito de Radical Dreamers está disponível de forma oficial e traduzida pela primeira vez aos fãs da franquia no ocidente. Lançado originalmente em 2000 para o Satellaview, um software que permitia que a versão japonesa do Super Nintendo conecta-se na Internet, o jogo ficou por anos preso ao Japão – e , mais importante, preso em cartuchos que dificilmente podem ser acessados pelo encerramento do serviço em que ele foi lançado.
O título é uma Visual Novel clássica, em que poucas interações do jogador são necessárias, com ele aproveitando mais um livro digital, de certa forma. Se passando em uma continuidade alternativa de Chrono Cross mas com alguns dos mesmos personagens, como Serge, mesmo de outros universos, o game é um importante pedaço da franquia e é algo ótimo que ele tenha sido lançado de forma oficial.
Isso, então, levanta um importante discurso para a preservação da história dos videogames e, no fim, o quanto esse relançamento de Chrono Cross é importante. Sabemos que o mercado de jogos retro é extremamente inflado, com os ditos colecionadores vendo a situação como um investimento e não como um hobby. Uma cópia do título para PS1 pode facilmente passar dos 400 reais no Mercado Livre, por exemplo.
Ao mesmo tempo, um título como Radical Dreamers só podia ser adquirido a partir de métodos ilegais no ocidente, com traduções de fãs e ROMs para emulador – situações que, nos últimos anos, vem se tornando cada vez mais dificeis de serem obtidas, já que as empresas estão lutando para que a disponibilização não-oficial na internet suma.
Com isso, alguns títulos começam a virar reliquias do passado, citados por pessoas mais veteranas no hobby mas muitas vezes inalcançaveis para os novatos. Um relançamento ou remaster se torna importante, então, para dar uma chance para novas pessoas experimentarem os títulos.
Além disso, as empresas sabem que os padrões de dificuldade e ritmo dos anos 90, por exemplo, não são mais os mesmos dos anos 2010 e 2020, fazendo com que Chrono Cross tenha opções de parar os famosos encontros aleatórios de RPGs antigos e também possibilidade de deixar os personagens invencíveis no embate – possibilitando assim uma jogatina mais focada na trama e entender o real peso do texto do game.
Só que, em meio a tudo isso, será que vale uma preservação em que o título no fim, talvez não esteja otimizado, transformando ele em uma experiência frustrante, de certa forma, por estar rodando em um hardware milhões de vezes mais forte mas ainda ser pior que naquela máquina dos anos 90?
Esse questionamento é complicado. É necessário dar mérito ao relançamento de Chrono Cross e Radical Dreamers, mas se o custo para isso for jogar uma versão um tanto piorada do título de 20 anos, talvez o desejo pudesse ter esperado mais para ser cumprido. Sentimentos conflitantes e que, sem nenhum posicionamento oficial da Square Enix, até o momento, sobre uma possível atualização que arrume esses problemas, fica difícil ter esperanças.
Mas em um voto de confiança na empresa, ficarei no aguardo de uma possível melhora eventual, embora o cenário não pareça favorecer isso. De qualquer forma, friso mais uma vez que pelo menos o jogo se tornou mais acessível – mesmo que não em uma versão ideal.
Quem conseguir então passar por esses percalços e aproveitar o jogo no estado atual terá acesso a uma das obras mais introspectivas e poéticas da história dos videogames, discutindo a vida e a existência humana de forma empática e forte. Já quem não conseguir, a história será outra, possivelmente se frustrando muito com um jogo de 20 anos atrás e talvez se traumatizando com remasters no processo.